sexta-feira, 30 de outubro de 2020

 

“MADEMOISELLE VINGANÇA” (“MADEMOISELLE DE JONCQUIÈRES”), 2018, França, 1h50m, roteiro e direção de Emmanuel Mouret (“Romance à Francesa”). Trata-se de um filme de época ambientado em meados do século 18, tendo como principal protagonista Madame De La Pommeraye (Cecile de France), uma bela viúva que vive reclusa em seu palácio rural desde a morte do marido. Um velho conhecido, o Marquês De Arcis (Édouard Baer), começa a assediá-la com insistência, mas ela não cede. Para um aristocrata famoso por suas conquistas femininas na alta sociedade de Paris e adjacências, as recusas de La Pommeraye se transformam num desafio a ser vencido. Como todo garanhão desafiado, ele aperta o cerco e, depois de muito tempo de assédio, consegue finalmente seu objetivo. A viúva acaba se apaixonando perdidamente, entregando-se completamente ao marquês. Dois anos depois, porém, ele confessa a ela que dali para a frente só quer amizade, pois seu amor terminou. A rejeição do marquês é um banho de água fria em La Pommeraye. E com mulher rejeitada, todo mundo sabe, não se brinca. Ela bola um plano maquiavélico para se vingar do marquês, utilizando duas prostitutas, mãe e filha, respectivamente Madame De Joncquières (Natalia Dontcheva) e Mademoiselle De Joncquières (Alice Isaaz). Sem contar detalhes, posso afirmar que o marquês vai comer o pão que o diabo amassou. “Mademoiselle Vingança” é um filme bastante agradável de assistir. O roteiro é primoroso, com diálogos num tom bastante satírico, mesmo que os protagonistas utilizem o vocabulário pomposo da aristocracia francesa daquela época. Você vai se divertir com as situações criadas pela viúva vingativa. Nesse ponto, há que se admirar a ótima atuação de Cecile de France, uma atriz que aprendi a admirar de longa data. Outro aspecto que merece destaque é a caprichada recriação de época, com cenários deslumbrantes de castelos, bosques e jardins, além dos figurinos. Mas é realmente o roteiro que valoriza o filme, escrito com muito inspiração pelo diretor Ammanuel Mouret, que o adaptou do livro “Jacques, Le Fataliste, et Son Maître”, do filósofo e escritor Denis Diderot (1713-1784). Mesmo quem não é chegado num filme de época vai curtir “Mademoiselle Vingança”, um filme inteligente e divertido. Programão!     

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 

“O GAMBITO DA RAINHA” (“THE QUEEN’S GAMBIT”), 2020, minissérie de 7 capítulos de 1 hora produzida pela Netflix, roteiro e direção de Scott Frank. Logo que estreou na Netflix no dia 23 de outubro, a minissérie ganhou elogios no mundo inteiro, tanto de críticos de cinema como do público. Para se ter uma ideia de sua qualidade, até o rigoroso site Rotten Tomatoes, especializado em cinema, conferiu a ela 100% de aprovação, o que é uma raridade. Realmente, vale a pena assistir. A história, fictícia, é baseada no romance “The Queen’s Gambit”, do escritor norte-americano Walter Tevis (1928-1984). Vamos à sinopse. Aos 9 anos, em 1957, após a morte trágica da mãe, Beth Harmon é internada num orfanato. Encarregada de limpar os apagadores da lousa da classe, ela desce diariamente ao porão, onde encontra o zelador, sr. Shaibel (Bill Camp), jogando xadrez sozinho. Beth pede que ele a ensine o jogo. Depois de negar inúmeras vezes, Shaibel concordou em ensiná-la. Logo ele percebeu que estava diante de um fenômeno, de uma inteligência rara, uma verdadeira campeã em potencial. Ao mesmo tempo em que aprendia os movimentos do xadrez, Beth (Anya Taylor-Joy) ficaria viciada em tranquilizantes, que roubava da farmácia do orfanato. As pílulas levavam o seu cérebro a ter alucinações e, como num efeito holográfico, ela via um tabuleiro no teto do seu quarto movendo as peças e criando várias jogadas. Para resumir a história, Beth foi adotada por um casal e aos 13 anos já era campeã universitária, estadual e logo depois nacional. Sua fama chegou aos quatro cantos do mundo, o que lhe rendeu inúmeros convites para participar de torneios internacionais, enfrentando e vencendo jogadores profissionais, ou seja, os grandes mestres do xadrez. O maior objetivo de Beth seria enfrentar o russo campeão mundial Vasily Borgov (Marcin Dorocinski), o que aconteceria em duas ocasiões. Como o título já antecipa – gambito da rainha é uma das aberturas (jogadas iniciais) do jogo -, o filme é quase todo voltado para o que gira em torno do xadrez e a dedicação exigida por parte dos jogadores, envolvendo estudos e treinos diários, trabalho psicológico para aguentar a pressão das partidas e suas, em geral, tumultuadas vidas pessoais. No caso de Beth Harmon, por exemplo, o vício em álcool e tranquilizantes, além de uma crónica solidão. Não há dúvida de que o sucesso da produção deve ser atribuído, em grande parte, ao desempenho sensacional da jovem atriz norte-americana Anya Taylor-Joy (“Os Novos Mutantes”, “Fragmentado”) como Beth Harmon. O mais curioso é que a atriz, antes de atuar na minissérie, nunca havia jogado xadrez. Ainda estão no elenco Marielle Heller, Thomas Brodie, Harry Melling, Moses Ingram, Chloe Pirrie e Christiane Seidel. Mesmo que você não seja fã do jogo de xadrez, a minissérie tem tudo para agradar. Quem joga ou jogou xadrez, ou pelo menos se interessa pelo tema, “O Gambito da Rainha” é entretenimento garantido, emocionante do começo ao fim - e veja que estamos falando de xadrez.... Sem dúvida, uma verdadeira jogada de mestre da Netflix. Não exagero em escrever que esta é a melhor minissérie do ano. IMPERDÍVEL com letras maiúsculas.     

terça-feira, 27 de outubro de 2020

 

“MARY SHELLEY”, 2018, Inglaterra, 2h00, roteiro e direção da cineasta saudita Haifaa Al Mansour. Trata-se de uma adaptação para o cinema da biografia de Mary Wollstonecraft Godwin (1797-1851), que mais tarde seria conhecida como a escritora Mary Shelley, criadora do monstro Frankenstein. Filha do escritor e filósofo William Godwin e da escritora Mary Wollstonecraft, Mary cresceu lendo os livros da imensa biblioteca dos pais e logo cedo começou a escrever, dedicando-se a histórias de terror. O filme destaca o tumultuado romance entre Mary (Elle Fanning) e o poeta Percy Shelley (Douglas Booth), um escândalo na Londres da época, pois ela só tinha 16 anos. Para complicar ainda mais a situação, sua irmã Claire (Bel Powley), que passou a morar com o casal, também seria motivo de outro escândalo como amante do famoso poeta Lord Byron (Tom Sturridge). Em meio a tanta agitação, Mary encontrou tempo para escrever o romance que intitulou de “Frankenstein ou o Jovem Prometeu”, considerado até hoje o primeiro romance de ficção científica da literatura mundial. Interessante que, em sua primeira edição, o livro foi assinado pelo marido Percy Shelley, pois na época mulher escritora era quase um escândalo. Somente na segunda edição é que Mary aparece como autora. O filme apresenta uma primorosa recriação de época, com cenários de uma Londres onde a pobreza era evidente nas ruas. Mas o grande destaque é realmente a atuação da jovem atriz norte-americana Elle Fanning, irmã mais nova da também atriz Dakota Fanning. “Mary Shelley” deve ser visto não apenas como uma boa adaptação biográfica, mas também como um estudo comportamental de uma época em que a mulher era relegada a segundo plano na sociedade. Filmaço!  

domingo, 25 de outubro de 2020

 

“93 DIAS” (“93 DAYS”), 2016, Nigéria, 2h05m, direção de Steve Gukas e roteiro de Paul Rowlston. Baseado em fatos reais, o filme relembra como a Nigéria conseguiu conter a disseminação do vírus do Ebola por sua população. Vale registrar, antes de entrar no comentário, que houve um surto do Ebola na África Ocidental entre 2013 e 2016, durante o qual morreram 11.323 pessoas na Guiné, Libéria, Mali, Senegal, Nigéria e República Democrática do Congo. A Nigéria, devido ao empenho da equipe médica do Hospital First Consultant Medical Centre, da capital Lagos, conseguiu debelar o vírus em 93 dias, período em que foram infectadas 20 pessoas, com apenas 8 mortos. O filme começa com a chegada ao hospital do norte-americano Patrick Sawyer (Keppy Ekpenyong-Bassey), que desembarcara pouco antes no Aeroporto Murtala Mohammed proveniente da Libéria, onde trabalhava como consultor do Ministério das Finanças. No hospital, Sawyer foi atendido pela médica Ameyo Stella Adadevoh (Bimbo Akintola), que constatou que o paciente estava infectado pelo Ebola. Apesar das pressões do governo da Libéria e do próprio governo nigeriano, a médica proibiu Sawyer de sair do hospital para não contaminar outras pessoas, mas enfermeiros e médicos, inclusive Adadevoh, acabaram infectados. “93 Dias” retrata o esforço e a dedicação do pessoal do hospital na luta contra a doença, com a ajuda de uma equipe enviada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Ong Médicos sem Fronteiras. Apesar do cenário trágico que envolve toda a história, “93 Dias” consegue ser bastante esclarecedor com relação aos fatos que aconteceram, reservando ao telespectador algumas sequências muito comoventes. Mas o que se destaca realmente é o empenho corajoso da equipe do hospital, que arriscou suas vidas para salvar outras. Lembrando que só a capital Lagos tinha na época 21 milhões de habitantes, 20 infectados e oito mortos podem ser considerados um feito milagroso, ainda mais num país com poucos recursos na área médica. Como destaque no elenco, a participação do ator norte-americano Danny Glover como Dr. Benjamin Ohiaeri, diretor médico do hospital, e do ator escocês Alastair Mackenzie como o médico David Brett-Major, da OMS. “93 Dias” é mais uma produção do cinema nigeriano, hoje o segundo maior produtor de filmes do mundo, atrás apenas da Índia (EUA é o terceiro).