“PURO-SANGUE”
(“THROUGHBREDS”),
2017, Estados Unidos, 1h33m, disponível na Netflix, roteiro e direção de Cory
Finley (seu primeiro longa-metragem; o segundo foi “Má Educação”, de 2019).
Trata-se de um suspense psicológico/psicótico. A história é centrada em Lily
(Anya Taylor-Joy) e Amanda (Olivia Cooke), duas amigas de infância que agora,
adolescentes, voltam a se encontrar. O reencontro acontece na bela casa de
Lily, no bairro de classe alta de Connecticut. Lily se compromete a ajudar
Amanda nos trabalhos da faculdade. Com a convivência diária, as amigas começam a
revelar segredos e traumas uma para a outra. Lily, por exemplo, revela que tem
ódio do padrasto, que sempre a tratou muito mal, assim como a sua mãe. Amanda,
por sua vez, confessa ter sacrificado, ela própria, um cavalo de seu haras, além de demonstrar uma profunda infelicidade. Para justificar o título do filme, o roteiro lembra que as duas amigas
praticaram hipismo juntas quando eram crianças. Mas o “Puro-Sangue” não ficará
restrito aos equinos, como o desfecho trágico assim demonstrará. Durante os
diálogos entre as duas, que permeiam o filme quase inteiro, dá para perceber
que Lily e Amanda são jovens problemáticas, antissociais e com instinto
psicótico, a ponto de tramarem um assassinato. É um filme perturbador,
intimista, durante o qual não se vê nenhum gesto de carinho ou um sorriso
cativante. Tudo transcorre num extremo baixo astral. O ritmo é lento, devagar
quase parando, chegando perto do tédio. Demora demais para acontecer alguma
coisa interessante. Certamente, ficará na história do cinema não por sua
qualidade, mas pelo fato de ser último filme do ator Anton Yelchin, morto aos
27 anos logo após o final das filmagens. Pode ser lembrado também pelo
excelente trabalho das duas atrizes, Anya Taylor-Joy, da série “O Gambito da Rainha”,
e Olivia Cooke, da série “Bates Motel”. Também integram o elenco Paul Sparks, Francie Swift, Kaili Vernoff, Svetlana Orlova, Alyssa Fishenden, Jackson Damon, James Haddar, Celeste Oliva e Nolan Ball.
sábado, 27 de março de 2021
quinta-feira, 25 de março de 2021
“PONTO
VERMELHO” (“RED DOT”), 2020, Suécia, 1h25m, produção original Netflix (estreou
dia 21 de março de 2021), direção de Alain Darborg, que também assina o roteiro
com a colaboração de Per Dickson. Trata-se de um thriller com muito
suspense do começo ao fim. A história tem início com o pedido de casamento
feito por David (Anastasios Soulis) para Nadja (Nanna Blondell). Aliás, um
pedido inusitado, feito no banheiro de uma espelunca. O filme dá um salto de um
ano e meio, com eles já casados e em crise conjugal. Na tentativa de salvar o
casamento, David propõe uma viagem de alguns dias para as montanhas do norte da
Suécia. Só os dois e o cachorro de estimação, para acampar, em pleno inverno,
com a promessa de uma noite romântica vendo a aurora boreal. Cá pra nós: dá
para ter romantismo num local completamente ermo, com um frio muitos graus
abaixo de zero? Típico programa de índio, aliás, de esquimó. Antes de chegar ao
tal lugar romântico, eles param num posto para abastecer. Antes de voltar para
a estrada, David calcula mal uma manobra e amassa a perua de dois caçadores.
Estrago feito, eles saem de fininho e seguem viagem. Em meio a um frio danado,
eles acampam no meio do nada. Não demora muito e eles percebem que alguém quer matá-los,
ou pelo menos assustá-los, utilizando o ponto vermelho (lembra do título?) da
mira de uma arma potente. Daí para a frente eles serão realmente caçados,
provavelmente por aqueles caçadores do posto. A caçada segue até o desfecho,
quando ocorre uma surpreendente reviravolta, ocasião em que o filme volta no
tempo para resgatar um fato até então escondido do espectador. Resumo da ópera:
“Ponto Vermelho” é apenas um bom suspense, mas nada especial que mereça uma
recomendação entusiasmada.
quarta-feira, 24 de março de 2021
“SINFONIA
INACABADA” (“FUGA”),
2006, coprodução Argentina/Chile, 1h51m, roteiro e direção de Pablo Larraín.
Resgatei esse filme na plataforma Netflix e o que mais me chamou a atenção foi
o título, que remete a tema música clássica, gênero de música que eu adoro. Embora
cinéfilo de carteirinha, não lembro de ter ouvido falar nesse filme. E, para
minha surpresa, trata-se de um excelente drama. Começa apresentando Eliseo Montalbán
(Benjamín Vicuña, ótimo), um jovem compositor envolvido com os ensaios de seu primeiro
concerto para piano e orquestra. Teatro completamente lotado, a apresentação
acaba numa tragédia: a morte da pianista da orquestra em pleno palco. A partir
daí, Montalbán entra em parafuso e acaba num manicômio. Anos depois, o pianista
e compositor Ricardo Coppa (Gastón Pauls) descobre a partitura daquele concerto,
faltando a última parte. Obcecado por completar a obra, Coppa tenta descobrir o
paradeiro de Montalbán. Ele finalmente encontra o manicômio onde Montalbán ficou
internado, só que agora completamente abandonado e em ruínas. Mas Coppa não
desiste e descobre, numa das paredes do prédio ainda de pé, uma nova partitura.
Ele então resolve reunir três amigos músicos para interpretar a obra. A
intensidade da música – eles a chamam de “sinfonia macabra” - começa a gerar
conflitos entre Coppa e seu quarteto. Até que um dia ele finalmente descobre o
paradeiro de Montalbán. O filme é muito bom, tanto que foi premiado em vários
festivais, como os de Cartagena (Colômbia), Trieste (Itália) e Málaga
(Espanha). Como informação adicional, lembro que “Sinfonia Inacabada” foi o
primeiro longa-metragem dirigido pelo chileno Pablo Larraín, que depois faria
outros excelentes e premiados filmes, como “O Clube”, “No” e “Neruda”, todos
indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, além de “Tony Manero”, “Post
Mortem” e “Jackie”, este último realizado em Hollywood e que valeu uma
indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Natalie Portman. Embora não muito fácil de
digerir, “Sinfonia Inacabada” é um drama da melhor qualidade. Recomendo.
terça-feira, 23 de março de 2021
“THE
GIRL ON THE TRAIN”,
2020, Índia, 120 minutos, roteiro e direção de Ribbu Dasgupta. Trata-se de um
suspense policial cuja história é baseada no livro da escritora inglesa Paula
Hawkins, lançado em 2015 e que por 13 semanas figurou na lista dos mais
vendidos do jornal “New York Times”. Natural que no ano seguinte Hollywood tenha
resolvido adaptá-lo para o cinema, surgindo então “A Garota no Trem” (título em
português, sendo que o original é o mesmo do livro). Em Portugal, o filme foi
lançado como “A Rapariga no Comboio”. A versão norte-americana foi dirigida por
Tate Taylor, com Emily Blunt encabeçando o elenco. O filme foi um grande
sucesso de crítica e bilheteria. Agora chega o remake indiano, cujo título original
foi mantido em inglês e está disponível na Netflix. O roteiro é praticamente o
mesmo da primeira versão. Aqui vai um resumo do filme feito por Bollywood.
O cenário é o mesmo do livro: Londres. A advogada Mira Kapoor (Parineeti
Chopra, irmã da também atriz Priyanka Chopra) ajuda a colocar um mafioso na
cadeia e acaba perseguida pela família dele. Ela vive um casamento tranquilo
com o médico Shekhar Kapoor (Avinach Tiwary). O casal acaba de comemorar a
gravidez dela quando ocorre um acidente automobilístico e ela perde o bebê. A
partir dessa tragédia, Mira começa a beber demais, o que acaba resultando no
fim do seu casamento. Ela logo descobrirá que Shekhar tem um caso com uma
colega médica, dra. Nusrat (Aditi Rao Hydari). Através da janela que a leva
todos os dias para o escritório, Mirá observa a casa onde morava e vê o ex-marido com a atual esposa, a tal médica, demonstrando a maior
felicidade. Até o dia em que ela surpreende Nusrat no terraço com outro homem. É o estopim
para que Mira aumente ainda mais o consumo de álcool, o que logo acaba custando
o seu emprego. Com o excesso de bebidas e remédios, Mira começa a sofrer períodos
de amnésia. Para não entrar em mais detalhes para não estragar as surpresas e revelar
as reviravoltas do roteiro, vou adiantar apenas que Mira será a principal
suspeita do assassinato de Nusrat, de acordo com a investigação chefiada pela
inspetora Dalbir Bagga (Kirti Kulhari). Falado em inglês e hindi, o filme é
repleto de situações que fazem o espectador não desgrudar os olhos da tela até
o desfecho imprevisível. Não vou comparar os dois filmes, mas me obrigo a destacar
que a história é ótima – como sempre nesses casos, o livro deve ser melhor que as
adaptações para o cinema. O que chateia no filme indiano são as sequências daquelas
cantorias irritantes típicas de Bollywood, que não combinam com o contexto dramático da história. Fora isso, dá para curtir como um bom suspense.
segunda-feira, 22 de março de 2021
“SILENCIADAS”
(“AKELARRE”),
2020, Espanha, 1h31m, roteiro e direção de Pablo Agüero, diretor argentino
radicado na França. Disponível na plataforma Netflix, o filme foi inspirado numa
história verídica ocorrida no auge da Inquisição, no início do século 17. Antes
de iniciar o comentário em si, vou relatar o fato histórico. Em 1606, o rei
Henrique IV da França e Navarra, encarregou o juiz francês Pierre de Rosceguy De
Lancre de investigar possíveis práticas de feitiçaria nos territórios bascos da
França. Foi iniciada, então, uma verdadeira "caça às bruxas”, culminando na
morte de centenas de mulheres, conforme o próprio juiz relatou nos livros que
escreveu antes de morrer. Mais de um século depois, essas histórias foram condensadas
no livro “A Feiticeira”, de Jules Michelet, que serviu para a base do roteiro
de Agüero. O filme é ambientado numa vila de pescadores do país basco. O juiz
inquisidor Rostegui (Alex Brendemühl), acompanhado de um padre conselheiro
(Daniel Fanego) e soldados, chega à vila e prende seis jovens mulheres para
interrogatório. Elas são suspeitas de praticar o Sabbath, também conhecido como
ritual das bruxas, durante o qual, segundo se acreditava, as mulheres se
comunicavam e até se relacionavam sexualmente com o Lúcifer. A líder das jovens
é Amaia (Amaia Aberasturi), que confessa ser mesmo uma bruxa e que, em troca de
suas vidas, promete encenar o ritual para Rostegui. Quando se comunica com Lúcifer,
Amaia fala uma língua desconhecida e aparentemente, para os inquisidores,
diabólica, mas é, na verdade, o dialeto basco. O filme é muito interessante e
esclarecedor sobre a tenebrosa época da inquisição e como eram realizados os interrogatórios,
que não dispensavam a tortura. Além da história em si, outros destaques do filme
são os excelentes desempenhos da jovem atriz Amaia Aberasturi e do veterano
Alex Brendemühl, além do visual marcante proporcionado pela fotografia de
Javier Agirre. “Silenciadas” recebeu seis indicações ao 8º Prêmio Feroz, da
Asociación de Informadores Cinematográficos de Espanã, equivalente ao Globo de Ouro que antecede o Oscar norte-americano. Logo em seguida, recebeu nove indicações ao 35º Goya Awards (o Oscar espanhol),
sendo premiado em cinco delas.