sábado, 13 de outubro de 2018


“VIDAS À DERIVA” (“Adrift”), 2018, EUA, direção de Baltasar Kormákur, com roteiro de Aaron Kandell, Jordan Kandell e David Branson Smith. A história é baseada em fatos reais ocorridos em 1983 e centrada na paixão fulminante de dois jovens aventureiros: Tami Oldhan (Shailene Woodley, da Série “Divergente”) e Richard Sharp (o ator britânico Sam Caiflin, de “Como Eu Era Antes de Você” e “Jogos Vorazes”). Tami e Richard se conheceram no Taiti, ilha da Polinésia Francesa, se apaixonaram e um dia resolveram navegar pelo mundo afora a bordo do barco “Hazanã”. Como não eram velejadores muito experientes, contavam com mares calmos. Ledo engano, pois logo se viram diante de um furacão, um tal de “Raymond”, cuja força virou o barco e deixou os dois largados à própria sorte, sofrendo da falta de água, alimentos, medicamentos, sol escaldante, sem comunicação etc. Enfim, fortes candidatos a morrer no mar. O filme inteiro, portanto, acompanha os 41 dias em que os jovens passaram à deriva tentando sobreviver de qualquer jeito. O roteiro, porém, amenizou a tragédia iminente privilegiando também a história de amor entre Tami e Richard, com muito vaivém entre o passado e o presente, visando provocar lágrimas na plateia, ou seja, apostar no romantismo para não deixar o filme tão pesado. Méritos para os roteiristas e para o diretor islandês Kormákur, que tem em seu currículo um excelente filme de sobrevivência no mar: “Sobrevivente”, de 2012.  Kormákur já havia trabalhado em Hollywood, onde dirigiu dois filmes de ação com o ator Mark Wahlberg, “Dose Dupla” e “Contrabando”, abrindo caminho para "Vidas à Deriva".      

quinta-feira, 11 de outubro de 2018


Se você acha que já viu tudo no cinema, prepare-se para ter uma surpresa: um faroeste sul-africano. Estou falando de “CINCO DEDOS POR MARSELHA” (“Five Fingers for Marseilles”), 2018, escrito e dirigido por Michael Matthews. O filme é todo falado em sesoto (língua oficial da África do Sul e do Lesoto) e ambientado numa comunidade pobre chamada “Trilho", na periferia da cidade de Marselha, nos cafundós da África do Sul. Conta a história de um grupo de amigos que na adolescência resolveu intitular-se “Cinco Dedos”, tipo aquela velha história “Um por todos, todos por um”. Quando ainda eram bem jovens, enfrentam a opressão policial matando um agente da lei. O responsável foi Tau, que fugiu da cidade para não ser preso. Os outros quatro amigos ficaram e cresceram com a cidade. Vinte anos depois, Tau (Vuyo Dabula) retorna e percebe que nada mudou. Pior, além da polícia corrupta, a população ainda tem de sofrer nas mãos de malfeitores sanguinários. Tau e uns poucos corajosos, incluindo um gringo e um chinês, resolvem “limpar” Marselha, salvando a população dos bandidos. A história é muito parecida com filmes que já vimos no cinema, como os faroestes “spaghettis” de Sérgio Leone, nas décadas de 60 e 70, quando o mocinho chega à cidade e vira herói depois de eliminar as gangues de criminosos. Tem até a silhueta de um cavalo no fim da tarde, assinatura visual de dezenas de faroestes. Apesar da boa intenção, este western peca pelo amadorismo da produção. As cenas de ação, tiros etc., por exemplo, são de uma infantilidade atroz, muito malfeitas. Além disso, já viram um faroeste onde só aparece um cavalo em cena? Dá para sentir muita saudade dos filmes do Clint Eastwood, John Wayne, Giuliano Gemma...    
 


“AQUI EM CASA TUDO BEM” (“A CASA TUTTI BENE”), 2018, Itália, escrito e dirigido por Gabriele Muccino. Uma grande família chega de balsa à ilha de Ísquia, no golfo de Nápoles, para as comemorações das Bodas de Ouro dos patriarcas Pietro (Ivano Marescotti) e Alba (Stefania Sandrelli). Estão lá seus filhos, seus genros e noras, primos, crianças, uma ex-nora, tem aquele primo que não toma jeito na vida e vive pedindo dinheiro emprestado, primos que revivem um amor do passado etc. No começo, tudo é alegria, abraços, beijos e muita cantoria para relembrar os velhos tempos. No fim do dia, na hora de voltarem para o continente, uma tempestade impede que a balsa chegue à ilha. Ou seja, ficam todos literalmente “ilhados”. Não é só o tempo que muda. O clima fica ruim nos relacionamentos e aí chega a hora de lavar a roupa suja. E nenhum cinema consegue explorar com tanta graça os “barracos” familiares como o italiano. O elenco é ótimo: além da antiga diva Stefania Sandrelli e Marescotti, atuam Sandra Milo, Stefano Accorsi, Pierfrancesco Favino, Carolina Crescentini, Claudia Gerini e Elena Cucci. O diretor Gabrielle Muccino já transitou por Hollywood, onde filmou “Sete Vidas” e “À Procura da Felicidade”, ambos com Will Smith. “Aqui em Casa Tudo Bem” é, até agora, o maior sucesso de bilheteria na Itália em 2018. Além do elenco e dos diálogos ácidos e bem-humorados, o filme tem uma fotografia maravilhosa, principalmente ao retratar a Natureza que cerca a ilha paradisíaca de Ísquia. Sem dúvida, uma ótima comédia, ao estilo dos mestres Dino Risi e Mario Monicelli.  
 

quarta-feira, 10 de outubro de 2018


“A SOMBRA DA VERDADE” (“BACKSTABBING FOR BEGINNERS”), 2017, EUA/Dinamarca/Canadá, roteiro e direção do dinamarquês Per Fly Plejdrup. Trata-se de um ótimo thriller político que relembra um dos fatos mais escabrosos da diplomacia mundial, envolvendo num esquema de corrupção gente importante das Nações Unidos e dirigentes de países do Oriente Médio. Tudo baseado em fatos reais, relatados no livro “Backstabbing for Beginners: My Crash Course in International Diplomacy”, escrito pelo jornalista dinamarquês Michael Soussan. A história começa em 2002 e é centrada no jovem diplomata Michael Sullivan (Theo James, da série “Divergente”), que cai nas graças de um chefão da ONU, Pasha (Ben Kingsley). Numa missão muito complicada para sua inexperiência, Michael é colocado na coordenação do Programa “Petróleo por Comida” (“Oil for Food”), um projeto da ONU para alimentar as populações mais carentes do Oriente Médio. Para iniciar sua tarefa, Michael é enviado em missão para o Iraque e lá conhece a tradutora Nashim (Belçim Bilgin), que esconde sua condição de cidadã curda. Enfim, Michael vai conhecer bem de perto a podridão do jogo diplomático e, com a coragem de um jovem idealista, tentará denunciá-la. O filme é muito bom, tem suspense e tensão do começo ao fim, mas o que vale mesmo é a história que ele conta.
 

terça-feira, 9 de outubro de 2018


Nunca fui muito fã de filmes sobre discos voadores, alienígenas e outras ficções, mas “UFO”, 2018, EUA, me prendeu desde o início. Sabe aquele filme que você começa a ver e fica curioso sobre o que vai acontecer? Começa assim: dezenas de pessoas que estavam esperando seus vôos no aeroporto de Cincinnati (Ohio) são surpreendidas pela aparição de um UFO (um OVNI para nós, ou seja, Objeto Voador Não Identificado). O porta-voz do aeroporto dá uma entrevista coletiva afirmando que tudo não passou de um engano, que a nave misteriosa não passava de um jato Gulfstream, desmentindo os depoimentos de várias testemunhas. Para dar maior veracidade à sua versão, o diretor do aeroporto ainda cita vários números, como coordenadas, tempo de vôo etc. Derek (Alex Sharp), um jovem e brilhante universitário, um pequeno gênio da matemática e da física, investiga os números oficiais transmitidos pela direção do aeroporto e chega à conclusão de que o que realmente ocorreu foi a aparição de um UFO. Com a ajuda da sua professora de matemática avançada Dra. Hendricks (Gillian Anderson, de “Arquivo X”), o rapaz contesta publicamente a versão oficial e, com isso, chama a atenção do FBI, que também investiga o caso com uma equipe comandada pelo agente especial Franklin Ahls (David Strathairn). Muitos diálogos são incompreensíveis para nós, os leigos, com números de coordenadas espaciais, fluxos de ondas magnéticas, dados científicos etc. Em algumas cenas, parece que você está assistindo a um filme grego sem legendas. Não dá para entender bulhufas! Mesmo assim, o filme prende a atenção até o seu final. “UFO” foi o quarta longa-metragem escrito e dirigido por Ryan Eslinger. Um bom trabalho, sem dúvida.          
 

segunda-feira, 8 de outubro de 2018


Da fonte inesgotável de histórias ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial surge “O BANQUEIRO DA RESISTÊNCIA” (“Bankier Van het Verzet”), Holanda, 2018, produção Netflix, com direção de Joram Lürsen e roteiro de Marieke Van der Pol, Mattijs Bocketing e Thomas Van der Ree. Trata-se de mais uma história de coragem e heroísmo. Com a invasão da Holanda pelos nazistas, a partir de 1940, dois irmãos banqueiros de Amsterdam, Walraven e Gijjs Van Hall resolveram ajudar financeiramente a resistência holandesa. Para isso, elaboraram um complexo esquema que incluiu a criação de um bando clandestino, a emissão de promissórias falsas e títulos do governo. Tudo muito arriscado. De 1940 a 1945, praticamente durante toda a ocupação alemã, os irmãos van Hall conseguiram movimentar – em números de hoje - uma quantia equivalente a meio bilhão de euros. O filme é repleto de suspense, com momentos de alta tensão e um desfecho a quilômetros de distância de um happy end. Destaco também a sensacional recriação de época, principalmente os figurinos, valorizando uma superprodução histórica. Aliás, como a produção é da Netflix, o filme certamente não será exibido nos circuitos comerciais. O negócio é acompanhar a programação televisiva da produtora. De qualquer forma, é um filmaço, simplesmente imperdível!
 
 

domingo, 7 de outubro de 2018



“O TERCEIRO ASSASSINATO” (“SANDOME NO SATISUJIN”), 2017, Japão, roteiro e direção de Kirokazu Kore-eda. Trata-se de um drama jurídico centrado no julgamento de Misumi (Koji Yakusho), que matou seu chefe a golpes de chave inglesa num terreno abandonado à beira de um rio, queimou o corpo e fugiu, mas logo foi capturado. Acreditando estar agindo para se livrar da pena de morte, ele confessa o crime e vai para a cadeia aguardar o julgamento. O conceituado advogado Tomoaki Shigemori (Masaharu Fukuyama) aceita a missão de defendê-lo e mobiliza toda a sua equipe para descobrir tudo sobre a vida pregressa do réu. Shigemori fica sabendo, por exemplo, que seu próprio pai, juiz na época, foi quem condenou Misumi a cumprir uma longa pena depois de considerado culpado por outro crime. Ao realizar as entrevistas com familiares do réu e da vítima, amigos e prováveis testemunhas, Shigemori percebe que está no meio de verdades desconexas e declarações contraditórias. Misumi, inclusive, toda hora muda a versão do crime. Afinal, o que está acontecendo? O grande trunfo desse ótimo filme de tribunal são os diálogos entre advogado e seus entrevistados, verdadeiros embates psicológicos que fortalecem ainda mais uma trama bem urdida por um roteiro de muita qualidade. Sem dúvida, mais uma obra instigante, provocadora e fascinante deste Kore-eda, que é considerado o melhor roteirista e diretor japonês em atividade, responsável por filmes como “Depois da Vida”, “Ninguém pode Saber”, “Seguindo em Frente e “Pais e Filhos", este último vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes 2013. Assisti a quase todos e passei a admirar o grande diretor japonês. “O Terceiro Assassinato” é mais um excelente trabalho de Kore-Eda. Imperdível!