sábado, 29 de novembro de 2014

Misto de filme de ação e ficção científica, “LUCY”, 2014, França/EUA, conta uma história mirabolante e fantasiosa, bem ao estilo do diretor francês Luc Besson. Ele mesmo já disse: tem um pouco de “O Profissional”, “A Origem” e “2001 – Uma Odsseia no Espaço”. Obrigada por um namorado traficante, Lucy (Scarlett Johansson) vai ao covil de um poderoso mafioso chinês entregar uma maleta. Ela não sabe, mas está carregando quatro pacotes da droga chamada CPH4, que os chineses querem introduzir no mercado europeu. Para isso, eles introduzem os pacotes no estômago de quatro “voluntários”, entre os quais Lucy. No caso dela, porém, o pacote abre e seu organismo absorve a droga. Aí começa a fantasia. Lucy vira uma mulher com superpoderes, fato explicado cientificamente pelo professor Norman (Morgan Freeman). Segundo ele, o ser humano só utiliza 10% de sua capacidade cerebral. A droga faz com que Lucy ultrapasse esse limite, aumentando a porcentagem – e os poderes - a cada dia que passa. Ela vai querer, é claro, se vingar de Mr. Jang (Choi Min-Sik), o mafioso responsável pela confusão toda. Aí o bicho vai pegar! Os efeitos especiais são ótimos e o visual psicodélico de algumas cenas lembra aquelas imagens sempre ligadas à utilização do LSD. Impossível não associar com a música “Lucy in the Sky with Diamonds”, dos Beatles. O filme funciona como um excelente entretenimento, além de contar com Scarlett Johansson em grande forma.           

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

“CARVÃO NEGRO, GELO FINO” (“Bai Ri Yan Huo”) é um policial chinês que tenta ser “noir”. Dirigido por Yi’nan Diao, o filme conquistou o “Urso de Ouro” do Festival de Berlim 2014. A história, ambientada no Norte da China, começa em 1999, com a investigação de um crime sórdido. Partes do corpo de um homem aparecem em vagões de trem carregados de carvão. Os pedaços são encontrados em várias cidades, o que aumenta ainda mais o mistério. Na chefia das investigações, o detetive Zhang Zili (Liao Fan) é baleado durante a detenção de dois suspeitos. O filme dá um pulo de cinco anos. Outros assassinatos semelhantes são cometidos e a polícia passa a desconfiar de Wu Zhizhen (Lun-Mei Gwei), funcionária de uma lavanderia. Afinal, todas as vítimas tinham alguma ligação com a mulher. Zhang está aposentado, mas mesmo assim continua as investigações daquele caso antigo por conta própria e também vai pressionar Zhizhen. Só que se apaixona por ela, o que, obviamente, vai colocá-lo em perigo. O diretor Diao não facilita as coisas para o espectador. O enredo é meio complicado e no começo fica difícil saber até quem é quem, pois os atores são muito parecidos. Mesmo após a elucidação dos crimes, perto do final, há uma série de acontecimentos que complicam o entendimento, tornando o desfecho um tanto esquisito. Vai ver que foi por isso que o júri de Berlim premiou o filme. Afinal, como diz Rubens Ewald Filho, “crítico adora o que não entende”. E olha que REF é um dos nossos críticos mais respeitados. De qualquer forma, o filme tem lá sua dose de criatividade e é muito bem feito.      

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O diretor norte-americano Jim Jarmusch já fez alguns filmes muito bons, como, por exemplo, “Flores Partidas” (2005) ou “Sobre Café e Cigarros” (2003). Não são filmes comuns, alguns chegam perto do esquisito. Mais uma comprovação do estilo único e diferente de Jarmusch é “AMANTES ETERNOS” (“Only Lovers Left Alive”), que ganhou muitos elogios quando estreou no Festival de Cannes 2013. Conta a história do amor entre dois vampiros eruditos, Eve (Tilda Swinton) e Adam (Tom Hiddleston). Com visual (gótico) de astro do rock, ele mora em Detroit (EUA), é músico (compõe temas fúnebres) e vive entediado. Ela mora em Tânges (Marrocos) para ficar perto de seu mentor, Christopher Marlowe (John Hurt). Pelo que o filme dá a entender, Eve e Adam não se vêem, literalmente, há séculos. Ele entra em contato com ela e diz estar sentindo muito a sua falta. Eve resolve viajar para Detroit e lá viver um tempo com o amante. Nesse meio tempo, chega, como visita inesperada e inoportuna, a irmã mais nova de Eve, a também vampira Ava (Mia Wasikowska), que acaba expulsa da casa depois de “drenar” o sangue de um amigo de Adam. Apesar do ritmo lento e do visual soturno, o filme tem muito bom humor, principalmente nos diálogos, e chega a ser divertido em alguns momentos. E, apesar da história envolver vampiros, não tem mordida no pescoço nem estaca no coração. Aliás, a palavra “vampiro” nunca é mencionada no filme. Jarmusch fez mais um filme muito interessante.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Baseado em conto da escritora canadense Alice Munro (Prêmio Nobel de Literatura 2013), “AMORES INVERSOS” (“Hateship Loveship”), com direção de Liza Johnson, marca a estreia da atriz Kristen Wiig em dramas. Ela ficou conhecida como comediante no humorístico Saturday Night Live, onde trabalhou de 2005 a 2012. No cinema, fez algumas comédias como “Missão Madrinha de Casamento” e “Minha Vida dava um Filme”, entre outras. Neste drama de 2013, ela interpreta Johanna, uma mulher solitária, tímida, melancólica e carente que é contratada para trabalhar na casa de um idoso, Mr. McCauley (Nick Nolte). Aqui vive também a jovem Sabitha (Hailee Steinfeld), neta de McCauley. Típica brincadeira de adolescentes, Sabitha e uma amiga bolam um plano dos mais sórdidos, fazendo com que Johanna acabe se apaixonando por Ken (Guy Pierce), pai de Sabitha e um cara totalmente irresponsável, chegado em bebida e drogas, além de amante crônico do ócio. A paixão vai despertar o vulcão que estava adormecido em Johanna. Essa mudança radical de comportamento – e suas consequências - deixa o filme ainda mais interessante. Só como informação: o título do conto no qual o filme foi baseado é "Itateship, Friendship, Courtship, Loveship, Marriage".                                                               

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O escritor John Le Carré sempre foi especialista em romances de espionagem, principalmente histórias ambientadas durante a Guerra Fria. Baseado em mais um de seus livros, “O HOMEM MAIS PROCURADO” (“A Most Wanted Man”), 2013, direção de Anton Corbijn, apresenta como novidade a espionagem envolvendo o terrorismo islâmico, mas o estilo de suspense é o mesmo dos filmes já feitos baseados em seus romances. Como sempre, o enredo é complexo e demora um tempo para ser entendido. Enquanto investiga um poderoso empresário árabe presidente de uma ONG, suspeito de financiar grupos terroristas, o serviço alemão consegue a informação de que um misterioso checheno entra ilegalmente na Alemanha. Será que ele vem participar de algum atentato terrorista? Os agentes querem essa resposta, assim como a CIA, que, como sempre, entra na jogada. Num jogo de traições, chantagens, pressão psicológica, escutas ilegais e vigilância eletrônica, os agentes alemães conseguem o que almejavam, mas uma reviravolta inesperada no desfecho mudará toda a história. O filme é muito bom e o elenco melhor ainda, encabeçado por Philip Seymour Hoffman em seu último trabalho, além de Rachel McAdams, Willem Defoe, Robin Wright, Nina Hoss. Grigoriy Dobrygin e Daniel Brühl.

domingo, 23 de novembro de 2014

Se já tinha dois prêmios Oscar de Melhor Atriz em sua prateleira (“Meninos não Choram”, de 1999, e “Menina de Ouro”, de 2004), a atriz norte-americana Hilary Swank deve ser indicada para concorrer a mais uma estatueta pelo seu desempenho no drama “YOU’RE NOT YOU”, 2014, dirigido por George C. Wolfe. A história, baseada no livro homônimo escrito por Michelle Wildgen, é muito triste e certamente levará às lágrimas os espectadores mais sensíveis. Kate (Swank) é feliz no casamento com Evan (Josh Duhamel). A chegada inesperada de uma grave doença – esclerose lateral amiotrófica –, porém, abala e complica totalmente a sua vida. Aos poucos, ela vai perdendo os movimentos e passa a ter dificuldade na fala, exigindo uma pessoa para ficar ao seu lado. É quando surge a espevitada Bec (Emmy Rossum), uma universitária chegada numa bebida e acostumada a ir para a cama com o primeiro que lhe dedicar alguma atenção. Mesmo sem ter experiência como enfermeira ou acompanhante, Bec é contratada para cuidar de Kate, mesmo a contragosto do marido, que a vê como uma jovem irresponsável. O relacionamento de Kate e Bec resultará numa amizade muito bonita, o que no desfecho levará a momentos bastante comoventes entre as duas. Não será nenhuma surpresa se Rossum também for indicada ao Oscar (Atriz Coadjuvante). Embora trate de um tema de alto teor de dramaticidade, o filme foi elaborado com muita sensibilidade. É para curtir e se emocionar. 
“UM PLANO BRILHANTE” (“Love Punch”), co-produção França/Inglaterra, 2013, é uma comédia romântica cujo maior mérito é ser mais comédia do que romântica, além de contar com dois ótimos atores que se dão muito bem no gênero: Pierce Brosnan e Emma Thompson. A história também é boa. Brosnan é o empresário inglês Richard, dono de um escritório de investimentos em Londres cujas ações são adquiridas por Vincent (Laurent Lafitte), um poderoso investidor francês. Seu escritório é fechado e Richard perde todo o dinheiro que havia economizado a vida inteira para quando se aposentar. E, o pior de tudo, ficou sem condições de pagar as indenização de seus funcionários. Ele não sabe o que fazer. Sua agora ex-esposa Kate (Emma) sugere uma solução radical: roubar um valioso diamante presenteado por Vincent à sua noiva Manon (Louise Bourgoin). Richard e Kate envolvem os vizinhos Jerry (Timothy Spall) e Penelope (Celia Imrie) na execução do plano mirabolante, a ser colocado em prática em território francês. É claro que os quatro amigos vão se meter em grandes confusões e situações hilariantes. No fim - clichê dos clichês -, o amor prevalecerá. O filme, escrito e dirigido por Joel Hopkins, é bastante divertido e garante 95 minutos de ótimo entretenimento.                                                        
 

 
FILHOS DA NORUEGA” (“Sonner av Norge”), 2011, direção de Jens Lien, é uma comédia dramática bastante original, surpreendente e criativa. A história, ambientada em 1978, é centrada na família do arquiteto Magnus (Sven Nordin), um homem liberal ao extremo, excêntrico, sem religião e adepto radical da filosofia hippie. Para se ter uma ideia, na ceia de Natal para a qual convida os amigos ele oferece um cardápio à base de bananas, faz discurso negando a existência de Deus e coloca no toca-discos, como fundo musical natalino, o hino da Internacional Socialista. Lone (Sonja Richter), sua mulher, dá todo apoio. O conceito de liberdade adotado por Magnus chega ao ponto de convidar os dois filhos, um deles adolescente e o outro menor, para assistir a uma transa do casal. Tudo caminha nesse tom anárquico até que Lone sofre um acidente fatal. A partir daí, devastado com a tragédia, Magnus estreitará sua relação com o filho mais velho, Nikolai (Asmund Hoeg), a quem buscará apoio psicológico. Mas Magnus não deixará de lado o anarquismo. Nikolai está naquela fase adolescente de contestar tudo e a todos. Quando resolve ser um punk, com direito a alfinetes de fralda fincados na orelha e na bochecha, olhos e cabelos pintados, roupas de couro e a banda “Sex Pistols” no aparelho de som aos altos brados, Nikolai pensa que vai chocar e surpreender o pai. Pelo contrário, Magnus dá todo o apoio. E pior: defende o filho depois dos mais variados aprontos. Num deles, depois de Nikolai atirar uma garrafa de cerveja na cabeça do diretor da escola. Ao contrário do que acontece normalmente nas famílias, é o filho quem vai segurar as loucuras do pai, e não o contrário. Um filme muito interessante que merece ser conferido.