quinta-feira, 9 de junho de 2016

“CEMITÉRIO DO ESPLENDOR” (“Rak ti Khon Kaen”), 2015, Tailândia, roteiro e direção de Apichatpong Weerasethakul. Neste seu mais recente filme, o cineasta tailandês retoma os temas que já havia explorado no abominável “Tio Boonme, que pode recordar Vidas Passadas” (Palma de Ouro em Cannes/2010, um absurdo): vidas passadas, espíritos, sonhos, mediunidade, deuses, filosofia de vida, religião etc. O filme é ambientado num pequeno hospital onde antes funcionava uma escola infantil, numa floresta no interior da Tailândia. Nesse hospital, estão internados 27 soldados acometidos de uma rara doença do sono. Uns dormem o tempo todo, outros acordam de vez em quando. Quem domina a cena é Jenjira (Jenjira Pongpas), uma mulher de meia-idade voluntária no hospital, e Keng (Jarinpattra Ruengram), uma jovem médium. Elas conversam o tempo todo sobre diversos assuntos, um deles o fato de que a escola, hoje hospital, foi construída em cima de um cemitério onde estão enterrados os corpos de antigos reis e rainhas. No hospital, Keng tenta decifrar os sonhos e desejos dos soldados dorminhocos, enquanto Jenjira se afeiçoa por um dos soldados, Itt (Banlop Lomnoi), com o qual costuma ter longas conversas. Assim como os soldados, há grandes chances do espectador dormir durante o filme.     

terça-feira, 7 de junho de 2016

“O CONVITE” (“The Invitation”), 2015, EUA, direção de Karyn Kusama (“A Garota Infernal”, com Megan Fox). Trata-se de um suspense, quase um terror. Aqui, não há monstros, e nem necessidade deles, pois os verdadeiros monstros são os próprios seres humanos. O casal Eden (Tammy Blanchard) e David (Michiel Huisman) convida um grupo de amigos para jantar. Entre os convidados, Will (Logan Marshal Green), ex-marido de Eden, além de Pruitt (John Carroll Lynch), que anos antes assassinara a esposa, “acidentalmente”, diz ele. Os demais convidados também são esquisitos. Já nos aperitivos a gente percebe um clima de tensão no ar, prenunciando que a reunião não acabará bem. A coisa piora quando os anfitriões exibem um vídeo de um guru charlatão que prega a morte como a solução para todos os problemas. Depois disso, o clima entre os convidados fica ainda pior. A tensão aumenta, as pessoas ficam cada vez mais inquietas e aí a coisa desanda de vez. E não há como escapar, pois os anfitriões trancam todas as portas. Como suspense, o filme até que funciona. Nada mais que mereça uma indicação entusiasmada. Recomendo apenas para os fãs do gênero.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

“A GAROTA DINAMARQUESA” (“The Danish Girl”), 2015, EUA/Reino Unido, direção de Tom Hooper (“O Discurso do Rei”, “Sombras do Passado”, “Os Miseráveis”). Baseado no livro biográfico escrito por David Ebershoff, e, portanto, baseado em fatos reais, o filme conta a história do pintor dinamarquês Einar Mogens Wegener, que se tornaria a primeira pessoa no mundo a se submeter a uma operação de mudança de sexo. Isso na década de 30, com uma Copenhagen retratada numa maravilhosa recriação de época. Einar (Eddie Redmayne),  começou a gostar de ser mulher ao servir de modelo para sua esposa, a também pintora Gerda (Alicia Vikander). A princípio, Gerda via o marido se vestir de mulher e achava tudo divertido. Mas ele levou a sério, mudou o nome para Lili Elbe e até arrumou um namorado, Henrik (Ben Whishaw), para desespero da esposa. Depois, é claro, quis ser mulher no sentido biológico, sendo operada pelo Dr. Warnekros (Sebastian Koch). Se já em “A Teoria de Tudo”, no qual interpretou o cientista Stephen Hawking, o ator britânico Redmayne havia demonstrado um enorme talento (ganhou o Oscar 2015 de Melhor Ator), neste ele se superou, com uma atuação nada menos do que espetacular. Merecia o bis no Oscar 2016, mas perdeu, injustamente, para Di Caprio, o queridinho da Academia. Justiça foi feita, porém, com a atriz sueca Alicia Vikander, que ganhou o Oscar como Melhor Atriz Coadjuvante. Ela tem também uma atuação marcante. O filme foi indicado ainda para os prêmios de Melhor Direção de Arte e Figurino. Resumo da ópera: o filme é ótimo e simplesmente imperdível!     
“KAMCHATKA”, 2002, Argentina/Espanha. Ambientado em 1976, logo após o golpe militar na Argentina que deu início a uma violenta ditadura, o filme acompanha o cotidiano de uma família que foge de Buenos Aires e se refugia numa fazenda. O advogado David Vicent (Ricardo Darín) e sua esposa (Cecília Roth) estão sendo procurados pelos militares. Eles e os filhos são obrigados a trocar de nome. O mais velho, de 11 anos, escolhe Harry, por causa de seu grande ídolo, o mágico ilusionista Harry Houdini. A história é toda narrada sob a ótica de Harry, que não entende muito bem o que está acontecendo e nem por que são obrigados a viver fugindo. As barreiras militares nas estradas são a única referência explícita dos novos e tenebrosos tempos. No mais, o filme destaca o amor do casal, a preocupação com os filhos e como uma família é capaz de sobreviver num total anonimato. A família costuma jogar TEG (versão argentina do jogo de tabuleiro WAR), onde aparece um país fictício chamado Kamchatka – na verdade, trata-se de uma península que realmente existe a leste da Rússia. O diretor Marcelo Piñero (“Plata Quemada” e “Cinzas do Paraíso”) recheou o filme de momentos sensíveis e até comoventes, amenizando a carga dramática. É um filme bonito que merece ser visto e revisto, ainda mais porque é valorizado pela presença de Ricardo Darin e Cecília Roth, além do grande Hector Altério.               

domingo, 5 de junho de 2016

“RUA CLOVERFIELD, 10” (“10 Cloverfield Lane”), 2015, EUA. O maior mérito do diretor estreante em longas Dan Trachtenberg foi manter um clima de tensão crescente num filme com apenas três personagens e cuja ação ocorre, em grande parte do filme, num ambiente fechado. A jovem Michelle (Mary Elizabeth Winstead) briga com o namorado, junta suas coisas e sai estrada afora. Depois de um acidente no qual quase perde a vida, Michelle acorda confinada num lugar estranho. Como vai descobrir logo depois, ela foi sequestrada – ou “salva” – pelo ex-soldado da Marinha Howard Stambler (John Goodman), um homem esquisito com jeito de psicopata. Michelle está, na verdade, dentro de um abrigo subterrâneo, um bunker todo protegido do ambiente externo. Segundo Howard, houve um ataque com armas químicas (alienígenas?) e a população toda foi dizimada. Howard, portanto, a salvou da morte certa. Michelle descobrirá também que tem a companhia de outro “refém”, Emmett (John Gallagher Jr.), que será seu companheiro de infortúnio. O suspense rola solto durante os 105 minutos de duração desse bom thriller psicológico, cuja receita ainda conta com algumas pitadas de humor negro e ficção científica. A atuação dos três protagonistas principais é ótima, com destaque para o veterano John Goodman. Suspense dos melhores!