sábado, 27 de março de 2021

“PURO-SANGUE” (“THROUGHBREDS”), 2017, Estados Unidos, 1h33m, disponível na Netflix, roteiro e direção de Cory Finley (seu primeiro longa-metragem; o segundo foi “Má Educação”, de 2019). Trata-se de um suspense psicológico/psicótico. A história é centrada em Lily (Anya Taylor-Joy) e Amanda (Olivia Cooke), duas amigas de infância que agora, adolescentes, voltam a se encontrar. O reencontro acontece na bela casa de Lily, no bairro de classe alta de Connecticut. Lily se compromete a ajudar Amanda nos  trabalhos da faculdade. Com a convivência diária, as amigas começam a revelar segredos e traumas uma para a outra. Lily, por exemplo, revela que tem ódio do padrasto, que sempre a tratou muito mal, assim como a sua mãe. Amanda, por sua vez, confessa ter sacrificado, ela própria, um cavalo de seu haras, além de demonstrar uma profunda infelicidade. Para justificar o título do filme, o roteiro lembra que as duas amigas praticaram hipismo juntas quando eram crianças. Mas o “Puro-Sangue” não ficará restrito aos equinos, como o desfecho trágico assim demonstrará. Durante os diálogos entre as duas, que permeiam o filme quase inteiro, dá para perceber que Lily e Amanda são jovens problemáticas, antissociais e com instinto psicótico, a ponto de tramarem um assassinato. É um filme perturbador, intimista, durante o qual não se vê nenhum gesto de carinho ou um sorriso cativante. Tudo transcorre num extremo baixo astral. O ritmo é lento, devagar quase parando, chegando perto do tédio. Demora demais para acontecer alguma coisa interessante. Certamente, ficará na história do cinema não por sua qualidade, mas pelo fato de ser último filme do ator Anton Yelchin, morto aos 27 anos logo após o final das filmagens. Pode ser lembrado também pelo excelente trabalho das duas atrizes, Anya Taylor-Joy, da série “O Gambito da Rainha”, e Olivia Cooke, da série “Bates Motel”. Também integram o elenco Paul Sparks, Francie Swift, Kaili Vernoff, Svetlana Orlova, Alyssa Fishenden, Jackson Damon, James Haddar, Celeste Oliva e Nolan Ball.       

quinta-feira, 25 de março de 2021

“PONTO VERMELHO” (“RED DOT”), 2020, Suécia, 1h25m, produção original Netflix (estreou dia 21 de março de 2021), direção de Alain Darborg, que também assina o roteiro com a colaboração de Per Dickson. Trata-se de um thriller com muito suspense do começo ao fim. A história tem início com o pedido de casamento feito por David (Anastasios Soulis) para Nadja (Nanna Blondell). Aliás, um pedido inusitado, feito no banheiro de uma espelunca. O filme dá um salto de um ano e meio, com eles já casados e em crise conjugal. Na tentativa de salvar o casamento, David propõe uma viagem de alguns dias para as montanhas do norte da Suécia. Só os dois e o cachorro de estimação, para acampar, em pleno inverno, com a promessa de uma noite romântica vendo a aurora boreal. Cá pra nós: dá para ter romantismo num local completamente ermo, com um frio muitos graus abaixo de zero? Típico programa de índio, aliás, de esquimó. Antes de chegar ao tal lugar romântico, eles param num posto para abastecer. Antes de voltar para a estrada, David calcula mal uma manobra e amassa a perua de dois caçadores. Estrago feito, eles saem de fininho e seguem viagem. Em meio a um frio danado, eles acampam no meio do nada. Não demora muito e eles percebem que alguém quer matá-los, ou pelo menos assustá-los, utilizando o ponto vermelho (lembra do título?) da mira de uma arma potente. Daí para a frente eles serão realmente caçados, provavelmente por aqueles caçadores do posto. A caçada segue até o desfecho, quando ocorre uma surpreendente reviravolta, ocasião em que o filme volta no tempo para resgatar um fato até então escondido do espectador. Resumo da ópera: “Ponto Vermelho” é apenas um bom suspense, mas nada especial que mereça uma recomendação entusiasmada.         

quarta-feira, 24 de março de 2021

 

“SINFONIA INACABADA” (“FUGA”), 2006, coprodução Argentina/Chile, 1h51m, roteiro e direção de Pablo Larraín. Resgatei esse filme na plataforma Netflix e o que mais me chamou a atenção foi o título, que remete a tema música clássica, gênero de música que eu adoro. Embora cinéfilo de carteirinha, não lembro de ter ouvido falar nesse filme. E, para minha surpresa, trata-se de um excelente drama. Começa apresentando Eliseo Montalbán (Benjamín Vicuña, ótimo), um jovem compositor envolvido com os ensaios de seu primeiro concerto para piano e orquestra. Teatro completamente lotado, a apresentação acaba numa tragédia: a morte da pianista da orquestra em pleno palco. A partir daí, Montalbán entra em parafuso e acaba num manicômio. Anos depois, o pianista e compositor Ricardo Coppa (Gastón Pauls) descobre a partitura daquele concerto, faltando a última parte. Obcecado por completar a obra, Coppa tenta descobrir o paradeiro de Montalbán. Ele finalmente encontra o manicômio onde Montalbán ficou internado, só que agora completamente abandonado e em ruínas. Mas Coppa não desiste e descobre, numa das paredes do prédio ainda de pé, uma nova partitura. Ele então resolve reunir três amigos músicos para interpretar a obra. A intensidade da música – eles a chamam de “sinfonia macabra” - começa a gerar conflitos entre Coppa e seu quarteto. Até que um dia ele finalmente descobre o paradeiro de Montalbán. O filme é muito bom, tanto que foi premiado em vários festivais, como os de Cartagena (Colômbia), Trieste (Itália) e Málaga (Espanha). Como informação adicional, lembro que “Sinfonia Inacabada” foi o primeiro longa-metragem dirigido pelo chileno Pablo Larraín, que depois faria outros excelentes e premiados filmes, como “O Clube”, “No” e “Neruda”, todos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, além de “Tony Manero”, “Post Mortem” e “Jackie”, este último realizado em Hollywood e que valeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz para  Natalie Portman. Embora não muito fácil de digerir, “Sinfonia Inacabada” é um drama da melhor qualidade. Recomendo.       

       

terça-feira, 23 de março de 2021

“THE GIRL ON THE TRAIN”, 2020, Índia, 120 minutos, roteiro e direção de Ribbu Dasgupta. Trata-se de um suspense policial cuja história é baseada no livro da escritora inglesa Paula Hawkins, lançado em 2015 e que por 13 semanas figurou na lista dos mais vendidos do jornal “New York Times”. Natural que no ano seguinte Hollywood tenha resolvido adaptá-lo para o cinema, surgindo então “A Garota no Trem” (título em português, sendo que o original é o mesmo do livro). Em Portugal, o filme foi lançado como “A Rapariga no Comboio”. A versão norte-americana foi dirigida por Tate Taylor, com Emily Blunt encabeçando o elenco. O filme foi um grande sucesso de crítica e bilheteria. Agora chega o remake indiano, cujo título original foi mantido em inglês e está disponível na Netflix. O roteiro é praticamente o mesmo da primeira versão. Aqui vai um resumo do filme feito por Bollywood. O cenário é o mesmo do livro: Londres. A advogada Mira Kapoor (Parineeti Chopra, irmã da também atriz Priyanka Chopra) ajuda a colocar um mafioso na cadeia e acaba perseguida pela família dele. Ela vive um casamento tranquilo com o médico Shekhar Kapoor (Avinach Tiwary). O casal acaba de comemorar a gravidez dela quando ocorre um acidente automobilístico e ela perde o bebê. A partir dessa tragédia, Mira começa a beber demais, o que acaba resultando no fim do seu casamento. Ela logo descobrirá que Shekhar tem um caso com uma colega médica, dra. Nusrat (Aditi Rao Hydari). Através da janela que a leva todos os dias para o escritório, Mirá observa a casa onde morava e vê o ex-marido com a atual esposa, a tal médica, demonstrando a maior felicidade. Até o dia em que ela surpreende Nusrat no terraço com outro homem. É o estopim para que Mira aumente ainda mais o consumo de álcool, o que logo acaba custando o seu emprego. Com o excesso de bebidas e remédios, Mira começa a sofrer períodos de amnésia. Para não entrar em mais detalhes para não estragar as surpresas e revelar as reviravoltas do roteiro, vou adiantar apenas que Mira será a principal suspeita do assassinato de Nusrat, de acordo com a investigação chefiada pela inspetora Dalbir Bagga (Kirti Kulhari). Falado em inglês e hindi, o filme é repleto de situações que fazem o espectador não desgrudar os olhos da tela até o desfecho imprevisível. Não vou comparar os dois filmes, mas me obrigo a destacar que a história é ótima – como sempre nesses casos, o livro deve ser melhor que as adaptações para o cinema. O que chateia no filme indiano são as sequências daquelas cantorias irritantes típicas de Bollywood, que não combinam com o contexto dramático da história. Fora isso, dá para curtir como um bom suspense.           

segunda-feira, 22 de março de 2021

 

“SILENCIADAS” (“AKELARRE”), 2020, Espanha, 1h31m, roteiro e direção de Pablo Agüero, diretor argentino radicado na França. Disponível na plataforma Netflix, o filme foi inspirado numa história verídica ocorrida no auge da Inquisição, no início do século 17. Antes de iniciar o comentário em si, vou relatar o fato histórico. Em 1606, o rei Henrique IV da França e Navarra, encarregou o juiz francês Pierre de Rosceguy De Lancre de investigar possíveis práticas de feitiçaria nos territórios bascos da França. Foi iniciada, então, uma verdadeira "caça às bruxas”, culminando na morte de centenas de mulheres, conforme o próprio juiz relatou nos livros que escreveu antes de morrer. Mais de um século depois, essas histórias foram condensadas no livro “A Feiticeira”, de Jules Michelet, que serviu para a base do roteiro de Agüero. O filme é ambientado numa vila de pescadores do país basco. O juiz inquisidor Rostegui (Alex Brendemühl), acompanhado de um padre conselheiro (Daniel Fanego) e soldados, chega à vila e prende seis jovens mulheres para interrogatório. Elas são suspeitas de praticar o Sabbath, também conhecido como ritual das bruxas, durante o qual, segundo se acreditava, as mulheres se comunicavam e até se relacionavam sexualmente com o Lúcifer. A líder das jovens é Amaia (Amaia Aberasturi), que confessa ser mesmo uma bruxa e que, em troca de suas vidas, promete encenar o ritual para Rostegui. Quando se comunica com Lúcifer, Amaia fala uma língua desconhecida e aparentemente, para os inquisidores, diabólica, mas é, na verdade, o dialeto basco. O filme é muito interessante e esclarecedor sobre a tenebrosa época da inquisição e como eram realizados os interrogatórios, que não dispensavam a tortura. Além da história em si, outros destaques do filme são os excelentes desempenhos da jovem atriz Amaia Aberasturi e do veterano Alex Brendemühl, além do visual marcante proporcionado pela fotografia de Javier Agirre. “Silenciadas” recebeu seis indicações ao 8º Prêmio Feroz, da Asociación de Informadores Cinematográficos de Espanã, equivalente ao Globo de Ouro que antecede o Oscar norte-americano. Logo em seguida, recebeu nove indicações ao 35º Goya Awards (o Oscar espanhol), sendo premiado em cinco delas.