sábado, 1 de fevereiro de 2014

Nos créditos de “O Conselheiro do Crime” (“The Couselor”), EUA - 2013, estão lá o consagrado diretor Ridley Scott, o roteirista e escritor Cormac McCarthy, autor do livro “Onde os Fracos não têm Vez”, e os nomes que formam o quinteto principal do elenco: Michael Fassbender, Penélope Cruz, Brad Pitt, Javier Bardem e Cameron Diaz. Ou seja, tinha tudo para ser um grande filme. Não é. Advogado (Fassbender) vai casar e quer ganhar dinheiro rápido. Para alcançar esse objetivo, envolve-se num plano para trazer do México para os EUA um grande volume de drogas no valor de 20 milhões de dólares. O plano dá errado, as drogas somem e a barra vai pesar para o advogado e dois de seus clientes (Bardem e Pitt), que acabam sendo caçados pelo pessoal de um poderoso cartel mexicano. Até começar a ação tem muito papo furado, diálogos sem nexo e o espectador acaba se confundindo um pouco sobre o enredo. Nem a reviravolta inesperada no final salva o filme, que o diretor Ridley dedicou à memória do irmão Toni Scott, falecido em 2012. Analisando-se os prós e os contras do filme, os contras ganham longe. Mas um pró tem que ser destacado: o charme e a beleza de Cameron Diaz, ainda em grande forma. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Embora o início seja levado em tom de comédia, “A Centelha da Vida” (“La Chispa de la Vida”) aos poucos vai se transformando num poderoso drama que culmina numa impactante mensagem. O filme aborda o desemprego na Espanha, o poder maléfico da mídia sobre as pessoas e a banalização da vida humana diante de alguns benefícios, principalmente políticos e financeiros. O filme é uma produção espanhola de 2011 dirigida por Álex de la Iglesia e traz no elenco a mexicana Salma Hayek, José Mota, Antonio Garrido e Carolina Bang, entre outros. A história começa com o publicitário Roberto Gómez (José Mota) saindo de casa para entrevistas de emprego. Antes considerado um gênio da publicidade por ter criado um slogan para a Coca-Cola (“Coca-Cola, a Centelha da Vida”), Gómez está desempregado há tempos e em dificuldades financeiras. Depois de ser rejeitado numa entrevista de modo humilhante, ele vai até o Hotel Paraíso, onde passou a sua lua-de-mel, tentar reservar um quarto para comemorar com a mulher (Salma Hayek) seu aniversário de casamento. Só que no lugar do hotel ele encontra um canteiro de obras, onde acaba se acidentando. Aliás, de modo bastante bizarro. Ao mesmo tempo, bem ao lado, o prefeito está recepcionando a imprensa para apresentar o projeto do museu com o teatro. É claro que o acidente com Gómez vai se transformar na atração principal, inclusive no noticiário nacional. Mais não conto para não dar pistas do final. É mais um grande filme espanhol que merece ser descoberto por quem gosta de cinema de qualidade. 
Nos destroços do automóvel que matou o escritor Albert Camus num acidente, em 1960, foi encontrado o manuscrito inacabado de um romance. O caderno, em péssimo estado, foi recuperado pela filha de Camus, Catherine, e lançado como livro em 1994 com o nome de “O Primeiro Homem”. Trata-se de uma narração autobiográfica de Camus, adaptado para o cinema pelo diretor Gianni Amelio em 2011, numa co-produção Itália/França. “O Primeiro Homem” (“Il Primo Uomo” / “Le premier Homme”) foi lançado no Festival de Toronto, ganhando o Prêmio da Crítica. A história mostra o retorno do consagrado escritor Jacquer Cormey (Jacques Gamblin) à sua Argélia natal em 1956 para visitar sua mãe, resgatar algumas recordações de infância e tentar levantar algumas informações sobre seu pai, morto durante a 1ª Guerra Mundial e que ele não chegou a conhecer. O enredo revela muitos fatos que contribuíram para a formação de Camus como escritor. Os encontros com o tio internado num sanatório e com um antigo professor são bastante comoventes. O filme tem como pano de fundo a situação política da Argélia, na época em que a Frente de Libertação Nacional intensificava a luta pela independência do país e promovia atentados à bomba. Não é um filme que vá agradar a todos os tipos de plateia. Mas é muito bem feito e interessante, principalmente para quem quiser conhecer um pouco mais da vida de Camus e da história política da Argélia. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

“Clube de Compras Dallas” (“Dallas Buyers Clube”), 2013, dirigido por Jan-Marc Vallée (“A Jovem Rainha Vitória” e “Café de Flores”) conta a história real e incrível do eletricista Ron Woodroof, diagnosticado como portador do vírus da AIDS em 1986 e de sua luta para se manter vivo e a batalha que travou contra a indústria farmacêutica dos EUA. Inconformado pelo fato de ser heterossexual (na época, todo mundo achava que só os gays e viciados em drogas eram infectados) e também pelo diagnóstico médico que lhe dava apenas 30 dias de vida, Ron passou a estudar a doença e descobriu tratamentos alternativos com um médico mexicano. Passou a contrabandear remédios para os EUA, inclusive de outros países, e começou a vendê-los no tal “Clube de Compras Dallas”, onde os “associados” pagavam uma taxa mensal de 400 dólares. É impressionante o trabalho do ator Matthew McConaughey na pele – e osso - do eletricista. Ele emagreceu mais de 20 quilos para fazer o personagem (pode esquecer aquele galã que você está acostumado a ver). É espetacular também o trabalho do ator Jared Leto como o transexual Rayon. Os dois carregam o filme nas costas (ops!). Este é o famoso filmaço super bonder: você não vai conseguir desgrudar da poltrona. Imperdível!

Javier Bardem comanda um elenco de ótimos atores no drama espanhol “Segunda-feira ao Sol” (“Los Lunes ao Sol”), que aborda o tema do desemprego e a falta de perspectivas para trabalhadores na meia idade. O filme é dirigido por Fernando Leon de Aranoa e, mesmo tendo sido feito em 2002, continua atual como nunca. Cinco trabalhadores cinquentões estão desempregados há três anos e vivem do seguro-desemprego. Apenas um montou um bar com a indenização. E é justamente neste bar, o Naval, que eles passam as horas ociosas, bebendo, conversando sobre suas frustrações, discutindo a situação econômica da Espanha e desabafando sobre seus problemas pessoais. Um ampara o outro do jeito que dá. É um filme bastante triste, principalmente quando mostra um deles indo a entrevistas para tentar arranjar um emprego. Pra contrabalançar, tem também seus momentos comoventes e alguns até engraçados, principalmente com o histriônico Santa (Bardem). Além de ter sido premiado em vários festivais internacionais, inclusive em Gramado, o filme concorreu ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2003.

domingo, 26 de janeiro de 2014

“Música da Alma” (“The Sapphires”), de 2012, dirigido por Wayne Bair (seu primeiro longa), é um ótimo filme australiano cuja história é baseada em fatos reais. Em 1968, Dave (Chris O’Dowd), um músico irlandês, trabalhava como tecladista num programa de calouros acompanhando os candidatos. Num dos programas, ele descobre quatro jovens aborígenes que arrasavam como vocalistas – na época, só para lembrar, os aborígenes australianos sofriam o mesmo tipo de discriminação racial que os negros nos EUA. Dave faz amizade com as moças e logo se torna não apenas o arranjador do grupo, como também seu empresário. Ele consegue convencer as jovens a mudar de gênero musical: do country para o soul. Elas começam a fazer sucesso e, como “The Sapphires”, embarcam para uma turnê no Vietnã para se apresentar em shows para os soldados. Além da história incrível, a trilha sonora é uma delícia - você não vai conseguir ficar parado (a) na poltrona. Se você estiver na dúvida se assiste ou não, acrescento que o filme foi apresentado, fora de competição, no Festival de Cannes 2012. Ao final, foi aplaudido de pé durante 10 minutos. 
Um ringue. Ou talvez um octógono. Qualquer um seria mais apropriado para servir de cenário ao drama “Álbum de Família” (“August: Osage County”), de 2013, dirigido por John Wells. Afinal, o filme inteiro mostra os conflitos da família Weston e seus agregados, todos reunidos para o funeral do patriarca (Sam Shepard). A guerra verbal, com diálogos ríspidos, agressivos e ofensivos, prevalece o tempo inteiro, principalmente durante o jantar em que o morto é homenageado. Algumas tiradas bem-humoradas amenizam o clima bélico e tornam o filme um pouco menos pesado. Uma revelação bombástica no final vai esquentar ainda mais e estragar de vez o ambiente. Meryl Streep, como a matriarca viúva viciada em remédios e com câncer na boca, dá mais um show de interpretação (Que novidade!), assim como Júlia Roberts, que faz uma de suas filhas mais histéricas. O restante do elenco também é ótimo: Chris Cooper, Juliette Lewis, Ewan McGregor, Dermot Mulroney, Margo Martindale, Julianne Nicholson, Abigail Breslin, Misty Upham e Benedict Cumberbatch. A história é baseada no livro e na peça teatral "August: Osage County", de Tracy Lett. Não apenas pelo excelente elenco e a qualidade do texto e dos diálogos ferinos, como também pela ótima adaptação cinematográfica, o filme merece estar na categoria de Imperdível!