sábado, 14 de junho de 2014

“Bola 8” (8-Pallo”), Finlândia, 2013, dirigido por Aku Louhimies, é um drama barra pesada que não economiza na violência. Conta a história de Pike (Jessica Grabowsky), uma jovem que se envolve com um grupo de viciados em drogas e engravida de um deles, o violento e psicótico Lalli (Eero Aho). Numa noite de embalo regada a muita cocaína e heroína, Pike é presa e, uns meses depois, sua filha nasce na penitenciária. Quando é solta em condicional, Pike recebe toda a assistência do governo finlandês, o que inclui moradia, vale-compras e uma importância em dinheiro por mês. Ela, porém, terá de seguir as normas da condicional, ou seja, andar na linha, o que é, aliás, sua intenção. Mas um dia Lalli volta a procurá-la. O amor bandido, então, vai prevalecer por um tempo e Pike vai fazer de tudo para não voltar às drogas, o que teria consequências drásticas, como perder os benefícios do governo e a tutela da filha. Não é um filme muito agradável de assistir, mas interessante e esclarecedor por apresentar um retrato pouco conhecido, realista e triste da sociedade finlandesa, com muita gente drogada e violência doméstica.                  
O drama “Uma Noite” (“Una Noche”), 2011, co-produção EUA/Cuba, dirigido por Lucy Molloy, estreou no Festival de Berlim em 2012 com muitos elogios de público e crítica. O filme mostra um retrato da desesperança que tomou conta da juventude cubana com relação ao seu futuro e o do próprio país. A história, baseada em fatos reais, gira em torno dos irmãos gêmeos Elio (Javier Nuñez Florian) e Lila (Nailin de La Rúa de la Torre) e do amigo de ambos Raúl (Dariel Arrenchaga). Confinados na periferia de Havana e proibidos de chegar perto de locais frequentados por turistas, assim como os jovens pobres da capital cubana, eles passam o seu dia-a-dia alimentando o sonho de fugir para Miami, principalmente Elio e Raúl, este último para viver com o pai, que se exilou nos EUA há anos. Lila ainda não sabe que seu irmão e o amigo têm planejada uma fuga pelo mar. Quando Raúl se envolve numa agressão a um turista - o que é um crime gravíssimo em Cuba – e a polícia inicia uma caçada para prendê-lo, os dois amigos resolvem antecipar a fuga, com um pequeno barco que ambos estavam construindo às escondidas. Lila, porém, descobre o plano e, para não abandonar o irmão, também embarca na aventura. Será que eles vão conseguir? Um fato teve enorme repercussão quando a equipe do filme viajou para participar do Festival de Tribeca, em 2012. Os atores Javier e Anailin sumiram e logo depois apareceram pedindo asilo ao governo dos EUA. Como dizia Oscar Wilde, a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida. “Uma Noite” é um filme esclarecedor e de grande impacto.    
Muita gente não vê um filme só porque é preto e branco. Quem pensa dessa forma pode estar perdendo filmes magistrais. Só para citar dois exemplos: o recente “Nebraska” e “Manhattan”, a obra-prima de Woody Allen. E, se por causa disso, não assistir “Oh Boy”, 2012, vai se arrepender por não ter visto um dos filmes alemães mais surpreendentes, criativos e inteligentes dos últimos anos. Já começa pela deliciosa trilha sonora, bem ao estilo de Allen, com um jazz instrumental das décadas de 30/40. Vamos à história. Chegando aos 30 anos, Niko Fischer (Tom Schilling) não tem emprego, acabou de largar a faculdade de Direito, brigou com a namorada, o pai cortou sua mesada, perdeu a carteira de motorista e ainda foi atestado por um psicólogo como um desequilibrado emocional. Enfim, um fracassado. Independente de tudo isso, Niko é boa gente. O filme, narrado pelo próprio Niko, dura um dia e uma noite. É durante esse período que ele vai peregrinar por Berlim com o amigo Matze (Marc Hosemann), visitar um estúdio onde é produzido um filme sobre o nazismo, conversar com os tipos mais estranhos e ainda reencontrar uma antiga colega de colégio, a maluquete Julika (Friederike Kempter). Mesmo quando o assunto exige um pouco mais de seriedade, os diálogos são construídos dentro do mais fino humor, assim como também são bem-humoradas as situações envolvendo Niko. Com uma fotografia deslumbrante, que lembra mais uma vez “Manhattan”, de Allen, o diretor Jan Ole Gerster apresenta cenários pouco conhecidos de uma Berlim pulsante, moderna, em contínuo movimento. Imperdível!

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Para quem ainda não viu, recomendo como imperdível. Quem já viu quando chegou aqui em 2007, ou depois que foi lançado em DVD no ano seguinte, rever também é uma delícia. Trata-se de “Conversas com meu Jardineiro” (“Dialogue avec mon Jardinier”), dirigido por Jean Becker, um dos filmes franceses mais sensíveis produzidos nos últimos anos. A história é baseada no livro de Henri Cueco. Daniel Auteuil é um consagrado pintor de Paris que, recém-separado da mulher, retorna à sua casa na cidadezinha onde nasceu e passou a infância e juventude, no interior da França. Chegando lá, vê a necessidade de contratar um jardineiro para cuidar do jardim em péssimo estado. Ele coloca um anúncio e logo aparece um candidato (Jean-Pierre Darroussin), que nada mais é do que um de seus amigos de infância e colega de escola. Eles vão rememorar muitos fatos engraçados e os inúmeros aprontos que faziam no colégio. Vão conversar também sobre os mais variados assuntos. Enfim, nasce uma forte amizade entre os dois. O pintor apelida o jardineiro de “Dujardim” e o jardineiro apelida o pintor de “Dupincel”. Os dois vão se tratar assim o filme inteiro. Os diálogos são primorosos, inteligentes e bem-humorados. Mas o filme não é só de conversas entre Dujardim e Dupincel. Aliás, as cenas mais engraçadas acontecem quando Dupincel vai a uma exposição de arte, quando recebe a visita da filha com o namorado 30 anos mais velho e quando ele vai com Dujardim ao velório de um ex-colega. A amizade entre os antigos amigos resultará num desfecho dos mais comoventes. Não dá para perder um filme como esse!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

“Alexandra”, 2007, é mais um filme autoral do aclamado diretor russo Alexandre Sukurov. Deixo claro que o “aclamado” fica por conta de grande parte dos críticos de cinema. A história gira em torno da visita que Alexandra Nikolaevna (Galina Vishnevskaya) faz a seu neto Denis (Vasily Shevtsov), um oficial russo, num acampamento na Chechênia. A velha senhora, de 80 anos, viúva, não vê o neto há sete anos e agora, sozinha, resolve revê-lo. Desde o início do filme, quando mostra Alexandra viajando em veículos militares, Sokurov filma os rostos dos soldados em close, talvez com a intenção de mostrar como são jovens e, por suas expressões, muito tristes. Denis leva a avó para conhecer os alojamentos, os banheiros, a cozinha. Parece uma reportagem mostrando como os soldados russos vivem em tempos de guerra. As cenas mais interessantes são aquelas que mostram Alexandra visitando uma vila chechena, onde conversa com alguns civis e faz amizade com a dona de uma barraca no mercado local. A fotografia do filme é toda em tom sépia, reforçando a sensação de aridez dos cenários naturais. Sukurov, aliás, é chamado por muitos de “poeta visual”. Para quem não sabe, como eu não sabia, Galina Vishnevskaya foi uma famosa soprano russa que fez sua estreia no cinema neste filme. Ela morreu em 2012. “Alexandra” não é um filme fácil de assistir - muito lento, contemplativo -, mas interessante para aqueles que tiverem curiosidade de conhecer o estilo daquele que é considerado o maior cineasta russo da atualidade. 
“Em Segredo” (“In Secret”), EUA, 2013, dirigido por Charlie Stratton, é um drama/suspense baseado no romance “Thérèse Raquin”, escrito por Emile Zola. No elenco, Elizabeth Olsen, Oscar Isaac (de “Inside Llewyn Davis”), Jessica Lange e Tom Felton. Thérèse, ainda menina, órfã de mãe e praticamente abandonada pelo pai aventureiro, é levada para morar com sua tia Madame Raquin (Jessica Lange), no interior da França. Ela vai crescer ao lado do primo Camille, filho de Madame Raquin, um menino doente e que, por isso mesmo, supermimado pela mãe. Quando Thérèse (Olsen) e Camille (Felton) já estão adultos, Madame Raquin resolve que eles devem se casar. Camille fica animado. Thérèse não gosta da ideia, mas resolve obedecer a tia. Logo em seguida ao casamento, Madame Raquin decide vender a casa e mudar para Paris, onde vai montar uma loja de tecidos. A rotina na loja e no casamento vai entediar Thérèse. Esse quadro só vai mudar quando ela conhece Laurent (Isaac), colega de trabalho de Camille num escritório. Os dois vão se apaixonar perdidamente. As consequências dessa paixão, porém, serão trágicas. A partir dos encontros às escondidas dos dois amantes, o filme parte para o suspense, ficando ainda melhor. O excelente trabalho dos atores valoriza ainda mais esse bom drama de época.  

terça-feira, 10 de junho de 2014

Bettie (Catherine Deneuve) atravessa uma fase difícil em sua vida. Viúva, perto dos 70 anos, ela recebe a notícia de que seu amante, um rico industrial, se separou da esposa para ficar, não com ela, mas com uma jovem de 25 anos. Além disso, seu restaurante começa a dar prejuízo. Como se não bastasse tudo isso, sua mãe Annie (Claude Gensac) pega no seu pé o tempo inteiro. Um dia, Bettie, não aguentando tanta pressão, pega o carro e sai sem destino pela estrada. Você pode pensar que lá vem mais um drama francês. Pelo contrário. “Ela Vai” (“Elle s’em Va”), França, 2012, dirigido por Emmanuelle Bercot, é um filme bem-humorado e alegre. Bettie vai encarar esse road movie particular como uma viagem para refletir sobre sua vida e como refazê-la depois de tudo. Bettie vai viver uma aventura, o que inclui juntar-se a um animado grupo de mulheres de terceira idade num bar, ir para a cama com um rapaz que poderia ser seu filho e ainda participar de um encontro de ex-misses. Mas os melhores momentos do filme – e os mais engraçados – acontecem a partir do reencontro de Bettie com seu neto pré-adolescente, o terrível Charly (Nemo Schiffman), que ela terá que levar, a pedido de sua filha, para passar uns dias na casa do avô. Ao final dessa viagem, o astral de Bettie é outro, inclusive motivado por um amor inesperado. Vale a pena ver a diva Deneuve ainda em grande forma, apesar dos inúmeros cigarros consumidos no filme e na vida particular. Aliás, um dos momentos mais tocantes do filme é quando Bettie espera, aflita para fumar, um velhinho preparar um cigarro de palha. Ele enrola a palha sem nenhuma pressa, alheio à aflição de Bettie, como se tivesse uma vida toda pela frente. Faz a gente pensar, não?

segunda-feira, 9 de junho de 2014

“Detalhes” (“Details”), EUA, 2012, é uma comédia dirigida por Jacob Aaron Estes e que tem no elenco Tobey Maguire (“Homem Aranha”), Elizabeth Banks, Ray Liotta, Laura Linney e Kerry Washington. A vida não está nada fácil para o médico ginecologista Jeff Lang (Maguire). Além de enfrentar uma crise no casamento de 10 anos com Nealy (Banks), ele é obrigado a conviver com um guaximin que cismou em estragar o jardim de sua casa. A fase, quando é ruim, parece atrair mais problemas. Quando Jeff procura sua amiga psicoterapeuta Rebecca (Washington), rola um clima e os dois acabam indo para a cama. Só que o marido de Rebecca, Peter Mazzoni (Ray Liotta) acaba descobrindo e a coisa fica feia. É claro que o inferno de Jeff não vai terminar por aqui. Ele ainda vai se envolver com a vizinha louca, Lila (Linney), cujas consequências serão trágicas. É uma boa comédia, bem bolada e movimentada, além de reservar duas gratas surpresas: as ótimas interpretações de Elizabeth Banks como a esposa traída e de Laura Linney, bastante à vontade no papel da biruta Lila. Diversão garantida!
“Antes do Inverno” (“Avant L’Hiver”), 2012, é um drama francês escrito e dirigido por Philippe Claudel. O enredo gira em torno do relacionamento do médico neurocirurgião Paul (Daniel Auteuil) com sua esposa Lucie (Kristin Scott-Thomas), casados há 30 anos. Num determinado dia, chega à luxuosa casa em que eles moram um buquê de rosas vermelhas sem nenhuma identificação, nem de quem mandou nem para quem se destina. O mesmo acontece no consultório que Paulo mantém em sociedade com o amigo e psiquiatra Gérard (Richard Berry). Em meio às desconfianças tanto de Paul com relação a Lucie, e desta com relação ao marido, aparece no caminho do médico a jovem Lou Vallé (Leila Bekhti), que se diz estudante de arte e afirma ter sido operada de apendicite por Paul quando era criança. O mistério está criado e dá margem a algumas perguntas: quem é o remetente ou a remetente das rosas? Para quem elas se destinam? E quem é essa jovem que começa a virar a cabeça de Paul? Essas dúvidas e as desavenças com a esposa vão tirar o cirurgião do sério, a ponto de ter que se afastar do trabalho por estresse. O casamento com Lucie entra em crise e Paul decide dedicar seu tempo a conversas “paternais” com a jovem Lou. No final do filme, porém, uma reviravolta inesperada, causada por uma tragédia, esclarecerá todo o mistério. Daniel Auteuil comprova mais uma vez porque ainda é o principal ator francês e Kristin Scott-Thomas continua sendo a atriz mais charmosa e classuda do cinema atual. O filme foi exibido por aqui em abril de 2014 no Festival Varilux do Cinema Francês, em São Paulo. Um bom drama que merece ser conferido.    

domingo, 8 de junho de 2014

“Mistérios da Carne” (“Mysterious Skin”), EUA, 2004, dirigido por Gregg Araki, é um drama bastante perturbador, pois aborda com um realismo pra lá de chocante temas pesados como pedofilia e prostituição juvenil. Incomoda e muito as cenas com crianças, assim como os diálogos cheios de palavrões e linguagem pornográfica. O sexo chega a ser quase explícito. A história começa em 1981 e gira em torno de dois meninos que são molestados sexualmente pelo técnico do time de baseball. Os garotos crescem e levam consigo os traumas dessa experiência tão sórdida. Um deles, Neil McCormick (Joseph Gordon-Levitt), vira garoto de programa dos mais vulgares. O outro, Brien (Brady Corbet), tenta lembrar o que aconteceu, mas não consegue. Seu nariz continua sangrando quando em situações de estresse, como quando chegou em casa, dez anos antes. Ele acredita que foi sequestrado por um OVNI. Neil e Brien voltam a se encontrar e, juntos, tentarão descobrir o que realmente aconteceu e se livrar dessas recordações tão traumáticas. O elenco conta ainda com Elizabeth Shue, Michelle Trachtenberg e Bill Sage. O filme foi exibido no Brasil, pela primeira vez, no Festival de Cinema do Rio de Janeiro e na 29ª Mostra BR de Cinema de São Paulo.  Só pra quem tem estômago forte.     
Nos países europeus que invadiram durante a 2ª Guerra Mundial, os alemães saquearam museus, galerias, igrejas, casas e castelos, roubando milhões de objetos de arte, inclusive quadros famosos. Quase ao final do conflito, quando os alemães voltavam derrotados para o seu país, um grupo de sete especialistas em artes, comandado pelo oficial norte-americano George Stout (George Clooney), foi formado para resgatar todo esse material, escondido em várias partes da Alemanha. Eles teriam que cumprir essa missão antes da chegada dos russos. Portanto, corriam contra o tempo. No final, o grupo conseguiu recuperar mais de 5 milhões de peças, entre quadros, esculturas e outros objetos de arte. Essa fascinante história, baseada em fatos reais, é contada no filme “Caçadores de Obras-Pimas” (“The Monuments Man”), dirigido e interpretado por George Clooney, que também escreveu o roteiro adaptado do  livro homônimo escrito por Robert M. Edsel. Apesar da seriedade do tema e de mostrar a Europa como uma zona de guerra arrasada ao final do conflito, Clooney aliviou o clima pesado acrescentando humor à história, o que, ajudado por uma trilha sonora bem ao estilo dos filmes de aventura, tornou o filme leve e agradável de assistir. Além de Clooney, estão no elenco Kate Blanchett, Matt Damon, John Goodman, Jean Dujardin e Bill Murray.