“Quando eu era sombrio” (“I Used to be darker”) é um exemplar clássico do cinema independente
a mericano. Filme de baixo orçamento, com atores
pouco conhecidos, liberdade total às ideias do diretor – no caso Mattew Porterfield
– e lançamento restrito apenas a alguns festivais de cinema. Aliás, o filme foi
bastante elogiado nos festivais de Sundance, Berlim, BAFICI (Buenos Aires) e Atlanta,
este último concedendo-lhe o prêmio de Melhor Filme. A história gira em torno
da jovem Taryn, que se refugia na casa dos tios Kim (Kim Taylor) e Bill (Ned
Oldham), em Baltimore, sem saber que os dois estão se separando. Portanto,
quando ela chega, pensando fazer uma surpresa agradável, encontra o clima
pesadíssimo na casa. Para piorar, chega de Nova Iorque a filha do casal, Abby
(Hannah Gross), para passar as férias escolares com os pais. O ambiente fica
ainda mais insuportável, pois Abby, que nunca se deu muito bem com a mãe, vai
responsabilizá-la pela separação. O filme tem um lado musical muito forte, pois
Kim é cantora de uma banda de rock e Bill é um antigo guitarrista que abandonou
a música para ganhar dinheiro em outra atividade. Os números musicais até que
não são ruins, mas acabam cansando. Como curiosidade, o filme tem a participação, numa ponta – aliás, numa pontinha -, da atriz francesa Adèle Exarchopoulos, de “Azul
é a Cor mais Quente”.
sábado, 12 de abril de 2014
Quando
foi lançado no Festival de Cannes 2013, “Azul é a Cor mais Quente” (“La vie d’Adèle”) ficou marcado por
algumas polêmicas. Primeira, é claro, sobre as longas cenas de sexo quase
explícitas entre as duas protagonistas principais, Adèle (Adèle Exarchopoulos)
e Emma (Léa Seydoux) – há também outra cena de sexo bastante ousada entre
Adèle e um namoradinho no começo do filme. Outra polêmica envolveu o elenco,
particularmente as atrizes Adèle e Léa, e o diretor franco-tunisiano Abdellatif
Kechiche, acusado de ser um monstro tirano e torturador. O filme acabou
ganhando a Palma de Ouro de Cannes e as duas atrizes dividiram o Prêmio de Melhor
Atriz. Os prêmios foram mais do que justos, pois o filme é muito bom e o
trabalho das atrizes é espetacular, principalmente Adèle, um fenômeno.
Impossível não se emocionar com o seu desempenho. O filme é baseado na história
em quadrinhos adulta “Le Bleu est une Couper Chaude”, criada pela francesa
Julie Maroh. Em dúvida sobre a sua preferência sexual, Adéle (a personagem) é
uma adolescente de 15 anos que se apaixona por Emma, lésbica assumida. Adèle
leva Emma para jantar e apresentá-la aos seus pais, mas esconde o caso. O mesmo
faz Emma, cujos pais conhecem e aceitam a opção da filha. Em suas três horas de
duração, o filme vai acompanhar a paixão obsessiva das duas jovens. Embora
todos os principais protagonistas sejam jovens, os diálogos são bastante
inteligentes. Você já imaginou dois jovens estudantes do Ensino Fundamental
aqui no Brasil discutindo Sartre? Independente das polêmicas, o filme é obrigatório
para quem gosta de cinema de qualidade.
quinta-feira, 10 de abril de 2014
“Vida de Adulto”
(“Adult World”), de 2012, EUA, com direção de Scott Coffey, é uma comédia
independente que estreou no Tribeca Film Festival em abril de 2013, sendo bem recebida pelo público. Conta a
história de Amy Anderson (Emma Roberts), uma jovem de 22 anos que tem o sonho de
se tornar uma grande poetisa. Há tempos que ela envia suas poesias a jornais,
revistas e editoras, mas não consegue publicar nenhuma. Desempregada e sem
dinheiro, Amy vive às custas dos pais. Numa discussão caseira sobre sua
situação financeira e seu sonho profissional, a coisa acaba em briga e Amy
resolve sair de casa. Para se sustentar, vai trabalhar numa loja de artigos
pornográficos chamada Adult World. Algum tempo depois ela conhece, numa sessão
de autógrafos, o poeta Rat Billings (John Cusack), um de seus ídolos, e pede a
ele que a ajude a ser uma grande poetisa. A relação entre os dois não será nada
boa, principalmente depois que ele resolve editar uma coletânea e promete incluir um
poema de Amy – só que não avisa que a coletânea terá o título de “Poemas Ruins”.
Emma Roberts é filha do ator Eric Roberts e, portanto, sobrinha de Júlia
Roberts. Ao contrário da tia, ela é baixinha e apenas "bonitinha". É o seu primeiro papel como protagonista principal. Sua atuação parece
um pouco forçada, mas se sai bem nos momentos de humor. Incomoda um pouco a sua voz esganiçada. Nada disso, porém, prejudica o filme, bom para assistir numa sessão da tarde com pipoca.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
Quem
gosta de um bom suspense não pode perder “Filho de Caim” (“Fill de Caín”), produção espanhola de 2013
dirigida por Jesús Monillaó. É filme para você ficar tenso e gruado na poltrona
do começo ao fim. Nico (David Solans) é um garoto de 15 anos muito estranho. Não
tem amigos e só tem uma paixão: o jogo de xadrez. Ele se isola do mundo diante
de um tabuleiro, jogando contra si próprio. Os pais, Carlos Albert (José
Coronado) e Coral (Maria Molins) sempre adiam a contratação de um psicólogo.
Até que Nico começa a mostrar o seu lado psicopata. O filme deixa bem claro que
o problema do garoto é o pai. Albert e Coral decidem finalmente contratar um psicólogo,
Júlio Beltran (Julio Manrique), que por coincidência havia sido namorado de
Carol antes dela se casar com Albert. O tratamento parece que está dando certo.
Julio até inscreve o jovem na escola de xadrez mais conceituada da cidade. Inteligente
e com um QI altíssimo, Nico, na verdade, está manipulando todos à sua volta,
inclusive o psicólogo, para conseguir o desfecho que havia planejado. Que não
será, obviamente, muito agradável. O filme é excelente e os atores são ótimos,
principalmente José Coronado, talvez o melhor ator espanhol da atualidade. Mas quem
dá show mesmo é o estreante David Solans, que a cada olhar sinistro vai fazer
você apertar com mais força os braços da poltrona.
Convém tomar um Dramin antes de começar a assistir “Até o Fim” (“All is Lost”). Afinal, serão
106 minutos no mar ao lado de Robert Redford, cujo personagem, um experiente
navegador, não tem nome, profissão ou outra qualquer indicação de sua vida
civil. Ele está navegando em seu belo veleiro de 12 metros pelo Oceano Pacífico
(não há também explicação sobre o motivo da viagem). A embarcação tem o nome de
“Virginia Jean” (quem será essa mulher?). Um dia, ele acorda com um estrondo:
um contêiner à deriva bate no barco e provoca um rombo no casco. A água que
entra danifica o rádio e os instrumentos de navegação. Mas isso não é o
pior. Uns dias depois, vem uma violenta tempestade que acaba por afundar o
veleiro. O jeito é se virar com o bote salva-vidas inflável. Impossível não
associar a situação do navegador com a da astronauta vivida por Sandra Bullock
em “Gravidade”. Ambos buscam sobreviver, sozinhos e abandonados à própria sorte:
Bullock perdida no espaço e Redford no vasto oceano. Assim como em “Gravidade”,
o suspense e a tensão predominam desde o começo até o final do filme. E mesmo com
apenas um personagem, sem qualquer diálogo ou monólogo, “Até o Fim” não fica monótono em nenhum
momento. O filme recebeu apenas uma indicação para o Oscar 2014 (Melhor Edição
de Som), uma grande injustiça com Redford, que merecia concorrer a Melhor Ator.
terça-feira, 8 de abril de 2014
“Metro Manila” (co-produção
Reino Unido/Filipinas de 2012), dirigido pelo inglês Sean Ellis, justifica plenamente
toda a fama que o precede. Foi aclamado
em vários festivais pelo mundo afora, inclusive no Sundance Film Festival 2013,
no qual fez sua estreia, além de ter
sido indicado para concorrer ao Oscar 2014 de Melhor Filme Estrangeiro pelo
Reino Unido, embora seja falado em filipino. Não é para menos. Este ótimo drama social, que a partir da sua
metade ganha ação e suspense e se transforma num vigoroso thriller policial, conta
a história de Oscar Ramirez (Jake Macapagal), um pequeno e pobre agricultor que
abandona os campos de arroz no norte das Filipinas para tentar uma vida melhor na
capital Manila (Metro Manila é o nome dado à região metropolitana da cidade). Ele leva a esposa Mai (Althea Vega) e as duas
filhas pequenas. O casal vai encarar a dura realidade de uma cidade grande e se
deparar com gente da pior espécie. Oscar consegue o emprego de motorista numa empresa
de segurança transportadora de valores e Mai vai trabalhar como dançarina numa
casa noturna. Ao ser bajulado pelo seu chefe Ong (John Arcilla) na firma de
segurança, Oscar não percebe que está sendo manipulado para participar de um
golpe. Quando finalmente percebe, é tarde demais, pois ele já está envolvido até
o pescoço na tramoia. Um incidente fatal, porém, vai fazer o plano ir por água
abaixo. É aí então que Oscar deixa a ingenuidade de lado e parte para a ação, o
que vai levar a um desfecho surpreendente e, ao mesmo tempo, tocante. Um
filmaço simplesmente imperdível!
domingo, 6 de abril de 2014
Os irmaõs Joel e Ethan Coen escreveram e dirigiram “Balada de um Homem Comum” (“Inside
Llewyn Davis”), produção de 2013. Conta a história de Llewyn Davis (Oscar
Isaac), que na Nova Iorque do início da década de 60 abandona um emprego na
marinha mercante para tentar o sucesso como cantor e compositor de música folk,
gênero que consagrou Bob Dylan e Joan Baez. O personagem Llewyn Davis foi
inspirado num cantor que realmente existiu, um tal de Dave von Ronk. Um achado
dos irmãos Coen. Fracassado, sem dinheiro, ele não tem nem onde dormir, nem
casaco para vestir no inverno rigoroso de Nova Iorque. Passa as noites de favor
na casa de um ou outro amigo. Apesar disso, é arrogante e se acha o máximo. Até que ele agrada a plateia quando canta num barzinho especializado em apresentações ao vivo de músicos de folk. Quando
finalmente consegue um teste com um empresário importante que pode alavancar
sua carreira, estraga tudo ao cantar a canção “The Death of Queen Jane”, cuja
letra fala da morte de uma mulher durante o parto. Ou seja, sem nenhuma chance
de conseguir sucesso junto ao público e nem de vendagem. Apesar do tom
melancólico da história e do seu personagem principal, há ótimos e divertidos diálogos.
O filme teve duas indicações para o Oscar 2014: de melhor fotografia e mixagem
de som. Não ganhou nem um nem outro. Talvez tenha sido injusta a não indicação
do ator guatemalteco Oscar Isaac, ótimo no papel de Davis.
Anunciado
como comédia, o filme francês “Pai por Acaso” (“Monsier Papa”), de 2012, é mais
sentimental do que cômico. Filho de mãe solteira, o garoto Marius (Gaspard
Meier-Chaurand), de 12 anos, sente falta de um pai. Sua mãe, Marie Vallois (Michèle
Laroque), é presidente de uma empreiteira da construção civil e não tem muito
tempo para dedicar ao filho. Ela sempre diz a Marius que seu pai está viajando
pelo mundo e que no momento está na Amazônia. Revoltado, Marius começa a dar trabalho na escola e a cometer pequenos
delitos, até ser detido num shopping center. Sem saber o que fazer, Marie tem a
ideia de arranjar um pai “postiço” e consegue convencer Robert Pique (Kad Merad,
também diretor do filme) a interpretar esse papel. A intenção inicial é promover
apenas um único encontro entre os dois. Entretanto, Marius e Robert se dão tão
bem que será muito difícil separá-los. Marie ainda tenta, contratando Robert
para sua empresa e o enviando para comandar uma obra na África do Sul. O filme
é muito agradável de assistir, tem lá seus momentos de humor e deixa uma
mensagem muito clara para quem ainda acha que os pais biológicos jamais podem ser
substituídos. Um programa gostoso para curtir com a família.
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