sábado, 16 de setembro de 2017


“NA FRONTEIRA(título original, “NA GRANICY” – nos países de língua inglesa, foi exibido como “The High Frontier”), 2015, Polônia, roteiro e direção de Wojciech Kasperski (seu filme de estreia). Trata-se de um thriller que ficou devendo em ação e suspense. Ex-guarda  lotado num posto policial da fronteira entre Polônia e Ucrânia, Mateusz (Andrezej Chyra) resolve levar seus dois filhos adolescentes para conhecer o seu antigo local de trabalho, instalado  num lugar de difícil acesso nas montanhas. Machista ao extremo, Mateusz queria promover uma aproximação com os filhos, além de realizar um programa para contribuir com o amadurecimento de ambos, ou seja, passar uns dias numa cabana abandonada em meio a um frio muitos graus abaixo de zero e debaixo de muita neve. Um dos ensinamentos: caçar para sobreviver. Ou seja, ser macho o suficiente para matar um animal a sangue frio. Só que eles não contavam com o repentino aparecimento de um visitante misterioso, um tal de Konrad (Marcin Dorocinski), um antigo policial de fronteira acostumado a se envolver em práticas criminosas. O suspense fica a cargo da relação desse visitante com os adolescentes, já que o pai deles sai para investigar um possível acidente. Com grande parte da ação desenvolvida no interior da cabana, num clima por demais claustrofóbico, os dois adolescentes terão que lutar sozinhos para sobreviver ao vilão. Um filme que tem muito papo furado e pouca ação. Um suspense que deixa muito a desejar. Sou obrigado a admitir: nesse gênero, Hollywood faz bem melhor.                                                     

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

“LANG HISTORIE KORT”, 2015, Dinamarca (nos países de língua inglesa, foi lançado como “Long Story Short”; como ainda não foi exibido por aqui, não existe uma tradução; numa tradução literal ficaria “História Longa Curta”). A história é centrada num grupo de amigos na faixa dos 40/50 anos de idade que se conhecem há bastante tempo. O espectador vai acompanhar vários encontros entre eles, num Reveillon, em festas de aniversário, casamentos e outras ocasiões especiais. O filme dá destaque aos relacionamentos amorosos e seus desdobramentos, encontros e desencontros, amores desfeitos e carências afetivas, segredos e cumplicidade, predominando a amizade acima de alguns eventuais entreveros, como acontece numa grande família. As reuniões são bastante festivas e geralmente acabam em dança e cantorias. Os diálogos são leves e divertidos, caracterizando esta produção dinamarquesa como uma comédia das mais agradáveis, com uma qualidade muito acima da média habitual. Uma diversão inteligente. Trata-se do segundo filme escrito e dirigido pela diretora dinamarquesa May el-Toukhy – o primeiro foi “White Man’s Burden”, de 2003. Ela conseguiu reunir um elenco de primeira, destacando-se alguns dos mais competentes atores dinamarqueses da atualidade, como Danica Curcic, Mille Lehfeldt, Trine Dyrholm, Jens Albinus e Peter Gantzler.                                                          

terça-feira, 12 de setembro de 2017

“O CADÁVER DE ANNA FRITZ” (“El Cadáver de Anna Fritz”), 2015, Espanha, 74 minutos, roteiro e direção de Héctor Hernández – seu filme de estreia. Esqueça qualidade e encare apenas como diversão. Se é que dá para se divertir num filme quase que inteiramente ambientado dentro de um necrotério. Trata-se de um thriller que mistura suspense e doses de humor negro, sem sustos, monstros ou mutilações sangrentas. Enfim, um terror que pode ser visto comendo pipoca, sem roer unhas ou eriçar os pelos do pescoço. A história: chega ao necrotério o cadáver de uma famosa e bela atriz – Anna Fritz, claro – cuja morte gerou comoção nacional. O jovem Pau (Albert Carbó), assistente do necrotério, fotografa o cadáver da moça e envia para seus dois amigos Ivan (Cristian Valencia) e Javi (Bernat Saumell), que vão ao necrotério para convencer Pau a deixá-los entrar para ver o corpo nu da bela atriz. Só que eles não se contentam em apenas ver, mas usufruir do material gelado. Mas não contavam, porém, com um fato inusitado, que não dá para contar aqui e estragar a surpresa. Resumindo: os rapazes vão tentar limpar a bagunça, esconder o que fizeram e esquecer tudo o que aconteceu. Mas não será fácil para eles escapulir de alguém que quer fazer justiça com as próprias mãos. Resumo da ópera-bufa: dá pra ver sem precisar recorrer aos neurônios. Ah, Alba Ribas é a atriz que faz Anna Fritz – ou o seu cadáver...                                                           


“A MORTE DE LUÍS XIV” (“LA MORT DE LOUIS XIV”), 2016, França/Espanha, roteiro e direção do espanhol Albert Serra. Trata-se de um filme biográfico que relata os últimos dias de vida do Rei Luís XIV (1638/1715), em cujo reinado de 72 anos – o mais longo da história europeia – a França chegou à liderança das potências europeias. O filme é inteiramente ambientado nos aposentos de Luís XIV e mostra sua agonia iniciada com fortes dores na perna esquerda que logo se transformaria numa gangrena fatal. O ambiente é claustrofóbico e um tanto mórbido – sem exagero, dá para sentir o cheiro da morte –, com um entra e sai de ministros, membros da corte, familiares, padres, médicos e empregados, enquanto o rei mal consegue se levantar e se alimentar. Luís XIV é interpretado de forma impressionante e magistral por um dos maiores atores franceses, Jean-Pierri Léaud, preferido nas décadas de 50/60/70 por diretores como François Truffaut e Jean-Luc Godard. Por sua carreira e pela atuação neste filme, Léaud recebeu a Palma de Ouro Honorária no Festival de Cannes/2016. O diretor catalão Albert Serra realizou o filme como se fosse uma série de quadros vivos, utilizando iluminação à luz de velas e uma fotografia deslumbrante, a cargo de Jonathan Ricquebourg. Enfim, um puro exemplar da melhor qualidade do chamado cinema de arte, premiado com o Prêmio de "Melhor Filme Internacional" no Jerusalém Film Festival/2016. Imperdível!                                                            
Vencedor da Palma de Ouro no 69º Festival de Cannes/2016, “EU, DANIEL BLAKE” (“I, Daniel Blake”) consagra o inglês Ken Loach como um dos diretores mais engajados do cinema atual com seus filmes de cunho político e social, explorando temas como o desemprego, a questão dos imigrantes e dos direitos de outras minorias deixadas de lado pelo sistema. O carpinteiro Daniel Blake (Dave Johns) é um solitário viúvo de 59 anos que sofreu um grave problema cardíaco e recebeu ordens médicas para ficar afastado do trabalho. Ao reivindicar o seguro-desemprego, Blake vai encontrar inúmeros obstáculos colocados à sua frente pelos burocratas ingleses (eles não conhecem o nosso INSS...). Blake tentou obter informações por telefone e depois foi obrigado a preencher formulários por intermédio da Internet. Só que ele não domina os computadores. Blake resolve ir direto aos escritórios responsáveis pela liberação do benefício. Mais descasp e dor de cabeça. Numa dessas visitas, ele conhece a jovem Katie (Hayley Squires), mãe solteira de duas crianças que tenta receber o vale alimentação. Os dois tornam-se amigos e Blake passa a ajudar Katie. Além de denunciar os desmandos e o pouco caso dos burocratas ingleses com os cidadãos, Loach cria momentos de grande sensibilidade. Mais um belo filme do diretor inglês – de novo com a colaboração do roteirista Paul Laverty, parceiro de outros filmes de Loach. Quem quiser conhecer melhor a obra de Loach, recomendo filmes como “Ventos da Liberdade”, “A Parte dos Anjos”, “Pão e Rosas” e “Jimmy’s Hall”, entre outros.                                                             

domingo, 10 de setembro de 2017

Drama que não faz jus à qualidade da cinematografia da Suécia. Já começa pelo título esquisito: “APFLICKORNA”, que na tradução em inglês ficou “She Monkeys”, o que também não quer dizer nada e muito menos tem a ver com a história. O filme, lançado em 2011, foi escrito e dirigido pela sueca Lisa Aschan. A história é centrada na amizade entre duas jovens de 15 anos de idade, Emma (Mathilda Paradeiser) e Sara (Isabella Lindqvist), praticantes do volteio, um esporte que compreende malabarismo sobre cavalos. As duas fazem parte de uma equipe que disputará um torneio. Elas ficam amigas íntimas e inseparáveis, mas têm personalidades diferentes. Emma é mais contida. Sara é mandona, manipuladora. Nem sempre a amizade será um mar de rosas entre as duas, incluindo ciúmes e a disputa ferrenha por uma vaga na equipe de volteio, além de uma evidente atração lésbica por parte de Cassandra. Enquanto isso, Sara (Isabella Lindqvist), a irmã de 8 anos de Emma, desenvolve uma sexualidade nada normal para a sua idade. Tudo muito constrangedor. Mesmo que o filme tenha sido considerado “um dos mais intensos e complexos” pelo crítico de cinema da Revista Variety e eleito o melhor filme sueco do ano pelo “Golden Bug Awards”, confesso que achei entediante e sem atrativos para garantir uma recomendação. Saudades de Bergman!                                                            
“NOJOOM, 10 ANOS, DIVORCIADA” (“Ana Nojoom Bent Alasherah Wamotalagah”), 2014, Iêmen, roteiro e direção de Khadija al-Salami. Em 2008, a jornalista francesa Delphine Minoui descobriu no Iêmen um caso que se transformou em notícia mundial: uma menina de 10 anos havia conseguido o divórcio. A jornalista revelou que Nujood Ali, de apenas 10 anos, foi obrigada a se casar com um homem bem mais velho em troca de um generoso dote, aceito pela família pobre da garota, residente num pequeno vilarejo onde o casamento infantil era bastante comum – assim como em vários outros países árabes. Num ato de extrema coragem, Nojood procurou a justiça e conseguiu o divórcio. Os pormenores desse polêmico caso foram descritos posteriormente num livro escrito por Nojood e adaptado para o cinema pela diretora Khadija al-Salami, ela própria obrigada a se casar com 11 anos de idade. Segundo o filme, cerca de 70 mil garotas morrem anualmente por causa do casamento infantil no Iêmen. O filme é bastante chocante e perturbador, principalmente por causa das cenas onde a menina aparece sendo espancada e estuprada. O elenco é quase todo formado por atores amadores, o que fica evidente desde o início. Para alguns críticos profissionais, este pode ser um fato alentador. Achei que prejudicou a qualidade interpretativa e o próprio filme como um todo. De qualquer forma, é um filme interessante não apenas pela história em si, mas também por revelar inúmeros aspectos dos costumes e da cultura do povo iemenita, bastante incompreensíveis para o mundo ocidental.