quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

 

“DOIS” (“DOS”), 2020, Espanha, disponível na plataforma Netflix, 1h10m, direção de Mar Targarona, seguindo roteiro assinado por Cuca Canals, Christian Molina e Mike Hostench. Em 2020, quando estreou no Festival Internacional de Cinema de Málaga (Espanha), o filme dividiu as opiniões da crítica especializada. Muitos prós e contras. Realmente, “Dois” não é fácil de digerir. É um filme bizarro, perturbador à beira do grotesco e não deve agradar grande parte do público. Durante 99% da duração, apenas dois personagens ficam na tela: David (Pablo Derqui) e Sara (Marina Gatell). Começa o filme e estão lá os dois, nus na cama, grudados um ao outro cirurgicamente pelo estômago, como irmãos siameses. Ela não conhece ele e vice-versa, e não se lembram do que aconteceu. A primeira conclusão é de que foram drogados. Quem será o responsável por tal atrocidade? Sara acha que foi o marido ciumento que deve ter desconfiado de alguma traição. Por sua vez, David confessa ser um garoto de programa e talvez o que está acontecendo tenha a ver com alguém ciumento também. Os dois estão trancados em um quarto, sem qualquer comunicação com o exterior. E haja papo-furado até a história chegar ao seu desfecho, quando acontece uma terrível revelação. Ao tentar explicar “Dois” para a imprensa, a diretora Mar Tagarona (“O Fotógrafo de Mauthausen”, de 2018) deu uma declaração que combina bem com o excêntrico e polêmico filme que dirigiu: “Trata-se de um coquetel de emoções e sensações, às vezes contraditórias, mas esperançosamente interessantes, uma vez que são estimuladas”. Entendeu? Nem eu. Mas há gosto pra tudo, como prova a grande audiência que o filme tem conseguido na Netflix. De qualquer forma, “Dois” é um filme muito diferente e que, por isso mesmo, vale uma conferida.                                    

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

 

“SOB PRESSÃO” (“ETATS D’URGENCE”), 2019, França, disponível na plataforma Amazon Prime, 1h30m, roteiro e direção de Vincent Lannoo. Não é de hoje que o cinema francês demonstra dominar plenamente a arte do gênero policial de ação. Mais um exemplo dessa competência é este filme produzido para ser exibido pela TV France 2. Os holofotes da história estão focados no cotidiano de um grupo de investigadores que trabalha no limite do estresse, com poucos recursos, equipe limitada, sem o devido apoio das chefias, salário baixo e enfrentando marginais que logo são soltos pela justiça (não lembra um país que conhecemos muito bem?), que tratam a polícia na base do escárnio e agem livres, leves e, principalmente, soltos. E pior: os policiais recebem ordens de efetuar cotas de prisão, ou seja, mostrar serviço à opinião pública. Um dos filmes franceses recentes que também aborda a mesma temática é “Bac Nord”, outro filmaço. Em “Sob Pressão”, a personagem central é a policial Justine (Olivia Ruiz, também cantora pop de sucesso na França), obrigada a conciliar a profissão com o papel de esposa e de mãe de um adolescente. Como se não bastasse, ela é acusada de ter roubado dinheiro durante uma batida policial. Dessa forma, ela se torna alvo de investigação da corregedoria e pode perder o emprego. Além disso, enfrenta problemas com seu filho Tristan (Vassili Schneider), um aluno rebelde e contestador que acaba quase todo dia na diretoria da escola. Seu casamento também não vai bem, pois ela trabalha demais e o marido sente muito a sua falta. Se já enfrentava todos esses problemas, Justine ainda passaria um estresse ainda maior depois que Guillaume (Hubert Delattree), seu parceiro e amigo, se suicida no vestiário da delegacia. As melhores e mais tensas cenas do filme acontecem quando os policiais vão aos prédios populares onde residem imigrantes árabes e africanos com o objetivo de prender traficantes. Nessas comunidades, os policiais são recebidos com protestos violentos e sempre correm o risco de serem linchados. Enfim, é muito estresse todos os dias. Também estão no elenco Ibrahim Koma, Grégoire Leprince, Jodith El Zein, Gil Alma, Thomas Chabrol, Vincent Aguesse e Ramzi Bettahar. Filmaço!                                

domingo, 12 de dezembro de 2021

 

“PASSADO SUSPEITO” (“THE BLACK WIDOW KILLER”), 2020, Canadá, disponível na plataforma Amazon Prime Video, 1h30m, roteiro e direção de Adrian Langley. Elenco de ilustres desconhecidos, mas bons atores, história fraquinha e roteiro complicado que não se explica até o desfecho. Foi assim que resolvi resumir o que achei desse suspense canadense produzido para a televisão. A história é ambientada em alguma pequena cidade do Canadá e começa com um grave acidente automobilístico. O carro de um casal de namorados apresenta defeito e o rapaz é obrigado a parar no acostamento. Não demorou muito e apareceu outro veículo com dois casais de jovens e bateu violentamente na traseira do carro parado, provocando uma morte. O filme dá um salto de 25 anos e estamos na companhia da advogada e vice-prefeita Judy Dwyer (Erin Karpluk), que acaba de se divorciar de Steven (Ryan Robbins), o xerife da cidade. O clima na cidade começa a esquentar quando Kendra (Alison Brooks), melhor amiga de Judy, é assassinada. O primeiro suspeito acaba sendo o jovem Daniel (Bradley Hamilton), o filho da vítima e namorado de Abbey (Morgan Kohan), filha de Judy. Ocorre que a própria Judy, por algumas evidências, começa a acreditar que o crime talvez tenha ligação com o acidente de 25 anos atrás, o que será comprovado com outro assassinato, cuja vítima, assim como Kendra, esteve envolvida com aquele trágico acidente. Se há um mérito em “Passado Suspeito”, este se refere à expectativa da revelação do assassino, o que cria um clima de suspense e apreensão até o desfecho, com uma reviravolta surpreendente. Trocando em miúdos, o filme até que chega a ser um bom entretenimento, mas não espere muito.                            

 

“FERIDA” (“BRUISED”), 2020, Estados Unidos, 2h9m, disponível na plataforma Netflix, marca a estreia da atriz Halle Berry como diretora (ela também faz o papel principal), seguindo roteiro assinado por Michelle Rosenfarb. A história é centada em Jackie “Justice” (Berry), uma ex-lutadora de MMA que abandonou as lutas e agora trabalha como faxineira em casas de gente rica. Ela afoga as mágoas na bebida e vive um relacionamento tumultuado com seu namorado e ex-empresário Desi (Adan Canto). Um dia ela é chamada pela mãe Angel (Adriane Lenox, ótima) para buscar o filho Manny (Danny Boyd Jr.), de seis anos, que Jackie havia abandonado quando bebê. Enfim, entre idas e vindas, Jackie tentará conciliar seus dramas pessoais com os desafios de voltar às lutas, pois agora, com a guarda do filho, terá que arrumar dinheiro para sobreviver. Você assiste a tudo o que acontece e de imediato começa a lembrar de “Rocky, Um Lutador”, “A Menina de Ouro”, “Clube da Luta” e até de “Karatê Kid”, além daqueles filmes que contam a história de lutadores e seus desafios, pessoais e nos ringues. “Ferida” tem todos os clichês do gênero, brindando o espectador com aquela aguardada luta no desfecho, na qual “Justice” terá de enfrentar a temida “Lady Killer” (Valentina Shevchenko, lutadora profissional) pelo título da categoria Peso Leve. Segundo alguns artigos divulgados na mídia, Halle Barry, além de vários hematomas, quebrou duas costelas durante as filmagens. O desempenho de Halle é sensacional. Nenhuma surpresa levando-se em consideração o fato dela já ter conquistado um Oscar como Melhor Atriz em 2002 pelo filme “A Última Ceia”. Além de estar em ótima forma física aos 55 anos, a atriz também surpreende ao realizar uma cena de sexo lésbico com Sheila Atim, a “Buddhakan”, sua treinadora. Enfim, “Ferida” é uma estreia muito boa de Halle na direção, embora não seja aquele filme que a gente tem vontade de aplaudir de pé. Como entretenimento, funciona muito bem.