quarta-feira, 17 de maio de 2017


Em “VERSÕES DE UM CRIME” (“The Whole Truth”), EUA, 2016, você não verá Keanu Reeves enfrentando bandidos em meio a pancadarias, tiros e perseguições. Muito menos vestido de preto desviando de balas em câmera lenta. “Versões de um Crime” é um filme de tribunal do começo ao fim. Tem pouca ação e muito falatório. Reeves é o advogado criminalista Richard Ramsey, que assume a defesa do jovem Mike (Gabriel Basso), acusado e réu confesso de ter assassinado o pai, Boone (James Belushi). A trama também envolve a viúva de Boone, Loretta (Renée Zellweger). Ramsey é amigo da família há tempos e costumava frequentar as reuniões sociais realizadas na mansão de Boone, um bem sucedido empresário, mas prepotente e violento. Em alguns flashbacks, o filme mostra cenas envolvendo Boone e a família, tentando explicar os possíveis motivos que levaram Mike a cometer o crime. O filme é repleto de pistas falsas, tem um eficiente clima de suspense e algumas reviravoltas perto do desfecho. O roteiro, assinado por Nicholas Kazan (filho do famoso cineasta já falecido Elia Kazan), mantém a atenção do espectador até o final. Este foi o segundo longa-metragem dirigido por Courtney Hunt – o primeiro foi o bom policial “Rio Congelado”, de 2008. Embora não seja o melhor filme de tribunal – longe disso -, “Versões de um Crime” certamente agradará o espectador que curte o gênero. Keanu Reeves continua sendo um ator muito fraco e quase não fica com o papel, destinado inicialmente ao ator inglês Daniel Craig, que desistiu na última hora. Não dá para não comentar a participação da atriz Renée Zellweger, completamente irreconhecível graças a uma plástica que a deixou com cara de estátua de cera, daquelas que são expostas em museus de celebridades.                       


terça-feira, 16 de maio de 2017

O drama francês “MARGUERITE & JULIEN – UM AMOR PROIBIDO” (“Marguerite & Julien”) resgata uma história verdadeira ocorrida no início do Século XVII, quando dois irmãos foram condenados por sua relação incestuosa – interpretados por Anaïs Demoustier (Marguerite) e Jérémie Elkaïm (Julien de Ravalet). A ideia de fazer um filme contando essa história surgiu no início da década de 70, quando o diretor François Truffaut resolveu desenvolver um roteiro, mas o projeto não foi concretizado. A atriz e agora cineasta Valérie Donzelli retomou a ideia,  transformando-o no seu quinto longa-metragem. Embora a trama seja ambientada originalmente em 1603, Donzelli desenvolveu-a em várias épocas, misturando o Século XVII com o início do Século XX e culminando nos dias atuais. Em outras palavras: uma confusão cronológica daquelas, com carruagens antigas ao lado de carros modernos e até de um helicóptero. Mais esquisito ainda foi o fato de toda essa história de incesto e amor proibido ser contada num orfanato para meninas que nem chegaram à adolescência. Não é por nada, mas acho que Valérie Donzelli exagerou na dose, extrapolando o bom senso. Melodramático demais. Mesmo tendo concorrido à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2015, não achei pontos positivos suficientes para recomendá-lo.                   
Os telespectadores que assistiam ao noticiário do Channel 40 da Cadeia WXLT, de Sarasota (Flórida) na manhã do dia 15 de julho de 1974 tiveram a oportunidade de presenciar uma das cenas mais chocantes da história da televisão mundial. Na bancada do estúdio, após pronunciar a frase “Para dar continuidade à política do Canal 40 de trazer as últimas notícias sobre sangue e miolos, vocês verão outro primor: uma tentativa de suicídio”, a repórter Christine Chubbuck, aos 29 anos, faria ao vivo seu trágico ato final. O dia fatídico e os que antecederam essa tragédia são retratados no drama “CHRISTINE” 2016, EUA, com direção de Antonio Campos (filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes), que também assina o roteiro ao lado de Craig Hilowich. O filme explora os antecedentes psicológicos da repórter, interpretada com maestria pela atriz inglesa Rebecca Hall. Christine tinha um histórico de depressão e uma vida pessoal tumultuada, principalmente a relação conturbada com sua mãe Peg (J. Smith-Cameron). No trabalho, Christine era sempre pressionada a conseguir reportagens que aumentassem a audiência da emissora, o que a levava ao limite do estresse. O filme estreou no Festival de Sundance em 2016 e, no mesmo ano, foi exibido durante o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. O filme é muito bom, ainda mais pelo maravilhoso desempenho de Rebecca Hall, injustamente não indicada ao Oscar 2017 por essa atuação.            


segunda-feira, 15 de maio de 2017

O drama independente “MELHORES AMIGOS” (“Little Men”), 2016, EUA, reúne novamente o diretor Ira Sachs com o roteirista brasileiro Maurício Zacharias (“O Céu de Suely” e “Madame Satã”). Eles trabalham juntos há vários anos, sendo responsáveis por filmes como “O Amor é Estranho”, “Deixe a Luz Acesa” e “Vida de Casado”. O fio condutor de “Melhores Amigos” é a mudança da família Jardine – Brian (Greg Kinnear), Kathy (Jennifer Ehle) e Jake (Theo Taplitz) – para a casa deixada pelo avô de Brian, recentemente falecido, no Brooklin. O térreo da casa é ocupado por uma loja cuja proprietária é Leonor (a atriz chilena Paulina Garcia, de “Glória”, em seu primeiro filme em língua inglesa). Seu filho Toni (Michael Barbieri) logo faz amizade com Jake. Os dois não se desgrudam. O avô de Brian cobrava um aluguel irrisório de Leonor. Brian e sua irmã Audrey (Talia Balsan) resolvem reajustar o valor. Inconformada, Leonor resolve não assinar um novo contrato, iniciando uma batalha jurídica que esfriará de vez a amizade entre as duas famílias. Destaco como trunfo do filme o excelente desempenho do elenco, principalmente os jovens atores que interpretam Jake e Toni. Apesar do contexto dramático, o filme é leve e pode ser visto numa sessão da tarde com pipoca.           

domingo, 14 de maio de 2017



“INSUBSTITUÍVEL” (“Médecin de Campagne”), 2016, traz de volta à tela um dos mais competentes atores franceses: François Cluzet (quem não se lembra dele como o tetraplégico de “Intocáveis”?). Ele interpreta o médico Jean-Pierre Werner, que há 30 anos dedica-se a cuidar da população de uma zona rural no interior da França. Werner é um médico à moda antiga. Além do consultório, onde costuma não cobrar consulta dos pobres, visita seus pacientes em suas casas, envolve-se emocionalmente com quase todos os casos, conversa demoradamente com cada um, dá conselhos e é radicalmente contra internações em hospitais. Todo mundo adora Werner. Só que um dia ele é diagnosticado com uma doença grave, com poucas chances de cura. Aconselhado a descansar e iniciar um tratamento mais intensivo, Werner não desiste de continuar trabalhando. Até que uma médica recém-formada, Natalie Delezia (Marianne Denicourt), chega para ajudá-lo e, tudo a leva a crer,  substituí-lo no futuro. De início, ele resolve boicotá-la, o que resulta nas cenas mais bem-humoradas do filme. O roteirista e diretor Thomas Lilti, que já havia colocado a medicina como tema de outro filme (“Hipócrates”), não deixa a trama cair no melodrama, o que faz desta produção francesa um ótimo entretenimento, mas o melhor do filme é, sem dúvida, o desempenho de Cluzet.