sábado, 11 de novembro de 2017

“MULHERES DO SÉCULO XX” (“20TH CENTURY WOMEN”), 2016, EUA, roteiro e direção de Mike Mills. Trata-se de uma produção independente que mereceu duas indicações ao Oscar 2017: “Melhor Roteiro” e “Melhor Atriz” (Annette Bening). Ambientada na segunda metade dos anos 70, a história é centrada em Dorothea Fields (Bening), uma cinquentona divorciada que cria sozinha o filho adolescente Jamie (Lucas Jade Zumann). Tudo acontece ao redor de Dorothea, que aluga um quarto da casa para a jovem Abbie (Greta Gerwig) e outro para William (Billy Crudup). A jovem Julie (Elle Fanning), amiga de infância de Jamie, também frequenta o círculo familiar, mas de maneira diferente: ela entra escondida pela janela e vai dormir com Jamie – na base da amizade. Recheado de diálogos e reflexões bem-humoradas, o roteiro procura destacar o modo de pensar das diferentes gerações, assim como tenta fazer um passeio cultural e comportamental da família norte-americana nos anos 70, com direito a discussões sobre sexo – o principal assunto , política, anticoncepcionais, família, religião etc., com direito à reprodução de uma parte de um discurso em cadeia nacional do então presidente Jimmy Carter. Outro destaque no filme é o enfoque dado ao nascimento do movimento punk, do qual a jovem Abbie é adepta fanática. O filme tem bons momentos, como nos diálogos entre Jamie e a mãe, além de um jantar constrangedor entre amigos durante o qual os assuntos principais são “menstruação” e “orgasmo”. Com relação ao elenco, gostei da atuação de Annette Bening, embora tenha exagerado um pouco em caras e bocas, e também de Elle Fanning, cada dia mais competente. Dá para assistir numa boa, mas não chega a justificar uma recomendação entusiasmada. 

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Quem acompanha o noticiário esportivo sabe que o ciclista norte-americano Lance Armstrong foi um grande fenômeno. Basta lembrar que, entre 1999 e 2005, venceu sete edições do Tour de France, a mais importante prova ciclística do mundo. Desde os anos 90, Armstrong dominava o cenário esportivo mundial, chegando ao nível de herói nacional, principalmente depois que venceu um câncer e voltou a competir em alto nível. Em 2012, porém, a revelação bombástica: durante todos aqueles anos, Armstrong utilizou substâncias químicas proibidas, anabolizantes e o EPO (Eritropoietina). Caiu em desgraça no mundo esportivo, perdeu seus títulos e acabou execrado por todos aqueles que o consideravam um verdadeiro “Capitão América”. Toda essa história está contada no drama “O PROGRAMA” (“The Program”), 2016, Inglaterra/França, dirigido pelo veterano diretor inglês Stephen Frears. Para esse projeto, Frears adaptou o livro “Sete Pecados Capitais”, escrito pelo jornalista irlandês David Walsh (Chris O’Dowd), que durante anos investigou a possibilidade do ciclista norte-americano ter utilizado substâncias químicas ilegais para vencer as competições. O filme também destaca a ligação de Armstrong (Ben Foster) com o médico italiano Michelle Ferrari (Guillaume Canet), que há anos dopava vários atletas de ponta. Frears foca todo o seu filme na questão do doping, não abrindo espaço para mostrar como foram algumas de suas vitórias e nem mesmo a vida particular do atleta. Não é o melhor trabalho de Stephen Frears, diretor de filmes memoráveis como “Ligações Perigosas”, “Alta Fidelidade”, “A Rainha”, “Philomena” e “Florence - Quem é Essa Mulher?”, mas obrigatório para quem curte o mundo esportivo.    

segunda-feira, 6 de novembro de 2017



“NOSSAS NOITES” (“Our Souls at Night”), 2017, produção Netflix, direção do indiano Ritesh Batra (“The Lunchbox”), com roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Heber, que adaptaram a história do romance escrito por Kent Haruf, cujo título é o mesmo do original do filme. Louis Waters (Robert Redford) e Addie Moore (Jane Fonda) são vizinhos de muitos anos e suas famílias chegaram a se relacionar. Quando ficaram viúvos, porém, deixaram de se falar por um bom tempo. Um dia, porém, Addie resolve tomar a iniciativa e procura Louis, se queixando de que não aguentava mais a solidão da noite, principalmente na hora de dormir. Ela faz, então, uma inusitada e surpreendente proposta: dormirem juntos, deixando claro que “sem sexo”. A partir daí começa uma grande amizade e a promessa de um caso de amor, que nem as inconvenientes visitas de Gene (o ator belga Mathias Schoenaerts), filho dela, e de Holly (Judy Greer), filha dele, conseguem estragar. Como é bom ver dois artistas tão veteranos (Redford tem 81 e Fonda 79 anos) em plena forma, esbanjando charme e ainda atuando com grande competência. Aliás, esta é a quarta vez que eles contracenam juntos, depois de “Caçada Humana” (1966), “Descalços no Parque” (1967) e “O Cavaleiro Elétrico” (1979). O filme foi dirigido com muita sensibilidade pelo jovem diretor indiano, transformando-se num entretenimento dos mais agradáveis. Redford também assina a produção. Resumo da ópera: Redford e Fonda juntos tornam esse filme imperdível!       

domingo, 5 de novembro de 2017

Pouco antes de morrer, em outubro de 2016, o consagrado diretor polonês Andrzej Wajda encerrou sua carreira com chave de ouro, realizando o ótimo “AFTERIMAGE” (“POWIDOKI”), com roteiro de Andrzej Mularczyk. O filme conta a história dos últimos anos de vida de Wladyslaw Strzeminski (Boguslan Linda), considerado o mais importante artista plástico de vanguarda da Polônia no Século XX. Como pano de fundo para a história está o domínio soviético sobre a Polônia a partir de 1948, contra o qual o artista se insurgiu e depois sofreu as consequências – o aspecto político da história da Polônia sempre esteve presente nos filmes de Wajda. Strzeminski não tinha uma perna e um braço, o que não o impedia de exercer sua criatividade e dar aulas na Escola de Belas Artes de Lodz. Os estudantes o idolatravam. Suas palestras eram com plateia lotada, repleta de jovens que queriam ouvir sua opinião sobre tudo, inclusive política. Strzeminski não abria mão de sua liberdade artística e de expressão, recusando-se a obedecer as “orientações” artísticas das autoridade soviéticas. Mais um grande filme de Wajda, selecionado para representar a Polônia na disputa do Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro. Imperdível!  
Sempre gostei de filmes que abordam a questão Palestina, a difícil convivência com Israel, a cultura de cada povo, os imbróglios políticos que envolvem aquela região. “OS ÁRABES TAMBÉM DANÇAM” (“Aravim Rokdim”), 2014, Israel, direção de Eran Riklis, trata de todos esses assuntos. A história, ambientada a partir de 1982, quando Israel invade o Líbano, é baseada no livro autobiográfico “Dancing Arabs”, escrito por Sayed Kashua, que também assina o roteiro. A trama é centrada no jovem Eyad (Tawfeek Barhom), que reside com a família árabe no vilarejo de Tira. Esperto e inteligente, Eyad consegue uma bolsa para estudar na prestigiada Israel Arts and Science Academy, em Jerusalém. Sua origem árabe fará com que Eyad enfrente muitos desafios, como o da língua, da cultura e muito preconceito. Até o romance com uma judia, Naomi (Danielle Kitsis), será tumultuado por causa das diferenças culturais. No filme, há muitos momentos sensíveis, como a amizade de Eyad com Yonatan (Michael Moshonov), um jovem israelense que sofre de uma grave doença degenerativa, e com a mãe dele, Edna (Yaël Abecassis). Nos créditos iniciais aparece a informação de que 20% dos cidadãos israelenses são árabes, o que dá um total de 1.617.000 pessoas. Fica evidente na narrativa e nas situações que a mensagem que o diretor quis transmitir é a seguinte: não deveria haver tanta inimizade, pois somos praticamente irmãos. Sem dúvida, um filme bastante esclarecedor e realizado com grande sensibilidade. Do mesmo diretor recomendo “A Noiva Síria”, “Lemon Three” e “A Missão do Gerente de Recursos Humanos”.