“DOIS” (“DOS”), 2020, Espanha,
disponível na plataforma Netflix, 1h10m, direção de Mar Targarona, seguindo
roteiro assinado por Cuca Canals, Christian Molina e Mike Hostench. Em 2020,
quando estreou no Festival Internacional de Cinema de Málaga (Espanha), o filme
dividiu as opiniões da crítica especializada. Muitos prós e contras. Realmente,
“Dois” não é fácil de digerir. É um filme bizarro, perturbador à beira do
grotesco e não deve agradar grande parte do público. Durante 99% da duração,
apenas dois personagens ficam na tela: David (Pablo Derqui) e Sara (Marina
Gatell). Começa o filme e estão lá os dois, nus na cama, grudados um ao outro
cirurgicamente pelo estômago, como irmãos siameses. Ela não conhece ele e
vice-versa, e não se lembram do que aconteceu. A primeira conclusão é de que
foram drogados. Quem será o responsável por tal atrocidade? Sara acha que foi o
marido ciumento que deve ter desconfiado de alguma traição. Por sua vez, David
confessa ser um garoto de programa e talvez o que está acontecendo tenha a ver
com alguém ciumento também. Os dois estão trancados em um quarto, sem qualquer
comunicação com o exterior. E haja papo-furado até a história chegar ao seu
desfecho, quando acontece uma terrível revelação. Ao tentar explicar “Dois” para
a imprensa, a diretora Mar Tagarona (“O Fotógrafo de Mauthausen”, de 2018) deu
uma declaração que combina bem com o excêntrico e polêmico filme que dirigiu: “Trata-se
de um coquetel de emoções e sensações, às vezes contraditórias, mas
esperançosamente interessantes, uma vez que são estimuladas”. Entendeu? Nem
eu. Mas há gosto pra tudo, como prova a grande audiência que o filme tem
conseguido na Netflix. De qualquer forma, “Dois” é um filme muito diferente e
que, por isso mesmo, vale uma conferida.