sábado, 31 de março de 2018


“COLHEITA AMARGA” (“Bitter Harvest”), 2017, Canadá, roteiro e direção do diretor alemão George Mendeluk. Trata-se de um drama histórico baseado em fatos reais, ambientado nos primeiros anos da década de 30 na Rússia.  Stalin ordenou a expropriação das terras produtivas dos agricultores ucranianos, alegando que elas pertenciam ao estado russo. Como os ucranianos não concordaram, Stalin simplesmente mandou seu exército confiscar tudo o que era produzido na Ucrânia. Além disso, como uma espécie de vingança, lançou o Projeto “Holodomor”, cujo objetivo era promover a morte da população da Ucrânia por inanição. O caso ficou conhecido como o “holocausto ucraniano”, pois causou a morte de cerca de 10 milhões de ucranianos. Esse lamentável fato histórico somente viria a público em 1991, logo depois da desintegração da União Soviética. Esse pavoroso genocídio colocou Stalin como um assassino  pior do que Hitler. “Colheita Amarga”, em sua fase inicial, é ambientado no vilarejo ucraniano de Smila, onde vivem as famílias de Yuri (Max Irons) e Natalka (Samantha Barks), ambas atingidas pela perseguição violenta de Stalin. O avô de Yuri é um herói de guerra ucraniano, Ivan Kachaniuk (Terence Stamp), opositor ferrenho de Stalin. Numa segunda fase, a ação muda para Kiev, para onde vai Yuri tentar a vida e ganhar dinheiro para enviar para sua família. O filme retrata de forma bastante realista o sofrimento do povo ucraniano, com muitas cenas de execução e tortura. Nem mesmo o romance entre Yuri e Natalka consegue amenizar o contexto dramático deste que foi considerado um dos maiores genocídios do Século XX. O filme merece ser visto por retratar um fato histórico tão importante.           

quarta-feira, 28 de março de 2018



“O SACRIFÍCIO DO CERVO DOURADO” (“THE KILLING OF A SACRED DEER”), 2017, Inglaterra. O título já não é muito convidativo. E a sensação de dúvida aumenta ainda mais quando a gente lê na sinopse que o filme foi escrito e dirigido pelo diretor grego Yórgos Lánthimos, conhecido no mundo da Sétima Arte como um autor de filmes esquisitos, tais como “Dente Canino” e “O Lagosta”. Ou seja, um diretor excêntrico e hermético. Tentei desvendar o segredo do título e descobri que se refere a uma tragédia grega escrita por Eurípedes. O diretor Yórgos levou tão a sério que o filme realmente virou uma tragédia, repulsivo, desconfortável, perturbador e lúgubre. E olha que o elenco não é tão ruim: Colin Farrell, Nicole Kidman e Barry Keoghan (de “Dunkirk”), só para citar os principais nomes. Vamos à história: em suas horas de folga, o médico Steven Murphy (Farrell), um renomado cirurgião cardíaco, sempre conversa com o jovem Martin (Keoghan). Há anos que os dois mantém uma relação de verdadeiros amigos. Há um elo bastante forte que une os dois: o pai de Martin morreu durante uma operação de coração realizada por Murphy. Aos poucos, Martin vai se aproximando da família do médico, da esposa Anna (Kidman) e dos dois filhos Bob (Sunny Suljic) e Kim (Raffey Cassidy). A partir daí, o filme se transforma num suspense psicológico até que interessante: será que o garoto vai atingir a família do médico para se vingar da morte do pai? Tchan, tchan, tchan... Não espere explicações plausíveis para o que você vai ver. Pior de tudo é que o filme venceu o Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes.  

segunda-feira, 26 de março de 2018


Com “RODA GIGANTE” (“WONDER WHEEL”), 2017, Woody Allen comprova que ainda está em grande forma como roteirista e diretor, mesmo aos 82 anos. Este talvez seja seu melhor filme dos últimos anos, com uma trama bem apimentada e muito saborosa. É o Woody Allen de sempre: roteiro primoroso, diálogos inteligentes, trilha sonora com muito jazz antigo etc. Faltou um pouco mais de humor - não tem nem piada de judeu –, mas o resultado final é simplesmente irresistível. Ambientada nos anos 40, a história é centrada em Ginny (Kate Winslet), esposa de Humpty (James Belushi), operador de carrossel num parque de diversões na praia de Coney Island (distrito do Brooklyn, New York). Atriz fracassada, ela vive com Humpty um segundo casamento infeliz, ainda tendo que aturar os aprontos de Richie (Jack Gore), seu filho de 8 anos cujo único prazer é incendiar tudo que vê pela frente. Ginny acaba conhecendo o salva-vidas Mickey (Justin Timberlake) e os dois começam um caso. O romance proibido vai bem até a chegada da jovem e bela Caroline (Juno Temple), filha de Humpty, que abandonou um poderoso namorado mafioso. Para desespero de Ginny, Mickey começa a se interessar por Caroline, e vice-versa. Como a situação vai terminar, só vendo o filme. A  fotografia do consagrado Vittorio Storaro, que já havia trabalhado com Allen em “Café Society”, é nada menos do que deslumbrante. Mas o grande destaque é, sem dúvida, a atriz inglesa Kate Winslet, que tem, certamente, o melhor desempenho de toda a sua carreira, principalmente nas cenas em que demonstra – sem querer demonstrar - um ciúme doentio. Sua atuação é simplesmente magistral. Por este seu trabalho, merecia ganhar o Oscar de “Melhor Atriz”, mas não foi nem indicada. Mistérios da Academia... Em seus filmes, Allen sempre criou personagens femininas interessantes e poderosas, tanto é que nada menos do que cinco atrizes ganharam o Oscar dirigidas pelo diretor norte-americano: Kate Blanchett, Dianne West, Diane Keaton, Mira Sorvino e Penélope Cruz. E Allen continua com a corda toda: atualmente, está filmando “A Rainy Day in New York” (“Um dia chuvoso em Nova Iorque”). Depois de Fellini e Mario Monicelli, Woody Allen sempre foi meu diretor preferido. Resumo da ópera: “RODA GIGANTE” é imperdível!