“FLORES” (“Loreak”), 2015, Espanha, direção de Jon Garaño
e José Mari Goenaga. Trata-se do primeiro filme espanhol inteiramente falado em
basco. Além disso, foi selecionado para representar a Espanha na disputa do
Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro. Merecia melhor sorte, pelo menos estar
entre os cinco finalistas, pois o filme é muito bom. Talvez o seu maior trunfo
seja o primoroso roteiro, elaborado pelos diretores – com a colaboração de Aitor
Arregi – para contar uma história extremamente sensível. Ane (Nagore Aranburu),
uma mulher de meia idade, está fragilizada pela indiferença do marido e, para
piorar, recebe a notícia do seu médico informando que acabara de entrar numa menopausa
precoce. Ao mesmo tempo, passa a receber flores de algum admirador anônimo, o
que de certa forma faz com que recupere o ânimo e passe a se sentir melhor.
Numa cena tocante dentro de um ônibus lotado, ela fica olhando os homens
imaginando qual deles ela gostaria que fosse o seu admirador. Numa segunda
vertente da história, Lourdes (Itizar Ituño) vive uma crise no casamento com
Beñat (Josean Bengoetxea) por conta da intromissão constante da sogra Tere (Itziar
Aizpurn) em sua rotina doméstica. Tere fica xeretando a vida íntima do casal e
ainda interfere na decoração da casa, o que deixa Lourdes furiosa. Beñat assiste
a tudo sem tomar partido. Ele é colega de trabalho de Ane num canteiro de obras,
responsável pela operação de um guindaste e passa o dia nas alturas. Com um
binóculo, ele costuma bisbilhotar tudo o que se passa na área, inclusive os
passos de Ane. Um dia, para consternação geral, Beñat morre num acidente de
carro. Semanas depois, ao depositarem flores no local do fatídico acidente, a
mãe e a esposa de Beñat percebem que mais alguém faz o mesmo. Tere logo
descobre quem deposita as flores. Lourdes demora a descobrir. A reação de ambas
em relação à pessoa é completamente diferente. As três mulheres comandam o
filme inteiro, ressaltando o maravilhoso desempenho das atrizes que as
interpretam, motivando o crítico Luiz Zanin, do Estadão, a afirmar que “Loreak
revela-se uma obra de alma feminina”. Não dá para acreditar que um filme tão
bom não tenha sido exibido por aqui no circuito comercial. Só o viu quem esteve
no 25º Cine Ceará – Festival Íbero-Americano de Cinema, realizado em junho de
2015. Imperdível!
domingo, 31 de dezembro de 2017
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
Para quem gosta de filmes de ação, “O ASSASSINO: O PRIMEIRO ALVO” (“American Assassin”), 2017, EUA,
não nega fogo. Tem pancadaria à vontade, tiros, perseguições e
muita ação. A história é baseada no livro “American Assassin”, escrito por
Vince Flynn, especialista em romances políticos e de espionagem. A direção é de
Michael Cuesta (“O Mensageiro” e o roteiro assinado pelo quarteto Edward Zwick,
Marshall Herskovitz, Michael Finch e Stephen Schiff. Depois de presenciar a
morte de sua noiva Katrina (Charlotte Vega) num atentato terrorista, o jovem
Mitch Rapp (Dylan O’Brien, de “Maze Runner: Prova de Fogo”) jura vingança,
passa a praticar artes marciais e consegue infiltrar-se no grupo responsável pelo
atentado. Quando parte para a ação, sozinho, ele elimina os assassinos. Sem
saber, Mitch está sendo monitorado pela CIA, que resolve recrutá-lo e
treiná-lo. Mitch é encaminhado para um centro de treinamento comandado pelo
ex-militar e ex-agente da CIA Stan Hurley (Michael Keaton). Os métodos são
violentos e desencorajadores, mas Mitch é durão e passa no teste. Nesse meio
tempo, a CIA consegue informações a respeito de um grupo terrorista iraniano que
tem em seu poder uma bomba atômica cujo destino é Israel. A CIA entra
imediatamente em ação e escala a turma de Hurley, incluindo Mitch, para a
difícil missão de descobrir o paradeiro do grupo terrorista e desarmar a bomba.
As cenas de ação são muito bem elaboradas e o filme teve locações em cidades
como Istambul, Varsóvia e Roma, entre outras. “American Assassin” é um dos
maiores sucessos em vendas (só nos EUA foram 12 milhões de exemplares) do
escritor Vince Flynn, falecido precocemente, aos 47 anos, em 2013. Mitch Rapp é
personagem de vários livros escritos por Flynn.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Premiadíssimo filme iraniano, o drama “NAHID – AMOR E LIBERDADE” (“NAHID”), 2015, marca a estreia na
direção da jovem diretora Ida Panahandeh, também autora do roteiro. A história
é centrada em Nahid (Sareh Bayat), que conseguiu obter o divórcio de Ahmad
(Navid Mohammadzadeh), um viciado que não consegue largar as drogas, principalmente
a heroína. Eles têm um filho de 10 anos, Amir Reza (Milad Hossein Pour), que
ficou com a guarda da mãe depois de um acordo acertado com o pai – segundo as
leis religiosas iranianas de divórcio, o pai obtém automaticamente a guarda do
filho. No Irã, os divórcios só podem ser concretizados mediante a autorização
do marido. Nahid obteve a guarda do filho, mas jamais poderá casar novamente.
Só que ela acaba se apaixonando por Masoud (Rejman Bazeghi), um viúvo
proprietário de um pequeno hotel no litoral. Nahid enfrentará um grande dilema,
ou seja, assumir o romance com Masoud, que quer casar com ela, e perder a
guarda do filho para o ex-marido drogado ou então ficar com o filho e renunciar
ao amor de Masoud. Complicado, principalmente depois que a família de Ahmad
fica sabendo da relação de Nahid com Masoud. O filme é todo de Sareh Bayat, a ótima
atriz que estreou no cinema em “A Separação”, de 2011, Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro. “Nahid” foi premiado no Festival de Cannes 2015 com o “Prix Avenir
Prometteur”, destinado a diretores estreantes.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
O drama francês “UMA
HISTÓRIA BANAL” (“Une Histoire Banale”), 2014, escrito e dirigido por
Audrey Estrougo, conta a história de Nathalie (Marie Denarnaud), uma mulher bonita
e charmosa que, aos 30 anos, vive uma fase bastante feliz. Está prestes a morar
com o namorado Wilson (Oumar Diawr), por quem está apaixonada, vive cercada de
amigos e curte seu ambiente de trabalho como enfermeira num hospital. Toda essa
felicidade vai durar pouco. Depois de sair com os amigos para dançar, Nathalie aceita
a carona de um deles, Damien (Renaud Astegiani), que demonstrava há tempos uma
evidente obsessão por ela, assediando-a com telefonemas e convites para sair. Ao
chegar à casa de Nathalie, Damien parte para o ataque, mas é rejeitado. Ele se
vinga estuprando a moça. Depois do que aconteceu, a vida de Nathalie vira um
tormento. Traumatizada e com sérios problemas psicológicos em razão do que
aconteceu, Nathalie passa a se comportar de maneira estranha. Para quem não
passou pela mesma experiência traumática, talvez seja difícil entender a
Nathalie pós-estupro. O desfecho dá margem às mais variadas interpretações e motiva
as espectadoras a fazer uma difícil reflexão: o que eu faria no lugar de
Nathalie? O desempenho da atriz Marie Denarnaud é excelente. Mais um bom filme francês que merece ser visto.
domingo, 17 de dezembro de 2017
Para atuar em “Clube de Compras Dallas”, o ator Matthew
McConaughey teve de emagrecer 22 quilos, o que contribuiu, além da sua ótima
atuação, para conquistar o Oscar 2014 de Melhor Ator. Em “OURO E COBIÇA” (“GOLD”), 2017, para interpretar o personagem do
empresário Kenny Wells, McConaughey precisou engordar 19 quilos. No filme, além
de gordo, o ator aparece bastante calvo e usando uma dentadura falsa, adotando
um visual bem diferente do galã que estamos acostumados a ver na tela. E seu desempenho
é também muito bom, o que pode garantir uma nova indicação ao Oscar 2018. Vamos
aguardar. “Ouro e Cobiça” é baseado em fatos reais que resultaram num grande
escândalo financeiro no início dos anos 90 envolvendo a empresa canadense BRE-X
Mineral Corporation. No filme, McConaughey vive o empresário e aventureiro Kenny
Wells, que em meados dos anos 80 se associa ao geólogo Michael Acosta (o ator
venezuelano Edgar Ramirez) para explorar uma possível mina de ouro na
Indonésia. A notícia do resultado positivo dessa exploração chega a Wall Street
e a empresa de Wells passa a ser um grande sucesso na Bolsa, atraindo milhares
de investidores. Logo depois, porém, a verdade virá à tona e não será nada
agradável, nem para Wells e muito menos para os investidores. O filme vale pela
história em si, desconhecida por aqui, como pelo desempenho magistral de McConaughey,
que na vida real é casado, desde 2012, com a modelo brasileira Camila Alves.
“DUNKIRK”, 120 minutos, EUA, retrata um dos
episódios mais impressionantes e incríveis da Segunda Guerra Mundial. Em maio
de 1940, mais de 300 mil soldados ingleses e aliados foram encurralados pelas
tropas alemãs nas praias de Dunkirk, em território francês (nos livros de
história que li, o nome que aparecia era sempre Dunquerque). Se não houvesse a evacuação imediata,
os soldados certamente teriam sido mortos pelo exército nazista, maior em
número e bem mais armado. A estratégia emergencial colocada em prática – que recebeu
o nome de Operação Dínamo – foi a utilização de embarcações civis e militares para buscar
os soldados do outro lado do Canal da Mancha e levá-los para a Inglaterra. No
total, foram utilizados 665 barcos civis e 222 embarcações militares. O
primeiro-ministro Winston Churchill queria os soldados de volta para reforçar a
defesa da Inglaterra contra uma possível invasão alemã. No filme, escrito e
dirigido pelo inglês Christopher Nolan (conhecido pela trilogia Batman, “Intersestelar”,
“Amnésia” e “A Origem”), a ação predomina em ritmo frenético, numa proposta visual
bastante ousada, com algumas cenas realmente sensacionais e poucos diálogos. O
filme foi realizado sob três perspectivas diferentes: terra, mar e ar. Na
terra, o enfoque envolveu as tentativas do soldado Tommy (Fionn Whitehead) e de
seus companheiros de fugir da praia e entrar numa das embarcações. No mar, a
ação privilegiou os esforços das embarcações civis em chegar a Dunkirk e
resgatar os soldados, em especial o barco de Dawson (Mark Rylance). No ar, o
filme destacou os esforços do piloto Ferrier (Tom Hardy) em afastar os aviões
alemães de Dunkirk, em ótimas cenas de batalha aérea. O filme de Nolan é muito
bom e tem tudo para conquistar algumas indicações ao Oscar 2018, incluindo até
mesmo a trilha sonora criada por Hans Zimmer. Sem dúvida, um dos melhores filmes de guerra feitos nos últimos anos.
sábado, 16 de dezembro de 2017
O que você faria se sua filha de 17 anos resolvesse, de uma
hora para outra, ingressar no Estado Islâmico e virar uma terrorista? O drama
francês “NÃO ME ABANDONE” (“Ne M’Abandonne
Pas”), 2015, direção de Xavier
Durringer, pode ajudar você a dar essa resposta. A jovem Chama (Lina El Arabi), de
17 anos, sofre a tradicional lavagem cerebral e acaba se casando pela Internet
com um antigo namorado francês, que foi cooptado pelo EI e que agora mora na
Síria. Está tudo preparado para que Chama vá para a Síria fazer parte do grupo
terrorista. A médica Inès (Samia Sassi), mãe de Chama, descobre o plano e fará tudo
para que a filha não entre nessa “furada”. Para isso, conta com a ajuda do ex-marido
Sami (Sami Bouajila) e de Adrien (Marc Lavoine), pai de Louis, o jovem francês recrutado
pelo EI e marido “virtual” de Chama. Pela Internet, Inès fica sabendo como o EI
faz a cabeça dos jovens – o filme, de forma didática, mostra alguns vídeos do
EI com mensagens motivacionais e os métodos empregados para atrair candidatos
para a causa. O filme também acompanha o sofrimento de Inès e sua luta para
resgatar a filha das garras dos terroristas. “Não me Abandone” foi produzido
originalmente para ser uma minissérie para a TV francesa, exibida em 2016, e que
agora virou filme. O tema é bastante atual e merece ser motivo de reflexão.
Ninguém está livre dessa situação.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
“EU SOU UM ASSASSINO” (“JESTEM
MORDERCA”), Polônia,
2016, escrito e dirigido por Maciej Pieprzyca. Baseado em fatos reais, o filme
relembra o caso do “Vampiro”, como foi apelidado o serial killer Zdzislaw
Marchwicki, responsável pelo assassinato de 14 mulheres em cidades próximas a
Varsóvia. A polícia não conseguia encontrar o assassino e foi ainda mais
pressionada depois que ele assassinou a sobrinha de Edward Gierek, um alto
dirigente do partido comunista, então no poder na Polônia. Policiais mais
experientes foram afastados do caso e as investigações passaram a ser
comandadas pelo detetive Janusz Jasinski (Miroslaw Haniszewski, em ótima
atuação), sem muita experiência nesse tipo de caso. Até chegar ao assassino, inclusive
com a ajuda de um computador, o policial sofrerá uma grande pressão não só de
seus superiores como da mídia em geral. Jasinski chegará ao limite físico e
psicológico, tentando aplacar a situação com um cigarro atrás do outro e muita
vodka, além dos favores de uma amante bem mais jovem que sua esposa. Mesmo
depois de chegar ao criminoso – que no filme recebeu o nome de Wieslaw Kalicki (Arkadiusz
Jakubik)–, e se
transformar num verdadeiro herói, Jasinski não desestressou. Passou a duvidar
das evidências e, depois de visitar diariamente o assassino na prisão, chegou à
conclusão de que Kalicki não tinha o perfil de um serial killer. Na última
quarta parte do filme, a história passa a destacar o julgamento do assassino e
sua possível condenação à morte. O filme é excelente, tem muito suspense e um
ritmo frenético. Imperdível!
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
Para quem gosta de filmes históricos, “A JOVEM RAINHA” (“The Girl King”), 2015, coprodução Finlândia/Alemanha/Canadá/Suécia/França - falado em inglês - é um ótimo programa. Escrito por Michel Marc Bouchard e dirigido pelo diretor
finlandês Mika Kaurismäki, o filme conta a atribulada trajetória da Rainha
Cristina da Suécia, em meados do Século XVII. Órfã de pai aos seis anos de idade,
depois da morte do Rei Gustavo II, Cristina era a única herdeira do trono, só
que para os padrões daquela época, inconcebível uma mulher assumir cargo tão
importante. Dessa forma, nas mãos do seu tutor, Chanceler Axel Oxenstierna, ela
foi criada como um príncipe. Aos 18 anos, foi finalmente coroada rainha. Após
assumir, Cristina passou a cultivar as artes e as ciências, além da filosofia –
ela se correspondia e depois ficaria amiga do filósofo francês René Descartes
(1596-1650). Cristina ficou famosa também por gostar de mulheres (o título
original é esclarecedor). Seu caso mais rumoroso foi com a dama de companhia, a
condessa Ebba Sparre. Nos papéis principais, ótimos desempenhos da atriz sueca
Malin Buska (Rainha Cristina), Michael Nyqvist (ator sueco falecido em junho de
2017) como o Chanceler Axel Oxenstierna, a canadense Sarah Gadon como a
condessa Sparre, e o ator francês Patrick Bauchau, como René Descartes, além da
atriz alemã Martina Gedeck e do ator francês Hippolyte Girardot. Outros destaques positivos são a ótima fotografia e a recriação de época, especialmente os cenários e os figurinos. “A Jovem
Rainha” pode ser considerada uma refilmagem livre do clássico “Rainha Cristina”,
de 1933, com Greta Garbo arrasando no papel principal. Irmão do também diretor
de cinema Aki Kaurismäki, Mika tem uma relação antiga e muito próxima com o
Brasil. Ele foi o responsável, por exemplo, pelos documentários “Brasileirinho –
Grandes Encontros do Choro”, de 2005, “Bem-Vindo a São Paulo, de 2004, e “Moro
no Brasil”, de 2002. Mika mora há 25 anos no Rio de Janeiro, é casado com uma
baiana e tem dois filhos brasileiros.
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
Momentos de muita tensão e suspense estão garantidos no drama
de guerra “NA MIRA DO ATIRADOR” (“THE WALL”), 2017, EUA, direção
de Doug Liman. Iraque, 2007, os sargentos norte-americanos Allen Isaac (Aaron
Taylor Johnson) e Shane Matthews (John Cena) são enviados a um local extremo no
deserto iraquiano para investigar um possível atentado que matou vários
engenheiros e militares que trabalhavam na construção de um oleoduto. Ao
chegarem ao local, porém, descobrem que as vítimas foram mortas a tiros precisos
na cabeça, indicando que a matança tenha sido obra de um franco-atirador, ou seja,
um sniper. A confirmação viria logo
depois, quando ambos são atingidos por tiros disparados não se sabe de onde. Encurralados
pelo atirador, os dois soldados norte-americanos
só contam com a proteção de uma antiga parede de tijolos. Para piorar ainda mais
a situação, o atirador iraquiano consegue interceptar uma comunicação via rádio
que Isaac tentava concluir para pedir ajuda ao seu pelotão. O iraquiano fala um
inglês fluente e inicia uma longa conversa com Isaac, transformando o embate num
claro duelo psicológico. Não será muito fácil para os soldados norte-americanos
saírem vivos dessa situação, a não ser que cheguem reforços, a famosa “cavalaria”.
O maior mérito do diretor Liman foi manter o nível de tensão mesmo com apenas
dois personagens e uma voz in-off em cena, o que poderia deixar o filme arrastado e monótono. Mais uma prova da competência do diretor, responsável também por bons filmes de ação como “A Identidade Bourne” e “Sr. & Sra. Smith”, entre outros. "Na Mira do Atirador" revela-se, portanto, um ótimo programa.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
O drama norte-americano “CASTELO
DE VIDRO” (“The Glass Castle”), 2017, com roteiro e direção de Destin
Daniel Cretton, é baseado no livro autobiográfico da jornalista Jeanette Walls,
“The Glass Castle”, lançado em 2005 e traduzido para mais de 30 idiomas. Enfim,
um grande best-seller. Walls relembra todos aqueles anos em que ela e os três
irmãos conviveram com os pais totalmente desequilibrados e irresponsáveis, Rex
(Woody Harrelson) e Rose Mary (Naomi Watts). Ele, um sonhador lunático,
desempregado crônico e alcoólatra. A mãe, uma artista plástica que imagina um
dia sagrar-se uma grande pintora, mas sem nenhum talento para tal. Pai e mãe
sempre encararam a vida contrários a qualquer tipo de rotina familiar
convencional. Nem com os quatro filhos eles foram capazes de mudar a filosofia
de vida. Viraram nômades, mudavam de cidade para cidade, sempre morando em
casas caindo aos pedaços. Para disfarçar sua incompetência como chefe de
família, Rex prometia que um dia construiria uma grande casa de vidro, o tal
castelo do título. Jeanette e os irmãos podem se queixar que, por causa dos
pais irresponsáveis, passaram por muitas dificuldades, incluindo falta de
comida e lugar para dormir. Mas jamais poderiam se queixar de que a vida da
família era uma rotina chata. Pelo contrário, foi, durante anos, uma grande
aventura, cheia de imprevistos, a cada dia uma novidade, boa ou ruim. No filme,
interpretada pela excelente Brie Larson (Oscar de Melhor Atriz em 2016 por “O
Quarto de Jack”), Walls aparece já como uma jornalista de sucesso em Nova
Iorque, querendo esquecer o seu passado, mas não consegue, principalmente em
razão da sua forte ligação com o pai, uma relação de amor e ódio. A atuação de
Woody Harrelson é excelente, tanto que muitos críticos já estão acreditando
numa possível indicação ao Oscar 2018 para disputar o prêmio de Melhor Ator. No
geral, o filme é muito bom. Nos créditos finais, o diretor Cretton apresenta os
verdadeiros personagens como estão nos dias de hoje.
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
Típico representante do cinema
de arte francês, “O IGNORANTE” (“Le Cancre”),
2016, tem roteiro e direção de Paul Vecchiali, que ainda atua como o personagem
principal. É basicamente uma obra teatral, verborrágica e musical, com diálogos
bastante inspirados e bem-humorados, mas muitas vezes arrastados além da conta. A base
da história é o difícil relacionamento entre Rodolphe (Vecchiali) e seu filho
Laurent (Pascal Cervo). Ao discutir sua vida com Laurent, Rodolphe faz um
balanço reflexivo da sua agitada vida amorosa. Nesse ponto, as mulheres com as que se
relacionou surgem em cena para conversar com Rodolphe e relembrar o romance que
tiveram, os altos e baixos e, principalmente, tentam descobrir o que não deu
certo nas respectivas relações. Fica evidente, desde o início, que Rodolphe só
teve um grande amor na vida, sua cunhada Marguerite (Catherine Deneuve), irmã
de sua esposa. Os momentos mais engraçados ficam por conta da falta de sintonia
entre pai e filho. Rodolphe tem a pose aristocrática, veste hobby de chambre e
echarpes, enquanto Laurent não troca um moletom surrado, alvo constante da
implicância do seu pai. Além de Vecchiali, Cervo e Deneuve, completam o elenco atores e atrizes consagrados do cinema e teatro francês, como Mathieu Amalric, Annie Cordy, Françoise Lebrun, Françoise Arnoul, Edith Scob e Marianne Basler. Sem
dúvida, um filme bastante interessante e inteligente, mas muito longe de agradar o grande público.
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
“VIVA”, 2015, coprodução
Irlanda/Cuba, direção de Paddy Breathnach, com roteiro de Mark O’Halloran. O
drama é centrado no jovem Jesus (Héctor Medina), de 18 anos, que vive
perambulando pelas ruas de Havana tentando sobreviver fazendo bicos como garoto
de programa – os principais clientes são os turistas que visitam a ilha – e
como maquiador e penteador de perucas num clube noturno de drag queens. Ele gosta de cantar e um dia pede uma chance ao dono
do clube para fazer uma apresentação com o nome artístico de “Viva”, o que justifica
o título do filme. Jesus faz sucesso e acaba incluído na programação. Tudo vai
bem até aparecer seu pai Angel (o ótimo Jorge Perugorría), um ex-boxeador que
estava preso há 15 anos. Claro que ele, machão convicto, não vai gostar do que o filho está
fazendo e aí os dois entram em conflito, dificultando o relacionamento. Ao mesmo
tempo, o filme pinta um quadro não muito otimista sobre o regime cubano: mostra uma Havana triste, com muitos desempregados e gente sem
esperança. As pessoas vivem pedindo dinheiro emprestado para comprar comida. Para
contrastar, “Viva” apresenta um sistema público de saúde que funciona para
os mais pobres, principalmente quando Jesus precisa internar o pai gravemente
enfermo. O filme foi premiado em vários festivais pelo mundo afora e
representou a Irlanda na disputa do Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro –
foi um dos 9 pré-finalistas. Sua primeira exibição por aqui, antes do circuito
comercial, aconteceu durante o 24º Festival Mix Brasil de Cultura da
Diversidade, em novembro de 2016. Resumo da ópera: um ótimo filme que merece
ser visto por quem aprecia cinema de qualidade.
domingo, 3 de dezembro de 2017
Baseado em fatos reais, “O ZOOLÓGICO DE VARSÓVIA” (“The Zookeeper’s
Wife”), 2017, EUA/Polônia, direção da norte-americana Niki Caro, conta a incrível
história do casal Antonina e Jan Zabinski, que durante a Segunda Guerra Mundial
salvou centenas de judeus enquanto a Polônia era dominada pelos alemães.
Antonina (Jessica Chastain) e Jan (o ator belga Johan Heldenbergh) eram proprietários
do Zoológico de Varsóvia quando a invasão nazista aconteceu, em setembro de
1939. Nessa época, mantinham uma grande amizade com o zoologista alemão Lutz
Heck (Daniel Brühl), dono de um zoológico em Berlim, que depois da invasão
virou oficial nazista. Jan e Antonina ajudaram centenas de judeus a fugir dos
guetos de Varsóvia para escondê-los no seu zoológico – segundo o livro “The
Zookeepers’s Wilfe: A War Story”, escrito pela norte-americana Diane Akerman,
no qual o filme é baseado, o casal conseguiu salvar mais de 300 judeus. Um
filme emocionante e tocante, embora muito triste e, em alguns momentos, bastante chocante. Jessica
Chastain mais uma vez domina o cenário com sua habitual competência. Uma
história de coragem que merece ser conhecida.
“UM INSTANTE DE AMOR” (“Mal De Pierres”), 2016,
França, 120 minutos, direção da atriz, roteirista e diretora Nicole Garcia, que escreveu o roteiro em
conjunto com Jacques Fieschi e Natalie Carter. A história, baseada no romance best-seller “Mal Di Pietre”, da
escritora italiana Milena Agus, é ambientada nos anos 50 numa pequena aldeia
francesa, onde a jovem Gabrielle (Marion Cotillard) é conhecida por sua
rebeldia e por sua compulsão sexual. Ao ser rejeitada por um professor casado,
Gabrielle entra em surto e passa a se comportar de um modo bastante anormal. A
solução encontrada por seus pais foi arranjar um casamento com o pedreiro José
(o ator espanhol Alex Brendmühl). Com dificuldade para engravidar, Gabrielle é
examinada por um médico, que diagnosticou o tal “Mal de Pierres”, aqui
conhecido como cálculo renal. Gabrielle então é encaminhada a um spa nos alpes suíços e inicia um
tratamento para eliminar as pedras no rim. Aqui, ela conhece o tenente André
Sauvage (Louis Garrel), pelo qual se apaixona perdidamente, colocando em risco
o seu casamento com José. O filme comprova mais uma vez o talento dramático de Marion
Cotillard, já demonstrado em “Ferrugem e Osso”, “Era uma vez em Nova Iorque” e, principalmente, em “Piaf – Um Hino ao Amor”, pelo qual foi premiada com o Oscar de Melhor
Atriz em 2007. Além de tudo isso, ela é linda. “Um Instante de Amor” é muito bom e merece ser conferido. Segundo o crítico Cássio Starling
Carlos, da Folha de S. Paulo, trata-se de “Um bom champanhe servido
em copo de plástico”. Ou seja, ele não achou tão bom como eu achei. A primeira exibição de "Um Instante de Amor" por aqui aconteceu durante o Festival Varilux de Cinema Francês/2017.
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
“JOÃO, O MAESTRO”, 117 minutos, nacional, 2017, roteiro e direção de Mauro Lima. Conta
a história da emocionante trajetória de vida do maestro João Carlos Martins. Em
sua primeira fase, o filme acompanha o menino pianista virtuoso, um verdadeiro
gênio precoce, os primeiros professores e o início dos seus problemas de saúde.
Ainda jovem – segunda fase –,
alcança fama internacional como especialista na obra de Bach, viaja pelo mundo
realizando concertos e vai morar em Nova Iorque. É nesta cidade que Martins
sofre um acidente que afetará, para sempre, os movimentos de sua mão direita. Já adulto, ele
aprende a conviver com suas deficiências e se consagra como maestro, regendo
orquestras em vários países. Enfim, um exemplo de superação que aprendemos a
admirar nos últimos anos. O filme é muito interessante ao exaltar seu
impressionante talento como pianista, reconhecido e exaltado pelos principais
músicos, maestros e compositores do mundo inteiro. Além de gênio musical,
Martins sempre foi um mulherengo convicto, um aspecto praticamente desconhecido de sua biografia. Até agora. Na adolescência, o maestro é interpretado pelo garoto Davi
Campolongo; na juventude, pelo ator Rodrigo Pandolfo; e, na fase adulta, pelo
ator Alexandre Nero. Ainda estão no elenco Aline Moraes e Caco Ciocler, entre
outros bons atores. Mais um bom trabalho do diretor Mauro Lima, que se
especializou em cinebiografias, como “Meu
Nome não é Johnny” e “Tim Maia” – seu próximo filme será “Casagrande e seus
Demônios”, sobre o ex-jogador de futebol e atual comentarista global.
terça-feira, 28 de novembro de 2017
“AS NOITES BRANCAS DO
CARTEIRO” (“Belye Nochi Pochtalona Alekseya Tryapitsyna”), 2014, Rússia, 1h30min. Trata-se de
um projeto arrojado e inusitado da roteirista Elena Kiseleva e do diretor
Andrei Konchalovsky. Eles escolheram um vilarejo distante e isolado ao norte da
Rússia, às margens do lago Kenozero, reuniram os moradores, formaram o elenco,
cada qual representando a si mesmo, e montaram a história. O personagem principal é o carteiro (Alekseya
Tryapitsyna), responsável pela entrega das correspondências e pagamento das
aposentadorias. É o único elo com o mundo exterior. Como meio de transporte, ele utiliza um barco, pois os
moradores residem em volta do lago. Eles vivem distantes de qualquer modernidade, talvez bem próximo de como viviam seus antepassados. Ele visita as famílias, entra nas casas, conversa com um ou com outro
e ainda encontra tempo para se apaixonar por uma moradora (Irina Ermalova, a
única atriz profissional do elenco). Para conseguir um melhor resultado com
relação às interpretações, Konchalovsky utilizou câmeras escondidas em várias
cenas. O resultado final é muito interessante, principalmente para os
espectadores que gostam de cinema de arte e novidades estéticas. O filme valeu a Konchalovsky o Prêmio
de Direção no Festival de Veneza 2014. Por aqui, foi exibido somente na 38ª
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
domingo, 26 de novembro de 2017
Com raríssimas exceções, como o ótimo “A Separação” (Oscar de
Melhor Filme Estrangeiro em 2012), os filmes iranianos são muito contemplativos e reflexivos. É o estilo reinante no cinema iraniano. Mais um
exemplo desse estilo, adorado pelos críticos profissionais e pelos júris dos festivais, é o drama “QUE
HORAS SÃO NO SEU MUNDO?” (“Dar Donyaye to Sa’at Chand Ast?”), 2014, que marcou
a estreia no roteiro e direção de Safi Yazdanian. A história é centrada em Gizeh
Gol (Leila Hatami, atriz de “A Separação”), que volta ao Irã para visitar sua cidade natal, Rasht,
depois de vinte anos residindo em Paris. Logo que chega, ela é assediada por
Farhad (Ali Mosaffa, marido de Leila na vida real), um fabricante de molduras
que, sabe-se lá por que, conhece tudo sobre a vida de Gizeh e não larga do seu
pé. Enquanto isso, Gizeh aproveita para visitar o túmulo da mãe, falecida cinco
anos antes, e outras pessoas que, de alguma forma, tiveram relação com sua
família. Gizeh também passa o tempo refletindo sobre o seu passado, relembrando
fatos de sua infância e adolescência. O filme, exibido por aqui durante a 39ª
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ainda apresenta uma versão interessante
do bolerão “Quizas, Quizas, Quizas” em francês. Só para quem aprecia o cinema iraniano.
“PRIMEIRO-MINISTRO” (“DER PREMIER”), 2016, Bélgica, roteiro e
direção de Erik Van Looy. Prestes a receber a presidente dos EUA em Bruxelas
para uma reunião sobre a Paz Mundial e o Meio Ambiente, o Primeiro-Ministro da
Bélgica (Koen De Bouw) é envolvido numa trama bastante sinistra. Sua esposa e
filhos são sequestrados por um grupo terrorista internacional e serão
assassinados se ele não matar a presidente americana (Saskia Reeves). Eva
(Charlotte Vandermeersch), assessora de Comunicação do Primeiro-Ministro, também
será envolvida no caso e também correrá risco de morte. Sem dúvida, o filme
garante muito suspense do começo ao fim e o espectador, com certeza,
acompanhará tudo roendo as unhas. A tensão aumenta ainda mais a partir do
momento em que o Primeiro-Ministro tenta contornar a situação não obedecendo às
ordens dos vilões. Mas é preciso reconhecer que a história é inverossímil demais do começo ao fim, com muitos
furos (cadê o pessoal da segurança do Primeiro-Ministro?) e situações fantasiosas, incluindo a improvável e surpreendente revelação da identidade do grupo criminoso, culminando
com um desfecho pra lá de constrangedor. Sou obrigado a reconhecer: Hollywood
faz muito melhor.
sábado, 25 de novembro de 2017
Mais um filme daqueles para dar inveja do cinema argentino.
Mesmo que não seja dos melhores, mas é muito bom. Estou falando de “O CIDADÃO ILUSTRE” (“EL CIUDADANO ILUSTRE”),
2016, direção da dupla Gaston Duprat/Mariano Cohn (“O Homem do Lado”), com
roteiro de Andrés Duprat. A história é centrada no escritor argentino Daniel
Mantovani (Oscar Martinez), que acaba de receber o Prêmio Nobel de Literatura.
Rico, famoso, vaidoso, egocêntrico e um tanto arrogante, ele vive numa bela
casa em Barcelona. Depois do Nobel, ele passa a receber inúmeros convites para
palestras, homenagens e entrevistas, rejeitando a todos, menos um: o convite
para receber o título de “Cidadão Ilustre” em sua pequena cidade natal, Salas, no
interior da Argentina. Foi de lá que, há quarenta anos, Daniel saiu para tentar
a vida como escritor na Europa. Deu certo. Publicou dezenas de livros, muitos
deles sucesso de vendas e de crítica. Daí o Nobel. Ao chegar a Salas, Daniel é
homenageado com um busto na praça principal, recebe o convite para presidir um
júri de um concurso de pinturas e para proferir palestras sobre a arte em
geral. A levada do filme é de comédia, com muitas situações bastante
hilariantes. Ao mesmo tempo, motiva reflexões acerca do choque cultural
evidente entre o escritor famoso, culto e bem sucedido, e as pessoas de origem
simples, que não evoluíram culturalmente e nem por isso deixaram de ser
importantes na vida do escritor, haja vista que muitos de seus livros foram
baseados em histórias e personagens de sua antiga cidade. O filme estreou no
Festival de Veneza 2016, de onde saiu com o Prêmio de Melhor Ator para Oscar
Martinez, também conhecido por ter atuado em “Ninho Vazio”, “Inseparáveis”, “Kóblic”,
“Relatos Selvagens” e “Paulina”. Sem dúvida, um dos melhores atores argentinos
da atualidade, ao lado de Ricardo Darín. “O Cidadão Ilustre” foi
o filme de maior bilheteria na Argentina em 2016. Além de Oscar Martinez, estão no
elenco Belén Chavanne, Andrea Frigerio, Gustavo Garzón e Dady Brieva.
terça-feira, 21 de novembro de 2017
Em abril de 1980, terroristas ligados à Frente Nacional do
Khuzistão invadiram a Embaixada do Irã em Londres fazendo 26 reféns. A exigência
dos terroristas: que o governo iraniano libertasse 91 militantes da FNK que
estavam presos no Irã. “6 DIAS” (“6 DAYS”),
produção da Netflix que estreou no dia 9 de setembro de 2017, conta os detalhes
desse episódio, a tomada da embaixada, os bastidores das negociações, o
trabalho da imprensa, o planejamento do grupo especial do SAS (Special Air
Service) encarregado de invadir o prédio e soltar os reféns, além do desfecho
violento. Nos papéis principais, o ator Jamie Bell (quem se lembra dele,
adolescente, na pele de “Billy Elliot”, de 2000?) como o soldado líder do grupo
SAS, Mark Strong, como o negociador, e Abbie Cornish como a repórter televisiva
que ganhou fama depois de um excelente trabalho de cobertura. O filme também
destaca a firme posição de Margaret Tatcher, que assumira recentemente o cargo
de primeira-ministra do Reino Unido. Ela não admitiu, em nenhum momento, qualquer tipo de
negociação com os sequestradores. Toa Fraser assina a direção e Glenn Standring
o roteiro. Vale assistir apenas para relembrar o que aconteceu, mas, como
cinema, deixa muito a desejar. Faltou tensão e ação. Ficou parecendo um filme-reportagem.
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
“ATRÁS DAS NUVENS” (“Achter
De Wolken”), 2016,
Bélgica, é o primeiro longa-metragem dirigido por Cecília Verheyden, com
roteiro de Michael DeCock. Trata-se de um drama que explora a paixão ardente entre
uma mulher e um homem na terceira idade. O filme começa mostrando o velório do
marido de Emma (Chris Lomme). Um dos presentes é Gerard (Jo De Meyere), muito
amigo do falecido e antigo admirador de Emma. Ele não a via há 50 anos e, ao
reencontrá-la, reavivou a antiga paixão. Dessa forma, passou a assediá-la,
utilizando as mais elementares armas da conquista, a começar com um buquê de
flores – a cena em que ele vai entregar o buquê é hilariante.
Conversa vai, conversa vem, acabam se apaixonando ardentemente. Eles,
porém, encontrarão a forte resistência de Jacky (Katelijne Verbeke), a filha infeliz e mal-amada de
Emma, que não se conforma com o repentino romance. A única a dar força a Emma é
sua neta, Evelien (a graciosa Charlotte de Bruyne). Aqui, o tema da paixão na
terceira idade é tratado com rara sensibilidade, inclusive nas cenas de sexo. Sim,
tem sexo! A atriz Chris Lomme e o ator Jo De Meyere, ambos de 78 anos, dão um
show de interpretação, tornando o filme ainda mais irresistível. Pena que não
tenha chegado por aqui. Imperdível!
domingo, 19 de novembro de 2017
“MONSIEUR & MADAME
ADELMAN”, França, 2016,
primeiro filme dirigido pelo ator e roteirista Nicolas Bedos. A história: logo
depois da morte do escritor de grande sucesso Victor Adelman (Bedos, o diretor),
sua viúva Sarah (Doria Tillier) resolve contar a um jornalista – que pretende escrever
uma biografia do falecido – tudo sobre o seu relacionamento de 45 anos com o escritor. A
trajetória do casal é acompanhada desde 1971, quando se conhecem, até a morte
dele, em 2016. Como pano de fundo, alguns dos fatos marcantes da vida cultural
e política da França. Uma verdadeira e conturbada história de amor, pontuada
por momentos dramáticos e outros de muito bom humor. Os diálogos são muito
inteligentes, pontuados por certa erudição e engraçados, resultando em cenas bastante hilariantes, como as consultas do
escritor com seu psicanalista e os jantares durante os quais um apresenta a
família para o outro. Para fechar a história com chave de ouro, esse maravilhoso
filme francês ainda reserva para o seu desfecho revelações surpreendentes
acerca da vida do casal. A atriz Doria Tillier faz sua estreia no cinema – é mais
conhecida por sua participação em séries da TV francesa. E que atriz
maravilhosa. É a alma do filme, embora Bedos também esteja ótimo. Um trabalho
primoroso, duas horas de puro prazer cinematográfico, um filme para ficar na
memória de quem curte cinema de qualidade. Simplesmente imperdível!
sábado, 18 de novembro de 2017
“A VIAGEM DE FANNY” (“LE
VOYAGE DE FANNY”),
2016, França, terceiro longa-metragem dirigido por Lola Doillon, com roteiro de
Anne Peyègne, que o escreveu baseada no livro autobiográfico “Le Voyage de Fanny
– L’histoire Vraie D’Une Jeune Fille Au Destin Hors Du Commun”, escrito por
Fanny Bel-Ami. É mais uma daquelas histórias incríveis e verídicas ambientadas
durante a Segunda Guerra Mundial. Assim como milhares de outras crianças de
origem judia, Fanny, na época com 12 anos, foi entregue, juntamente com as duas
irmãs menores, a uma instituição que cuidava de organizar fugas de crianças
para outros países, fugindo dos nazistas que ocupavam a França. A Suíça era um
dos destinos escolhidos. Depois de entregue a uma dessas instituições, Fanny e
mais algumas crianças acabam ficando por conta própria, tentando chegar até a
Suíça. Uma jornada de muitos perigos e sofrimento, passando fome e frio. A
diretora não carregou muito no drama, embora mantenha muitos momentos de alta
tensão e suspense, com belas locações no interior da França. O filme tratou a
história como uma aventura infantil, “Um drama disfarçado de sessão da tarde”,
como bem definiu um crítico profissional. De qualquer forma, por se tratar de
uma história verídica, vale a pena curtir. O elenco conta com Léonie Souchaud,
a Fanny, e com as participações especiais de Cécile de France, Stéphane de
Groodt e Olivier Massart. Informação importante: entre 1938 e 1944, mais de 5
mil crianças judias escaparam da França rumo à Suíça, EUA e Espanha.
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
Ao ser exibido como filme de abertura do Festival de Cannes
2016, dentro da Mostra “Um Certain Regard”, o drama egípcio “CLASH” (“Eshtebak”), roteiro e direção
de Mohamed Diab, surpreendeu e causou polêmica não apenas pelo forte teor
político, mas também pela estética inovadora. Trata-se de um filme bastante
perturbador, cuja ação é toda ambientada dentro de um camburão da polícia. Cairo,
2013, a capital egípcia vive momentos de alta tensão com a queda do presidente
islamita Mohamed Morsi. As manifestações de rua são violentas e precisam ser
reprimidas. Uns manifestantes são a favor deste ou daquele credo religioso,
como também pró-exército, além dos fanáticos defensores da Irmandade Muçulmana e daqueles
que defendem outras ideologias. Ninguém se entende, uma confusão danada. O tal camburão – sempre filmado
de dentro –, percorre as
ruas do Cairo recolhendo os manifestantes mais exaltados, sejam eles adultos,
jovens, mulheres, velhos e até crianças. Claro que no camburão as diferenças
serão colocadas em jogo, tumultuando ainda mais o ambiente. As pessoas detidas
no camburão gritam o tempo todo defendendo cada qual sua posição política, aumentando ainda mais a tensão e a sensação
claustrofóbica. Resumo da ópera: é um filme bastante interessante e, ao mesmo
tempo, muito indigesto e desagradável. “Clash” foi o representante oficial do Egito na disputa
do Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro, lembrando que foi o segundo filme
escrito e dirigido pelo diretor Mohamed Diab – o primeiro foi o também elogiado “Cairo 678”.
domingo, 12 de novembro de 2017
“TERRA SELVAGEM” (“Wind
River”), EUA, 2016,
escrito e dirigido por Taylor Sheridan. A história, ambientada nas montanhas
geladas do Wyoming em pleno inverno, começa quando Cory Lambert (Jeremy
Renner), caçador de animais predadores, encontra o cadáver de uma jovem no meio
da neve. Como há vestígios de violência no corpo da vítima, a polícia local comunica
o fato ao FBI, que envia a agente Jane Banner (Elizabeth Olsen) para investigar
o crime misterioso. Jane pede ajuda a Cory e ao policial Dan Crowheart (Graham
Greene). Os três seguirão algumas pistas, encontrarão alguns suspeitos e,
finalmente, os criminosos. O filme prende a atenção do começo ao fim, tem suspense
e muita ação. É o segundo filme escrito e dirigido por Taylor Sheridan, mais
conhecido pela assinatura dos roteiros dos ótimos “Sicario: Terra de Ninguém”, de
2015, e “A Qualquer Custo”, de 2016, este último indicado ao Prêmio de Melhor
Filme no Oscar 2017. Por “Terra Selvagem”, Taylor Sheridan também conquistou o
Prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes 2017, dentro da Mostra “Un Certain
Regard”. Sem dúvida, um ótimo programa.
sábado, 11 de novembro de 2017
“MULHERES DO SÉCULO XX”
(“20TH CENTURY WOMEN”), 2016, EUA, roteiro e direção de Mike Mills. Trata-se de uma produção
independente que mereceu duas indicações ao Oscar 2017: “Melhor Roteiro” e “Melhor
Atriz” (Annette Bening). Ambientada na segunda metade dos anos 70, a história é
centrada em Dorothea Fields (Bening), uma cinquentona divorciada que cria
sozinha o filho adolescente Jamie (Lucas Jade Zumann). Tudo acontece ao redor
de Dorothea, que aluga um quarto da casa para a jovem Abbie (Greta Gerwig) e
outro para William (Billy Crudup). A jovem Julie (Elle Fanning), amiga de infância
de Jamie, também frequenta o círculo familiar, mas de maneira diferente: ela entra
escondida pela janela e vai dormir com Jamie – na base da amizade. Recheado de
diálogos e reflexões bem-humoradas, o roteiro procura destacar o modo de pensar
das diferentes gerações, assim como tenta fazer um passeio cultural e
comportamental da família norte-americana nos anos 70, com direito a discussões
sobre sexo – o principal assunto –, política, anticoncepcionais, família, religião etc., com direito à
reprodução de uma parte de um discurso em cadeia nacional do então presidente Jimmy Carter. Outro
destaque no filme é o enfoque dado ao nascimento do movimento punk, do qual a
jovem Abbie é adepta fanática. O filme tem bons momentos, como nos diálogos
entre Jamie e a mãe, além de um jantar constrangedor entre amigos durante o qual os assuntos
principais são “menstruação” e “orgasmo”. Com relação ao elenco, gostei da atuação
de Annette Bening, embora tenha exagerado um pouco em caras e bocas, e também de
Elle Fanning, cada dia mais competente. Dá para assistir numa boa, mas não chega a justificar uma recomendação entusiasmada.
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
Quem acompanha o noticiário esportivo sabe que o ciclista
norte-americano Lance Armstrong foi um grande fenômeno. Basta lembrar que,
entre 1999 e 2005, venceu sete edições do Tour
de France, a mais importante prova
ciclística do mundo. Desde os anos 90, Armstrong dominava o cenário esportivo
mundial, chegando ao nível de herói nacional, principalmente depois que venceu
um câncer e voltou a competir em alto nível. Em 2012, porém, a revelação
bombástica: durante todos aqueles anos, Armstrong utilizou substâncias químicas
proibidas, anabolizantes e o EPO (Eritropoietina). Caiu em desgraça no mundo
esportivo, perdeu seus títulos e acabou execrado por todos aqueles que o
consideravam um verdadeiro “Capitão América”. Toda essa história está contada
no drama “O PROGRAMA” (“The Program”),
2016, Inglaterra/França, dirigido pelo veterano diretor inglês Stephen Frears. Para
esse projeto, Frears adaptou o livro “Sete Pecados Capitais”, escrito pelo
jornalista irlandês David Walsh (Chris O’Dowd), que durante anos investigou a
possibilidade do ciclista norte-americano ter utilizado substâncias químicas
ilegais para vencer as competições. O filme também destaca a ligação de
Armstrong (Ben Foster) com o médico italiano Michelle Ferrari (Guillaume
Canet), que há anos dopava vários atletas de ponta. Frears foca todo o seu
filme na questão do doping, não abrindo espaço para mostrar como foram algumas
de suas vitórias e nem mesmo a vida particular do atleta. Não é o melhor
trabalho de Stephen Frears, diretor de filmes memoráveis como “Ligações
Perigosas”, “Alta Fidelidade”, “A Rainha”, “Philomena” e “Florence - Quem é
Essa Mulher?”, mas obrigatório para quem curte o mundo esportivo.
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
“NOSSAS NOITES” (“Our
Souls at Night”), 2017,
produção Netflix, direção do indiano Ritesh Batra (“The Lunchbox”), com roteiro
de Scott Neustadter e Michael H. Heber, que adaptaram a história do romance
escrito por Kent Haruf, cujo título é o mesmo do original do filme. Louis Waters (Robert Redford) e Addie Moore (Jane
Fonda) são vizinhos de muitos anos e suas famílias chegaram a se relacionar.
Quando ficaram viúvos, porém, deixaram de se falar por um bom tempo. Um dia,
porém, Addie resolve tomar a iniciativa e procura Louis, se queixando de que
não aguentava mais a solidão da noite, principalmente na hora de dormir. Ela
faz, então, uma inusitada e surpreendente proposta: dormirem juntos, deixando claro
que “sem sexo”. A partir daí começa uma grande amizade e a promessa de um caso
de amor, que nem as inconvenientes visitas de Gene (o ator belga Mathias
Schoenaerts), filho dela, e de Holly (Judy Greer), filha dele, conseguem
estragar. Como é bom ver dois artistas tão veteranos (Redford tem 81 e Fonda 79
anos) em plena forma, esbanjando charme e ainda atuando com grande competência. Aliás, esta é a quarta
vez que eles contracenam juntos, depois de “Caçada Humana” (1966), “Descalços
no Parque” (1967) e “O Cavaleiro Elétrico” (1979). O filme foi dirigido com
muita sensibilidade pelo jovem diretor indiano, transformando-se num entretenimento
dos mais agradáveis. Redford também assina a produção. Resumo da ópera: Redford e Fonda juntos tornam esse filme imperdível!
domingo, 5 de novembro de 2017
Pouco antes de morrer, em outubro de 2016, o consagrado diretor
polonês Andrzej Wajda encerrou sua carreira com chave de ouro, realizando o
ótimo “AFTERIMAGE” (“POWIDOKI”), com roteiro de Andrzej Mularczyk. O
filme conta a história dos últimos anos de vida de Wladyslaw Strzeminski (Boguslan
Linda), considerado o mais
importante artista plástico de vanguarda da Polônia no Século XX. Como pano de
fundo para a história está o domínio soviético sobre a Polônia a partir de
1948, contra o qual o artista se insurgiu e depois sofreu as consequências – o aspecto
político da história da Polônia sempre esteve presente nos filmes de Wajda. Strzeminski
não tinha uma perna e um braço, o que não o impedia de exercer sua criatividade
e dar aulas na Escola de Belas Artes de Lodz. Os estudantes o idolatravam. Suas
palestras eram com plateia lotada, repleta de jovens que queriam ouvir sua
opinião sobre tudo, inclusive política. Strzeminski não abria mão de sua liberdade
artística e de expressão, recusando-se a obedecer as “orientações” artísticas
das autoridade soviéticas. Mais um grande filme de Wajda, selecionado para representar a Polônia na disputa do Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro. Imperdível!
Sempre gostei de filmes que abordam a questão Palestina, a difícil convivência com Israel, a cultura de cada povo, os imbróglios políticos que
envolvem aquela região. “OS ÁRABES
TAMBÉM DANÇAM” (“Aravim Rokdim”),
2014, Israel, direção de Eran Riklis, trata de todos esses assuntos. A história,
ambientada a partir de 1982, quando Israel invade o Líbano, é baseada no livro
autobiográfico “Dancing Arabs”, escrito por Sayed Kashua, que também assina o
roteiro. A trama é centrada no jovem Eyad (Tawfeek Barhom), que reside com a
família árabe no vilarejo de Tira. Esperto e inteligente, Eyad consegue uma
bolsa para estudar na prestigiada Israel Arts and Science Academy, em
Jerusalém. Sua origem árabe fará com que Eyad enfrente muitos desafios, como o
da língua, da cultura e muito preconceito. Até o romance com uma judia, Naomi
(Danielle Kitsis), será tumultuado por causa das diferenças culturais. No
filme, há muitos momentos sensíveis, como a amizade de Eyad com Yonatan
(Michael Moshonov), um jovem israelense que sofre de uma grave doença
degenerativa, e com a mãe dele, Edna (Yaël Abecassis). Nos créditos iniciais
aparece a informação de que 20% dos cidadãos israelenses são árabes, o que dá
um total de 1.617.000 pessoas. Fica evidente na narrativa e nas situações que a
mensagem que o diretor quis transmitir é a seguinte: não deveria haver tanta
inimizade, pois somos praticamente irmãos. Sem dúvida, um filme bastante
esclarecedor e realizado com grande sensibilidade. Do mesmo diretor recomendo “A
Noiva Síria”, “Lemon Three” e “A Missão do Gerente de Recursos Humanos”.
quinta-feira, 2 de novembro de 2017
“NEVE NEGRA” (“NIEVE
NEGRA”), 2017, Argentina,
segundo longa-metragem escrito e dirigido por Martín Hodara. Suspense dos
melhores, cuja história é centrada no reencontro dos irmãos Marcos (Leonardo
Sbaraglia) e Salvador (Ricardo Darín), que não se viam nem se falavam há trinta
anos. A visita não era para matar as saudades do irmão Salvador e sim tentar
convencê-lo a aceitar uma proposta de venda da velha cabana e das terras que
pertenciam à família no interior da Patagônia. Salvador vive isolado ali há
muitos anos. Casado com Laura (a atriz espanhola Laia Costa) e prestes a ser
pai, Marcos precisa de dinheiro para bancar as despesas com o nascimento do bebê,
médico, hospital etc. Salvador se recusa a discutir o assunto e manda Marcos ir
embora com a mulher. A rivalidade entre os irmãos tem a ver com uma tragédia
familiar ocorrida no passado, envolvendo a morte do irmão mais novo, Juan. A
verdade do que aconteceu virá à tona no desfecho, com uma surpreendente
revelação. O diretor Martín Hodara já havia trabalhado com Darín em 2007 no
policial noir “O Sinal”, sua estreia na direção. Mesmo que Darín não seja o protagonista
principal, sua presença carismática valoriza o drama. Outro destaque é a qualidade do roteiro, um primor, que consegue manter o suspense do começo ao fim e ainda explicar toda a história sem recorrer a malabarismos intelectuais, além das presenças, também marcantes, de Dolores Fonzi e Federico Luppi. Mais um filme argentino
que merece ser visto.
terça-feira, 31 de outubro de 2017
Durante a Guerra Fria entre a União Soviética e os Estados
Unidos, a corrida espacial era uma das “armas” ideológicas mais importantes. Era
questão de honra sair na frente do outro. Em 1965, a União Soviética colocou em
prática a Missão Voskhod 2, que teve como principal objetivo fazer com que um
astronauta soviétivo fosse o primeiro homem a caminhar no espaço. Toda essa
história é contada no filme “PRIMEIRA
VEZ” (“VREMYA PERVYKH”), 2017, Rússia, direção de Dmitriy Kiselev (“Trovão
Negro”). A missão ficou a cargo dos astronautas Alexey Leonov (Evgeniy Mironov)
e Pavel Belyayev (Konstantin Khabenskiy). O filme, de um esmero técnico comparável
aos melhores do gênero feitos por Hollywood, não esconde o fato de que naquela época
participar de uma missão no espaço era quase um suicídio, haja vista a
precariedade dos equipamentos – o filme não esconde esse detalhe. Para quem não
conhece a história da Missão Voskhod ou não se lembra do seu desfecho, o filme
é uma ótima oportunidade para resgatar um feito heroico dos mais
representativos na corrida espacial.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
De vez em quando a gente descobre uma preciosidade. Estou
falando de “A CONSTITUIÇÃO” (“Ustav Republike Hrvatske”), 2016,
Croácia, escrito e dirigido por Rajko Grlic (“O Posto da Fronteira”). Eu não tinha
qualquer referência sobre este filme, a não ser o fato de ter sido exibido
durante a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2016. Uma
surpresa das melhores, um filme inteligente, bem-humorado e sensível, mesmo que
o pano de fundo seja a rivalidade entre sérvios e croatas. A história é toda
centrada em quatro personagens que moram no mesmo edifício: o professor
homossexual Vjeko Kralij (Neojsa Glogovac, numa atuação espectacular) e seu pai
grudado numa cama com as duas pernas amputadas; a enfermeira Maja (Ksenija
Marinkovic) e seu marido, o policial Ante Samardzic (Dejan Acimovic). Em troca
de Maja ir de vez em quando dar banho e cuidar do seu pai, Vjeko se propõe a
dar aulas sobre a Constituição da Croácia a Ante, preparando-o para uma prova
que poderá lhe significar um aumento de patente. Os dois vão se estranhar o
tempo todo, já que Ante é sérvio e Vjeko é croata, o que resulta em momentos
bastante divertidos. Tudo muito contido, claro, sem apelações humorísticas. O
filme foi vencedor do Grand Prix Des Amériques no Festival de MontreaL 2016 e
eleito o melhor filme do Festival de Santa Bárbara 2017. Além disso, foi
premiado no Festival da Eslovênia e fez parte da seleção oficial do Festival de
Munique 2017. Fazia muito tempo que eu não me entusiasmava tanto por um filme. IMPERDÍVEL!
domingo, 29 de outubro de 2017
“TONI ERDMANN”, 2016, escrito e dirigido por Maren
Ade, era o grande favorito para conquistar o Oscar 2017 de Melhor Filme
Estrangeiro para a Alemanha. Ficou entre os cinco finalistas, mas acabou
perdendo para o iraniano “O Apartamento”. O filme alemão é muito bom, tem
humor, momentos sensíveis e um grande personagem. Na verdade, Toni Erdmann é o
nome inventado pelo sessentão Winfried Conradi (Peter Simonischek) quando
assume a personalidade de um cara gozador, que faz brincadeiras inusitadas
disfarçando-se com uma dentadura postiça e uma peruca comprida, inventando histórias mirabolantes e se apresentando cada vez com uma profissão diferente. Depois
da morte de seu cão de estimação e companheiro de todas as horas, Winfried resolve dar mais atenção à sua filha
Ines (Sandra Hüller), uma executiva workhlic
que trabalha no escritório de uma empresa alemã em Bucareste (capital da
Romênia). Ele vai visitá-la e tentar, com suas brincadeiras e disfarces, romper a armadura de
seriedade que envolve a filha, que não tem o mínimo sendo de humor e só pensa
em trabalhar. Que atriz maravilhosa é Sandra Hüller. Só ela vale o filme. “Toni
Erdmann” foi exibido pela primeira vez no 69º Festival de Cannes, em maio de
2016, e encantou críticos e público. Foi
eleito o melhor filme estrangeiro de 2016 pelos críticos de Nova Iorque, pela
Revista Sight & Sound e pela conceituada revista francesa Cahiers Du Cinéma. Realmente, um
filmaço!
sábado, 28 de outubro de 2017
“MANUSCRITOS NÃO
QUEIMAM” (“DAST-NEVESHTEHAA NEMISOOSAND”), 2013, Irã, 2h14m. Polêmico thriller político escrito
e dirigido por Nohammad Rasoulop, que teve a coragem de desafiar, novamente, o
governo iraniano. Desde 1910, quando foi preso por fazer filmes denunciando a
censura e a repressão existentes no país, Rasoulop estava proibido de
trabalhar. Além disso, seu passaporte foi confiscado pelas autoridades
iranianas, que impediram sua viagem à Alemanha para participar do Festival
Internacional de Direitos Humanos de Nuremberg. As filmagens de “Manuscritos
não Queimam” foram realizadas clandestinamente e, por questão de segurança, os
nomes dos atores e da equipe técnica não aparecem nos créditos. Claro que o
filme foi proibido no Irã, mas foi aclamado no Festival de Cannes 2013, onde
conquistou o prêmio FIPRESCI da Mostra “Um Certo Olhar”. Sua exibição terminou
com o público aplaudindo de pé. Por aqui, somente foi exibido no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, em 2013. O filme denuncia um caso verídico ocorrido anos
antes envolvendo uma tentativa do governo iraniano de assassinar 21 escritores
num atentado que não deu certo. A história toda está contada nos manuscritos
guardados na casa de um poeta. Os assassinos de aluguel Morteza e Khosrow
ficaram encarregados de encontrá-los e assassinar o seu autor. Confesso que até
bem depois da metade do filme fique especulando, sem entender, o que estava
acontecendo. Mas logo depois, além de entender, deu para sentir a força
impactante dessa produção clandestina iraniana. Não digo que seja um filmaço,
mas muito poderoso pela denúncia. Só para espectadores que curtem filmes
políticos.
“O EFEITO AQUÁTICO” (“L’Effet
Aquatique”), 88
minutos, França/Islândia, 2015, escrito e dirigido pela diretora islandesa
Sólveig Anspach. Logo após o término das filmagens, Anspach faleceu e a
montagem ficou a cargo do francês Jean-Luc Gaget, seu assistente direto.
Trata-se de uma comédia romântica que conta a história de Samir (Samir Guesmi),
um operador de guindaste em Montreuil, arredores de Paris, que se apaixona pela
instrutora de natação Agathe (Forence Loiret Caille). A paixão foi tão forte
que Samir inscreve-se nas aulas de Agathe numa piscina pública de Paris. O
romance começa bem, mas logo termina a partir do momento em que Agathe descobre
que Samir nada muito bem. A partir daí, o filme passa para uma segunda etapa,
na Islândia, para onde Agathe viaja para participar de um congresso internacional
de instrutores de piscina. Samir descobre e também vai para a Islândia tentar a
reconciliação. O filme foi premiado como Melhor Roteiro na mostra “Quinzena dos
Realizadores” do Festival de Cannes 2016 e também no tradicional César, o Oscar
francês. Por aqui, foi exibido no Festival Internacional de Cinema do Rio de
Janeiro 2016, mas não ganhou projeção no circuito comercial. Achei o filme
muito fraco, oferece pouco humor para uma comédia romântica e é tão sem graça quanto
o ator Samir Guesmi, uma espécie de Mr. Bean francês. Se algo vale a pena são
as paisagens islandesas exploradas com competência pela fotografia de Isabelle
Razavet. Da mesma diretora, recomendo o drama "Lulu Nua e Crua", este sim um belo filme.
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
“A ÚLTIMA PRINCESA” (“DEOKHYEONGJU”), 2016, Coreia do Sul. Belíssimo
trabalho de reconstituição histórica do roteirista e diretor Jin-Ho Hur,
enfocando a turbulenta trajetória de vida da Princesa Deokhye (1912-1989), última
remanescente da Dinastia Joseon (1392-1897). A história, baseada no livro "Princesa Deokhye", de Kwon Bi-Young, começa quando a princesa,
ainda menina, vê o seu pai (Rei Gojong) morrer envenenado. Na época, a Coreia
era dominada pelo Japão. Quando perceberam que a princesa poderia causar
problemas, os japoneses a exilaram no Japão, onde foi obrigada a casar com o
Conde So Takeyukim, membro importante da monarquia imperial japonesa. De tão
infeliz, principalmente por não poder voltar ao seu país, Deokhye acaba
sofrendo um colapso e é internada num hospital psiquiátrico. Muitos anos
depois, graças ao empenho de um antigo amigo, Jang-Han (Park Hae II), a
princesa consegue finalmente voltar à Coreia. Deokhye é interpretada na juventude
por So-Hyun Kim e, na fase adulta, por Son Ye Jin. O filme é irresistível, não
apenas pelo fundo histórico e político – uma aula de história coreana –, mas também pela caracterização de
época, cenários deslumbrantes e uma fotografia da mais alta qualidade. Recomendo
também outro filme cujo pano de fundo é a resistência coreana ao domínio
japonês: “A Era da Escuridão”.
terça-feira, 24 de outubro de 2017
“O BAR” (“EL BAR”), 2016, Espanha, roteiro e direção de
Álex de La Iglesia (“Balada do Amor”). Um misto de suspense, comédia de humor
negro e ficção científica. Num bar no centro de Madri, as pessoas vão chegando
para o café da manhã. De repente, ecoa um tiro e o pessoal que está no bar vê
que um pedestre foi atingido na calçada. Um dos clientes sai para socorrer o
que foi baleado e também recebe um tiro. Claro que ninguém mais quer sair do
tal bar. São três mulheres e cinco homens que observam o mundo lá fora ficar
muito estranho: ruas vazias, os cadáveres dos homens desaparecem, começa um
grande incêndio, homens com máscaras antigás desinfetando tudo pela frente etc.
De dentro do bar, a impressão que dá é que o mundo está acabando. A partir daí,
toda a ação se resume ao interior do bar e depois pelo esgoto da cidade. Entre
os oito “reféns” da situação estão um mendigo que não para de citar a Bíblia,
uma dondoca à espera do namorado, um policial aposentado, a dona e um
funcionário do bar, além de outras figuras estranhas. O desespero da situação
conturba o ambiente e começam os desentendimentos. Eles só irão se entender a
partir do momento em que precisam encontrar uma saída para fugir do bar. Ou
seja, recuperar a sanidade e tentar sair dali vivos. Se o filme é fraco por si
só, o desfecho então beira o ridículo. Aliás, ridículo mesmo é figurino que arranjaram para o galã canastrão Mario Casas, com barba e suspensório ao estilo Amish. O filme estreou no 67º Festival de
Berlim, em fevereiro de 2017, e tem no elenco atores e atrizes espanhóis bastante
conhecidos: além de Casas, Blanca Suárez, Carmen Machi, Jaime Ordóñez, Alejandro Awada e Terele
Pávez. Descartável!
domingo, 22 de outubro de 2017
“ASSIM QUE ABRO MEUS
OLHOS” (“À PEINE J’OUVRE LES YEUX”), Tunísia/França, 2015, marca a estreia da tunisiana Leyla
Bouzid na direção – ela também assina o roteiro. Mesmo que o centro da história seja
ficcional, o filme resgata os acontecimentos que deram origem ao movimento que viria
a se chamar “Primavera Árabe”, a partir de dezembro de 2010, responsável pela
derrubada dos presidentes da Tunísia, do Egito e da Líbia, além de gerar violentos
protestos em outros países do Oriente Médio e do Norte da África. O filme é
todo ambientado em Túnis e centrado na jovem Farah (Baya Medhaffar), de 18
anos, vocalista de uma banda de pop-rock cujas letras protestam contra o
governo tunisiano comandado pelo ditador Zine el-Abidine Ben Ali, que seria
deposto meses depois. Canções de protesto, contendo letras com frases como “Ricos
têm dentes de ouro, enquanto os pobres estão desdentados” ou “Assim que abro
meus olhos eu vejo aqueles privados de trabalho e de comida”. A banda se
apresenta em bares lotados de Túnis e os jovens aderem às músicas, gritando
seus refrões. Claro que não demora muito
para as autoridades começarem a repressão, o que desencadeia todo um movimento
revolucionário. Além do aspecto político, o filme destaca o relacionamento
conflituoso entre Farah e a mãe, Hayet (a maravilhosa atriz Ghalia Benali). O
filme representou a Tunísia na disputa do Oscar 2017 de Melhor Filme
Estrangeiro, foi premiado em diversos festivais, inclusive o de Veneza, e foi
considerado pelo site IndieWire “O melhor filme de ficção sobre a Primavera
Árabe até agora”. Realmente, um filmaço!
sábado, 21 de outubro de 2017
O cinema atual da Romênia já nos presenteou com grandes
filmes, como “Instinto Materno”, de 2013, e “Casamento Silencioso”, de 2008,
que considero uma pequena obra-prima cinematográfica, entre tantos outros. “GRADUAÇÃO” (“BACALAUREAT”), 2016, chega para consagrar em
definitivo o diretor Cristian Mungiu, também autor do roteiro. Mungiu caiu nas
graças dos críticos profissionais depois de “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”, de
2007, que conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Em 2012, Mungiu assinou
o roteiro e a direção de outro grande filme, “Além das Montanhas”. Em “Graduação”, Mungiu trata de moral e
ética ao contar a história de Romeo Aldea (Adrian Titieni), um médico bastante
respeitado na pequena cidade de Cluj, na Transilvânia, que fará tudo para
conseguir que a filha Eliza (Maria Victoria Dragus) obtenha uma nota alta nos
exames finais que lhe darão uma bolsa para estudar Psicologia na Inglaterra. Só
que, um dia antes, Eliza é atacada por um tarado e fica abalada
psicologicamente, o que a impedirá de realizar uma boa prova. O pano de fundo
político entra na história ao lembrar que tanto Romeo quanto sua esposa Magda
(Lia Bugnar), na juventude, tiveram a liberdade cerceada pela ditadura de
Ceauseascu. Além de uma manobra bastante antiética para favorecer a filha,
Romeo ainda enfrenta o colapso do seu casamento e a pressão da amante Sandra
(Malina Manovici), diretora da escola de Eliza. O filme garantiu a Mungiu o
Prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes 2016. Adrian Titieni ganhou o Prêmio
de Melhor Ator no Festival de Chicago. Imperdível!
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
“A PROMESSA” (“The Promise”), 2016, EUA, 2h15m, roteiro e direção
do irlandês Terry George (“Hotel Ruanda” e “O Negociador”). Pela primeira vez,
Hollywood trata da questão do genocídio praticado pelos turcos contra os
armênios entre 1914 e 1917 – os turcos negam até hoje. Pelo menos um milhão e
meio de armênios foram perseguidos e assassinados pelo exército do então
Império Otomano (atual Turquia). Infelizmente, o diretor Terry George preferiu
dar mais ênfase ao triângulo amoroso envolvendo a bela Ana (a atriz canadense
Charlotte Le Bon), Michael (o ator guatemalteco Oscar Isaac) e Michael (Christian
Bale). As informações históricas
sobre o genocídio ficaram de lado, fazendo com que o assunto fosse colocado apenas como pano
de fundo para uma trama de amor à beira do novelesco. Resumo da história: o
armênio Michael sonha em ser médico, mas a família não pode pagar a faculdade.
Dessa forma, ele aceita casar com a jovem Maral (Angela Sarafyan) em troca de
um dote substancioso. Longe de Maral, Michael conhece a também armênia Ana,
namorada do fotógrafo norte-americano Chris. Até o final do filme, os dois disputarão
o amor da moça. Claro que no meio do romance tem muita cena de ação e
violência, uma das poucas referências ao genocídio. O filme somente foi
realizado graças ao milionário Kirk Kerkorian, filho de imigrantes armênios que
se tornou um grande empresário em Hollywood e dono de cassinos. Antes de
morrer, aos 98 anos, em 2015, ele investiu do próprio bolso US$ 100 milhões na
produção do filme, que talvez não tenha conseguido ver depois de pronto. “A Promessa”
estreou no Festival de Toronto/2016 sem conseguir arrancar aplausos da plateia
e nem críticas elogiosas, mas é um bom programa.
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
“MEL” (“MIELE”), 2013, Itália. Em seu primeiro filme
como diretora e roteirista, a atriz Valeria Golino dá mostras de que entende do
riscado. O pano de fundo é a eutanásia. A história toda é centrada em Irene (Jasmine
Trinca), também chamada de “Honey”, o que justifica o título. Com a orientação
de um amigo médico, de quem é sócia na empreitada, Irene ajuda pacientes em
estado terminal a morrer de maneira digna e sem dor. Para isso, utiliza um
remédio utilizado para sacrificar animais doentes e que, pelo que entendi, não
deixa vestígios nos seres humanos. Para obter a substância, Irene faz
constantes viagens ao México, onde a venda do remédio é liberada. Irene começa a repensar sua
atividade quando recebe a incumbência de ajudar o engenheiro Carlo Grimaldi (o
ótimo Carlo Cecchi) a passar para o outro mundo. No meio do processo, ela
descobre que Carlo não tem nenhuma doença grave, o que não justificaria o
procedimento. A italiana Jasmine Trinca brilha como a personagem principal, o
que não é surpresa, pois vem demonstrando muita competência desde que estreou
no cinema, em 2001, no filme “O Quarto do Filho”, de Nanni Moretti. Depois
participou de filmes como “Maravilhoso Boccacio” e “O Franco Atirador”,
contracenando com o astro Sean Penn. Jasmine Trinca consolida-se cada vez mais como uma
das atrizes italianas mais bonitas e competentes da atualidade. “Mel” foi
selecionado para a mostra “Um Certain Regard” do Festival de Cannes 2013,
recebendo uma menção especial do Júri Ecuménico.
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