sábado, 17 de maio de 2014

A situação é inverossímil: com o teatro lotado, pianista famoso senta ao piano, abre a partitura do concerto e lá está a ameaça assustadora dizendo que, se ele errar uma nota ou interromper o concerto, sua esposa, que está na plateia, será assassinada. O responsável pela ameaça ainda coloca à disposição do pianista um ponto eletrônico que ele usará no ouvido durante o concerto para que o suposto assassino possa se comunicar. O Cinema é fascinante por causa disso. Você entra no clima e assiste como se achasse possível tudo isso acontecer. Esse enredo pertence ao ótimo suspense “Toque de Mestre” (“Grand Piano”), Espanha, 2013. Tom Selznick, o pianista, é interpretado por Elijah Wood (“Senhor dos Anéis”). O assassino é chamado de Clem (John Cusack), que durante todo o filme é representado apenas por sua voz no ponto eletrônico e que só vai se revelar de corpo e alma no final. A tensão aumenta a cada minuto, acompanhando a evolução dos movimentos do concerto. Da maneira como conduziu a encenação e o suspense, a utilização da música como elemento de tensão, assim como o desfecho, o diretor espanhol Eugenio Mira (“Agnosia”) parece homenagear Hitchcock, o que é um predicado dos mais positivos para esse grande suspense.      

sexta-feira, 16 de maio de 2014

A gente pega a capinha do DVD, lê o que está escrito e logo percebe que não tem nenhuma referência sobre o filme e os atores são pouco conhecidos. A primeira reação é torcer o nariz e não assistir. Ledo “Ivo” engano, como diria Carlos Heitor Cony. Um bom exemplo de que não podemos descartar um filme por esses critérios é o recém-lançado “Not safe for Work” (ainda sem tradução no Brasil). Trata-se de um ótimo suspense, com muita ação e humor, com um ritmo alucinante do começo ao fim. Tom Miller (Max Minghella) é assistente jurídico num grande escritório de advocacia. Por causa de um memorando, ele é demitido. Quando está para sair do edifício, nota uma movimentação estranha entre dois homens. Um pega a maleta que o outro deixou no chão do saguão e entra no edifício. Muito estranho! Curiosidade à flor da pele, Tom resolve investigar e vai atrás do homem, que pega o elevador e vai para o 34º andar. Já não há mais pessoas no edifício e logo Tom vai descobrir que o homem (JJ Field) é um sádico assassino. Tanto Minguella quando JJ Fied estão ótimos em seus papéis. Embora toda a ação do filme aconteça no interior do edifício, o jogo de “gato e rato” entre os dois protagonistas é de tirar o fôlego, graças ao trabalho do diretor Joe Johnston (“Capitão América – O primeiro vingador”, “Jumanji”, “Jurassic Park III”). Se há um filme que podemos chamar de super bonder (você não vai desgrudar da poltrona), este é ”Not safe for Work”. Não perca!                   

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O título original em norueguês é “Kiss meg for Faen i Helvete”. Chequei algumas traduções feitas para o português, entre as quais “Beije-me, Porra” e “Beije-me, seu maldito Moron”. Optei por “Beije-me” (2013). É uma comédia romântica juvenil, mas não ao estilo boboca e apelativo que estamos acostumados a ver nos filmes americanos do gênero. Esta, escrita e dirigida por Stian Kristiansen, tem conteúdo sério, um elenco jovem de primeira e uma história bastante agradável. Tem também humor, mas pouco. Grupo de teatro amador, integrado por jovens, está cansado de encenar peças infantis. Uma de suas atrizes, Tale (Eili Harboe), propõe a encenação da peça “Sonho de Outono”, escrita em 1999 pelo famoso dramaturgo norueguês Jon Fosse. Por coincidência, está na cidade, curtindo uma fossa amorosa, o conhecido ator profissional Lars Nykvist (Kristoffer Joner). Os jovens pedem a ele que assuma a direção da peça. Ele topa e logo marca o início dos ensaios. Só que falta um ator para representar o principal protagonista. Quem assume o papel, muito a contragosto, mediante uma série de chantagens, é o “machão” Vegard (Øyvind Larsen Runestad), astro do clube de futebol amador da cidade. Nykvist vai usar de muita psicologia e de toda sua experiência teatral para fazer com que os jovens e inexperientes atores tenham um bom desempenho. Se vai conseguir, você só saberá vendo o filme.      
Exibido no Festival de Cannes 2013, o holandês “Borgman” dividiu opiniões, pois não é um filme comum. Trata-se de um suspense psicológico carregado de tensão. Foi feito realmente para amedrontar o espectador, como confirmou o diretor Alex van Warmerdam. Para aliviar um pouco esse clima sufocante, o diretor acrescentou algumas pitadas de humor negro. É um filme esquisito, com várias situações absurdas e sem nexo. Duvido que, em determinadas cenas, os atores não tenham tido vontade de rir. Pois todos atuam muito sérios, o que acrescenta uma certa dose de cinismo. O filme começa como naqueles filmes de exorcismo: um padre e dois homens saem armados com espingarda e estacas pela floresta em busca das tais figuras demoníacas. Três delas são representadas por homens que moram sob a terra (uma alusão ao inferno?). Eles conseguem fugir e se dispersam. Um deles, Camiel Borgman (Jan Bijvoet), com aparência de mendigo, caminha por um bairro de classe média alta. Numa das casas em que pede para tomar um banho, é atendido por Marina (Hdewych Minis) e seu marido Richard (Jeroen Perceval). Este se revolta quando o mendigo ofende sua mulher e o agride. Depois que o marido sai para trabalhar, Marina, como se nada tivesse acontecido, acolhe o mendigo em casa. A partir daí, as pessoas da casa começam a mudar o seu comportamento, como se uma força maligna tomasse conta delas. Ainda por cima, aparecem outros visitantes estranhos, tumultuando ainda mais o ambiente. O filme termina sem explicação sobre tudo aquilo que aconteceu e nem quem são aqueles seres estranhos. “Borgman” é ideal para quem gosta de decifrar enigmas. Um filme interessante e, sem dúvida, muito instigante.    

terça-feira, 13 de maio de 2014

“Cuba Libre – Sangue e Paixão” (“Dreaming of Júlia”), 2001, EUA, é um drama baseado nas memórias de infância do diretor Juan Gerard em Cuba. O ano é 1958, às vésperas da revolução que levaria Fidel Castro ao poder, e o cenário é a cidade de Holguím. O personagem central da história é um garoto de 11 anos (Andhy Mendez), neto de Che (Harvey Keitel), chefe de uma tradicional família da cidade. Todos os acontecimentos são narrados pelo garoto (seu personagem não tem nome, uma opção do diretor). No início do filme, o garoto está no cinema com sua avó Beta (Diana Bracho) assistindo ao filme “Julie”, com Doris Day. No meio da sessão ocorre um apagão que deixa a cidade às escuras e interrompe o filme bem no seu momento crucial, quando Julie (Doris Day) tenta pousar o avião. A partir de então, as noites de Honguím serão à luz de velas. Até a metade do filme prevalece um clima de bom humor e nostalgia romântica. Esse panorama mudará radicalmente com a tensão gerada pela iminente chegada das forças rebeldes, a repressão da polícia de Batista, o assassinato de um amigo da família e a descoberta de um segredo de alcova de Che, o avô do garoto. Por motivos óbvios, o filme foi todo rodado na República Dominicana. O elenco conta ainda com Gael Garcia Bernal, Cecília Suárez e Iben Hjejle. O filme faz um retrato interessante da sociedade cubana pré-revolução. Além disso, chama a atenção o ótimo trabalho de caracterização de época, principalmente nos cenários e figurinos.    
 

                                                     

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Até o consagrado diretor norte-americano Brian De Palma está apelando para os remakes, prova que realmente existe uma crise de bons roteiros na indústria do cinema, principalmente nos EUA. “Passion” (“Paixão”), realizado por De Palma em 2012 (co-produção França/Alemanha), é uma refilmagem do francês “Crime de Amor” (“Crime d’Amour”), de 2009. Trata-se de um suspense policial envolvendo duas altas executivas de uma grande agência de publicidade. Uma delas vai utilizar a ideia da outra para se vangloriar com os chefes e, a partir daí, começam uma luta velada pelo poder, onde não faltarão traições, chantagens e até assassinatos. Se no original francês havia Kristin Scott Thomas e Ludivine Sagnier nos papéis principais, neste há Rachel McAdams e a sueca Noomi Rapace. As quatro atrizes são ótimas. De Palma, que já dirigiu grandes filmes como “Vestida para Matar”, “Dublê de Corpo” e “Os Intocáveis”, entre tantos outros, desta vez não obteve um bom resultado, embora tenha conseguido manter o clima de suspense até o final, apesar do desfecho um tanto confuso. Quem curtiu os filmes de Hitchcock vai notar uma grande semelhança. O que, convenhamos, prejudica a originalidade do filme – já prejudicada pelo fato de ser um remake. A versão original francesa, dirigida por Alain Corneau, é bem melhor.            
“Hôtel Normandy”, 2012, é uma comédia francesa dirigida por Charles Menes. Alice (Helena Noguerra) é uma quarentona elegante, bonita e charmosa que trabalha num banco em Paris. Desde que o marido morreu num acidente, há cinco anos, que ela não se relaciona com homem nenhum. No 40º aniversário de Alice, suas colegas de trabalho e melhores amigas Isabel (Frederique Bel) e Penélope (Anne Girouard) resolvem presenteá-la com um final de semana no luxuoso Hôtel Normandy. E contratam, através de um anúncio na Internet, um homem para cortejar Alice e tirá-la do seu jejum sentimental. Antes, porém, Alice conhece Jacques Delboise (Eric Elmosnino) e se apaixona no mesmo dia por ele. Enquanto isso, o homem contratado para assediar Alice está com gripe e envia o irmão em seu lugar, o atrapalhado Yvan Choisy (Ary Abittan). A partir daí, muitas confusões vão acontecer, gerando situações bastante engraçadas. O filme forçou um pouco a barra ao fazer Alice se apaixonar no primeiro dia por Jacques. Helena Noguerra é um mulherão, bonita, alta, silhueta e porte de modelo, enquanto Elmosnino, ator de “Gainsbourg”, é baixinho, magrelo e muito feio. Fora essa mancada, o filme mantém um bom pique. Não é das melhores comédias francesas, mas garante boa diversão.                                            

domingo, 11 de maio de 2014

“Baran”, produção iraniana de 2001, tem como pano de fundo a situação dos imigrantes afegãos no Irã, a maioria fugindo do regime talibã e da pobreza crônica do Afeganistão. Como se no Irã a situação fosse melhorar. O filme conta a história de Lateef, um jovem iraniano que trabalha num canteiro de obras em Teerã. Ele é o encarregado de servir comida e chá aos trabalhadores, em sua maioria imigrantes ilegais, principalmente afegãos, curdos e turcos. Um acidente na obra provoca um ferimento sério na perna do afegão Najaf. Para não perder o dinheiro pelos dias em que ficará afastado, Najaf envia o filho Rahmat para substituí-lo, mas ele se mostra sem forças para fazer o trabalho pesado. Rahmat é designado para o lugar de Lateef na cozinha e este vai para o trabalho pesado. Lateef fica revoltado com a situação. Os dias transcorrem sem nenhuma novidade, até que Lateef descobre um segredo que mudará radicalmente o seu modo de pensar e agir. Em meio a tanta pobreza e desilusão, o diretor Majid Majidi ameniza o drama da história com alguns momentos de humor e outros bastante comoventes, principalmente quando Lateef demonstra sua bondade e solidariedade aos menos favorecidos – como se ele não fosse um deles. Do mesmo diretor, recomendo também “Filhos do Paraíso” e “A Cor do Paraíso”.                                                       
 

 “A Música nunca Parou” (“The Music never Stoped”), EUA, 2011, é um filme musical. Não um musical tradicional, daqueles em que o protagonista está conversando com alguém e de repente começa a cantar. É um filme musical porque sua trilha sonora tem importância fundamental no enredo. E que trilha sonora! Bing Crosby, Beatles, Bob Dylan, Rolling Stones, Grateful Dead, Crosby, Stills & Nash... Uma delícia aos ouvidos! Em 1988, Henry (J.K. Simmons) e Helen Sawyer (Cara Seymour) recebem a notícia de que seu filho Gabriel (Lou Taylor Pucci), que fugiu de casa em 1968, está hospitalizado em Nova Iorque com sérios danos cerebrais. Ele está completamente desmemoriado. No período em que passou a visitá-lo, Henry percebe que Gabriel reage ao estímulo de certas músicas, pelas quais consegue reviver fatos do passado. Henry então vai procurar a dra. Dianne Daley (Julie Ormond), musicoterapeuta famosa por conseguir ótimos resultados no tratamento de vítimas de tumores cerebrais através da música. As consultas com a médica vão fazer com que Gabriel reavive suas memórias. E proporcionar, a quem assistir ao filme, uma deliciosa viagem à música dos anos 60. Um filme para ver cantarolando e batendo os pés.