sábado, 2 de maio de 2020


“UMA CRIATURA GENTIL” (“KROTKAYA”), 2017, uma inusitada coprodução França/Ucrânia/Alemanha/Lituânia/ Rússia/Holanda, 2h40m, roteiro e direção de Sergey Loznitsa (cineasta ucraniano mais conhecido como realizador de documentários). Inspirado num conto do escritor russo Fiódor Dostoiévski, datado de 1876, Loznitsa construiu uma história triste e melancólica adaptada aos tempos atuais, envolvendo uma mulher simples (a atriz russa Vasilina Makovtseva), cujo marido está preso acusado de assassinato. Um dia ela vai à agência do correio de seu vilarejo e recebe um pacote com o selo “retorno ao remetente”. Trata-se da última encomenda que ela enviou ao marido na prisão. Preocupada com a situação, a mulher (seu personagem não tem nome) deixa sua casinha e começa um verdadeiro road movie pelo interior da Rússia, de trem e de ônibus, percorrendo diversas aldeias e vilarejos onde a pobreza está bem à vista, até chegar ao presídio. Durante esse périplo, ela conviverá com prostitutas e bêbados, ou seja, gente da pior qualidade. Também encontrará pessoas que ainda idolatram Stalin e conhecerá a fundo a terrível burocracia das instituições públicas russas. Quando pede ajuda, é repelida como se fosse uma prostituta, ainda mais por ser mulher de um presidiário. Do começo ao fim dessa angustiante jornada, a atriz russa Vasilina Makovtseva conserva a mesma expressão de tristeza e infelicidade, limitando-se a falar o menos possível e sempre com um semblante fixo que exala dor e sofrimento. Belo trabalho dramático da atriz. O filme estreou durante o 70º Festival de Cinema de Cannes (2017), onde concorreu à Palma de Ouro, foi muito elogiado e rotulado como uma crítica contundente ao presidente Putin. Aqui no Brasil, foi visto na programação oficial do Festival Internacional de Cinema do Rio, em dezembro de 2019. “Uma Criatura Gentil” passa longe de ser um entretenimento agradável de se ver, mas não deixa de ser um filme de grande impacto político e social.  

sexta-feira, 1 de maio de 2020


“CLOSE”, 2019, Inglaterra, 1h34, produção Netflix (estreou dia 18 de janeiro de 2019), roteiro e direção da cineasta inglesa Vicky Jewson. Trata-se de um filme de ação centrado na agente especial Sam Carlson (Noomi Rapace), especialista em segurança e contra-terrorismo, que trabalha para uma agência internacional particular. Na história, Carlson é contratada para trabalhar como guarda-costas da jovem Zoe Tanner (Sophie Nélisse), herdeira de uma das maiores mineradoras do mundo localizada no Marrocos. Quando seu pai e dono da empresa morre, deixa no testamento todas as ações da mineradora para Zoe, o que deixa furiosa a sua madrasta Rima Hassine (Indira Varma). Para tratar de negócios da agora sua empresa, Zoe é obrigada a ir para o Marrocos acompanhada de Carlson. Mas a viagem não começa bem, pois tem muita gente planejando sequestrar a nova milionária em troca de um resgate. Aí é que entra em ação a experiência da sua guarda-costas, que é boa de briga, sabe atirar, bater e se defender. Só para ilustrar, a cineasta Vicky Jewson disse que, para escrever o roteiro, foi inspirada em Jacquie Davis, uma experiente guarda-costas inglesa, conhecida por ter trabalhado para celebridades como Diana Ross, Cate Blanchett, Nicole Kidman e J.K. Rowling, além de prestar segurança a membros da família real britânica. A atriz sueca Noomi Rapace, a Lisbeth Salander da série Millenium (“Os Homens que não Gostavam de Mulheres” etc.) é o grande destaque do elenco - é boa de briga e atua com desenvoltura nas cenas de ação. “A Menina que Roubava Livros” – a atriz canadense Sophie Nélisse – cresceu e virou um mulherão. Resumo da ópera: “Close” tem boas cenas de ação e prende a atenção até o final, garantindo um bom entretenimento.  

terça-feira, 28 de abril de 2020



“BORDER” (“GRÄNS”), 2018, Suécia, 1h50m, direção de Ali Abbasi, cineasta radicado em Estocolmo desde 2002. Ali também assina o roteiro, com a colaboração de John Ajvide Lindquist e Isabella Eklöf. O filme é bastante perturbador, provocador, difícil de digerir, um terror psicológico que utiliza dois personagens bastante grotescos. O filme é “Uma fábula nórdica contemporânea sobre o ser humano”, como bem definiu a crítica Vanessa Parenari em seu comentário. A história é centrada em Tina (Eva Melander), uma mulher de 30 anos que trabalha como policial da alfândega de um aeroporto e às vezes no porto. Ela tem o rosto completamente deformado, uma criatura que inspira medo e, ao mesmo tempo, pena. Mas como profissional da área é muito respeitada pelos colegas e superiores. Depois de ser atingida por um raio na infância, Tina desenvolveu uma espécie de sexto sentido para identificar indivíduos suspeitos, utilizando sempre o seu olfato aguçado para detectar bagagens e objetos de origem ilícita. Sua vida começa a mudar quando ela intercepta Vore (o ator finlandês Eero Milonoff), um sujeito tão grotesco quanto ela. Tina desconfia de Vore, mas não sabe identificar o que há de errado. Os dois acabam se cruzando novamente e iniciam uma forte amizade. Vore é realmente muito estranho: come minhocas, larvas e insetos vivos. Além disso, costuma uivar à noite. Vore diz a Tina que ambos são trolls, ou seja, criaturas não humanas criadas pelo folclore escandinavo. “Border” concorreu ao Oscar 2019 na categoria Melhor Maquiagem. Não ganhou, mas realmente foi um trabalho espetacular. Mais ainda depois que a gente conhece os atores que viveram os personagens, ambos normais – a sensacional atriz sueca Eva Melander até que é bonita. O filme estreou no Festival de Cinema de Cannes 2018, onde foi o vencedor da Mostra “Um Certain Regard” (“Um Certo Olhar”). Ao mesmo tempo, ganhou do público e da crítica o título de filme mais bizarro e esquisito do ano. Recomendo somente para um público muito especial, ávido de novidades cinematográficas.    


“SERGIO”, 2019, Estados Unidos, produção Netflix, 1h58, direção de Greg Baker. Esta é a biografia romanceada do carioca Sérgio Vieira de Mello, que se destacou como alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, realizando missões em vários países em conflito. Seu trabalho ganhou maior evidência nos anos 90 e no início dos anos 2000. Sua missão mais importante e bem sucedida foi quando esteve no Timor Leste, país sob o domínio da Indonésia. Ele negociou tanto com o líder dos rebeldes Xamana Gusmão como com Abdurrahman Washid, presidente da Indonésia. Sérgio convenceu Washid a não só permitir a independência do Timor Leste como também pedir desculpas ao povo timorense pela truculência do regime que resultou em milhares de mortos. Pouco depois, Sérgio seria enviado para Bagdá, no Iraque, para assumir a sede da ONU no Hotel Canal. Aqui, ele cometeria um erro fatal: dispensou a segurança das tropas do exército dos EUA, o que lhe custaria a vida e a de outras dezenas de pessoas num violento atentado à bomba em 2003. Para contar toda essa história, o diretor Greg Baker contou com o roteiro escrito por Graig Borten, que se inspirou na biografia de Sérgio Vieira de Mello intitulada “O Homem que Queria Salvar o Mundo”, da historiadora Samantha Power. Lembro ainda que o diretor Greg Baker já havia realizado, em 2009, o documentário “Sergio”, sobre o mesmo personagem. O elenco do filme tem Wagner Moura no papel principal, a atriz cubana Anna de Armas como Carolina Larriera, a segunda mulher de Sérgio, além de Bradley Whitford, Brian F. O’Byrne e Clarisse Abujamra. Trata-se de um filme obrigatório para quem conhecer um pouco da vida desse brasileiro ilustre, humanista ao extremo, que dedicou sua vida profissional a construir a paz pelo mundo afora.  

segunda-feira, 27 de abril de 2020



“DRY MARTINA”, 2019, coprodução Chile/Argentina à disposição na plataforma Netflix, 1h35m, roteiro e direção do cineasta chileno Che Sandoval. Trata-se de um misto de romance, comédia e drama, com muito erotismo e sexo. A história é centrada em Martina (Antonella Costa), uma cantora romântica com repertório brega que teve o seu auge da fama na Argentina nos anos 90. Depois disso, em franca decadência, continuou cantando em botecos à noite, na maioria das vezes não sendo reconhecida pelo público.  Ao seu declínio artístico junta-se a carência afetiva e, principalmente, a falta de sexo. Nunca mais foi a mesma depois do último namorado, atravessando um período literal de seca, com falta de sexo e sem o prazer de antes. Daí o título “Dry Martina”. Mas a situação mudaria quando ela conhece a espevitada Francisca (Geraldine Neary), que chegou do Chile dizendo-se sua maior fã e, pior, sua irmã de sangue. Ao mesmo tempo em que se surpreende com a grande novidade, Martina fica conhecendo o namorado bonito de Francisca, o jovem César (Pedro Campos). É aí que ela volta a pegar fogo, leva o rapaz para a cama e, finalmente, volta a sentir prazer. Paixão carnal à primeira noitada. Quando César e Francisca voltam a Santiago, Martina fica desesperada e parte para a capital chilena com a desculpa de rever a irmã e quem sabe conhecer seu pai biológico, Nacho (Patricio Contreras), mas na verdade ela queria se jogar na cama com César. E dá-lhe sexo – cenas de forte erotismo, mas nada explícito. Como verdadeira “ninfómana”, como se diz em espanhol, a fogosa Martina parte para o ataque em várias frentes. A atriz Antonella Costa, italiana de nascimento e radicada desde os 4 anos de idade na Argentina, cumpre muito à vontade esse papel de “sedienta de amor”. Ela não é muito bonita, mas bastante sensual. Não há muito o que se destacar em “Dry Martina”, com exceção de um excelente trabalho de fotografia – repare na cena inicial, quando Martina canta de vestido prateado. Enfim, um filme fácil de digerir, sem muitos atrativos, mas alerto: tire as crianças da sala.  

domingo, 26 de abril de 2020


“RESGATE” (“EXTRACTION”), EUA, produção da Netflix que estreou mundialmente no dia 24 de abril de 2020, 1h57m, primeiro longa-metragem de Sam Hargrave, mais conhecido como ator, diretor de curtas e roteirista. O roteiro leva a assinatura de Joe Russo, que se inspirou na graphic novel “Ciudad”, também de sua autoria. O ex-soldado das forças especiais Tyler Rake (Chris Hemsworth, ator australiano de “Thor”) trabalha para uma organização de mercenários que viajam por vários países para missões que incluem resgate de reféns, assassinatos e outras atividades secretas, ganhando muito dinheiro para isso. No caso de “Resgate”, Rake recebe a perigosa missão de resgatar o garoto indiano Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), filho de um grande traficante de drogas de Mumbai (antiga Bombaim), que cumpre pena num presídio de segurança máxima. Seus sequestradores pertencem a uma outra organização criminosa comandada pelo violento e sádico Amir Asif (Priyanchu Painyuli), com sede em Dhaka, capital do Bangladesh, para onde o garoto é levado. A missão de Tyler Rake não será nada fácil, visto que Asif praticamente manda na cidade de Dhaka, inclusive na própria polícia local. Daí para a frente, dá-lhe tiros, pancadarias, perseguições e muito sangue jorrando. Prepare-se, pois é ação do começo ao fim, transformando “Resgate” num ótimo entretenimento. Destaco no elenco a presença da bela e competente atriz iraniana Golshifteh Farahani no papel da chefe dos mercenários. Logo que estreou, o filme já ganhou uma polêmica, ou seja, a reclamação do escritor brasileiro Paulo Coelho por não ter ganho o crédito como autor de uma frase tirada de um de seus livros, “Diário de um Mago”, e citada durante um dos diálogos. A frase é a seguinte: “Você não se afoga caindo em um rio, mas ficando submerso nele”. Resumo da ópera: “Resgate” é um tiro certo para quem gosta de filmes de ação. Sai da frente que vem chumbo grosso!