A
situação é inverossímil: com o teatro lotado, pianista famoso senta ao piano,
abre a partitura do concerto e lá está a ameaça assustadora dizendo que, se ele
errar uma nota ou interromper o concerto, sua esposa, que está na plateia, será
assassinada. O responsável pela ameaça ainda coloca à disposição do pianista um
ponto eletrônico que ele usará no ouvido durante o concerto para que o suposto
assassino possa se comunicar. O Cinema é fascinante por causa disso. Você entra
no clima e assiste como se achasse possível tudo isso acontecer. Esse enredo
pertence ao ótimo suspense “Toque de Mestre” (“Grand Piano”), Espanha, 2013. Tom Selznick, o pianista, é
interpretado por Elijah Wood (“Senhor dos Anéis”). O assassino é chamado de
Clem (John Cusack), que durante todo o filme é representado apenas por sua voz
no ponto eletrônico e que só vai se revelar de corpo e alma no final. A tensão
aumenta a cada minuto, acompanhando a evolução dos movimentos do concerto. Da
maneira como conduziu a encenação e o suspense, a utilização da música como
elemento de tensão, assim como o desfecho, o diretor espanhol Eugenio Mira (“Agnosia”)
parece homenagear Hitchcock, o que é um predicado dos mais positivos para esse
grande suspense.
sábado, 17 de maio de 2014
sexta-feira, 16 de maio de 2014
A
gente pega a capinha do DVD, lê o que está escrito e logo percebe que não tem nenhuma
referência sobre o filme e os atores são pouco conhecidos. A primeira reação é
torcer o nariz e não assistir. Ledo “Ivo” engano, como diria Carlos Heitor
Cony. Um bom exemplo de que não podemos descartar um filme por esses critérios
é o recém-lançado “Not safe for Work” (ainda sem tradução no Brasil). Trata-se de um ótimo suspense, com
muita ação e humor, com um ritmo alucinante do começo ao fim. Tom Miller (Max
Minghella) é assistente jurídico num grande escritório de advocacia. Por causa
de um memorando, ele é demitido. Quando está para sair do edifício, nota uma
movimentação estranha entre dois homens. Um pega a maleta que o outro deixou no
chão do saguão e entra no edifício. Muito estranho! Curiosidade à flor da pele,
Tom resolve investigar e vai atrás do homem, que pega o elevador e vai para o
34º andar. Já não há mais pessoas no edifício e logo Tom vai descobrir que o
homem (JJ Field) é um sádico assassino. Tanto Minguella quando JJ Fied estão
ótimos em seus papéis. Embora toda a ação do filme aconteça no interior do
edifício, o jogo de “gato e rato” entre os dois protagonistas é de tirar o
fôlego, graças ao trabalho do diretor Joe Johnston (“Capitão América – O primeiro
vingador”, “Jumanji”, “Jurassic Park III”). Se há um filme que podemos chamar
de super bonder (você não vai desgrudar
da poltrona), este é ”Not safe for Work”. Não perca!
quinta-feira, 15 de maio de 2014
O título original em norueguês é “Kiss meg for Faen i Helvete”. Chequei
algumas traduções feitas para o português, entre as quais “Beije-me, Porra” e “Beije-me,
seu maldito Moron”. Optei por “Beije-me” (2013).
É uma comédia romântica juvenil, mas não
ao estilo boboca e apelativo que estamos acostumados a ver nos filmes
americanos do gênero. Esta, escrita e dirigida por Stian Kristiansen, tem
conteúdo sério, um elenco jovem de primeira e uma história bastante agradável.
Tem também humor, mas pouco. Grupo de teatro amador, integrado por jovens, está
cansado de encenar peças infantis. Uma de suas atrizes, Tale (Eili Harboe),
propõe a encenação da peça “Sonho de Outono”, escrita em 1999 pelo famoso dramaturgo
norueguês Jon Fosse. Por coincidência, está na cidade, curtindo uma fossa
amorosa, o conhecido ator profissional Lars Nykvist (Kristoffer Joner). Os jovens
pedem a ele que assuma a direção da peça. Ele topa e logo marca o início dos
ensaios. Só que falta um ator para representar o principal protagonista. Quem
assume o papel, muito a contragosto, mediante uma série de chantagens, é o “machão”
Vegard (Øyvind Larsen Runestad), astro do clube de futebol amador da cidade. Nykvist
vai usar de muita psicologia e de toda sua experiência teatral para fazer com que
os jovens e inexperientes atores tenham um bom desempenho. Se vai conseguir, você só saberá vendo o filme.
Exibido
no Festival de Cannes 2013, o holandês “Borgman” dividiu opiniões, pois não é um filme
comum. Trata-se de um suspense psicológico carregado de tensão. Foi feito
realmente para amedrontar o espectador, como confirmou o diretor Alex van
Warmerdam. Para aliviar um pouco esse clima sufocante, o diretor acrescentou algumas pitadas
de humor negro. É um filme esquisito, com várias situações absurdas e sem nexo.
Duvido que, em determinadas cenas, os atores não tenham tido vontade de rir.
Pois todos atuam muito sérios, o que acrescenta uma certa dose de cinismo. O
filme começa como naqueles filmes de exorcismo: um padre e dois homens saem
armados com espingarda e estacas pela floresta em busca das tais figuras
demoníacas. Três delas são representadas por homens que moram sob a terra (uma
alusão ao inferno?). Eles conseguem fugir e se dispersam. Um deles, Camiel
Borgman (Jan Bijvoet), com aparência de mendigo, caminha por um bairro de classe
média alta. Numa das casas em que pede para tomar um banho, é atendido por
Marina (Hdewych Minis) e seu marido Richard (Jeroen Perceval). Este se revolta
quando o mendigo ofende sua mulher e o agride. Depois que o marido sai para
trabalhar, Marina, como se nada tivesse acontecido, acolhe o mendigo em casa. A
partir daí, as pessoas da casa começam a mudar o seu comportamento, como se uma
força maligna tomasse conta delas. Ainda por cima, aparecem outros
visitantes estranhos, tumultuando ainda mais o ambiente. O filme termina sem
explicação sobre tudo aquilo que aconteceu e nem quem são aqueles seres
estranhos. “Borgman” é ideal para
quem gosta de decifrar enigmas. Um filme interessante e, sem dúvida, muito instigante.
terça-feira, 13 de maio de 2014
“Cuba Libre – Sangue e Paixão” (“Dreaming
of Júlia”), 2001, EUA, é um drama baseado nas memórias de infância do diretor
Juan Gerard em Cuba. O ano é 1958, às vésperas da revolução que levaria Fidel
Castro ao poder, e o cenário é a cidade de Holguím. O personagem central da
história é um garoto de 11 anos (Andhy Mendez), neto de Che (Harvey Keitel),
chefe de uma tradicional família da cidade. Todos os acontecimentos são
narrados pelo garoto (seu personagem não tem nome, uma opção do diretor). No
início do filme, o garoto está no cinema com sua avó Beta (Diana Bracho)
assistindo ao filme “Julie”, com Doris Day. No meio da sessão ocorre um apagão
que deixa a cidade às escuras e interrompe o filme bem no seu momento crucial,
quando Julie (Doris Day) tenta pousar o avião. A partir de então, as noites de Honguím
serão à luz de velas. Até a metade do filme prevalece um clima de bom humor e
nostalgia romântica. Esse panorama mudará radicalmente com a tensão gerada
pela iminente chegada das forças rebeldes, a repressão da polícia de Batista, o assassinato de um amigo da família e a descoberta de um segredo de alcova de Che, o avô do
garoto. Por motivos óbvios, o filme foi todo rodado na República Dominicana. O
elenco conta ainda com Gael Garcia Bernal, Cecília Suárez e Iben Hjejle. O filme faz um retrato interessante da sociedade cubana pré-revolução. Além disso, chama a atenção o ótimo trabalho de caracterização de época, principalmente nos cenários e figurinos.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Até
o consagrado diretor norte-americano Brian De Palma está apelando para os remakes, prova que realmente existe uma
crise de bons roteiros na indústria do cinema, principalmente nos EUA. “Passion” (“Paixão”), realizado por De Palma em 2012
(co-produção França/Alemanha), é uma refilmagem do francês “Crime de Amor” (“Crime
d’Amour”), de 2009. Trata-se de um suspense policial envolvendo duas altas executivas
de uma grande agência de publicidade. Uma delas vai utilizar a ideia da outra
para se vangloriar com os chefes e, a partir daí, começam uma luta velada pelo poder,
onde não faltarão traições, chantagens e até assassinatos. Se no original
francês havia Kristin Scott Thomas e Ludivine Sagnier nos papéis principais, neste
há Rachel McAdams e a sueca Noomi Rapace. As quatro atrizes são ótimas. De Palma,
que já dirigiu grandes filmes como “Vestida para Matar”, “Dublê de Corpo” e “Os
Intocáveis”, entre tantos outros, desta vez não obteve um bom resultado, embora
tenha conseguido manter o clima de suspense até o final, apesar do desfecho um
tanto confuso. Quem curtiu os filmes de Hitchcock vai notar uma grande
semelhança. O que, convenhamos, prejudica a originalidade do filme – já prejudicada
pelo fato de ser um remake. A versão original francesa, dirigida por Alain Corneau, é bem melhor.
“Hôtel Normandy”,
2012, é uma comédia francesa dirigida por Charles Menes. Alice (Helena
Noguerra) é uma quarentona elegante, bonita e charmosa que trabalha num banco
em Paris. Desde que o marido morreu num acidente, há cinco anos, que ela não se
relaciona com homem nenhum. No 40º aniversário de Alice, suas colegas de
trabalho e melhores amigas Isabel (Frederique Bel) e Penélope (Anne Girouard)
resolvem presenteá-la com um final de semana no luxuoso Hôtel Normandy. E
contratam, através de um anúncio na Internet, um homem para cortejar Alice e
tirá-la do seu jejum sentimental. Antes, porém, Alice conhece Jacques Delboise
(Eric Elmosnino) e se apaixona no mesmo dia por ele. Enquanto isso, o homem
contratado para assediar Alice está com gripe e envia o irmão em seu lugar, o
atrapalhado Yvan Choisy (Ary Abittan). A partir daí, muitas confusões vão
acontecer, gerando situações bastante engraçadas. O filme forçou um pouco a
barra ao fazer Alice se apaixonar no primeiro dia por Jacques. Helena Noguerra
é um mulherão, bonita, alta, silhueta e porte de modelo, enquanto Elmosnino,
ator de “Gainsbourg”, é baixinho, magrelo e muito feio. Fora essa mancada, o
filme mantém um bom pique. Não é das melhores comédias francesas, mas garante boa diversão.
domingo, 11 de maio de 2014
“Baran”, produção
iraniana de 2001, tem como pano de fundo a situação dos imigrantes afegãos no
Irã, a maioria fugindo do regime talibã e da pobreza crônica do Afeganistão.
Como se no Irã a situação fosse melhorar. O filme conta a história de Lateef,
um jovem iraniano que trabalha num canteiro de obras em Teerã. Ele é o encarregado
de servir comida e chá aos trabalhadores, em sua maioria imigrantes ilegais,
principalmente afegãos, curdos e turcos. Um acidente na obra provoca um
ferimento sério na perna do afegão Najaf. Para não perder o dinheiro pelos dias
em que ficará afastado, Najaf envia o filho Rahmat para substituí-lo, mas ele se
mostra sem forças para fazer o trabalho pesado. Rahmat é designado para o lugar
de Lateef na cozinha e este vai para o trabalho pesado. Lateef fica revoltado
com a situação. Os dias transcorrem sem nenhuma novidade, até que Lateef descobre
um segredo que mudará radicalmente o seu modo de pensar e agir. Em meio a tanta
pobreza e desilusão, o diretor Majid Majidi ameniza o drama da história com
alguns momentos de humor e outros bastante comoventes, principalmente quando
Lateef demonstra sua bondade e solidariedade aos menos favorecidos – como se
ele não fosse um deles. Do mesmo diretor, recomendo também “Filhos do Paraíso”
e “A Cor do Paraíso”.
“A Música nunca Parou” (“The
Music never Stoped”), EUA, 2011, é um filme musical. Não um musical
tradicional, daqueles em que o protagonista está conversando com alguém e de repente começa a cantar. É um filme musical porque sua trilha sonora tem importância fundamental
no enredo. E que trilha sonora! Bing
Crosby, Beatles, Bob Dylan, Rolling Stones, Grateful Dead, Crosby, Stills &
Nash... Uma delícia aos ouvidos! Em 1988, Henry (J.K. Simmons) e Helen Sawyer (Cara
Seymour) recebem a notícia de que seu filho Gabriel (Lou Taylor Pucci), que
fugiu de casa em 1968, está hospitalizado em Nova Iorque com sérios danos cerebrais.
Ele está completamente desmemoriado. No período em que passou a visitá-lo, Henry
percebe que Gabriel reage ao estímulo de certas músicas, pelas quais consegue
reviver fatos do passado. Henry então vai procurar a dra. Dianne Daley (Julie
Ormond), musicoterapeuta famosa por conseguir ótimos resultados no tratamento
de vítimas de tumores cerebrais através da música. As consultas com a médica
vão fazer com que Gabriel reavive suas memórias. E proporcionar, a quem assistir
ao filme, uma deliciosa viagem à música dos anos 60. Um filme para ver cantarolando
e batendo os pés.
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