sexta-feira, 26 de abril de 2019


“EM TRÂNSITO” (“TRANSIT”), 2018, Alemanha, 1h41m, roteiro e direção de Christian Petzold. A história é inspirada no livro “Transit”, da escritora alemã Anna Seghers (1900/1983). Lançado em 1944, o romance de Seghers é ambientado no início da Segunda Grande Guerra, quando os nazistas ocupavam vários países da Europa. Numa ousada criação, o diretor Petzold (“Barbara” e “Phoenix) adaptou a história para os tempos atuais, onde os invasores não são identificados e as vítimas perseguidas são imigrantes ilegais e, claro, judeus. A trama é centrada no jovem Georg (Franz Rogowski), um imigrante alemão vivendo ilegalmente em Paris. Um amigo da resistência pede a Georg que entregue uma carta a um tal de Weidel, um escritor também fugido da Alemanha. Quando vai ao apartamento dele, Georg descobre que Weidel acaba de se suicidar e pega seus documentos. Daqui para a frente, ele assumirá a identidade de Weidel. Ao chegar a Marselha, onde embarcaria num navio com destino aos Estados Unidos,  Georg conhece Marie (Paula Beer), uma bela mulher que, por uma grande coincidência, é esposa do tal Weidel. Embora ainda espere pelo marido, Marie vive um caso com o médico Richard (Godehard Giese), com o qual pretende fugir para o México. Georg também se apaixona por ela e vice-versa. Marie, portanto, vive uma dúvida cruel: fugir com Richard ou com Georg? O roteiro é bastante complicado, só esclarecendo o espectador sobre o que está acontecendo a partir da metade do filme. Eu mesmo fiquei meio perdido no início. A semelhança entre o ator Franz Rogowski e seu colega norte-americano Joaquim Phoenix é incrível. Os dois, por sinal, têm o lábio leporino. Paula Beer é uma excelente atriz alemã, como já demonstrou no ótimo  “Frantz”, dirigido pelo francês François Ozon. "Em Trânsito" estreou no Festival de Berlim 2018 e também foi exibido no Festival de Veneza do mesmo ano, dividindo a opinião dos críticos. É um filme bastante pretensioso, um tanto difícil de digerir, mas muito interessante. Vale a pena conferir.  

terça-feira, 23 de abril de 2019


“MATE O REI” (“The Shangri-la Suite”), 2016, EUA, escrito e dirigido por Eddie O’Keefe (é seu primeiro longa-metragem; O’Keefe tem apenas 26 anos de idade). O ano é 1974. Jack Blueblood (Luke Grimes) e Karen Bird (Emily Browning), dois jovens delinquentes, se conhecem numa clínica psiquiátrica de reabilitação e se apaixonam. Ao escutar um disco de Elvis Presley de trás para diante, Jack acredita ter ouvido a voz da mãe falecida dizendo “Mate o Rei”. A partir daí, como uma Bonnie e um Clyde modernos, Jack e Karen saem estrada afora matando um monte de gente até chegar a Los Angeles, onde Elvis faria um show. Em paralelo, o filme dedica espaço a mostrar um Elvis (Ron Livingston) decadente, viciado em remédios e extremamente arrogante, com pitadas de uma loucura que chegava aos poucos. Depois de assistir “Mate o Rei”, pesquisei a respeito e não achei nenhum fato relacionado com um possível atentado contra Elvis. Ou seja, o filme é uma ficção, fruto da imaginação do jovem diretor norte-americano. E quem narra a história, in-off, é o falecido ator Burt Reynolds. Integram ainda o elenco a bela Ashley Greene, como Priscila Presley, e Avan Jogia como Teijo Littlefoot, o índio homossexual amigo de Jack. Enfim, a história até que é interessante, a trilha sonora é saborosa e o filme, como um todo, funciona mais como um road-movie, mas o resultado final não chega a entusiasmar.     

segunda-feira, 22 de abril de 2019


“MADMOISELLE PARADIS” (“Licht”), 2017, coprodução Alemanha/Áustria, 1h37m, direção da italiana Barbara Alberti, que também assina o roteiro com Kathrin Resetarits. A história, ambientada na Viena de 1777, foi inspirada em fatos reais. Aos 18 anos, cega de nascença, Maria Therasia von Paradis (Maria-Victoria Dragus) fazia sucesso como pianista, uma verdadeira virtuose, que encantava os salões da aristocracia austríaca, incluindo a corte real. Mas Paradis mostrava-se infeliz com sua deficiência, ameaçando não tocar mais. Os pais, também membros da aristocracia de Viena, resolveram levá-la à clínica do dr. Franz Anton Mesmer (David Striesow), que na época conseguira alguns avanços na recuperação de deficientes visuais com métodos que lembram muito o Reiki, embora este tenha sido criado em 1922 pelo monge budista Mikao Usui. O roteiro reserva grande espaço para mostrar o tratamento utilizado por Mesmer, sua relação com Paradis e, por fim, a cura de sua famosa paciente. Só que teve um porém: ao se ver curada da cegueira, a jovem começa a perder sua virtuosidade musical. Há vários motivos que fazem deste drama alemão um excelente filme. A começar pelo impressionante desempenho da jovem atriz romena Maria-Victoria Dragus, digno de Oscar. Além disso, o filme destaca-se também pela excelente fotografia, pela belíssima direção de arte e pela caprichada recriação de época, sem falar na ótima história. Um filme que merece ser visto.     

domingo, 21 de abril de 2019


“APOSTASIA” (“APOSTASY”), 2017, Inglaterra, 93 minutos, primeiro longa-metragem escrito e dirigido por Daniel Kokotajlo. O filme tem como pano de fundo os dogmas e a doutrina das Testemunhas de Jeová. A história é centrada numa mãe divorciada, Ivanna (Siobhan Finneran), e suas filhas Alex (Molly Wright) e Luisa (Sasha Parkinson), que seguem a religião. Ivanna frequenta as reuniões nos “Salões do Reino” e leva as filhas, obrigando-as a seguir à risca os princípios da religião e as orientações dos anciões (equivalente a padres, rabinos ou pastores). A filha Alex, por ter recebido uma transfusão de sangue quando era bebê, o que é proibido pela religião, carrega essa culpa e dedica-se fervorosamente para se tornar apta a ser uma verdadeira testemunha de Jeová. Luisa, a filha mais velha, é mais contestadora e questiona muitos dos ensinamentos dos anciões. Quando Luisa fica grávida do namorado, Ivanna vê sua família ruir, pois é obrigada a renegar a filha e proibida, juntamente com Alex, de se “socializar” com ela. Além disso, para aumentar ainda mais o sofrimento de Ivanna, os anciões não permitem que Luisa frequente as reuniões. O destino também reserva um fato trágico envolvendo a filha mais nova Alex. O que se pode deduzir da história é que tenha sido uma crítica contundente do diretor Kokotajlo à doutrina das Testemunhas de Jeová. E ele sabe do que está falando, já que chegou a ser também um adepto. “Apostasia” é um filme bastante interessante e tem como destaque, além da história, a ótima interpretação das atrizes principais.