sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

 

“NÃO ESTOU LOUCA” (“NO ESTOY LOCA”), 2018, Chile, 1h56m, disponível na plataforma Netflix, roteiro e direção de Nicolás Lopes. É uma comédia bastante divertida, com ótimas atuações do elenco e sequências hilariantes. A principal personagem da história é Carolina (Paz Bascuñán), uma mulher de 38 anos que sofre dois baques num mesmo dia. Primeiro, ela recebe o diagnóstico de que é infértil - ela e o marido Fernando (Marcial Tagle) vinham tentando há anos. Para contar a triste notícia, Carolina combina um encontro com o marido em um restaurante. Mas é Fernando quem conta a pior notícia: ele está apaixonado por Maité (Fernanda Urrejola), justamente a melhor amiga e companheira de trabalho de Carolina. Pior ainda, Maité está grávida. Arrasada, Carolina vai para casa, enche a cara e tenta o suicídio se atirando da janela do apartamento. Só que a queda é amortecida por um toldo, mas mesmo assim ela fica bastante ferida e inconsciente. Fernando aproveita a ocasião para interná-la numa clínica psiquiátrica. De início apavorada, Carolina aos poucos começa a interagir com a turma de malucos e logo faz amizade com alguns, na verdade algumas. Embora seja uma comédia, “Não Estou Louca” reserva momentos bastante sensíveis, como as conversas de Carolina com o psiquiatra-chefe (Luis Pablo Román). Destaque para as atuações de Paz Bascuñan e da veterana Antonia Zegers (do ótimo drama chileno “O Clube”) como Silvia, uma das birutas do pedaço. Outra participação que merece um elogio especial é da atriz Gabriela Hernández como Marta, a mãe possessiva e autoritária de Carolina. Ao contrário da maioria dos filmes que envolvem doentes mentais, que costumam carregar no drama, esta comédia chilena adota o politicamente incorreto, fazendo graça justamente com a deficiência das pessoas, criando personagens caricatos e engraçados. Não acredito que alguém possa se chatear com isso. Resumo da ópera: “Não Estou Louco” é uma comédia que diverte e emociona. Imperdível!                           

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 

“CRIME E DESEJO” (“ABOVE SUSPICION”), 2019, EUA, 1h41m, disponível na Netflix, direção do australiano Phillip Noyce, seguindo roteiro de Chris Gerolmo, que adaptou a história do livro escrito em 1993 pelo jornalista norte-americano Joe Sharkey, no qual relatou um caso verídico ocorrido no final dos anos 80, que culminou na prisão de Mark Putnam, que ficou famoso por ter sido o primeiro agente do FBI preso por assassinato. Putnam (Jack Huston) é enviado para uma pequena cidade do Kentucky, com a esposa Kathy e a filha pequena, para investigar uma série de assaltos a banco ocorridos na região. No início das investigações, o agente conhece Susan Smith (Emilia Clarke, de “Game of Thrones”), uma viciada em drogas que vive com o namorado Cash (Johnny Knoxville), o traficante local. Para aliviar sua barra com relação às drogas, Susan concorda em se tornar informante de Putnam, começando por denunciar o tal assaltante de bancos, que acaba preso pelo agente. Não demora muito e Putnam acaba entre os lençóis com Susan, o que, pouco mais tarde, será motivo para uma série de aborrecimentos, culminando com uma tragédia. Susan não quer ser apenas a “outra”. Quer que Putnam abandone a esposa e case com ela. A vida do agente acaba virando um verdadeiro inferno, a começar pelo fato dele ter desrespeitado um dos mandamentos sagrados do FBI: um agente jamais poderá levar um(a) informante para a cama. Putnam lembrará disso até o desfecho. Mesmo com a presença da atriz inglesa Emilia Clarke, a estrela da série “Game of Thrones”, e a história bastante interessante, pelo fato de ser baseada em fatos reais, o filme não deslancha como suspense, embora apresente uma reviravolta surpreendente no final – surpreendente para quem não conhece a história, é claro. Trocando em miúdos, “Crime e Desejo” não caiu nas graças da crítica especializada e nem nas minhas. Apenas um filme mediano, que pode ser visto para conhecer um fato que teve grande repercussão nos Estados Unidos. Espere até os créditos finais para conhecer o verdadeiro agente Mark Putnam, que aparece em vídeo concedendo uma entrevista após sair da cadeia. Encerro o comentário com uma curiosidade. O autor do livro que inspirou a história, o jornalista Joe Sharkey, foi um dos únicos sobreviventes do acidente aéreo ocorrido na região amazônica em 2006, quando um um Boeing da Gol colidiu com um jato executivo Legacy de uma empresa de táxi aéreo dos EUA, matando seus 154 passageiros e tripulantes. Sharkey estava no Legacy e conseguiu sobreviver.               

 

              

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021


“FELICIDADE POR UM FIO” (“NAPPILY EVER AFTER”), 2018, EUA, 1h38m, disponível na Netflix, direção da cineasta saudita Haifaa al-Mansour, seguindo roteiro de Cee Marcellus e Adam Brooks. Trata-se de uma comédia romântica muito agradável de assistir. O enredo foi inspirado no primeiro volume de uma série de livros da romancista norte-americana Trisha R. Thomas. A história é toda centrada em Violet Jones (Sanaa Lathan), uma executiva negra de sucesso numa importante agência de propaganda. Desde criança, Violet sempre teve o seu cabelo afro reprimido pela mãe, que sempre adotou cabelos alisados como fórmula ideal para fazer da filha uma mulher perfeita, não apenas no campo pessoal como também no profissional. Dessa forma, Violet cresceu usando sempre o cabelo alisado e roupas chiques. A beleza e o charme, além da excelente forma física da atriz Sanaa Lathan, caíram como uma luva na personagem, cuja vaidade sempre esteve acima de tudo. Por todo lugar que passa com seu porte elegante de modelo de passarela, chama a atenção de todo mundo, principalmente os homens. Ela está namorando Clint Conrad (Ricky Whittle), um médico bonitão que sempre deu a entender que casará com Violet. Ledo engano, pois logo cada um seguirá o seu caminho. Logo depois ela conhece Will (Lyriq Bent), um cabeleireiro profissional proprietário de um salão de beleza. Parece que agora vai. Mais um ledo engano. Que se dane a vaidade, e Violet muda radicalmente: fica careca. A partir daí é que ela resolve rever os seus conceitos com relação à vaidade e vai à luta levantando a bandeira “Eu serei o que sempre quis ser, e não o que os outros querem que eu seja”. E assim ela assume com orgulho a sua fase careca, sem medo de ser feliz. Até o desfecho, muitas reviravoltas acontecerão na sua vida, algumas boas e outras nem tanto. O filme é muito bem-humorado, com algumas sequências hilariantes. Seu pai Richard (Ernie Hudson), por exemplo, é uma figura. Ele se separa para seguir a carreira de modelo fotográfico e ganha um outdoor posando para um anúncio de cuecas para a terceira idade. Mais um acerto da diretora Haifaa al-Mansour, que ficou conhecida como a primeira cineasta da Arábia Saudita. Radicada há alguns anos nos Estados Unidos, Haifaa tem em seu currículo filmes elogiados pela crítica, como “Mary Shelley”, “A Candidata Perfeita” e “O Sonho de Wadjda”.             


 

“RELATOS DO MUNDO” (“NEWS OF THE WORLD”), 2020, Estados Unidos, 1h59m, disponível na plataforma Netflix. A direção é de Paul Greengrass, que também assina o roteiro com a colaboração de Luke Davies. A história é bastante interessante, baseada no livro escrito por Paulette Giles em 2016 que leva o mesmo título do filme original. O personagem principal é o capitão Jefferson Kylle Kidd (Tom Hanks), um veterano da Guerra de Secessão que ganha a vida lendo as notícias dos jornais para as populações das cidades do Texas. Numa dessas idas e vindas, ele encontra uma menina órfã de 10 anos, Johanna Leonberger (Helena Zengel). Aliás, duas vezes órfã. Sua família alemã foi dizimada pelos índios da tribo Kiowa, que sequestraram a menina, ainda bebê, e a criaram na aldeia. Aí o homem branco chegou e dizimou os índios Kiowa, levando a menina para o convívio dos “civilizados”. Foi quando o capitão Kylle Kidd a resgatou e resolveu levá-la para os parentes de sua família original. Um longo caminho a percorrer, durante o qual ficarão amigos e também enfrentarão alguns perigos, como bandidos e até uma tempestade de areia. O filme vale pelo carisma e talento de Tom Hanks e pela atriz mirim alemã Helena Zengel, cujo desempenho já lhe valeu uma indicação ao Globo de Ouro como Melhor Atriz Coadjuvante. A química entre ela e o veterano Hanks é um dos grandes trunfos do filme. O diretor Paul Greengrass faz essa incursão pelo gênero faroeste sem criar muitas sequências de ação, o que sempre foi sua especialidade, como demonstrou em filmes como, por exemplo, os da franquia Bourne. Desta vez, Greengrass opta por um filme mais intimista, com pouca ação, sem duelos na rua, brigas no saloon, flechada e sem o cavalo malhado do cacique. Mesmo sem esses clichês tradicionais dos filmes de faroeste, “Relatos do Mundo” é um ótimo filme para curtir numa sessão da tarde com pipoca.