sábado, 6 de maio de 2017

“A CRIADA” (“AH-GA-SSI”), 2016, Coréia do Sul, roteiro e direção de Park Chan-Wook (“Oldboy”, “Segredos de Sangue”). Trata-se de um drama da mais alta qualidade, criativo e, ao mesmo tempo, de difícil compreensão, longo (2h47m) e enigmático, sem falar no fato de que é falado em japonês e coreano. A trama, porém, é engenhosa. Requer uma atenção especial para os detalhes. Nem tudo o que você vê é o que realmente acontece. O roteiro é baseado no romance galês “Fingersmith” (“Na Ponta dos Dedos”), escrito por Sarah Waters. Ambientado nos anos 30 na Coréia do Sul durante a ocupação japonesa, o filme descreve uma trama diabólica. A jovem camponesa Sooke (Kim Tae-Ri) é contratada como empregada da rica e ingênua herdeira Hideko (Kim Min-Hee), que mora com o tio autoritário Kouzuki (Cho Jin-Woong). A verdadeira intenção de Sooke é promover a aproximação do falso conde Fugiwara (Ha Jung-Woo) e convencer Hideko a desposá-lo. Na segunda parte do filme, numa narrativa fragmentada, repleta de idas e vindas, além da repetição das cenas da primeira parte sob ângulos diferentes, o enredo transforma-se num verdadeiro quebra-cabeças e sua montagem terá a finalidade de explicar tudo o que realmente aconteceu, com direito a várias reviravoltas até chegar ao desfecho. O primor visual, tanto com relação à fotografia, cenários, figurinos e recriação de época, é um dos maiores destaques do filme, assim como a requintada elaboração das cenas eróticas, que beiram o explícito sem abrir mão do bom gosto. Não há dúvidas de que estamos diante de um filme bastante interessante e inovador. Poucos diretores do cinema atual teriam a coragem de utilizar a câmera com tantos planos diferentes e de forma tão criativa. Não é um filme para iniciantes. Concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2016 e ganhou nada menos do que 37 prêmios internacionais em festivais pelo mundo afora.                                     
Em 1879, a descoberta de uma caverna com pinturas rupestres, inicialmente datadas de 10.000 anos, em Santander (norte da Espanha), causou enorme polêmica no mundo científico da época,  envolvendo ciência, religião, história e arte. O caso virou um embate dos mais ferrenhos entre o  arqueólogo amador espanhol Marcelino Sanz de Sautuola, descobridor da caverna, e o francês Émile Cartailhac, então a maior autoridade em pré-história, sem contar a reação da Igreja Católica, contrária às teorias de Sautuola. Ao apresentar sua descoberta a cientistas do mundo inteiro num congresso, Marcelino foi humilhado por Cartailhac, que o chamou de charlatão. Marcelino caiu em desgraça perante o mundo científico e somente 35 anos depois sua teoria seria reconhecida. Toda essa fascinante história é contada em “ALTAMIRA”, 2016, numa coprodução Reino Unido/Espanha, sob a direção do veterano diretor inglês Hugh Hudson (“Carruagens de Fogo”, “Greystoke: The Legend of Tarzan” e “África dos Meus Sonhos”).  No elenco, Antonio Banderas, a atriz iraniana Golshifteh Farahani, Rubert Everett, Clément Sibony, Irene Escolar e Allegra Allen. Um trabalho primoroso do diretor Hudson, que resolveu contar uma história das mais interessantes sob o ponto de vista da ciência e da arte. O filme é valorizado ainda mais pela excelente fotografia, além dos cenários deslumbrantes da região da Cantábria, onde está localizada Santander. Imperdível!                               

quinta-feira, 4 de maio de 2017

“A LONGA CAMINHADA DE BILLY LYNN” (“Billy Lynn’s Long Half Time Walk”), EUA, 2016, direção de Ang Lee. História baseada no livro escrito por Ben Fountain, também autor do roteiro. Ambientado em 2005, o enredo é centrado no jovem soldado Billy Lynn (Joe Alwyn), que volta do Iraque como herói depois de salvar um sargento de uma emboscada em meio a intenso tiroteio. Billy e seus companheiros de pelotão – chamado pela mídia norte-americano como “Bravo” – chegam aos EUA com honras, condecorações e homenagens. Políticos e empresários ligados ao esporte, ao cinema e ao mundo dos espetáculos tentam se aproveitar da fama dos rapazes. Entendi o filme como uma crítica mordaz ao establishment político e empresarial do Tio Sam. Seu lançamento nos cinemas dos EUA foi um grande fracasso de bilheteria, apesar da história envolvendo soldados heróis e das participações especiais de Vin Diesel, Steve Martin, Kristen Stewart e Chris Tucker. Achei verborrágico demais. O resultado final ficou muito aquém da competência do consagrado diretor taiwanês Ang Lee, responsável por excelentes filmes como “O Segredo de Brokeback Montain”, “As Aventuras de Pi” e “Tempestade de Gelo”. Na minha opinião, o melhor de Lee ainda é “Comer, Beber, Viver”, de 1994.                               

quarta-feira, 3 de maio de 2017

O drama canadense “MEAN DREAMS” teve sua primeira exibição no Festival de Cannes 2016. A direção é de Nathan Morlando, em seu segundo longa – o primeiro foi “Edwin Boyd: A Lenda do Crime” –, com roteiro de Ryan Grassby e Kevin Coughlin. Ainda não tem data para estrear em nossos cinemas e, por isso, não há tradução para o título. Aliás, duvido que seja exibido por aqui, pois não tem muito apelo comercial, a não ser pelo fato de ser o penúltimo filme da carreira do ator Bill Paxton, falecido em fevereiro de 2017, e pela presença da atriz adolescente Sophie Nélisse, que ficou conhecida depois de ter atuado em “A Menina que Roubava Livros”. A história de “Mean Dreams” é centrada nos jovens Jonas Ford (Josh Wiggins) e Casey (Nélisse), que moram em propriedades rurais vizinhas, fazem amizade e acabam se apaixonando. Casey é filha do policial Wayne Caraway, um sujeito violento e alcoólatra, que a maltrata inclusive com espancamentos. Jonas passa a rondar a casa da namorada e acaba descobrindo que o pai dela está envolvido com o tráfico de drogas. Aí a coisa complica de vez, pois Jonas foge com a maleta de dinheiro que o policial roubara. Pior: na fuga, leva a filha do policial junto. A partir daí, o filme se transforma numa perseguição pelas estradas, de um lado os jovens fugitivos e, de outro, o policial Wayne e seu chefe (Colm Feore), também envolvido na maracutaia envolvendo as drogas. Dá pra ver numa sessão da tarde.                           

terça-feira, 2 de maio de 2017

Marco Bellocchio é um dos mais importantes diretores italianos da atualidade. São de sua autoria filmes muito bons como “Vincere” e “A Bela que Dorme”, entre tantos outros. Recentemente, lançou “Belos Sonhos”, elogiado pela crítica especializada e que ainda não tive a oportunidade de assistir. Em 2015, Bellocchio escreveu e dirigiu “SANGUE DO MEU SANGUE” (“SANGUE DEL MIO SANGUE”), inspirado num episódio do clássico romance histórico “I Promessi Sposi”, escrito em 1827 por Alessandro Manzoni. O filme é dividido em duas partes. Na primeira, ambientada no Século 17, um padre católico comete suicídio após ter um caso com a freira Benedetta (Lidiya Liberman). Federico Mai (Piergiorgio Bellocchi Jr, filho do diretor), irmão gêmeo do padre que se matou, exige dos padres do monastério que forcem a freira a confessar sua culpa, impedindo dessa forma que o irmão falecido não seja enterrado num cemitério de animais, como era costume fazer com os suicidas da época. Os padres assumem o papel de inquisidores e tentam convencer a freira a confessar mediante tortura. Ela acaba não confessando, o que lhe acarretará um castigo da maior crueldade. O filme dá um salto para os dias atuais e a história que será contada não tem qualquer ligação com a primeira, a não ser o monastério, que agora virou um casarão onde se esconde um misterioso conde (Roberto Herlitzka). Um milionário russo quer comprar o imóvel para transformá-lo num hotel de luxo. O mesmo Piergiorgio Bellocchio surge como protagonista dessa história. Se na primeira parte Marco Bellocchio faz críticas ácidas à Igreja Católica, na segunda aproveita para denunciar a corrupção que predomina no meio político italiano. Por falar nisso, Bellocchio, se fosse político, talvez fosse acusado de nepotismo, ao colocar no elenco seu filho Piergiorgio e sua fiha Elena Bellocchio. “Sangue do Meu Sangue” venceu o Prêmio da Crítica no Festival de Veneza 2015, sendo aplaudido de pé por 8 minutos ao final de sua exibição. Aplausos exagerados, na minha opinião. Por aqui, estreou em 2016 durante a 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.