sábado, 8 de maio de 2021

 

“ASSASSINATO ÀS CEGAS” (“ANDHADHUN”), 2018, Índia, 2h30m, disponível na Netflix, roteiro e direção de Sriram Raghavan. Um dos mais interessantes e criativos filmes realizados por Bollywood nos últimos anos. Trata-se de um misto de comédia/suspense/drama, com pitadas de musical – não aquelas cantorias irritantes, mas músicas cujas letras fazem referência à história. Por falar em história, vamos a ela. O personagem principal é o pianista deficiente visual Akash (Ayushmann Khurrana). Quando ele conhece por acaso a jovem Sophie (Radhika Apte), sua vida mudará completamente. A começar pelo convite do tio da moça para tocar em seu restaurante, um dos mais chiques da cidade de Pune. O tio é Promod Sinha (Anil Dhawan), um antigo astro de Bollywood, casado com uma mulher bem mais jovem, a bela e sensual Simi (a atriz Tabu, nome artístico de Tabassum Fatima Hashmi). Para homenagear a esposa no dia do aniversário de casamento, Promod contrata o pianista cego para uma apresentação surpresa no apartamento do casal. Só que a surpresa será ainda maior quando há um corpo estendido no chão da sala, vítima de assassinato recentemente cometido, e um homem pelado no banheiro. Olha a confusão. Como já dá para presumir, o filme é cheio de surpresas, reviravoltas e situações que fogem ao controle dos personagens, num ritmo frenético do começo ao fim. Isso tudo acontece graças ao primoroso e criativo roteiro, bem construído e desenvolvido, repleto de humor e sequências hilariantes. Achei melhor não me estender no comentário para não estragar as inúmeras surpresas e reviravoltas. Além do ótimo elenco, o grande trunfo do filme é justamente o roteiro, adaptado do curta-metragem francês “L’Accordeur, de 2010. Não deve ter sido fácil transformar uma história de 10 minutos em um roteiro de 2 horas e meia. O filme é tão bom que arrastou milhões de espectadores para os cinemas não só da Índia como da China, transformando-se no grande sucesso de bilheteria nos dois países em 2018. Tenho acompanhado o cinema de Bollywood há muitos anos e este talvez seja o filme mais ocidental já produzido na Índia. “Assassinato às Cegas” é diversão garantida. Simplesmente imperdível!                     

        

 

       

quinta-feira, 6 de maio de 2021

 

Representante oficial de Taiwan na disputa do Oscar 2021 de Melhor Filme Internacional (eu preferia quando era “Estrangeiro”), “A SUN” (“YANGGUANG PUZHAO”) é uma pequena joia meio escondida na plataforma Netflix. Com 2h36m, dirigido por Chung Mong-Hong, que também assina o roteiro com a colaboração de Yansheng Chang, o filme tem encantado a crítica especializada mundo afora, sendo considerado por alguns até mesmo melhor do que o sul-coreano “Parasita” (grande vencedor do Oscar 2020) e do que o japonês “Assunto de Família”. Como estes dois últimos, “A Sun” também é um drama familiar. Vamos à história. O instrutor de autoescola A-Wen (Chen Yi-Wen) e a cabeleireira Chin (Samantha Shu-Chin Ko) criaram seus dois filhos homens com muito sacrifício. O mais velho, A-Hao (Xu Guang-Whan), sempre foi o queridinho, aluno exemplar e muito educado, agora estudando para o vestibular de medicina. A-Ho (Wu Chien-Ho), o mais novo, sempre foi um adolescente problemático. Envolvido com uma turma de delinquentes, ele acaba preso depois de participar de um roubo e de uma agressão violenta. Durante o julgamento, o próprio pai pede ao juiz que lhe aplique uma pena dura. Dessa forma, A-Ho terá de cumprir um ano e meio de prisão em um reformatório juvenil. Todas as esperanças da família, então, voltam-se para A-Hao. Mas um trágico acontecimento envolvendo o rapaz desestruturará de vez a família. Mas o drama familiar não ficará só por aí. Uma menina de 15 anos aparece dizendo estar grávida do jovem preso. A-Wen e a esposa Chin terão de administrar tudo isso e muito mais, pois depois que A-Ho sai da cadeia, volta a se envolver em problemas. As tragédias da família parecem não ter fim, e não terão mesmo, pois ainda haverá uma reviravolta ainda mais infeliz no desfecho. O trabalho do elenco é sensacional, difícil destacar uma atuação específica. O roteiro e a fotografia também merecem um destaque especial. O filme estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto, depois foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Tóquio e ainda foi o grande vencedor do Golden Horse Film Awards (o Oscar taiwanês), ao final do qual conquistou cinco estatuetas, inclusive a de Melhor Filme. Se o cinema de Taiwan já era respeitado no mundo inteiro pela produção de filmes como os consagrados “Comer Beber Viver”, “O Banquete de Casamento” e “O Tigre e o Dragão”, entre outros, “A Sun” chega para colocar a cereja por cima do bolo. Simplesmente um filme arrebatador, poderoso e, ao mesmo tempo, cativante. Sem dúvida, um dos melhores deste século. Cinema da melhor qualidade. IMPERDÍVEL com letras maiúsculas.         

        

 

       

terça-feira, 4 de maio de 2021

 

“CLINICAL”, 2017, Estados Unidos, 1h44, disponível na plataforma Netflix, direção de Alistair Legrand, que também assina o roteiro com a colaboração de Aaron Stanford. Trata-se de um suspense envolvendo a psiquiatra Jane Mathis (Vinessa Shaw). Assombrada por um trauma do passado, quando viveu uma tragédia com sua jovem paciente Nora Green (India Eisley), Jane participa de sessões com um terapeuta, o qual recomendou que ela não atendesse mais pessoas com transtorno do estresse pós-traumático. Mesmo com a terapia e remédios, a psiquiatra não consegue se livrar desse antigo trauma. É comum ela ter visões sobre o que aconteceu e ainda sonhar com a jovem. Apesar do conselho dado pelo seu terapeuta, ela concorda em tratar de Alex (Kevin Rahm), um homem que teve o rosto desfigurado num acidente de automóvel, o que acarretaria graves consequências em pouco tempo. As alucinações de Jane foram piorando dia após dia e será assim até o desfecho, quando haverá uma reviravolta na história. Ainda estão no elenco Aaron Stanford (o roteirista), William Atherton, Nestor Serrano, Wilmer Calderon e Sidney Tamiia Poitier (filha do grande Sidney Poitier). Trocando em miúdos, “Clinical” é o tipo de filme que, de tão ruim, ou você odeia ou você detesta. Fica fácil perceber que várias sequências foram introduzidas no roteiro para enrolar a história - bem fraca por sinal - e estender a duração do filme. Talvez por ser apenas o segundo longa-metragem dirigido por Legrand, faltou conteúdo e um pouco mais de ação e suspense para sustentar a história até o desfecho. Nem mesmo a atuação da bela Vinessa Shaw consegue atenuar esse desastre. Um filme para esquecer.                                      

segunda-feira, 3 de maio de 2021


 

“UM INVERNO EM NOVA YORK” (“THE KINDNESS OF STRANGERS”), 2019, coprodução Estados Unidos/Dinamarca/Canadá/França/Suécia/Alemanha/Inglaterra, 1h55m, roteiro e direção de Lone Scherfig. Tem explicação tantos países envolvidos. A diretora e o ator Esben Smed são dinamarqueses, a atriz Andrea Riseborough e Bill Nighy são ingleses, Tahar Rahim é francês, Zoe Kazan norte-americana, além de outros integrantes do elenco e da equipe técnica. Trata-se de um drama muito triste, centrado em uma jovem mãe que, com dois filhos, sai do subúrbio fugindo do marido violento, que por sinal é policial. Com exceção do carro, não têm dinheiro para se alimentar nem lugar para dormir. Passam as noites em albergues para moradores de rua. Finalmente são acolhidos por um gerente de restaurante russo. Em outro segmento da história, uma enfermeira solitária é voluntária em abrigos para pessoas carentes e ainda coordena um grupo de apoio intitulado “Núcleo do Perdão”, cujo objetivo é promover o perdão e praticar a bondade. A história transcorre em vários subtramas e os personagens, de uma forma ou de outra, se encontrarão durante a narrativa para compartilhar seus dramas e ajudarem uns aos outros. O contexto dramático dá margem a que a história destaque também as pessoas que se sacrificam para praticar a bondade, a solidariedade e a empatia. “Um Inverno em Nova York” estreou na noite de abertura do 69º Festival Internacional de Cinema de Berlim e não entusiasmou a crítica nem o público, mas é um filme que passa uma mensagem necessária aos tempos atuais de tanto sofrimento.                         

        

domingo, 2 de maio de 2021

 

“MUCIZE”, 2015, Turquia, 2h16m, roteiro e direção de Mahsun Kirmizigül, que também atua no filme. Ao lado dos recentes “Milagre na Cela 7” e “Filhos de Istambul”, este drama é mais um daqueles que faz a plateia se derramar em lágrimas. Os três, disponíveis na plataforma Netflix, foram grande sucesso de bilheteria, confirmando o gosto do público por histórias sensíveis. E, melhor ainda, foram considerados bons filmes pela crítica especializada. No caso específico de “Mucize” (quer dizer “milagre” em português), a história é baseada em fatos reais ocorridos na década de 60. O professor Muallim Mahir (Talat Bolut) é transferido para uma escola de um vilarejo situado nas montanhas. Sua esposa se recusa a acompanhá-lo e Mahir vai sozinho. O lugar é tão remoto que ele é obrigado a descer do ônibus e caminhar durante horas até chegar ao seu destino. Na chegada, uma grande surpresa. O vilarejo não tem uma escola. Mas Mahir não desiste e decide, com dinheiro próprio, construir uma. Para isso, conta com a mão de obra dos próprios aldeões e de bandidos das montanhas, que se unem em um mutirão para concretizar a obra. Com seu jeito bonachão e de uma bondade imensa, Mahir conquistou o coração dos habitantes, principalmente depois que resolveu adotar como aluno o deficiente físico Azis (Mert Turak). O filme é repleto de momentos comoventes e de outros muito engraçados. Além disso, apresenta alguns rituais muito interessantes da cultura e tradição daquele povo, como, por exemplo, a escolha da noiva para os homens da aldeia, inclusive uma para Azis. Apesar do ambiente de pobreza, o filme passa uma mensagem de esperança e otimismo. Enfim, “Mucize” é um filme que diverte e emociona. Imperdível!