sábado, 25 de setembro de 2021

 

“BAC NORD: SOB PRESSÃO” (“BAC NORD”), 2020, França, disponível na plataforma Netflix, 1h47m, direção de Cédric Jimenez (“A Conexão Francesa", de 2014), que também assina o roteiro com a colaboração de Audrey Diwan (esposa do diretor) e Benjamin Charbit. Não é novidade que o cinema francês está dominando o gênero policial, muitas vezes superando os melhores de Hollywood. É o caso deste “Bac Nord”, repleto de ação, tensão e muita violência. E, melhor ainda, baseado em fatos reais ocorridos em 2012. Estamos na cidade de Marseille, que registra o maior índice de criminalidade da França – e talvez de toda a Europa. A história acompanha o desafio diário de três policiais na linha de frente da Brigada Anticrime no combate ao tráfico de drogas em Marseille, mais especificamente na parte norte da cidade, habitada, em sua grande maioria, por imigrantes árabes, muçulmanos e africanos. O QG dos traficantes fica localizado num conjunto de edifícios populares. Nem mesmo a polícia chega perto, pois a barra é bem pesada. Os policiais Antoine (François Civil, Grégory Cerva (Gilles Lellouche) e Yassine (Karim Leklou) resolvem tirar partido da situação e ganhar um dinheirinho por fora. A estratégia é simples: eles esperam os viciados saírem dos prédios e confiscam suas drogas e depois as vendem. Para obter mais informações sobre as atividades dos traficantes, Antoine mantém uma informante, a viciada Amel (Kenza Fortas), que dá as dicas em troca de porções de maconha. Quando o prefeito exige uma ofensiva contra os traficantes, um grande número de policiais é mobilizado para a perigosa e difícil missão. As cenas que virão a seguir são de uma tensão extrema, quando os policiais são cercados pelos traficantes, que contam com o apoio dos moradores. O diretor Cédric Jimenez, com uma câmera de mão, filma tudo de forma muito realista, fazendo com que o espectador se veja no meio de toda a ação. São cenas de tirar o fôlego, valorizando ainda mais este excelente filme francês. Como se não bastasse tudo isso, o elenco, além dos ótimos atores que interpretam os três policiais, ainda conta com a jovem diva Adèle Exarchopoulos, que, além de bonita, é excelente atriz. Lançado no Festival de Cannes de 2020, recebendo elogios da crítica e do público, “BAC Nord” é um filme obrigatório para quem curte o gênero policial. E para quem não curte também. Simplesmente IMPERDÍVEL, com letra maiúscula e negrito.     

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

 

“UNTOUCHED” (este é o título original, assim como está na Amazon Prime Vídeo; na tradução para o português, pode ser “Intocado” ou “Intocável”), 2017, Estados Unidos, 1h20m, direção do brasileiro Raphael Vieira, seguindo roteiro de Chip Lane, Angelique Chase, Megan Lambardo e Sandra Elise Williams. Filme certamente feito para a TV, com uma produção de poucos recursos – para não dizer pobre - e um elenco de ilustres desconhecidos e péssimos atores. Eis que surge de repente na tela, para minha surpresa, um rosto conhecido: a atriz brasileira Maria Zilda Bethlem. Dei stop na filmagem e fui pesquisar o que ela estaria fazendo em um filme norte-americano. Descobri na hora: ela é mãe do diretor, cujo pai é Roberto Talma, falecido em 2015, famoso por aqui como diretor da TV Globo. Bem, vamos à história de “Untouched”, ambientada na pequena cidade de Savannah (Estado da Geórgia). Primeiro, quero dizer que resolvi assistir esse drama porque a sinopse anunciava que se tratava de um filme de tribunal, o que eu adoro. Triste ilusão. Tem só uma pequena cena de julgamento, o resto é só um drama mesmo. O advogado Mitchell Thomas (Chip Lane, também um dos roteiristas) é designado para defender uma jovem de 16 anos acusada de ter assassinado seu bebê recém-nascido e o jogado em uma lixeira. Ela não se recorda do que aconteceu e também não quer dizer o nome do pai da criança. Para piorar a situação, a moça é filha de um conhecido pastor da igreja, de quem escondeu que estava grávida. No início, Mitchell relutou em assumir o caso, pois carrega um trauma do passado relacionado justamente com a questão do aborto. Maria Zilda interpreta Alex, outra advogada do escritório. Ela aparece pouco, num papel sem muita importância, mas não compromete. Acho que por conta de alguma brincadeira combinada durante a filmagem, Mitchell cumprimenta Alex com um “bom dia” em português, e, numa outra cena, Maria Zilda diz um “merda” também em português. Não há muito mais o que se comentar, apenas dizer que o filme é muito fraco, sem dúvida um dos piores lançamentos da Amazon este ano (2021).

   

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

“O SÉTIMO DIA” (“THE SEVENTH DAY”), 2021, Estados Unidos, disponível na plataforma Amazon Prime Vídeo, 1h27m, roteiro e direção de Justin P. Lange. Depois do clássico “O Exorcista”, de 1974, muitos outros filmes foram feitos com o tema exorcismo. Mas, até hoje, nenhum superou em impacto e qualidade o filme dirigido por William Friedkin, com Max von Sidow, Ellen Burstyn e Linda "Jato Verde" Blair. Eu mesmo já assisti a alguns, e posso afirmar, do alto da minha condição de cinéfilo amador, que a maioria é uma grande porcaria. “O Sétimo Dia” também faz parte da tropa medíocre, apesar de trazer no elenco Guy Pearce, um nome de um certo respeito no cinema atual. Mas nem ele foi capaz de salvar esse filme. Ele interpreta o padre Peter, um dos mais experientes na prática do exorcismo. Peter é designado para treinar o padre novato Daniel (o fraco ator mexicano Vadhir Derbez) a encarar o demônio de perto e tentar vencê-lo. O primeiro teste acontece num reduto de mendigos. Daniel terá que descobrir, entre eles, quem está possuído, e, para nosso espanto, sem usar batina, nem crucifixo, Bíblia ou água benta. Ou seja, não se fazem mais padres como antigamente. O segundo teste, agora na prática, acontece quando Daniel é obrigado a enfrentar o diabo no corpo do garoto Charlie (Brady Jenness). Aí o bicho pega. Como tantos outros filmes, “O Sétimo Dia” apresenta alguns clichês do gênero: tabuleiro Ouija, criança com voz grossa, gosma verde, olhos virando, levitação, mortes provocadas pelo possuído etc. Com exceção de alguns bons sustos, nada desse filme é capaz de motivar uma recomendação entusiasmada. Vade retro!  

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

 

“PALESTINA: UMA TERRA EM CONFLITO” (“PALESTINE”), 2019, disponível na plataforma Amazon Prime Video, coprodução Marrocos/Israel/Espanha, 1h18m, direção de Julio Soto Gurpide e Mohamed El Badaoui – que também faz o papel principal no filme – seguindo roteiro de Suha Arraf. A história é baseada em fatos reais descritos no livro “Palestine” (2007), do escritor tunisiano Hubert Haddad. Quem se depara com o título nacional pode pensar que vai ver atentados, explosões, mísseis e tiroteios. Nada disso, embora tenha cenas de alguma violência e tensão. A história começa com homem caminhando à beira de uma estrada da Palestina, ao lado do muro que separa seu território de Israel. Ele apresenta um ferimento na cabeça e está mentalmente perturbado, como alguém que não sabe o que está acontecendo. Um carro para ao seu lado e o identifica como Nassim (Mohamede El Badaoui), um palestino que foi preso há 10 anos pelo exército israelense. Quando é levado para a casa da mãe, em Hebrom - cidade palestina na Cisjordânia -, Nassim é recebido com muita festa e lágrimas e fica claro que ele perdeu a memória, pois não se lembra de nada. Aos poucos, porém, com a convivência diária com sua mãe Ismahan (Amal Ayduch) e com a prima Rana (Sarah Perles), Nassim percebe que tem algo errado com ele, ou seja, está sendo difícil acreditar que é mesmo um palestino. Um dia, durante o sono, ele fala em hebraico, o que gera suspeitas por parte da prima. Como o roteiro faz questão de esclarecer bem antes do desfecho, Nassim é, na verdade, um soldado israelense chamado Chaim. Embora a história seja bastante interessante, faltou ao roteiro explicar alguns aspectos que poderiam acrescentar um melhor entendimento por parte do espectador. Por exemplo, como Nassim/Chaim foi ferido, por que estava com roupas de civil quando foi encontrado e como ele fala tão bem a língua árabe. Somando os prós e os contras, acredito que o filme merece ser conferido, principalmente por aqueles que, como eu, gostam de histórias ambientadas naquela zona de conflito.            

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

 

“NORMANDIA NUA” (“NORMANDIE NUE”), 2018, França, disponível na plataforma Amazon Prime Vídeo, roteiro e direção de Philippe Le Guay. Na mão de outros diretores, a história talvez ganhasse tons de drama, pois tem como pano de fundo a crise econômica. Nas mãos de Philippe Le Guay, porém, o filme se transformou em uma ótima comédia, leve e agradável de assistir, como já tinha sido com dois de seus maiores sucessos, como “As Mulheres do Sexto Andar” (2010) e “Pedalando com Molière” (2013). Em “Normandia Nua”, a história envolve fazendeiros, agricultores e criadores de gado na região da Normandia, ao redor da pequena cidade de Mêle Dur Sarthe. Revoltados com a baixa de preços, principalmente do leite e da carne, e ainda pela concorrência de países como a Romênia e a China, os fazendeiros, sob o comando de George Balbuzard (François Cluzet, de “Intocáveis), prefeito do vilarejo, resolvem realizar manifestações de protesto, o primeiro deles fechar uma estrada com tratores, arados e colheitadeiras. O resultado foi o inverso. A mídia criticou a manifestação e recebeu apoio dos consumidores. Pra resumir a história, Balbuzard resolve aceitar a proposta inusitada do fotógrafo norte-americano Blake Newman (Toby Jones), famoso por fotografar dezenas de pessoas nuas, todas juntas, e dizer que aquilo é arte. Balbuzard acredita que essa foto com a população do vilarejo terá grande repercussão, dando a oportunidade para que os fazendeiros locais encontrem espaço na mídia para denunciar a situação. Porém, há um grande problema: convencer os habitantes a posar sem roupa. Daí começa a parte mais engraçada do filme, que é Balbuzard visitando os moradores para convencê-los a tirar a roupa e posar para a tal fotografia. Entre os lances mais engraçados está a torcida dos homens do vilarejo para que a mulher do açougueiro, ex-Miss Calvados, concorde em participar da foto, mesmo totalmente fora de forma. Outra grande sacada foi completar o elenco com os próprios moradores do vilarejo. Entre os atores profissionais, destaco a presença de François-Xavier Demaison, Vincent Regan, Arthur Dupont, Julie-Anne Roth, Philippe Rebbot, Grégory Gadebois e Lucie Muratet. Em tempos de tanto estresse, nada como uma boa comédia para melhorar o ânimo. “Normandia Nua” é a dica perfeita para isso. Não perca!       

 

“MEU ANO EM NOVA YORK” (“MY SALINGER YEAR”), 2020, Canadá, disponível dede 15 de setembro de 2021 na plataforma Netflix, 1h41m, roteiro e direção de Philippe Falardeau. Filme de abertura do Festival Internacional de Cinema de Berlim, este simpático drama é baseado em fatos reais relatados no livro biográfico da jornalista, poetisa, crítica e romancista Joanna Smith Rakoff. “Meu Ano em Nova York” destaca a experiência vivida por Joanna (Margaret Qualley) em 1995, quando saiu da Califórnia para morar em Nova York, onde conseguiu emprego como assistente de uma grande editora de livros. Seu trabalho era responder às cartas enviadas por leitores e fãs do consagrado escritor J. D. Salinger, o principal escritor agenciado pela editora, cuja proprietária era a mal-humorada e prepotente Margaret (Sigourney Weaver). Joana era obrigada a responder com cartas-padrão determinadas há anos pela editora. As cartas não deveriam chegar jamais às mãos de Salinger, autor do best-seller “O Apanhador no Campo de Centeio”, também famoso por viver recluso e avesso a encontros sociais, principalmente entrevistas. Ao contrário das normas estabelecidas e com pena dos remetentes, Joanna começou a responder as cartas dando conselhos, o que lhe causaria problemas com Margaret. O filme também destaca o namoro tumultuado de Joanna com o pretendente a escritor Don (Douglas Booth), com o qual dividia um pequeno apartamento. Embora Joanna seja o personagem principal da história, numa interpretação simpática da atriz Margaret Qualley, é Sigourney Weaver quem domina todas as cenas em que aparece. A veterana atriz arrasa no papel de proprietária da editora. Só sua presença vale o ingresso. Trocando em miúdos, “Meu Ano em Nova York” é apenas um filme bonitinho e agradável de assistir, indicado para apreciadores de literatura. Trata-se, enfim, de um filme muito interessante.