“EM TRÂNSITO” (“TRANSIT”),
2018, Alemanha, 1h41m, roteiro e direção de Christian Petzold. A história é
inspirada no livro “Transit”, da escritora alemã Anna Seghers (1900/1983).
Lançado em 1944, o romance de Seghers é ambientado no início da Segunda Grande
Guerra, quando os nazistas ocupavam vários países da Europa. Numa ousada
criação, o diretor Petzold (“Barbara” e “Phoenix) adaptou a história para os
tempos atuais, onde os invasores não são identificados e as vítimas perseguidas
são imigrantes ilegais e, claro, judeus. A trama é centrada no jovem Georg
(Franz Rogowski), um imigrante alemão vivendo ilegalmente em Paris. Um amigo da
resistência pede a Georg que entregue uma carta a um tal de Weidel, um escritor
também fugido da Alemanha. Quando vai ao apartamento dele, Georg descobre que Weidel
acaba de se suicidar e pega seus documentos. Daqui para a frente, ele assumirá a identidade de Weidel. Ao chegar a Marselha, onde embarcaria num navio com destino aos Estados Unidos, Georg conhece Marie (Paula Beer), uma bela mulher que, por uma grande
coincidência, é esposa do tal Weidel. Embora ainda espere pelo marido, Marie
vive um caso com o médico Richard (Godehard Giese), com o qual pretende fugir
para o México. Georg também se apaixona por ela e vice-versa. Marie, portanto, vive
uma dúvida cruel: fugir com Richard ou com Georg? O roteiro é bastante
complicado, só esclarecendo o espectador sobre o que está acontecendo a partir
da metade do filme. Eu mesmo fiquei meio perdido no início. A semelhança entre
o ator Franz Rogowski e seu colega norte-americano Joaquim Phoenix é incrível. Os
dois, por sinal, têm o lábio leporino. Paula Beer é uma excelente atriz alemã,
como já demonstrou no ótimo “Frantz”,
dirigido pelo francês François Ozon. "Em Trânsito" estreou no Festival de Berlim 2018
e também foi exibido no Festival de Veneza do mesmo ano, dividindo a opinião
dos críticos. É um filme bastante pretensioso, um tanto difícil de digerir, mas
muito interessante. Vale a pena conferir.
sexta-feira, 26 de abril de 2019
terça-feira, 23 de abril de 2019
“MATE
O REI” (“The Shangri-la Suite”), 2016, EUA, escrito e dirigido
por Eddie O’Keefe (é seu primeiro longa-metragem; O’Keefe tem apenas 26 anos de
idade). O ano é 1974. Jack Blueblood (Luke Grimes) e Karen Bird (Emily
Browning), dois jovens delinquentes, se conhecem numa clínica psiquiátrica de
reabilitação e se apaixonam. Ao escutar um disco de Elvis Presley de trás para
diante, Jack acredita ter ouvido a voz da mãe falecida dizendo “Mate o Rei”. A
partir daí, como uma Bonnie e um Clyde modernos, Jack e Karen saem estrada
afora matando um monte de gente até chegar a Los Angeles, onde Elvis faria um
show. Em paralelo, o filme dedica espaço a mostrar um Elvis (Ron Livingston)
decadente, viciado em remédios e extremamente arrogante, com pitadas de uma
loucura que chegava aos poucos. Depois de assistir “Mate o Rei”, pesquisei a respeito
e não achei nenhum fato relacionado com um possível atentado contra Elvis. Ou
seja, o filme é uma ficção, fruto da imaginação do jovem diretor
norte-americano. E quem narra a história, in-off,
é o falecido ator Burt Reynolds. Integram ainda o elenco a bela Ashley Greene,
como Priscila Presley, e Avan Jogia como Teijo Littlefoot, o índio homossexual amigo de Jack.
Enfim, a história até que é interessante, a trilha sonora é saborosa e o filme,
como um todo, funciona mais como um road-movie,
mas o resultado final não chega a
entusiasmar.
segunda-feira, 22 de abril de 2019
“MADMOISELLE
PARADIS” (“Licht”), 2017, coprodução Alemanha/Áustria, 1h37m,
direção da italiana Barbara Alberti, que também assina o roteiro com Kathrin Resetarits.
A história, ambientada na Viena de 1777, foi inspirada em fatos reais. Aos 18
anos, cega de nascença, Maria Therasia von Paradis (Maria-Victoria Dragus) fazia
sucesso como pianista, uma verdadeira virtuose,
que encantava os salões da aristocracia austríaca, incluindo a corte real. Mas
Paradis mostrava-se infeliz com sua deficiência, ameaçando não tocar mais. Os
pais, também membros da aristocracia de Viena, resolveram levá-la à clínica do
dr. Franz Anton Mesmer (David Striesow), que na época conseguira alguns avanços
na recuperação de deficientes visuais com métodos que lembram muito o Reiki, embora este tenha sido criado em
1922 pelo monge budista Mikao Usui. O roteiro reserva grande espaço para
mostrar o tratamento utilizado por Mesmer, sua relação com Paradis e, por fim,
a cura de sua famosa paciente. Só que teve um porém: ao se ver curada da cegueira,
a jovem começa a perder sua virtuosidade musical. Há vários motivos que fazem
deste drama alemão um excelente filme. A começar pelo impressionante desempenho
da jovem atriz romena Maria-Victoria Dragus, digno de Oscar. Além
disso, o filme destaca-se também pela excelente fotografia, pela belíssima
direção de arte e pela caprichada recriação de época, sem falar na ótima história. Um filme que
merece ser visto.
domingo, 21 de abril de 2019
“APOSTASIA” (“APOSTASY”),
2017, Inglaterra, 93 minutos, primeiro longa-metragem escrito e dirigido por
Daniel Kokotajlo. O filme tem como pano de fundo os dogmas e a doutrina das
Testemunhas de Jeová. A história é centrada numa mãe divorciada, Ivanna
(Siobhan Finneran), e suas filhas Alex (Molly Wright) e Luisa (Sasha Parkinson),
que seguem a religião. Ivanna frequenta as reuniões nos “Salões do Reino” e leva
as filhas, obrigando-as a seguir à risca os princípios da religião e as
orientações dos anciões (equivalente a padres, rabinos ou pastores). A filha
Alex, por ter recebido uma transfusão de sangue quando era bebê, o que é
proibido pela religião, carrega essa culpa e dedica-se fervorosamente para se
tornar apta a ser uma verdadeira testemunha de Jeová. Luisa, a filha mais
velha, é mais contestadora e questiona muitos dos ensinamentos dos anciões.
Quando Luisa fica grávida do namorado, Ivanna vê sua família ruir, pois é
obrigada a renegar a filha e proibida, juntamente com Alex, de se “socializar”
com ela. Além disso, para aumentar ainda mais o sofrimento de Ivanna, os
anciões não permitem que Luisa frequente as reuniões. O destino também reserva
um fato trágico envolvendo a filha mais nova Alex. O que se pode deduzir da
história é que tenha sido uma crítica contundente do diretor Kokotajlo à doutrina
das Testemunhas de Jeová. E ele sabe do que está falando, já que chegou a ser também
um adepto. “Apostasia” é um filme bastante interessante e tem como destaque,
além da história, a ótima interpretação das atrizes principais.
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