sábado, 20 de junho de 2020


Sempre gostei muito de filmes que envolvem a Máfia. Sejam norte-americanos, franceses, ingleses ou de outro país qualquer. Melhor ainda se forem italianos e baseados em fatos reais, como “SUBURRA”, 2015, roteiro e direção de Stefano Sollima, 2h15m. A história foi inspirada no romance do mesmo nome escrito em 2013 por Carlo Bonini e Giancarlo de Cataldo, cujo enredo remete a 2011, ano quem que os fatos aconteceram. Naquele ano, um projeto milionário estava mobilizando a política de Roma. A criação de um polo turístico com cassinos e hotéis de luxo na cidade litorânea de Óstia com a intenção de transformá-la numa Las Vegas italiana. Nos bastidores, porém, o negócio envolvia gangues de mafiosos, políticos, empresários e até um importante cardeal do Vaticano. A região escolhida também era disputada pelas máfias do sul da Itália, que pretendiam implantar um porto que seria utilizado para o tráfico de drogas. A tensão vai crescendo pouco a pouco, o que faz o espectador esperar um desfecho com banho de sangue, o que de fato acontece. “Suburra” destaca como principais protagonistas o deputado corrupto Filippo Malgradi (Perfrancesco Favino),  chegado a festas íntimas com prostitutas regadas a cocaína, um temido mafioso conhecido por “Samurai” (Claudio Amendola), o violento Manfredi Anacleti (Adamo Dionisi), chefe de uma gangue de imigrantes romenos, o delinquente conhecido pelo apelido de “Número 8” (Alessandro Borghi), que se acha dono de Óstia e exige participação no negócio, e sua namorada Viola (Greta Scarano), uma jovem drogada que, no desfecho, assumirá um papel importante na história. Para complementar o comentário, lembro que o nome Suburra diz respeito a um populoso bairro da periferia de Roma, onde a pobreza ainda é a principal característica. Como não poderia deixar de ser, “Suburra” é bastante violento, tenso ao limite, mas muito bem feito. Imperdível!      

sexta-feira, 19 de junho de 2020


“O APÓSTATA” (“EL APÓSTATA”), 2015, coprodução Espanha/Uruguai, 1h20m, disponível na plataforma Netflix, roteiro e direção do uruguaio Federico Veiroj. Antes de entrar no mérito do comentário, achei melhor explicar o significado do título. Apóstata: pessoa que cometeu apostasia, ou seja, abandonou sua religião para ingressar, ou não, em outra. Apostasia:  deserção da fé. Apostatar: desertar, mudar de religião ou de partido. Esclarecimento feito, apresento a história do filme. Gonzalo Tamayo (Álvaro Ogalla) chegou aos 30 anos completamente imaturo. Não sabe o que quer da vida, anda vestido como um morador de rua (fica com a mesma roupa surrada do começo ao fim do filme), cabelos e barba desgrenhados. É um desgosto para os pais religiosos e conservadores, que a toda hora cobram dele uma mudança de atitude. Para piorar, fica obcecado por dúvidas sobre a fé religiosa, culpa e desejo, até chegar ao ponto de querer renunciar ao catolicismo, exigindo que a Igreja elimine os seus registros de batismo. “Não quero fazer parte das estatísticas da Igreja Católica”, diz ele ao justificar sua intenção de ingressar com o processo junto ao bispo local. A burocracia emperra o intento de Gonzalo, que continuará, até o desfecho, a sua luta para renunciar ao catolicismo. Além de Álvaro Ogalla, estão no elenco Marta Larralde (Pilar), Bárbara Lennie (Maite), Vicky Peña (padre) e Juan Calot (bispo). Em seu terceiro longa-metragem, o roteirista e diretor Federico Veiroj conseguiu realizar um filme bastante interessante e inovador sob o ponto de vista estético, alternando as perambulações de Gonzalo com alguns momentos oníricos e surreais. A estreia mundial do filme aconteceu na Seção Contemporary World Cinema do Festival Internacional de Cinema de Toronto 2015 e, por aqui, foi exibido durante a programação oficial da 43ª Mostra Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. “O Apóstata” prende a atenção até o seu final e faz refletir sobre muitas questões religiosas. Vale uma visita.

quarta-feira, 17 de junho de 2020


“DESTACAMENTO BLOOD” (“DA 5 BLOODS”), 2020, Estados Unidos, 2h34m, roteiro e direção de Spike Lee, que contou com a colaboração dos roteiristas Kevin Willmott, Danny Bilson e Paul de Meo. O filme foi lançado mundialmente na plataforma Netflix no dia 12 de junho de 2020, em meio às manifestações antirracistas ocorridas nos Estados Unidos e outros países do mundo em protesto contra o assassinato do negro George Floyd, no dia 25 de maio. Resultado: o filme de Spike Lee teve uma das maiores audiências já registradas pela plataforma. Realmente, “Destacamento Blood” tem tudo a ver com o momento – aparece até uma faixa com os dizeres “Vidas Negras Importam”. Tendo como ponto de partida a Guerra do Vietnã, Lee faz uma longa reflexão sobre o racismo ontem e hoje, politizando a discussão ao atacar os governos norte-americanos pelo tratamento dado aos afrodescendentes e filosofando sobre o tema. A história de “Destacamento Blood” é centrada em quatro ex-combatentes negros que, 50 anos depois, voltam ao Vietnã com o objetivo de resgatar os restos mortais de Norman (Chadwick Boseman), o idolatrado comandante do grupo, além de tentar recuperar uma grande quantidade de barras de ouro que esconderam por lá na época da guerra. Em meio à história, Spike apresenta vários vídeos da época das manifestações antirracistas dos anos 60, com depoimentos do líder Martin Luther King Jr., da ativista Angela Davis e do lutador de boxe Muhammad Ali, entre outros. Além disso, Spike faz referências explícitas a “Apocalypse Now” (1979), o grande clássico de Francis Ford Coppola. Estão lá a viagem de barco pelos rios do Vietnã, o helicóptero chegando ao som de “A Cavalgada das Valquírias” e até o nome da boate da capital atual Ho Chi Minh onde os veteranos vão tomar umas e outras, justamente “Apocalypse Now”. Paul (Delroy Lindo), Eddie (Norm Lewis), Otis (Clarke Peters) e Melvin (Isiah Whitlock Jr.), como fizeram durante a guerra, se embrenharão nas selvas do Vietnã numa aventura cheia de riscos e muita ação. Spike Lee já fez filmes melhores, como “Infiltrado na Klan” (Oscar 2019 de Melhor Roteiro Adaptado), “Malcolm X”, de 1992, e “Faça a Coisa Certa”, de 1989, mas “Destacamento Blood” também é ótimo e certamente ganhará algumas indicações ao Oscar 2021 (cerimônia da premiação foi adiada para abril). Aposto todas as minhas fichas de que Delroy Lindo será indicado para Melhor Ator. Sua atuação é espetacular. Também estão no elenco Jonathan Majors e os franceses Jean Reno e Mélanie Thierry. Resumo da ópera: mais um filme polêmico e impactante de Spike Lee, já sendo considerado por alguns críticos como o filme do ano. Assista e forme sua opinião.      

segunda-feira, 15 de junho de 2020


“MENASHE”, 2017, Estados Unidos, 1h22m, filme de estreia na direção de Joshua Weinstein, mais conhecido como diretor de fotografia e documentarista. O roteiro também leva a assinatura de Weinstein, com a colaboração de Alex Lipschultz e Musa Syeedm. A história é ambientada no bairro Boro Park (Brooklyn), em Nova Iorque, onde está localizada uma das comunidades mais populosas de judeus ultra-ortodoxos do mundo. Aqui vive e trabalha o quarentão Menashe (Menashe Lustig), que ficou viúvo e precisa cuidar sozinho do filho Rieven (Ruben Niborski), o que contraria a lei judaica, pois, segundo o Talmude (coletânea de livros sagrados dos judeus), “Para criar os filhos, o homem deve ter em casa uma mulher que limpe tudo, que cozinhe e que cuide da casa”. Menashe trabalha como empregado num supermercado do bairro, ganha pouco e é obrigado pelo patrão autoritário a fazer muitas horas extras, o que o impede de dedicar mais tempo ao filho. Dessa forma, a questão foi decidida pelo rabino da comunidade (Meyer Schwrtz), que colocou o garoto sob a guarda de Eizik (Yoel Weisshaus), cunhado de Menashe e irmão da falecida, que tem família e condições financeiras de sustentar mais uma “boca”. Segundo o rabino, Rieven só voltará para a guarda de Menashe se ele casar. O filme acompanha o dilema de Menashe e suas tentativas de recuperar a guarda do filho, o que gera algumas cenas tocantes e sensíveis, principalmente pelo fato de Menashe ser um sujeito bonachão, inocente e puro, a ponto de não se incomodar de ser chamado de “Gordito” pelos seus colegas latinos no supermercado. Esta produção independente apresenta algumas curiosidades muito interessantes, a começar pelo elenco, todo ele constituído de atores que nunca participaram de uma filmagem. Por falar nisso, ao tentar mostrar as ruas do bairro e a movimentação das pessoas, a equipe técnica foi obrigada a filmar escondida, pois a comunidade judaica, fechada, não permite esse tipo de exposição. Além disso, o roteiro foi inspirado na própria experiência de vida do "ator" Menashe Lustig, que também perdeu a guarda do filho. Vale destacar ainda que, na vida real, Menashe nunca tinha entrado num cinema, o que só aconteceu porque foi convidado para a exibição de estreia. Segundo seu material de divulgação, “Menashe” é o primeiro filme norte-americano totalmente falado em Iídiche Todos esses aspectos somados, mais a competência mostrada pelo diretor Joshua Weinstein, resultaram em mais uma joia do cinema independente norte-americano, à disposição na plataforma Netflix. Imperdível!