sexta-feira, 29 de novembro de 2019


“STYX”, 2018, Áustria/Alemanha, 1h35m, direção de Wolfgang Fischer, que assina o roteiro juntamente com Ika Künzel. A história é centrada em Rieke (Susanne Wolff), uma médica que resolve enfrentar uma grande aventura nas suas férias: velejar sozinha, no iate “Asa Gray”, partindo de Gibraltar (sul da Espanha) até a Ilha de Ascensão, no Oceano Atlântico. Trata-se de uma ilha britânica visitada várias vezes por Charles Darwin em suas pesquisas. Logo você percebe que Rieke é uma navegadora experiente. O filme quase inteiro acompanha essa viagem, sem qualquer diálogo – a não ser dela com a rádio da Guarda Costeira -, mostrando o árduo trabalho de Rieke em içar velas, corrigir a rota, verificar os equipamentos e enfrentar uma ou outra tempestade. Mas nem por isso o filme é monótono. Pelo contrário, é bastante movimentado, principalmente porque o barco vai pra lá e pra cá, sobe e desce na agitação do alto-mar. Você tem a sensação de estar a bordo. Haja Dramin! Apesar de uma forte tempestade que quase vira o barco, o restante da viagem transcorre na maior normalidade. Até que Rieke chega perto da Ilha de Cabo Verde, perto da costa do Senegal. Ali, ela avista um barco à deriva repleto de refugiados africanos precisando de ajuda. Rieke tenta a todo custo pedir o auxílio da Guarda Costeira, que determina, de forma autoritária, que ela fique longe do barco e siga adiante com sua viagem. Como médica, porém, ela não dará atenção à ordem e tentará ajudar os refugiados, mesmo que sua viagem seja prejudicada. O filme é tão bom que conquistou mais de 30 premiações em festivais internacionais de cinema, sendo ainda finalista do Prêmio Lux de Cinema do Parlamento Europeu. Também foi exibido na Mostra Panorama do 68º Festival de Cinema de Berlim. Fiquei intrigado com o título original, “STYX”. Pesquisei bastante e encontrei o seu significado. Trata-se de uma ninfa na mitologia grega. Era filha de Tétis e ajudou Zeus na Guerra Titanomaquia contra os titãs. Tá explicado? Resumo da ópera: o filme é muito bom, valorizado pelo excelente desempenho da bela atriz alemã Susanne Wolff, que, aos 46 anos, mostra excelente forma física. Não é à toa que carrega o filme nas costas...   

quinta-feira, 28 de novembro de 2019


Como é possível realizar um filme agradável de assistir utilizando apenas três personagens, somente um cenário e acrescentar humor (negro) quando o assunto principal é a eutanásia? O diretor suíço Lionel Baier conseguiu essa façanha com “A VAIDADE” (“LA VANITÉ”), 2016, coprodução Suíça/França, 1h15m. É bom esclarecer que ele teve a ajuda do roteirista Julien Bouissoux. Poderia ter sido uma peça de teatro, mas ficou muito bem na telinha. Vamos à história: David Miller (Patrick Lapp), um arquiteto consagrado, à beira dos 80, está com câncer terminal no cérebro e, depois de três cirurgias, não conseguiu se livrar da doença. Preferiu então contratar os serviços de uma instituição especializada em realizar eutanásias assistidas – na Suíça, a eutanásia assistida é permitida desde 1942. Como local de seu último suspiro, David escolheu um motel que ele e a falecida esposa, também arquiteta, projetaram há muitos anos e que hoje está totalmente decadente. Esperanza (a atriz espanhola Carmen Maura, a musa de tantos filmes de Almodóvar) é a funcionária da organização encarregada de ministrar os remédios fatais. De acordo com o protocolo da firma e da própria lei suíça, o procedimento exige que haja uma testemunha. Davi e Esperanza precisaram improvisar, convocando o prostituto Trépleu (Luan Georgiev), um imigrante russo que naquela ocasião recebia seus clientes no quarto vizinho. A reunião entre estes três personagens é que dá impulso à história. Cada um deles fala de seu passado, problemas conjugais, suas escolhas na vida e conversam muito sobre a questão da eutanásia. Tudo realizado com um pitadas de humor inteligente, principalmente durante os diálogos, tornando esta produção suíça um ótimo entretenimento, valorizada ainda mais pelo desempenho dos veteranos David Lapp e Carmen Maura, além de Ivan Georgiev. No Swiss Film Prize, o Oscar suíço, Patrick Lapp e Ivan Georgiev foram premiados por sua atuação. Enfim, cinema da melhor qualidade.    

quarta-feira, 27 de novembro de 2019


“A ESCOLA DA VIDA” (“L’ÉCOLE BUISSONNIÈRE”), 2017, França, 116 minutos, direção de Nicolas Vanier, que escreveu o roteiro com a colaboração de Jérôme Tonnerre. A história, ambientada nos anos 30 do século passado, é centrada em Paul (Jean Scandel), um garoto que vivia desde que nasceu num orfanato. Certo dia, uma mulher, se apresenta para adotar uma criança e ela escolhe justamente Paul. Ela é Célestine (Valérie Karsenti), uma das empregadas da mansão do Conde de La Fresnaye (François Berléand). Quando chega com o menino à propriedade, na zona rural da França, ela se justifica ao marido, Borel (Éric Elmosnino, de “Gainsbourg, O Homem que Amava as Mulheres”), dizendo que Paul é filho de uma prima que mora em Paris e que passaria ali apenas as férias, a mesma versão que contou ao conde. Durante um passeio para conhecer as terras ao redor da mansão, Paul conhece Totoche (François Cluzet, de “Intocáveis”), um caçador que vive na floresta. É com Totoche que Paul aprenderá a pescar, a caçar e a viver em contato direto com a Natureza. Para quem ficava trancado no orfanato, Paul encontrou o seu Paraíso, além do afeto paterno que nunca teve. Aos poucos, o espectador vai se envolvendo com a história, torcendo por um final feliz para o garoto. Pouco antes do desfecho, uma revelação surpreendente valoriza ainda mais este simpático drama francês, realizado com humor e sensibilidade. O diretor Vanier destacou na história inúmeros momentos dedicados à Natureza selvagem do lugar. Vanie é conhecido como diretor de documentários que enfocam a Natureza selvagem, além de filmes com a mesma abordagem, como “Loup – Uma Amizade para Sempre” e “Belle e Sebastian”. “A Escola da Vida” é um ótimo entretenimento para uma sessão da tarde com a família e, claro, um balde de pipoca ao lado.  


“PRIMEIRO, MATARAM MEU PAI” (“FIRST THEY KILLED MY FATHER”), 2017, coprodução Camboja/EUA, em parceria com a Netflix (a estreia mundial ocorreu em setembro de 2017), 2h16m, direção de Angelina Jolie, que também escreveu o roteiro baseada no livro de memórias da cambojana Loug Ung (“First Day Killed my Father: A Daughter of Campodia Remembers”). Loug Ung era uma menina de 5 anos quando, em abril de 1975, o Khmer Vermelho assumiu o controle da capital do país, Phnon Penh, instaurando um dos mais violentos regimes comunistas do mundo, que duraria no Camboja até 1979. Loug (Sarfum Srey Moch, sensacional) e seus três irmãos, juntamente com o pai e a mãe, fugiram para não serem presos. Corriam um grande perigo, pois o pai (Phoeung Kompheak) era um militar do antigo regime. A fuga da família, os perigos enfrentados no caminho, fome, doenças, torturas, separações, trabalhos forçados e uma série de outros percalços foram mostrados no filme, que contou com um grande elenco formado somente por amadores, além de centenas de figurantes. Um trabalho sensacional da diva Angelina Jolie como diretora – foi o seu terceiro longa (os outros dois foram “Na Terra de Amor e Ódio”, de 2011, onde o pano de fundo é a guerra na Bósnia, e “À Beira-Mar”, de 2015, quando Jolie atuou ao lado do então marico, Brad Pitt). A ligação de Jolie com o Camboja vem desde 2001, quando ela e Brad adotaram um bebê cambojano, ao qual deram o nome de Maddox Jolie-Pitt, hoje com 18 anos e cursando uma universidade na Coreia do Sul. Essa ligação com o país levou Angelina a ler o livro escrito por Loug Ung, entusiasmando-a a realizar este filme que é bastante esclarecedor sobre as atrocidades cometidas pelo Khmer Vermelho, que, durante os quatro anos em que esteve no poder assassinou mais de 2 milhões de cambojanos. “Primeiro, Mataram Meu Pai” é obrigatório para quem gosta de História, e mais obrigatório ainda para comprovar que Angelina Jolie também é uma competente diretora. O filme foi selecionado para representar o Camboja na disputa do Oscar 2018 como Melhor Filme Estrangeiro. Imperdível!  

terça-feira, 26 de novembro de 2019


“RIR OU MORRER” (“SUOMEN HAUSKIN MIES”), 2018, coprodução Finlândia/Suécia, 1h43m, roteiro e direção de Heikki Kujanpää. Filme visto por aqui durante a programação oficial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2019. A história é baseada em incríveis fatos reais ocorridos na Finlândia em 1918. Alemães e russos brigavam para quem conseguiria dominar o país. Os alemães ganharam e aí começaram a prender os “vermelhos” que apoiavam os russos, entre os quais muitos intelectuais, artistas, escritores e atores de teatro, todos enviados para uma ilha que servia de campo de concentração. “Rir e Morrer” é todo ambientado nesta ilha, onde os presos passavam frio, fome e, de vez em quando, recebiam uma torturinha. Entre os presos, alguns eram muito conhecidos, como o comediante Joivo Parikka (Martti Susalo), considerado o homem mais engraçado da Finlândia. Helen Kalm (Leena Pöysti), esposa do violento e sádico comandante da prisão Hjalmar Kalm (Jani Volanen), era amante de teatro e fã de Parikka. Foi ela quem convenceu o marido a deixar Parikka criar uma comédia para ser apresentada aos oficiais alemães que visitariam o campo de concentração. Parikka acertou com o comandante que se os oficiais alemães dessem risada, o pessoal do grupo teatral seria salvo do fuzilamento. Caso contrário, seriam fuzilados logo após a peça. O filme apresenta, com muito humor, os bastidores de tudo o que aconteceu, desde a elaboração do roteiro da peça, que deveria obrigatoriamente exaltar os alemães, a escolha do elenco e os preparativos finais para a estreia num palco improvisado. Apesar do contexto dramático de um campo de concentração, o diretor Heikki Kujanpää fez de “Rir ou Morrer” um filme bastante divertido. Mas o que deixa essa história ainda mais saborosa é o fato de que é baseada em acontecimentos reais. Comédia dramática das melhores.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019


“6 BALÕES” (“6 BALLOONS”), 2018, EUA, 1h15m, estreia no roteiro e direção da atriz Marja-Lewis Ryan. Trata-se de um filme independente adquirido pela Netflix, que posteriormente o distribuiu em seu sistema de streaming. Entre os coprodutores estão o ator Channing Tatum e Samantha Housman. Pois foi na experiência real vivida por Housman que Marja-Lewis teve a inspiração para escrever o roteiro. Trata-se de um impactante drama familiar ambientado em apenas um dia em Los Angeles. Enquanto começam a chegar os convidados para a festa-surpresa que preparou para o namorado, Katie (Abbi Jacobson) sente falta do seu irmão mais novo, Seth (Dave Franco, irmão mais novo do também ator James Franco), e resolve buscá-lo em casa. Quando chega, logo percebe que ele teve uma recaída na droga – é viciado em heroína. Ela o coloca no carro, juntamente com a filha dele de 4 anos no banco de trás. No meio do caminho, Seth começa a ter claros sintomas de abstinência e não consegue se controlar. Sem saber o que fazer, Katie resolve levá-lo a algum centro de recuperação, tarefa que se torna quase impossível, mesmo porque é feriado nacional (4 de julho, Dia da Independência). O filme, até o seu desfecho, acompanha a angustiante tentativa de Katie em resolver o problema e ainda retornar à festa que organizou. As excelentes atuações de Dave Franco (emagreceu bastante para fazer o papel) e Abbi Jacobson valorizam ainda mais esta produção que tem como foco uma triste realidade do mundo em que vivemos, ou seja, os jovens se entregando cada mais ao vício das drogas, destruindo vidas e famílias. Nesse contexto, “6 Balões” é um filme bastante esclarecedor e impactante.         

domingo, 24 de novembro de 2019


“CYRANO MON AMOUR” (“EDMOND”), 2019, França, 1h53m, filme de estreia como roteirista e diretor do ator e dramaturgo Alexis Michalik. Uma comédia baseada em fatos reais. Um prato (palco) cheio para quem gosta de teatro. E mesmo para quem não gosta. O filme conta toda a história de como o poeta e dramaturgo francês Edmond Rostand (1868-1918) – interpretado por Thomas Solivérès – se inspirou para criar e escrever aquela peça que seria o maior sucesso mundial do teatro clássico: “Cyrano De Bergerac”. Ao mesmo tempo, conta tudo o que aconteceu às vésperas da grande estreia da peça em Paris, em dezembro de 1897. Por exemplo, a escolha do elenco, encabeçado pela grande estrela da época, o ator Benoît-Constant Coquelin (o ótimo Olivier Gourmet), a pressão dos produtores, muita confusão durante os ensaios e o estresse de Edmond, que não tinha o texto da peça pronto pouco antes da sua estreia. O filme revela ainda que uma das principais inspirações de Edmond para escrever a peça surgiu da vida atribulada de Hector Saviniende Cyrano de Bergerac, um escritor francês sem grande sucesso que viveu no Século XVII. Outra inspiração veio da paixão ardente de Léo Volny (Tom Leeb), melhor amigo de Edmond, pela bela Jeanne D’Alcie (Lucie Boujenah). Apesar de bonito, Léo não tinha cultura suficiente para escrever versos para a amada, uma condição que, na época, era quase obrigatória para se conquistar uma mulher. Edmond escrevia cartas em nome do amigo e as enviava para Jeanne. Edmond também tinha uma amiga que sempre acreditou no seu talento e o ajudou muito: a diva do teatro Sarah Bernhardt (Clémentine Célarie). O filme é um espetáculo, um retrato divertido e delicioso dos bastidores de uma peça teatral que, a partir de sua estreia, se transformou num dos maiores sucessos da dramaturgia mundial. Sem dúvida, a inspiração para escrever o roteiro contou com a experiência de palco vivida pelo jovem ator e dramaturgo Alexis Michalike, que também assumiu a direção com muita competência, mesmo sendo seu primeiro longa-metragem. Também estão no elenco o próprio Alexis Michalike, Mathilde Seigner e Alice de Lencqvesaing. Imperdível!