sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

 

“COFFEE & KAREEM”, 2020, Estados Unidos, produção original Netflix, 1h28m, direção do canadense Michael Dowse, seguindo roteiro de Shane Mack. Deixe de lado o seu orgulho de cinéfilo amante de bons filmes e aproveite também para dar descanso aos seus neurônios. Trata-se de uma comédia escrachada com roteiro estapafúrdio, repleta de palavrões e, pior, ditos por um adolescente de 12 anos. James Coffee (Ed Helms, de “Se Beber não Case”) é um policial de Detroit honesto e trapalhão. Ele vive um caso com a viúva negra Vanessa (Taraji P. Henson, de “Estrelas Além do Tempo”), mãe de Kareem (Terrence Little Gardenhigh), um garoto terrível metido a bandido infantil. Ao surpreender a mãe transando com o policial, ele jura vingança. “Além de policial, ele é branco”, diz o garoto para os delinquentes de uma gangue, aos quais pede que deem um susto no namorado da mãe. Ao mesmo tempo, porém, Vanessa pede a Coffee que se aproxime do garoto e faça amizade. O policial não imagina em quantas confusões irá se meter com Kareem. E a situação piora ainda mais quando ele descobre que sua chefe durona, a detetive Watts (Betty Gilpin), está envolvida com um esquema de tráfico de drogas. Como comédia sem compromisso, até que o filme funciona a contento, embora exija uma dose extra de paciência para aturar tanta bobagem. Tem alguma ação, mas também muita enrolação. A Netflix que me desculpe, mas o confinamento merecia coisa melhor.  

 

“A SERIAL KILLER” (“MRS. SERIAL KILLER”), 2020, Índia, disponível na plataforma Netflix, 1h46m, direção de Shirish Kunder, que também assina o roteiro com a colaboração de Vikas Vinod Singh. Trata-se de um filme bastante interessante, um misto de suspense, policial e terror psicológico, com fartas pitadas de humor negro, notadamente na segunda metade. A história é centrada em Sona Mukerjee (Jacqueline Fernandez), que um dia recebe a notícia da prisão do seu marido Mrtyunjoy (Manoj Bajpai), um respeitado médico, acusado de ter assassinado seis jovens mulheres grávidas. Cega de paixão pelo marido, e agora ainda mais por descobrir que está grávida, Sona acredita na sua inocência e fará tudo para tirá-lo da prisão. Para isso, contrata um famoso advogado e, juntos, elaboram um plano diabólico. A ideia é assassinar mais uma jovem grávida com os mesmos requintes de crueldade utilizados pelo verdadeiro assassino. Dessa forma, a inocência do marido seria comprovada, o que de fato aconteceu. A partir do momento em que o médico é libertado, muita confusão acaba acontecendo, envolvendo Sona, uma jovem grávida e seu namorado e um policial ex-noivo de Sona. Tudo isso contado com sequências bem humoradas, ação e muito suspense, o que torna o filme um ótimo entretenimento. Um de seus trunfos é o enredo engenhoso, repleto de reviravoltas. Outro trunfo é a ausência daqueles clichês que Bollywood costuma colocar em seus filmes, como as irritantes cantorias, coreografias, cabeças balançando pra lá e pra cá, pétalas caindo do céu e guerra de pó colorido. “A Serial Killer”, felizmente, não tem nada disso. Acrescento como principal destaque a presença da atriz Jacqueline Fernandes, na minha opinião a mais linda de Bollywood, além de competente. Apesar do nome aportuguesado, Jacqueline, de 34 anos, nasceu em Sri Lanka, onde foi repórter de TV. No cinema indiano, estreou em 2008 no filme “Aladin”, e daí para a frente tem sido sucesso em todas as produções de que participa. Somente a presença dela já é boa motivação para assistir “A Serial Killer”, mas tem muito mais. Não perca!                      

 

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 

“DESPIDO PROCEDENTE”. É com esse título em espanhol que consta no catálogo da Netflix, mas já vi em alguns blogs e sites o filme apresentado como “APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA”. Trata-se de uma coprodução Espanha/Argentina de 2017, roteiro e direção de Lucas Figueroa, com duração de 1h30m. É uma comédia bem legal que explora, com muito bom humor, os bastidores sujos das grandes corporações, no caso uma empresa de telecomunicações. Javier (Imanol Arias) chega da Espanha para assumir o cargo de gerente da filial de Buenos Aires. Tudo caminha bem até o dia em que, ao sair do estacionamento da firma com seu BMW, quase atropela um homem, que depois será identificado como Rubén Sanchez (Darío Grandinetti). Javier pede desculpas, aceitas por Rubén, que aproveita para pedir orientação com relação a uma rua. Como ainda não conhece muito bem a cidade, Javier indica que é logo à esquerda, quando na verdade era o contrário. Alegando que perdeu a hora da entrevista para o emprego por causa da orientação enganosa, Rubén passa a perseguir Javier, exigindo dinheiro e outras coisas mais. A partir daí, a vida de Javier vira um verdadeiro inferno, sem contar que vive um momento de grande tensão na empresa e problemas com sua namorada ninfomaníaca. Até descobrir o que de fato está acontecendo, Javier vai sofrer um bocado. Ainda estão no elenco Hugo Silva, Luís Luque, Paula Cancio e Valéria Alonso. É um filme bastante divertido, entretenimento garantido.                  

 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

 

“PIECES OF A WOMAN”, 2020, coprodução Estados Unidos/Canadá/Hungria, 2h8m, disponível na Netflix desde 7 de janeiro de 2021, primeiro filme em inglês do cineasta húngaro Kornél Mandruczó (“Lua de Júpiter"), com roteiro assinado por sua esposa Kata Wéber. Trata-se de um drama cujo pano de fundo é a dor do luto e como levar a vida adiante depois da perda de um ente querido. A inspiração de Kata Wéber surgiu depois de uma experiência pessoal que a marcou muito, que foi a morte inesperada do seu bebê ainda na barriga. O filme começa com um plano-sequência de 24 minutos dentro do apartamento do casal Martha Weiss (Vanessa Kirby) e Sean Carson (Shia Labeouf). Eles resolveram que o parto seria em casa, com a assistência de uma parteira. Quando as contrações se iniciam, eles chamam a parteira contratada anteriormente, mas que naquele dia estava realizando cirurgia de emergência no hospital. Ela indica então outra parteira, também experiente, Eva Woodard (Molly Parker). O parto ocorre sem problemas, mas quando o bebê é retirado logo depois fica roxo e morre. A partir desse acontecimento trágico, o filme acompanha o cotidiano de Martha, que tenta superar a perda e ainda sofrer um grande desgaste no seu casamento, além de enfrentar as críticas indiretas da mãe controladora, Elizabeth Weis (Ellen Burstyn), que a obriga a entrar com processo na justiça contra a parteira. Nesse ponto, convém destacar a cena mais poderosa do filme em termos de dramaticidade. Num almoço em família, mãe e filha se confrontarão num diálogo de forte cunho emocional, durante o qual é possível constatar o excelente desempenho da inglesa Vanessa Kirby e da veterana Ellen Burstyn. Vanessa, aliás, já está sendo apontada como o grande favorita ao Oscar 2021 de Melhor Atriz e, possivelmente, Burstyn deva ser indicada para Melhor Atriz Coadjuvante. O filme estreou no 77º Festival Internacional de Cinema de Veneza, em setembro de 2020, e Vanessa conquistou o prêmio de Melhor Atriz. “Pieces of a Woman”, que tem como produtor executivo o cineasta Martin Scorsese, é um dos dramas mais poderosos dos últimos anos e certamente será um dos destaques do Oscar 2021. Um filme esteticamente original, graças à mão criativa do diretor húngaro. Resumo da ópera: um filme obrigatório para quem curte cinema de qualidade.