quarta-feira, 18 de dezembro de 2019


“EL REINO”, 2018, Espanha, 2h12m, roteiro e direção de Rodrigo Sorogoyen (“Que Dios nos Perdone”). Um filme poderoso e impactante, onde os bastidores sujos da política – corrupção, traições, negociatas etc. – são expostos de forma crua e impiedosa. A história é inspirada num dos mais famosos esquemas de corrupção da Espanha, o “Caso Gürtel”, descoberto em novembro de 2007 e que levou gente graúda do Partido Popular (PP) para a cadeia. No filme, o personagem principal é Manuel López-Vidal (Antonio de la Torre, ótimo), vice-secretário de um governo regional que está sendo cotado para ser candidato de seu partido a um alto cargo no governo espanhol. A turma partidária de Manuel inclui políticos importantes (é nesse grupo que se baseou o título original do filme). São os chamados “caciques” do partido. Eles se reúnem constantemente em restaurantes e hotéis luxuosos e até no iate de um deles, além de festinhas tipo Sérgio Cabral e quadrilha em Paris. O objetivo dessas reuniões é o de sempre: festejar alguma maracutaia bem-sucedida, derrubar algum inimigo (ou até um amigo) político e planejar o próximo golpe. Enfim, gente da pior qualidade e sempre com a pior das intenções (lembram políticos de algum país que você conhece?). Até que um dia Paco (Nacho Fresnada), um dos políticos da turma de Manuel, acaba denunciado e preso acusado de conceder contratos públicos a empresas em troca de dinheiro. As acusações recaem também sobre Manuel, que, ao ver sua carreira política praticamente arruinada, decide que não vai “cair” sozinho. O elenco conta ainda com Bárbara Lennie (excelente), Josep Maria Pou, Mónica López, Luis Zahera e Ana Wagener. “El Reino” foi o grande vencedor do 33º Prêmio Goya de Cinema (o Oscar espanhol), recebendo nada menos do que 13 indicações. Ganhou em sete categorias, entre as quais Melhor Diretor, Melhor Ator (Antonio de La Torre) e Melhor Roteiro Original. Também arrancou elogios entusiasmados quando foi exibido no 66º Festival de San Sebastian e ainda na Seção “Contemporany World Cinema” do Toronto International Film Festival/2018. Sem dúvida, um grande filme. Imperdível!       

terça-feira, 17 de dezembro de 2019


PÂNICO NAS ALTURAS (“OTRYV”), 2019, Rússia, 1h25m, direção de Tigran Sakakyan, que também é autor do roteiro com a colaboração de Denis Kosyakov e Alexandr Nazarov. É o primeiro longa-metragem do cineasta russo Tigran. Uma boa estreia, aliás, pois realizou um suspense de tirar o fôlego. Na noite de Ano Novo, cinco amigos resolver alugar um teleférico para subir numa montanha dos Montes Urais e de lá descer até a base de snowboarding. Programa de maluco, enfrentar um frio de muitos graus abaixo de zero (a cordilheira é uma das mais frias do mundo), tempestades etc. No meio do caminho, quando estão bem lá no alto, lá embaixo, na sala de controle, o maquinista sofre um grave acidente, provocando a parada do equipamento. Ou seja, o teleférico ficou ao sabor do vento, deixando os amigos apavorados. O filme relata o sofrimento desse pessoal até o desfecho. A gente acompanha tudo na maior aflição, num alto nível de tensão e suspense, pois a cada minuto acontece algo para piorar ainda mais a situação. A gente fica com a impressão de que apenas nós, os espectadores, sobreviveremos. No elenco – para mim, de ilustres desconhecidos - estão Irina Antonenko (uma atriz russa lindíssima), Anastasiya Grachyova, Vladimir Gusev, Denis Kostakov (também um dos roteiristas) e Andrey Nazimov. Um bom programa para quem gosta de sofrer curtindo o sofrimento dos outros.           

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019


“O MISTÉRIO DE HENRI PICK” (“LE MISTÈRE HENRI PICK”), 2018, França, 1h40m, roteiro e direção de Rémi Bezançon, com a colaboração de Vanessa Portal. O filme foi uma das atrações da programação oficial do Festival Varilux de Cinema Francês realizado aqui no Brasil em junho de 2019. Daphne Despero (Alice Izaaz), jovem funcionária de uma famosa editora de Paris, tira uns dias de férias para visitar seu pai em Crozon, um pequeno vilarejo na Bretanha. Numa visita a uma livraria do lugar, ela acaba conhecendo uma seção inusitada, dedicada a manuscritos rejeitados, ou seja, que não foram aceitos pelas editoras e, portanto, jamais publicados. Ao verificar alguns exemplares, Daphne encontra um com o título que chamou sua atenção: “As Últimas Horas de uma História de Amor”, escrito por um tal de Henri Pick. Pesquisando quem seria o desconhecido escritor, ela descobre que era um antigo pizzaiolo de um restaurante local, falecido há dois anos. Ela encontra a viúva de Pick, Madeleine (Josiane Stoléru), e sua filha, Joséphine (Camille Cottin), que desconheciam a existência do tal manuscrito e muito menos que Pick tinha como hobby a escrita. Com a autorização de Madeleine e de Joséphine, o livro é publicado pela editora de Daphne e vira um best-seller imediato em toda a França. A história de como o livro foi descoberto vira um fenômeno de mídia e Daphne, Madeleine e Joséphine são convidadas para participar do programa televisivo de grande audiência comandado por um renomado crítico literário, Jean-Michel Rouche (Fabrice Luchini). Durante a entrevista, ao vivo, Rouche afirma que o livro é uma fraude, que um simples pizzaiolo jamais escreveria um romance tão bom. A atitude de Rouche acaba tumultuando o ambiente, e suas convidadas, sentindo-se caluniadas, saem furiosas do programa. Resultado: Rouche perde o emprego e, pior, acaba abandonado pela esposa, que adorou o livro. A partir daí, o caso vira ponto de honra para Rouche. Ele vai tentar provar de qualquer jeito que Henri Pick jamais escreveu o livro. O filme é muito simpático e divertido, principalmente depois que Rouche inicia sua investigação. Destaque para a participação especial da atriz alemã Hanna Schygulla, que um dia foi minha musa mas que agora, aos 75 anos, está irreconhecível. Fabrice Luchini é um dos mais competentes atores franceses e sua atuação valoriza ainda mais essa deliciosa produção que tem como pano de fundo a Literatura e o trabalho das editoras. Imperdível!           

domingo, 15 de dezembro de 2019


“ALÉM DA ILUSÃO” (PLANETARIUM”), 2016, França, 1h46m, roteiro e direção da cineasta francesa Rebecca Zlotowski (“Grand Central”). A história é toda centrada nas irmãs Laura (Natalie Portman) e Kate Barrow (Lily-Rose Depp), jovens norte-americanas que nos anos 30 partiram para a Europa com o objetivo de ganhar dinheiro com apresentações de mediunidade, que lotavam teatros nas principais capitais europeias. Kate era quem invocava os espíritos, enquanto Laura trabalhava como empresária da dupla e mestre de cerimônias. Em Paris, elas são contratadas para uma apresentação particular ao produtor de cinema André Korben (Emmanuel Salinger), judeu polonês, que quer se comunicar com um amigo que faleceu anos antes. Korben torna-se amigo das irmãs e resolve agenciá-las para produções cinematográficas. Mas é Laura quem faz sucesso, tornando-se uma atriz de relativo sucesso. O grande destaque do filme é a primorosa direção de arte, envolvendo a recriação de época, cenários e figurinos. Um trabalho deslumbrante. Confesso que não lembro de ter visto Natalie Portman tão bonita como neste filme. Trata-se da segunda incursão da atriz, nascida em Israel, no cinema francês. A primeira foi justamente em sua estreia, em 1994, aos 13 anos de idade, no filme “O Profissional”, contracenando com Jean Reno e Gary Oldman, dirigida por Luc Besson. Hoje, aos 38 anos, figura como uma das melhores e mais bonitas atrizes da atualidade. Possui até um Oscar de Melhor Atriz em 2010 por sua atuação em “Cisne Negro”. Natalie já tem um filme como diretora, “De Amor e Trevas”, além de um segmento de “Nova Iorque, Eu te Amo”. Destaco também no elenco a jovem atriz Lily-Rose Depp, filha do ator Johnny Depp e da atriz e cantora Vanessa Paradis, além das presenças de Amira Casar e Louis  Garrel, este último numa participação especial. Resumo da ópera: “Além da Ilusão” é cinema de muita qualidade, um excelente programa para os amantes da Sétima Arte.