“STYX”, 2018,
Áustria/Alemanha, 1h35m, direção de Wolfgang Fischer, que assina o roteiro juntamente
com Ika Künzel. A história é centrada em Rieke (Susanne Wolff), uma médica que
resolve enfrentar uma grande aventura nas suas férias: velejar sozinha, no iate
“Asa Gray”, partindo de Gibraltar (sul da Espanha) até a Ilha de Ascensão, no Oceano
Atlântico. Trata-se de uma ilha britânica visitada várias vezes por Charles
Darwin em suas pesquisas. Logo você percebe que Rieke é uma navegadora
experiente. O filme quase inteiro acompanha essa viagem, sem qualquer diálogo –
a não ser dela com a rádio da Guarda Costeira -, mostrando o árduo trabalho de
Rieke em içar velas, corrigir a rota, verificar os equipamentos e enfrentar uma
ou outra tempestade. Mas nem por isso o filme é monótono. Pelo contrário, é
bastante movimentado, principalmente porque o barco vai pra lá e pra cá, sobe e
desce na agitação do alto-mar. Você tem a sensação de estar a bordo. Haja Dramin! Apesar
de uma forte tempestade que quase vira o barco, o restante da viagem transcorre
na maior normalidade. Até que Rieke chega perto da Ilha de Cabo Verde, perto da
costa do Senegal. Ali, ela avista um barco à deriva repleto de refugiados
africanos precisando de ajuda. Rieke tenta a todo custo pedir o auxílio da Guarda
Costeira, que determina, de forma autoritária, que ela fique longe do barco e siga
adiante com sua viagem. Como médica, porém, ela não dará atenção à ordem e
tentará ajudar os refugiados, mesmo que sua viagem seja prejudicada. O filme é
tão bom que conquistou mais de 30 premiações em festivais internacionais de
cinema, sendo ainda finalista do Prêmio Lux de Cinema do Parlamento Europeu.
Também foi exibido na Mostra Panorama do 68º Festival de Cinema de Berlim.
Fiquei intrigado com o título original, “STYX”. Pesquisei bastante e encontrei
o seu significado. Trata-se de uma ninfa na mitologia grega. Era filha de Tétis
e ajudou Zeus na Guerra Titanomaquia contra os titãs. Tá explicado? Resumo da
ópera: o filme é muito bom, valorizado pelo excelente desempenho da bela atriz
alemã Susanne Wolff, que, aos 46 anos, mostra excelente forma física. Não é à
toa que carrega o filme nas costas...
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
quinta-feira, 28 de novembro de 2019
Como é possível realizar um
filme agradável de assistir utilizando apenas três personagens, somente um
cenário e acrescentar humor (negro) quando o assunto principal é a eutanásia? O
diretor suíço Lionel Baier conseguiu essa façanha com “A VAIDADE” (“LA
VANITÉ”), 2016, coprodução Suíça/França, 1h15m. É bom esclarecer que ele
teve a ajuda do roteirista Julien Bouissoux. Poderia ter sido uma peça de
teatro, mas ficou muito bem na telinha. Vamos à história: David Miller (Patrick
Lapp), um arquiteto consagrado, à beira dos 80, está com câncer terminal no cérebro
e, depois de três cirurgias, não conseguiu se livrar da doença. Preferiu então
contratar os serviços de uma instituição especializada em realizar eutanásias
assistidas – na Suíça, a eutanásia assistida é permitida desde 1942. Como local
de seu último suspiro, David escolheu um motel que ele e a falecida esposa,
também arquiteta, projetaram há muitos anos e que hoje está totalmente
decadente. Esperanza (a atriz espanhola Carmen Maura, a musa de tantos filmes
de Almodóvar) é a funcionária da organização encarregada de ministrar os
remédios fatais. De acordo com o protocolo da firma e da própria lei suíça, o
procedimento exige que haja uma testemunha. Davi e Esperanza precisaram
improvisar, convocando o prostituto Trépleu (Luan Georgiev), um imigrante russo
que naquela ocasião recebia seus clientes no quarto vizinho. A reunião entre estes três
personagens é que dá impulso à história. Cada um deles fala de seu passado,
problemas conjugais, suas escolhas na vida e conversam muito sobre a questão da
eutanásia. Tudo realizado com um pitadas de humor inteligente, principalmente durante
os diálogos, tornando esta produção suíça um ótimo entretenimento, valorizada
ainda mais pelo desempenho dos veteranos David Lapp e Carmen Maura, além de
Ivan Georgiev. No Swiss Film Prize, o Oscar suíço, Patrick Lapp e Ivan Georgiev
foram premiados por sua atuação. Enfim, cinema da melhor qualidade.
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
“A ESCOLA DA VIDA” (“L’ÉCOLE BUISSONNIÈRE”), 2017,
França, 116 minutos, direção de Nicolas Vanier, que escreveu o roteiro com a
colaboração de Jérôme Tonnerre. A história, ambientada nos anos 30 do século
passado, é centrada em Paul (Jean Scandel), um garoto que vivia desde que
nasceu num orfanato. Certo dia, uma mulher, se apresenta para adotar uma
criança e ela escolhe justamente Paul. Ela é Célestine (Valérie Karsenti), uma
das empregadas da mansão do Conde de La Fresnaye (François Berléand). Quando
chega com o menino à propriedade, na zona rural da França, ela se justifica ao
marido, Borel (Éric Elmosnino, de “Gainsbourg, O Homem que Amava as Mulheres”),
dizendo que Paul é filho de uma prima que mora em Paris e que passaria ali apenas
as férias, a mesma versão que contou ao conde. Durante um passeio para conhecer
as terras ao redor da mansão, Paul conhece Totoche (François Cluzet, de “Intocáveis”),
um caçador que vive na floresta. É com Totoche que Paul aprenderá a pescar, a
caçar e a viver em contato direto com a Natureza. Para quem ficava trancado no
orfanato, Paul encontrou o seu Paraíso, além do afeto paterno que nunca teve. Aos
poucos, o espectador vai se envolvendo com a história, torcendo por um final feliz
para o garoto. Pouco antes do desfecho, uma revelação surpreendente valoriza
ainda mais este simpático drama francês, realizado com humor e sensibilidade. O
diretor Vanier destacou na história inúmeros momentos dedicados à Natureza
selvagem do lugar. Vanie é conhecido como diretor de documentários que enfocam a Natureza selvagem, além de filmes com a mesma abordagem, como “Loup – Uma Amizade para Sempre” e “Belle e Sebastian”. “A
Escola da Vida” é um ótimo entretenimento para uma sessão da tarde com a
família e, claro, um balde de pipoca ao lado.
“PRIMEIRO,
MATARAM MEU PAI” (“FIRST THEY KILLED MY FATHER”), 2017,
coprodução Camboja/EUA, em parceria com a Netflix (a estreia mundial ocorreu em setembro de 2017), 2h16m, direção de Angelina Jolie, que também escreveu o
roteiro baseada no livro de memórias da cambojana Loug Ung (“First Day Killed
my Father: A Daughter of Campodia Remembers”). Loug Ung era uma menina de 5 anos
quando, em abril de 1975, o Khmer Vermelho assumiu o controle da capital do
país, Phnon Penh, instaurando um dos mais violentos regimes comunistas do
mundo, que duraria no Camboja até 1979. Loug (Sarfum Srey Moch, sensacional) e seus três irmãos, juntamente com
o pai e a mãe, fugiram para não serem presos. Corriam um grande perigo, pois o
pai (Phoeung Kompheak) era um militar do antigo regime. A fuga da família, os
perigos enfrentados no caminho, fome, doenças, torturas, separações, trabalhos forçados e
uma série de outros percalços foram mostrados no filme, que contou com um
grande elenco formado somente por amadores, além de centenas de figurantes. Um
trabalho sensacional da diva Angelina Jolie como diretora – foi o seu terceiro longa
(os outros dois foram “Na Terra de Amor e Ódio”, de 2011, onde o pano de fundo
é a guerra na Bósnia, e “À Beira-Mar”, de 2015, quando Jolie atuou ao lado do
então marico, Brad Pitt). A ligação de Jolie com o Camboja vem desde 2001,
quando ela e Brad adotaram um bebê cambojano, ao qual deram o nome de Maddox
Jolie-Pitt, hoje com 18 anos e cursando uma universidade na Coreia do Sul. Essa
ligação com o país levou Angelina a ler o livro escrito por Loug Ung,
entusiasmando-a a realizar este filme que é bastante esclarecedor sobre as
atrocidades cometidas pelo Khmer Vermelho, que, durante os quatro anos em que
esteve no poder assassinou mais de 2 milhões de cambojanos. “Primeiro, Mataram
Meu Pai” é obrigatório para quem gosta de História, e mais obrigatório ainda
para comprovar que Angelina Jolie também é uma competente diretora. O filme foi
selecionado para representar o Camboja na disputa do Oscar 2018 como Melhor
Filme Estrangeiro. Imperdível!
terça-feira, 26 de novembro de 2019
“RIR
OU MORRER” (“SUOMEN HAUSKIN MIES”), 2018, coprodução Finlândia/Suécia,
1h43m, roteiro e direção de Heikki Kujanpää. Filme visto por aqui durante a programação oficial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2019. A história é baseada em incríveis
fatos reais ocorridos na Finlândia em 1918. Alemães e russos brigavam para quem
conseguiria dominar o país. Os alemães ganharam e aí começaram a prender os “vermelhos”
que apoiavam os russos, entre os quais muitos intelectuais, artistas,
escritores e atores de teatro, todos enviados para uma ilha que servia de campo
de concentração. “Rir e Morrer” é todo ambientado nesta ilha, onde os presos
passavam frio, fome e, de vez em quando, recebiam uma torturinha. Entre os presos,
alguns eram muito conhecidos, como o comediante Joivo Parikka (Martti Susalo), considerado
o homem mais engraçado da Finlândia. Helen Kalm (Leena Pöysti), esposa do violento
e sádico comandante da prisão Hjalmar Kalm (Jani Volanen), era amante de teatro
e fã de Parikka. Foi ela quem convenceu o marido a deixar Parikka criar uma
comédia para ser apresentada aos oficiais alemães que visitariam o campo de
concentração. Parikka acertou com o comandante que se os oficiais alemães
dessem risada, o pessoal do grupo teatral seria salvo do fuzilamento. Caso
contrário, seriam fuzilados logo após a peça. O filme apresenta, com muito
humor, os bastidores de tudo o que aconteceu, desde a elaboração do roteiro da
peça, que deveria obrigatoriamente exaltar os alemães, a escolha do elenco e os
preparativos finais para a estreia num palco improvisado. Apesar do contexto
dramático de um campo de concentração, o diretor Heikki Kujanpää fez de “Rir ou
Morrer” um filme bastante divertido. Mas o que deixa essa história ainda mais
saborosa é o fato de que é baseada em acontecimentos reais. Comédia dramática
das melhores.
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
“6 BALÕES” (“6 BALLOONS”), 2018,
EUA, 1h15m, estreia no roteiro e direção da atriz Marja-Lewis Ryan. Trata-se de
um filme independente adquirido pela Netflix, que posteriormente o distribuiu
em seu sistema de streaming. Entre os coprodutores estão o ator Channing
Tatum e Samantha Housman. Pois foi na experiência real vivida por Housman que
Marja-Lewis teve a inspiração para escrever o roteiro. Trata-se de um impactante
drama familiar ambientado em apenas um dia em Los Angeles. Enquanto começam a chegar os convidados para a
festa-surpresa que preparou para o namorado, Katie (Abbi Jacobson) sente falta
do seu irmão mais novo, Seth (Dave Franco, irmão mais novo do também ator James
Franco), e resolve buscá-lo em casa. Quando chega, logo percebe que ele teve
uma recaída na droga – é viciado em heroína. Ela o coloca no carro, juntamente
com a filha dele de 4 anos no banco de trás. No meio do caminho, Seth começa a
ter claros sintomas de abstinência e não consegue se controlar. Sem saber o que
fazer, Katie resolve levá-lo a algum centro de recuperação, tarefa que se torna
quase impossível, mesmo porque é feriado nacional (4 de julho, Dia da Independência).
O filme, até o seu desfecho, acompanha a angustiante tentativa de Katie em
resolver o problema e ainda retornar à festa que organizou. As excelentes
atuações de Dave Franco (emagreceu bastante para fazer o papel) e Abbi Jacobson valorizam ainda mais esta produção que tem
como foco uma triste realidade do mundo em que vivemos, ou seja, os jovens se
entregando cada mais ao vício das drogas, destruindo vidas e famílias. Nesse contexto, “6 Balões” é um filme
bastante esclarecedor e impactante.
domingo, 24 de novembro de 2019
“CYRANO MON AMOUR” (“EDMOND”),
2019,
França, 1h53m, filme de estreia como roteirista e diretor do ator e dramaturgo
Alexis Michalik. Uma comédia baseada em fatos reais. Um prato (palco) cheio
para quem gosta de teatro. E mesmo para quem não gosta. O filme conta toda a
história de como o poeta e dramaturgo francês Edmond Rostand (1868-1918) –
interpretado por Thomas Solivérès – se inspirou para criar e escrever aquela
peça que seria o maior sucesso mundial do teatro clássico: “Cyrano De Bergerac”.
Ao mesmo tempo, conta tudo o que aconteceu às vésperas da grande estreia da
peça em Paris, em dezembro de 1897. Por exemplo, a escolha do elenco, encabeçado
pela grande estrela da época, o ator Benoît-Constant Coquelin (o ótimo Olivier
Gourmet), a pressão dos produtores, muita confusão durante os ensaios e o
estresse de Edmond, que não tinha o texto da peça pronto pouco antes da sua
estreia. O filme revela ainda que uma das principais inspirações de Edmond para
escrever a peça surgiu da vida atribulada de Hector Saviniende Cyrano de Bergerac,
um escritor francês sem grande sucesso que viveu no Século XVII. Outra
inspiração veio da paixão ardente de Léo Volny (Tom Leeb), melhor amigo de Edmond,
pela bela Jeanne D’Alcie (Lucie Boujenah). Apesar de bonito, Léo não tinha
cultura suficiente para escrever versos para a amada, uma condição que, na época,
era quase obrigatória para se conquistar uma mulher. Edmond escrevia cartas em
nome do amigo e as enviava para Jeanne. Edmond também tinha uma amiga que sempre
acreditou no seu talento e o ajudou muito: a diva do teatro Sarah
Bernhardt (Clémentine Célarie). O filme é um espetáculo, um retrato divertido e
delicioso dos bastidores de uma peça teatral que, a partir de sua estreia, se
transformou num dos maiores sucessos da dramaturgia mundial. Sem dúvida, a
inspiração para escrever o roteiro contou com a experiência de palco vivida pelo
jovem ator e dramaturgo Alexis Michalike, que também assumiu a direção com
muita competência, mesmo sendo seu primeiro longa-metragem. Também estão no
elenco o próprio Alexis Michalike, Mathilde Seigner e Alice de Lencqvesaing. Imperdível!
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