quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019


“UM HOMEM COMUM” (“AN ORDINARY MAN”), 2017, coprodução EUA/Sérvia, 1h30m, roteiro e direção de Brad Silberling. Um general criminoso de guerra, responsável por genocídios praticados durante a Guerra da Bósnia, na antiga Iugoslávia, é caçado por autoridades internacionais. Protegido por um grupo de antigos oficiais e soldados fiéis, ele circula por Belgrado, na Sérvia, sem ser molestado. Pelo contrário, é admirado pela população, que o trata como um herói nacional. Interpretado pelo ator inglês Ben Kingsley, ele sempre diz, orgulhoso, que cometeu os genocídios em nome da pátria e que é “o único criminoso de guerra que nunca foi levado à justiça”. Ele é obrigado a trocar constantemente de esconderijo e, num deles, aceita os serviços de Tanja (a atriz islandesa Hera Hilmar), uma jovem contratada para ser sua empregada – mais tarde, sua verdadeira função será revelada. O general é uma figura bem desagradável, arrogante, grosseiro e autoritário, dono de uma mente perversa e assassina – mais um show do ator inglês Ben Kinsgley. Esse lado psicológico de um criminoso de guerra é explorado com grande competência pelo diretor norte-americano Brad Silberling, que escreveu o roteiro inspirado no general sérvio Ratko Mladic, que ficou conhecido como “O Açougueiro da Bósnia”, um criminoso de guerra que foi procurado durante 12 anos e finalmente preso, julgado e condenado à prisão perpétua pelo Tribunal Internacional de Haia. O filme apresenta uma nítida estrutura teatral, com apenas dois protagonistas em evidência (o general e a empregada), sem praticamente nenhuma ação, apenas diálogos. Na verdade, o filme é uma espécie de continuação de outro filme com o mesmo nome, “Um Homem Comum” (“A Common Man”), de 2012, no qual Ben Kingsley faz um terrorista que provoca atentados à bomba no Sri Lanka. Nenhum crítico profissional percebeu esse detalhe, só este humilde cinéfilo. O filme ficou em cartaz no circuito comercial em várias cidades brasileiras em novembro e dezembro de 2018.    


Grande vencedor do Prêmio de Melhor Filme da Mostra “Um Certo Olhar” do Festival de Cannes 2017, “UM HOMEM ÍNTEGRO” (“Lerd” – o título nos países de língua inglesa ficou “A Man of Integrity”), 120 minutos, Irã, roteiro e direção de Mohammad Rasoulof, é uma crítica contundente ao governo iraniano, autoridades públicas e policiais, denunciando a corrupção que impera no país (não sei como passou pela rigorosa censura dos aiatolás). Bom lembrar que o filme foi realizado clandestinamente em locações no norte do Irã. Quando voltou dos Estados Unidos, onde participou de um festival que exibiu seu filme, Mohammad Rasoulof teve confiscado seu passaporte para que não pudesse sair mais do país - ele já tinha sido preso em 2010 juntamente com seu colega Jafar Panahi. Para piorar ainda mais a situação de Rasoulof, “Um Homem Íntegro” também foi premiado no Festival de Cinema de Jerusalém, o que aumentou ainda mais o rosnar das autoridades iranianas. Bem, vamos à história: depois de ser demitido como professor de uma escola de Teerã, Reza (Reza Akhlaghirad) resolve se mudar com a esposa Hadis (Sondabeh Beizaee) e o filho para uma zona rural ao norte do Irã, onde compra um terreno e monta um pequeno sítio para criar peixes dourados. O negócio ia bem até que seu vizinho, um tal de Abbas, um rico empresário, resolve um dia cortar o fornecimento de água. Ao reclamar, Reza acaba brigando com Abbas, que o processa pelo fato de ter quebrado seu braço. Daí para a frente, Reza viverá um verdadeiro inferno, terá que lidar com funcionários judiciários e policiais que exigem propina – para desespero da sua esposa, Reza não aceita o jogo dos corruptos e acaba sofrendo por isso. Ele e sua família. O filme é excelente e um de seus maiores trunfos é, sem dúvida, além do primoroso roteiro, a grande atuação da dupla de atores principais: Reza Akhlagfhirad e a belíssima Sondabeh Beizaee. Resumo da ópera: cinema da mais alta qualidade. Imperdível!  

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019


“UM AUTÊNTICO VERMEER” (“EEN ECHTE VERMEER”), 2016, Holanda, 1h55m, roteiro e direção de Rudolf Van Den Berg. Trata-se de uma história baseada em fatos reais, ou seja, a trajetória do pintor holandês Han Van Meegeren (Jeroen Spitzenberger), que ficou famoso na Amsterdã dos anos 20 do século passado por apresentar, em suas telas, um estilo semelhante aos grandes pintores clássicos holandeses do Século 17, Rembrandt e Johannes Vermeer. Seu sucesso, porém, teria vida curta, principalmente depois que conheceu e se apaixonou pela atriz de teatro Jolanka Lakatos (Lize Feryn), casada com Abraham Bredius (Porgy Franssen), o mais importante marchand e crítico de arte da Holanda. Enciumado pelo assédio de Meegeren sobre sua esposa, Bredius destruiu a carreira de Meegeren, que resolveu se vingar não apenas tornando-se amante de Jolanka, como também pintando telas falsas de Vermeer para o oponente comercializar como sendo verdadeiras. O filme acompanha a trajetória de Meegeren até depois da Segunda Guerra Mundial, quando ele é julgado como suspeito de colaborar com o exército nazista que ocupou a Holanda durante o conflito - ele presenteou os oficiais alemães e até Hitler com algumas de suas obras. O diretor holandês Van Den Berg (“Süskind” e “Tirza”) acertou ao escolher uma história tão interessante e pouco conhecida. Acertou também na escolha do elenco, na fotografia e, principalmente, na reconstituição de época – figurinos e cenários. Por aqui, o filme foi exibido durante a programação oficial da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Vale a pena assistir!  

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019


“ROMA”, 2018México, 2h15m, produção e distribuição da Netflix, roteiro e direção de Alfonso Cuarón. Totalmente filmado em preto e branco, esse maravilhoso drama recebeu nada menos do que 10 indicações para disputar no Oscar 2019. Banido do Festival de Cannes 2018 por ser da Netflix, “Roma” conquistou o Leão de Ouro como Melhor Filme no Festival de Veneza e foi eleito o melhor longa-metragem de 1918 por críticos de Nova Iorque, São Francisco, Los Angeles e Chicago. Ao assistir “Roma”, fiquei propenso a acreditar que o diretor mexicano estava fazendo uma homenagem a “Roma, Cidade Aberta” (1947), um clássico do neorrealismo italiano dirigido por Roberto Rosselini. Ledo engano. Cuarón escreveu o roteiro inspirado na sua infância, quando morava com sua família em Colônia Roma, um bairro de classe média na Cidade do México. A personagem principal da história, Cleo (Yalitza Aparício), por exemplo, foi baseada na sua antiga babá Libo. Tudo gira em torno de Cleo, a babá e empregada da família, na verdade o braço direito de Sofia (Marina de Tavira), a patroa da casa. O filme é ambientado nos primeiros anos da década de 70, quando o México vivia um momento de grave instabilidade política, com manifestações de trabalhadores e estudantes. Numa dessas manifestações, um grupo de paramilitares assassinou 120 manifestantes, a maioria estudantes. Cuarón toca nessa ferida e em outras mais. Porém, o foco central do filme é realmente o relacionamento entre os familiares e Cleo, a cumplicidade que os une, sem distinção de classe, puro amor fraternal. Nesse contexto, o filme reserva momentos de grande sensibilidade capazes de emocionar até mesmo o espectador menos sensível. Enfim, uma beleza de filme, cinema da mais alta qualidade. Imperdível! (só para lembrar: Cuarón já conquistou três prêmios Oscar com “Gravidade”, de 2014: Direção, Filme e Montagem).

domingo, 17 de fevereiro de 2019


“POLAR”, produção da Netflix, é um filme de ação baseado na Graphic Novel “Polar: Came From the Cold”, da Editora Dark House. Sua estreia mundial aconteceu no dia 25 de janeiro de 2019. A história é centrada em Duncan Vizla, o “Kaiser Negro” (o ator dinamarquês Mads Mikkelsen), um assassino profissional chegando aos 50 anos e prestes a se aposentar. Ele trabalha para Blut (Matt Lucas), um sanguinário chefe de uma quadrilha que se nega a pagar o valor exigido pelo “Kaiser Negro” como prêmio aos serviços prestados. Blut então convoca sua equipe de assassinos para eliminar Vizla. É ação o tempo inteiro, muita violência explícita (o sangue jorra na tela) e cenas de sexo bastante fortes. Portanto, ao assistir, tire as crianças da sala. A direção ficou por conta do diretor sueco Jonas Akerlund, que há muitos anos está radicado nos Estados Unidos, onde é mais conhecido como realizador de filmes de curta-metragem e videoclipes. Embora massacrado pela crítica especializada, eu achei “Polar” um ótimo entretenimento como filme de ação, sem contar que o elenco é ótimo: além de Mikkelsen - que arrasa em qualquer papel - e Matt Lucas, atuam Vanessa Hudgens, a loiraça Katheryn Winnick e  veteraníssimo Richard Dreyfuss, que demorei a reconhecer. Diversão garantida!