“A CRIADA” (“AH-GA-SSI”), 2016, Coréia do Sul, roteiro e direção de Park
Chan-Wook (“Oldboy”, “Segredos de Sangue”). Trata-se de um drama da mais alta
qualidade, criativo e, ao mesmo tempo, de difícil compreensão, longo (2h47m) e
enigmático, sem falar no fato de que é falado em japonês e coreano. A trama, porém, é
engenhosa. Requer uma atenção especial para os detalhes. Nem tudo o que você
vê é o que realmente acontece. O roteiro é baseado no romance galês “Fingersmith”
(“Na Ponta dos Dedos”), escrito por Sarah Waters. Ambientado nos anos 30 na Coréia do Sul
durante a ocupação japonesa, o filme descreve uma trama diabólica. A jovem
camponesa Sooke (Kim Tae-Ri) é contratada como empregada da rica e ingênua herdeira
Hideko (Kim Min-Hee), que mora com o tio autoritário Kouzuki (Cho Jin-Woong). A
verdadeira intenção de Sooke é promover a aproximação do falso conde Fugiwara (Ha
Jung-Woo) e convencer Hideko a desposá-lo. Na segunda parte do filme, numa
narrativa fragmentada, repleta de idas e vindas, além da repetição das cenas da
primeira parte sob ângulos diferentes, o enredo transforma-se num verdadeiro
quebra-cabeças e sua montagem terá a finalidade de explicar tudo o que
realmente aconteceu, com direito a várias reviravoltas até chegar ao desfecho.
O primor visual, tanto com relação à fotografia, cenários, figurinos e recriação
de época, é um dos maiores destaques do filme, assim como a requintada
elaboração das cenas eróticas, que beiram o explícito sem abrir mão do bom
gosto. Não há dúvidas de que estamos diante de um filme bastante interessante e
inovador. Poucos diretores do cinema atual teriam a coragem de utilizar a câmera
com tantos planos diferentes e de forma tão criativa. Não é um filme para iniciantes.
Concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2016 e ganhou nada menos do que
37 prêmios internacionais em festivais pelo mundo afora.
sábado, 6 de maio de 2017
Em
1879, a descoberta de uma caverna com pinturas rupestres, inicialmente datadas
de 10.000 anos, em Santander (norte da Espanha), causou enorme polêmica no
mundo científico da época, envolvendo
ciência, religião, história e arte. O caso virou um embate dos mais ferrenhos
entre o arqueólogo amador espanhol
Marcelino Sanz de Sautuola, descobridor da caverna, e o francês Émile
Cartailhac, então a maior autoridade em pré-história, sem contar a reação da
Igreja Católica, contrária às teorias de Sautuola. Ao apresentar sua descoberta
a cientistas do mundo inteiro num congresso, Marcelino foi humilhado por
Cartailhac, que o chamou de charlatão. Marcelino caiu em desgraça perante o
mundo científico e somente 35 anos depois sua teoria seria reconhecida. Toda
essa fascinante história é contada em “ALTAMIRA”, 2016, numa coprodução Reino Unido/Espanha, sob a direção do veterano diretor inglês Hugh Hudson (“Carruagens
de Fogo”, “Greystoke: The Legend of Tarzan” e “África dos Meus Sonhos”). No elenco, Antonio Banderas, a atriz iraniana
Golshifteh Farahani, Rubert Everett, Clément Sibony, Irene Escolar e Allegra
Allen. Um trabalho primoroso do diretor Hudson, que resolveu contar uma
história das mais interessantes sob o ponto de vista da ciência e da arte. O
filme é valorizado ainda mais pela excelente fotografia, além dos cenários
deslumbrantes da região da Cantábria, onde está localizada Santander.
Imperdível!
quinta-feira, 4 de maio de 2017
“A LONGA CAMINHADA DE BILLY LYNN” (“Billy Lynn’s Long Half Time Walk”), EUA, 2016, direção de Ang Lee. História baseada no livro escrito por Ben Fountain, também
autor do roteiro. Ambientado em 2005, o enredo é centrado no jovem soldado
Billy Lynn (Joe Alwyn), que volta do Iraque como herói depois de salvar um
sargento de uma emboscada em meio a intenso tiroteio. Billy e seus companheiros
de pelotão – chamado pela mídia norte-americano como “Bravo” – chegam aos EUA
com honras, condecorações e homenagens. Políticos e empresários ligados ao
esporte, ao cinema e ao mundo dos espetáculos tentam se aproveitar da fama dos
rapazes. Entendi o filme como uma crítica mordaz ao establishment político e empresarial do Tio Sam. Seu lançamento nos
cinemas dos EUA foi um grande fracasso de bilheteria, apesar da história
envolvendo soldados heróis e das participações especiais de Vin Diesel, Steve
Martin, Kristen Stewart e Chris Tucker. Achei verborrágico demais. O resultado final ficou muito aquém da
competência do consagrado diretor taiwanês Ang Lee, responsável por excelentes
filmes como “O Segredo de Brokeback Montain”, “As Aventuras de Pi” e “Tempestade
de Gelo”. Na minha opinião, o melhor de Lee ainda é “Comer, Beber,
Viver”, de 1994.
quarta-feira, 3 de maio de 2017
O drama
canadense “MEAN DREAMS” teve sua primeira exibição no Festival de Cannes
2016. A direção é de Nathan Morlando, em seu segundo longa – o primeiro foi “Edwin
Boyd: A Lenda do Crime” –, com roteiro de Ryan Grassby e Kevin Coughlin. Ainda
não tem data para estrear em nossos cinemas e, por isso, não há tradução para o
título. Aliás, duvido que seja exibido por aqui, pois não tem muito apelo
comercial, a não ser pelo fato de ser o penúltimo filme da carreira do ator
Bill Paxton, falecido em fevereiro de 2017, e pela presença da atriz
adolescente Sophie Nélisse, que ficou conhecida depois de ter atuado em “A Menina
que Roubava Livros”. A história de “Mean Dreams” é centrada nos jovens Jonas
Ford (Josh Wiggins) e Casey (Nélisse), que moram em propriedades rurais
vizinhas, fazem amizade e acabam se apaixonando. Casey é filha do policial
Wayne Caraway, um sujeito violento e alcoólatra, que a maltrata inclusive com
espancamentos. Jonas passa a rondar a casa da namorada e acaba descobrindo que
o pai dela está envolvido com o tráfico de drogas. Aí a coisa complica de vez,
pois Jonas foge com a maleta de dinheiro que o policial roubara. Pior: na fuga,
leva a filha do policial junto. A partir daí, o filme se transforma numa
perseguição pelas estradas, de um lado os jovens fugitivos e, de outro, o
policial Wayne e seu chefe (Colm Feore), também envolvido na maracutaia envolvendo
as drogas. Dá pra ver numa sessão da tarde.
terça-feira, 2 de maio de 2017
Marco
Bellocchio é um dos mais importantes diretores italianos da atualidade. São de
sua autoria filmes muito bons como “Vincere” e “A Bela que Dorme”, entre tantos
outros. Recentemente, lançou “Belos Sonhos”, elogiado pela crítica especializada e que ainda não tive a oportunidade
de assistir. Em 2015, Bellocchio escreveu e dirigiu “SANGUE DO MEU
SANGUE” (“SANGUE DEL MIO SANGUE”), inspirado num episódio do clássico
romance histórico “I Promessi Sposi”, escrito em 1827 por Alessandro Manzoni. O
filme é dividido em duas partes. Na primeira, ambientada no Século 17, um padre
católico comete suicídio após ter um caso com a freira Benedetta (Lidiya
Liberman). Federico Mai (Piergiorgio Bellocchi Jr, filho do diretor), irmão
gêmeo do padre que se matou, exige dos padres do monastério que forcem a freira
a confessar sua culpa, impedindo dessa forma que o irmão falecido não seja
enterrado num cemitério de animais, como era costume fazer com os suicidas da
época. Os padres assumem o papel de inquisidores e tentam convencer a freira a
confessar mediante tortura. Ela acaba não confessando, o que lhe acarretará um
castigo da maior crueldade. O filme dá um salto para os dias atuais e a
história que será contada não tem qualquer ligação com a primeira, a não ser o monastério,
que agora virou um casarão onde se esconde um misterioso conde (Roberto
Herlitzka). Um milionário russo quer comprar o imóvel para transformá-lo num
hotel de luxo. O mesmo Piergiorgio Bellocchio surge como protagonista dessa
história. Se na primeira parte Marco Bellocchio faz críticas ácidas à Igreja
Católica, na segunda aproveita para denunciar a corrupção que predomina no meio
político italiano. Por falar nisso, Bellocchio, se fosse político, talvez fosse
acusado de nepotismo, ao colocar no elenco seu filho Piergiorgio e sua fiha
Elena Bellocchio. “Sangue do Meu Sangue” venceu o Prêmio da Crítica no Festival
de Veneza 2015, sendo aplaudido de pé por 8 minutos ao final de sua exibição. Aplausos exagerados, na minha opinião. Por aqui, estreou em 2016 durante a 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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