domingo, 30 de dezembro de 2018


“OS ESCRITOS SECRETOS” (“THE SECRET SCRIPTURE”), 2016, Irlanda, 1h48m. A história é inspirada no livro homônimo escrito pelo poeta, dramaturgo e escritor irlandês Sebastian Barry, adaptado e dirigido pelo veterano Jim Sheridan (“Meu Pé Esquerdo”, “Em Nome do Pai”). Uma clínica psiquiátrica está prestes a ser desativada e os seus pacientes transferidos para outras unidades ou então liberados para voltar para casa. O psiquiatra William Grene (Eric Bana) ficou encarregado de avaliar as condições mentais da idosa Roseanne McNuttry, que há 50 anos vive na clínica, acusada de ter assassinado seu bebê. Em meio à sua investigação, dr. Grene encontra um diário secreto escrito por Roseanne, no qual ela conta a história da sua vida, sua paixão pelo aviador Michael Eneas (Jack Reynor) e a perseguição que sofreu por parte do padre católico Gaunt (Theo James). O médico também descobrirá a verdade sobre o suposto assassinato do bebê, revelação que é feita no desfecho. Quando moça, Roseanne é interpretada pela ótima atriz norte-americana Rooney Mara. Como não poderia deixar de ser, quem rouba a cena é a veterana Vanessa Redgrave com uma atuação magistral, o que por si só já é motivo suficiente para assistir a este bom drama irlandês.

sábado, 29 de dezembro de 2018


“EM BUSCA DE FELLINI” (“In Search of Fellini”), coprodução EUA/Itália, 2017, longa-metragem de estreia do diretor sul-africano de curtas Taron Lexton, seguindo o roteiro escrito por Nancy Cartwright e Peter Kjenaas. Trata-se de uma bela homenagem ao grande diretor italiano Federico Fellini (1920-1993). Ambientada no início dos anos 90, pouco antes da morte de Fellini, a história - baseada em fatos reais - é centrada em Lucy (Ksenia Solo), uma garota de 20 anos residente numa cidade de Ohio (EUA). Ela é muito tímida e superprotegida pela mãe Claire (Maria Bello), tem dificuldade de encarar a realidade da vida e, por isso, passa os dias assistindo a filmes antigos e vivendo num verdadeiro mundo de sonhos. Numa mostra dedicada ao cineasta italiano, Lucy fica encantada com o estilo onírico de Fellini, passando a alugar todos os seus filmes. Uma paixão fulminante, a tal ponto de ir para a Itália tentar um encontro com o diretor. Enquanto aguarda uma resposta, Lucy visita alguns cenários dos filmes mais famosos de Fellini e, em algumas cenas fantasiosas, contracena com alguns dos principais personagens – estilizados, é claro - de “A Doce Vida”, “A Estrada da Vida”, “Satyricon” e “8 ½”. Senti falta de menções a “Amarcord”, meu filme preferido de Fellini. “Em Busca de Fellini” ganhou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz (Ksenia) no Festival de Ferrara (Itália). Resumo da ópera: o filme é muito bom, principalmente para ser curtido pelos fãs do grande diretor italiano, como eu, e uma grande oportunidade para que as novas gerações conheçam um pouco da arte desse gênio do cinema.  

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018


“ALI & NINO”, lançado no Festival de Sundance (EUA) em janeiro de 2016, é uma coprodução Inglaterra/Azerbaijão, com direção de Asif Kapadia e roteiro de Christopher Hampton, que se inspirou no livro do mesmo nome escrito por Kurban Said em 1937. O pano de fundo da história é a guerra da independência do Azerbaijão, ao fim da Primeira Guerra Mundial, e que voltaria a ser dominado pelos russos a partir de 1920 (o Azerbaijão era rico em petróleo – não sei se ainda é). Na verdade, o tema central é o romance entre a princesa cristã ortodoxa Nino (Maria Valverde) e o príncipe muçulmano Ali (Adam Bakri). Romance que não teve o apoio das famílias, que eram contra a união por questões religiosas. O filme acompanha a tumultuada relação entre Ali e Nino, que um dia resolvem enfrentar os desafios das diferenças e se casar. Ao mesmo tempo, a história destaca a brava e corajosa defesa do povo do Azarbaijão contra os poderosos russos, que dominariam o pequeno país até 1991, quando enfim conquistam a sua independência. A equipe técnica e o elenco do filme formam uma verdadeira ONU: o diretor Asif é indiano naturalizado britânico; Maria Valverde é espanhola; Adam Bakri é palestino; Connie Nielsen (a duquesa Kipiani) é dinamarquesa, e por aí afora, além de ser falado em inglês, azerbaijano e russo. O filme é bastante interessante pela questão histórica, envolvendo um país pouco conhecido por nós. Há que se destacar também a caprichada produção, envolvendo um verdadeiro exército de figurantes. Os cenários são magníficos, com locações no próprio Azerbaijão, Turquia, Geórgia e Rússia. Só para fechar o leque de informações: o diretor Asif Kapadia é o mesmo dos documentários “Senna”, sobre o nosso grande piloto, e “Maradona”, o polêmico jogador argentino.  

terça-feira, 25 de dezembro de 2018


“UM DIA A MAIS PARA VIVER” (“Bereave”), 1h40m, EUA, roteiro e direção dos irmãos Evangelos e George Giovanis. O filme foi produzido em 2015 e lançado somente em 2018, mas não chegou por aqui. A história: o casal Garvey (Malcolm McDowell) e Evelyn (Jane Seymour) está entrando na terceira idade em plena crise conjugal. Casados há mais de 40 anos, eles vivem uma crise conjugal principalmente por conta dos sintomas de depressão e demência senil que afetam a sanidade de Garvey, que passa a tratar mal a companheira. Em meio às complicações do casamento, e para complicar ainda mais a situação e tumultuar o ambiente, aparece o irmão dele, Victor (Keith Carradine) e a filha Penelope (Vinessa Shaw), ambos tentando amenizar o conflito entre Garvey e Evelyn. Engana-se quem pensa que, por esta pequena sinopse, trata-se de um drama. Pelo contrário, é uma comédia das mais saborosas, valorizada pela atuação dos dois veteranos Malcolm McDoweel e Jane Seymour, ambos em grande forma. Mas quem se destaca mesmo é Seymour, ainda ótima atriz, linda e charmosa, mesmo aos 67 anos. Méritos aos irmãos Giovanis, que souberam conciliar drama e comédia com grande competência, tornando esse filme bastante agradável de assistir.  

domingo, 23 de dezembro de 2018


Sempre que você encontrar o ator francês Vincent Lindon nos créditos, pode crer: o filme é bom. Já assisti a quase todos em que ele atua e nunca me decepcionei (veja a lista que recomendo no fim do comentário). Não poderia ser diferente no recente drama “A APARIÇÃO” (L’APPARITION”), 2018, França, 2h24m, roteiro e direção de Xavier Giannoli (“Marguerite”). Lindon interpreta o jornalista Jacques Mayano, conhecido por fazer coberturas de guerras para uma famosa revista francesa. Graças à sua fama de jornalista também investigativo, Mayano é convidado pelo Vaticano a fazer parte de uma comissão canônica encarregada de investigar a veracidade da afirmação da jovem Anna (Galatea Bellugi), no interior da França, que diz ter presenciado a aparição da Virgem Maria. Além de Mayano, integram a comissão três padres – um deles exorcista – e uma médica psiquiatra. O vilarejo onde ocorreu o fenômeno logo se transformou num local de peregrinação de milhares de crentes ávidos por conhecer e tocar a menina e, quem sabe, presenciar um milagre. É claro que o padre local (Patrick D’Assunção) não gostou da chegada da tal comissão do Vaticano, já que o resultado da investigação poderá desmentir a aparição e espantar os peregrinos do vilarejo (claro, comércio acima de tudo). Do começo ao fim, o filme trata do mistério da fé e por que é tão difícil apurar a veracidade de uma aparição. Nesse contexto, o filme despeja inúmeras dúvidas para o espectador e o convida a participar do veredito, como se ele mesmo fizesse parte da comissão canônica. O filme é excelente e Vincent Lindon mais uma vez mostra sua competência como ator. Como prometi no início, aí vai uma lista com os melhores filmes de Lindon: “Uma Primavera com Minha Mãe”, ”Os Cavaleiros Brancos”, “Tudo por Ela”, “O Diário de uma Camareira” e “Mea Culpa”.      

sábado, 22 de dezembro de 2018


“INFILTRADO NA KLAN” (“BLACKkKLANSMAN”), 2018, EUA, 2h16m, direção de Spike Lee, que também é autor do roteiro juntamente com Charlie Washtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott. Baseado em fatos reais, o filme é centrado no policial negro Ron Stallworth, da polícia do Colorado, que em 1978 conseguiu se infiltrar na organização clandestina e racista Ku Klux Klan. Na época, além dos negros, a Klan também praticava atentados violentos contra judeus e imigrantes. Ao mesmo tempo em que faz uma crítica contundente à elite branca racista norte-americana, incluindo, é claro, Donald Trump, Spike Lee trata do assunto com bom humor, principalmente ancorado na ótima atuação dos atores John David Washington (Ron) e Adam Driver (Flip Zimmerman). A ambientação de época é mais um dos destaques desse ótimo filme de Spike Lee, com claras chances de algumas indicações ao próximo Oscar. A saborosa trilha sonora, com alguns sucessos da Black Music dos anos 70, também contribui para tornar o filme um entretenimento dos mais agradáveis. Numa das cenas mais comoventes do filme, o grande ator e cantor Harry Belafonte aparece ainda em grande forma aos 91 anos, relembrando o assassinato de um negro em 1917. No desfecho, Spike Lee reproduziu imagens reais do conflito ocorrido em Charlottesville em 2017, quando neonazistas ocuparam as ruas para defender, na base da porrada, a supremacia da raça branca. Ou seja, antes era o pessoal da Ku Klux Klan e, agora, os neonazistas. A discriminação racial continua leve e solta na terra do Tio Sam, tema que Spike Lee adora explorar. E com muita competência. O filme estreou no 71º Festival de Cannes, em maio de 2018, recebendo muitos elogios tanto do público como da crítica especializada. Filmaço, imperdível!.    

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

"LÍDA BAAROVÁ", 2016, coprodução Eslováquia/República Tcheca, 1h46, direção de Filip Renc. O drama biográfico conta uma história pouco conhecida por nós, a da atriz tcheca Lída Baarová (1914-2000), famosa nos anos 30 não apenas por atuar em filmes de sucesso, mas também por ter sido amante do figurão nazista Joseph Goebbels, Ministro das Comunicações de Hitler e um dos idealizadores do Holocausto.  Lída Baarová (na verdade o nome artístico de Ludmila Babková) saiu de Praga (Tchecoslováquia) ainda jovem para tentar a sorte no cinema alemão, mais especificamente nos estúdios de Babelsberg (Berlim), então considerada a Hollywood europeia. Lída (Tatiana Pauhofová) não demorou a conquistar fama principalmente depois de contracenar filmes românticos com o maior galã alemão da época, Gustav Fröhich (Gedeon Burkahard), com o qual casaria logo depois. A beleza da atriz tcheca impressionou Goebbels, que passou a assediá-la de forma acintosa, mesmo depois dela ter-se casado com Gustav. O poder e a inteligência de Goebbels acabaram por fascinar a jovem atriz tcheca, independente do nazista ser casado e ter vários filhos. O caso virou um escândalo nos jornais e Hitler foi obrigado a intervir, pelo bem do nazismo e da família alemã. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Lída foi considerada traidora, acabou presa e condenada à morte, o que não aconteceu graças à interferência do seu pai, amigo de um líder comunista. Lída continuaria a atuar em filmes na Espanha e na Itália, dedicando-se posteriormente ao teatro. Resumo da ópera: o filme “Lída Baarová” é excelente, apresenta atuações soberbas da atriz tcheca Tatiana Pauhofová e do ator austríaco Karl Markovics como Goebbels, além do excelente roteiro e da primorosa ambientação de época – cenários e figurinos. Eu concluo dizendo que é uma verdadeira obra-prima do cinema europeu, à disposição na programação da Netflix. Não deixe de assistir!      

domingo, 16 de dezembro de 2018


“A BALADA DE ADAM HENRY” (“THE CHILDREN ACT”), 2017, Inglaterra, 1h46, direção de Richard Eyre, com roteiro assinado por Ian McEwan, autor do livro “The Children Act”, lançado em 2014. O drama inglês é centrado na Juíza da Alta Corte Fiona Maye (Emma Thompson), responsável pelos julgamentos de casos do Direito Familiar. Em meio à crise conjugal que vive com o marido Jack (Stanley Tucci), Fiona é obrigada a julgar casos difíceis e polêmicos, o que a coloca sempre em evidência na mídia. Ainda mais depois de iniciar o julgamento de um processo que envolve o jovem Adam Henry (Fionn Whitehead, de “Dunkirk”), que tem leucemia e vive um dilema: precisa de uma transfusão de sangue para sobreviver, mas como é adepto das Testemunhas de Jeová, recusa-se a fazer o procedimento, apoiado pelos pais. Numa atitude sem precedentes no meio judiciário, a juíza se propõe a ouvir o desejo do rapaz pessoalmente no hospital onde está internado. Essa visita terá consequências em relação ao futuro de Adam e resultará também numa mudança na própria vida da juíza. O filme é muito bom, valorizado ainda mais pela atuação magistral de Emma Thompson, que comprova mais uma vez ser uma das melhores atrizes da atualidade. O jovem ator Fionn Whitehead também mostra muita competência. Imperdível!   


“SANGUE FRANCÊS” (“UN FRANÇAIS”), 2016, França, 1h38, segundo longa-metragem escrito e dirigido por Diastème (nome artístico de Patrick Asté). A história, baseada em fatos reais, começa em 1992, quando um grupo de neonazistas e skinheads passa as noites em Paris agredindo árabes, negros, comunistas e homossexuais. A violência das cenas é bastante realista. Marco (Alban Lenoir, excelente ator) é um desses neonazistas no qual toda a história é centrada. Marco e os amigos defendem os ideais do partido de extrema-direita Front National, cuja principal bandeira é o ódio aos imigrantes, negros e outras minorias. O nacionalismo exacerbado e radical é mostrado não apenas nas reuniões dos neonazistas, como nos encontros sociais de uma parte da elite francesa, onde se canta a “La Marseillaise” após terem assistido a vídeos do político ultradireitista Jean-Marie Le Pen discursando em público. O fanatismo desse pessoal é tão forte que durante a final do mundo de 1998, em que a França derrotou o Brasil, alguns se negaram a comemorar simplesmente porque um árabe (Zidane) fez dois gols. O filme acompanha a trajetória de Marco como um jovem que, com o passar do tempo, amadurece e tenta seguir sua vida adiante sem a estigma de ter sido um neonazista fichado na polícia. O filme é excelente. Pena que não chegou a ser exibido por aqui no circuito comercial. Teve apenas uma exibição durante o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro em 2015. Obrigatório para quem curte cinema de qualidade.  

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018


“POLINA” (“POLINA, DANSER AS VIE”), 2016, França, é um drama centrado numa bailarina clássica russa de muito talento – papel da dançarina Anastasia Shevtsova em sua estreia no cinema. Aos 18 anos, Polina consegue ingressar no famoso Balé Bolshoi e, prestes a fazer a sua apresentação oficial, fica encantada com um espetáculo de dança contemporânea. Para desespero dos pais, ela acaba desistindo do Bolshoi e vai com o namorado francês Adrien (Niels Schneider) para a França, onde inicia seu treinamento na escola da famosa coreógrafa e professora de dança contemporânea Liria Elsaj (Juliette Binoche). A partir dessa mudança, a vida de Polina vira uma verdadeira montanha russa, de altos e baixos - mais baixos do que altos. Sem dinheiro, ela acaba aceitando um trabalho como garçonete de uma discoteca em Bruxelas (Bélgica). E por aí vai o drama dessa jovem que tinha um futuro garantido no Balé Bolshoi, mas que resolveu arriscar seu futuro em outra modalidade de dança. O filme foi escrito e dirigido por Valérie Müller, com a colaboração do coreógrafo Angelin Preljocaj. No começo, pensei que fosse uma história baseada em fatos reais. Que nada! O roteiro de “Polina” foi inspirado na graphic novel (quadrinhos) do francês Bastien Vivès. O filme estreou no Festival de Veneza 2016 e foi muito elogiado pelo público e pela crítica especializada. Realmente, o filme é muito bom, apesar das inúmeras cenas de ensaios de coreografias de dança contemporânea.    

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018


“BEL CANTO”, 2018, EUA, roteiro e direção de Paul Weitz. Inspirado em fatos reais ocorridos no Peru em 1996, trata-se de uma adaptação cinematográfica da histórica tomada da embaixada japonesa em Lima por guerrilheiros do Movimento Revolucionário Túpac Maru, que durante quatro meses mantiveram centenas de reféns, entre as quais embaixadores de vários países – inclusive o do Brasil -, autoridades governamentais, empresários e figuras da alta sociedade peruana. Para escrever o roteiro de “Bel Canto”, o diretor norte-americano tomou como base o livro do mesmo nome escrito por Ann Patchett. Paul Weitz acrescentou romance, cantoria e humor, exagerando na dose fantasiosa. O elenco é de primeira: Julianne Moore, o astro japonês Ken Watanabe, o ator mexicano Demian Bichir, o francês Christopher Lambert e o alemão Sebastian Kock. O filme, de segunda – ou terceira. Julianne Moore interpreta uma cantora lírica norte-americana famosa que é contratada para cantar na festa – na verdade, ela dubla a soprano Renée Flemming. Ela e o empresário Katsumi Hosokawa (Watanebe) acabam se apaixonando, um romance tão forçado quanto o do tradutor japonês com uma guerrilheira. Além do mais, os guerrilheiros são retratados como se fossem ótimas pessoas, vítimas do sistema. Tenha paciência! É de surpreender que atores tão bons tenham participado dessa produção tão medíocre, alguns deles com uma atuação das mais constrangedoras, como o francês Christopher Lambert. E olha que o diretor Paul Weitz já fez alguns filmes muito bons como “O Céu Pode Esperar”, “Um Grande Garoto”, “Entrando numa Fria maior ainda com a Família”, entre outros. Enfim, “Bel Canto” nada mais é do que um filme esquecível e descartável.      

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018


“O FILHO DE JEAN” (“Le Fils de Jean”), 2016, coprodução França/Canadá, 1h38, roteiro e direção de Philippe Lioret. Drama sensível e comovente centrado num jovem francês residente em Paris que um dia recebe a notícia de que seu pai biológico acabara de falecer em Montreal (Canadá). Ele nunca soube quem era seu pai biológico e nem que morava em outro país. Sua mãe sempre escondeu a verdade. Matthieu (Pierre Deladonchamps) resolve ir para o enterro. Chegando em Montreal, ele é recebido por Pierre Lesage (Gabriel Arcand), um médico que foi colega de seu pai biológico, Jean, também médico. Matthieu descobre que tem dois irmãos e quer conhecê-los antes do enterro. Pierre promete apresentá-los com a condição de Matthieu não dizer que é um filho bastardo. Até o enterro, Matthieu conviverá com os irmãos e com a família de Pierre, até a surpreendente revelação no desfecho. O filme é excelente, recebeu inúmeros elogios da crítica especializada e rendeu dois prêmios César (o Oscar francês), o de Melhor Ator para Pierre Deladonchamps e de Ator Coadjuvante para Gabriel Arcand. Imperdível!

domingo, 9 de dezembro de 2018


“MILADA”, 2017, República Checa/EUA (Netflix), 2h10, é um drama biográfico centrado na advogada, ativista dos direitos humanos e política Milada Horáková (1901-1950), que ficou famosa por sua coragem na luta contra a ocupação nazista na Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial e depois contra o Partido Comunista (sob o comando da Rússia) que assumiu o poder no país em 1948. O filme é dirigido por David Mrnka (seu primeiro longa-metragem), com roteiro de Roberta Gant e Robert Conant. Milada é interpretada de forma magistral pela atriz israelense Ayelet Zurer. Por participar da resistência aos nazistas, Milada foi presa e torturada pela Gestapo, sendo depois encaminhada para um campo de concentração. Ao fim da Segunda Guerra, ela foi libertada como heroína do povo tcheco. Logo em seguida, foi eleita deputada e, em 1948, com a tomada do poder pelos comunistas, ela renunciou e acabou sendo presa novamente. Um julgamento totalmente parcial julgou-a culpada pelo crime de traição à pátria, sendo condenada à morte por enforcamento. O filme é ótimo, com destaque para a primorosa recriação de época, figurinos, fotografia e, principalmente, pela atuação maravilhosa da atriz Ayelet Zurer (“Ben-Hur”, “Os Últimos Cavaleiros”). Também merece destaque a reprodução de imagens cinematográficas da época enfocada. A cereja do bolo, porém, é, sem dúvida, a história incrível de coragem de uma mulher que lutou pelo seu país e jamais cedeu em suas opiniões. Imperdível!  

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018


“SHIVÁ – UMA SEMANA E UM DIA” (“Shavua ue Yom”), 2016, Israel, 1h38, primeiro longa-metragem escrito e dirigido pelo jovem diretor Asaph Polonsky, de 35 anos, mais conhecido por curta-metragens e produções televisivas. Trata-se de uma comédia, embora o pano de fundo envolva uma família enlutada. Eyal Spivak (Shai Avivi) e sua esposa Vicky (Evgenia Dodina) acabam de sair do período de Shivá, o que na religião judaica significa uma semana de luto, quando os familiares permanecem em casa reverenciando a memória do ente falecido. No caso, o filho de Eyal e Vicky. O filme é todo ambientado no dia seguinte ao Shivá. O casal tenta retomar sua rotina habitual, sair do período de luto. Mas só Vicky consegue. Ela é professora e vai ao colégio reiniciar suas aulas, só que já colocaram uma substituta em seu lugar. Ao voltar para casa, surpreende Eyal fumando maconha com o jovem Zooler (Tomer Kapon), seu vizinho e amigo de infância do filho falecido. O diretor Asaph consegue tratar da temática do luto com extrema leveza e bom humor. Algumas cenas são realmente hilariantes, como aquela em que Eyal tenta enrolar um baseado ou outra quando Zooler “toca” uma guitarra imaginária ao som de um rock pesado. “Shivá” foi exibido pela primeira vez no Festival de Cannes 2016, conquistando o Prêmio Gan Fundation de Distribuição na 55ª Semaine de La Critique. Também foi sucesso em outros festivais, conquistando 8 prêmios e mais 14 indicações internacionais. Realmente, um filme bastante interessante por sair da mesmice habitual. Por isso, merece ser conferido por quem gosta de curtir novidades.    

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018


“A ESPOSA” (“THE WIFE”), 2017, Suécia/EUA, direção de Björn Runge e roteiro de Jane Anderson, responsável pela adaptação do romance “The Wife”, da escritora norte-americana Meg Wolitzer. A trama é sobre uma mulher que sempre viveu à sombra da fama do marido escritor e que um dia se cansa do seu papel secundário. A história é centralizada no casal Joseph Castleman (Jonathan Price) e Joan (Glenn Close). Eles estão casados há mais de 40 anos, ele um escritor famoso e ela uma esposa e mãe exemplar. Eles têm um filho, David (Max Irons), que pretende ser escritor, mas vive em conflito pessoal por não mostrar muito talento. Joseph é escolhido para receber o Prêmio Nobel de Literatura e os três vão a Estocolmo participar da solenidade de premiação. Pouco antes do evento, uma revelação surpreendente e inesperada ligada ao passado irá causar desavenças entre o casal. O elenco conta ainda com Elizabeth McGovern (uma das minhas antigas musas da tela, agora, infelizmente, bastante envelhecida), Annie Starke (Joan jovem), Harry Lloyd (Joseph jovem) e Christian Slater como um escritor de biografias sem escrúpulos. O filme é muito bom, com diálogos inteligentes e uma história bastante interessante. Os veteranos Glenn Close e Janathan Price dão um verdadeiro show de interpretação. Gleen, inclusive, é cotada para uma indicação ao Oscar/2019 de Melhor Atriz. Ela está realmente sensacional. Imperdível!   

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018


“EUFORIA” (“EUPHORIA”), 2017, Inglaterra, 1h44, escrito e dirigido por Lisa Langseth. Drama destinado a um final "chororô" cujo pano de fundo é a eutanásia. Duas irmãs se reencontram após vários anos de separação e combinam viajar juntas. Emille (Eva Green) cuida do roteiro, cujo destino é uma casa de campo para hospedar doentes terminais. Começa o filme e a gente logo percebe que Ines (Alicia Vikander) não está muito à vontade com Emille. Ou seja, não se davam muito bem. Ines não sabe o motivo pelo qual Emille escolheu aquele local para passar alguns dias, mas logo fica sabendo. Durante os dias em que ficarão juntas, as irmãs recordarão alguns episódios da infância e o relacionamento com os pais. Sobre os motivos que levaram as duas irmãs a se distanciarem, o filme deixa a resposta no ar. Como é previsível desde o início, o filme caminha para um desfecho de lágrimas. Destaque para a participação da veterana atriz Charlotte Rampling como a gerente do estabelecimento, situado num belo cenário dos Alpes Suíços. “Euforia” foi o primeiro filme falado em inglês da diretora sueca Lisa Langseth, que já havia dirigido a também sueca Alicia Vikander em “Pure” e “Hotel Terapêutico”. O veterano ator inglês Charles Dance também está no elenco.   

domingo, 2 de dezembro de 2018


Suspense, tensão de arrepiar os pelos da nuca e muitos sustos são alguns dos ingredientes que fazem um bom filme de terror. Eles estão em profusão no terror “A FREIRA” (“The Nun”), 2018, EUA, segundo longa-metragem dirigido por Corin Hardy (“A Maldição da Floresta” foi o primeiro), com roteiro de James Wan e Gary Dauberman. A história é ambientada em 1952 num convento isolado na Romênia e, segundo o material de divulgação, inspirada em fatos reais. Claro que os roteiristas acrescentaram muita coisa. Nesse tal convento, uma freira se suicida e a notícia chega ao Vaticano, que convoca o padre Burke (o ator mexicano Demian Buchir) e a Irmã Irene (Taissa Farmiga), prestes a se tornar freira, para investigarem os motivos que levaram a freira a cometer suicídio. Com a ajuda de um rapaz (Jonas Bloquet) habitante de uma aldeia próxima, padre Burke e a Irmã Irene chegam ao convento e logo se darão conta de que a situação é grave, que o mal está instalado por lá e não vai dar trégua. E dá-lhe sustos, um atrás do outro. O filme faz parte da saga “Invocação do Mal”, que teve duas versões, a primeira em 2013 e a mais recente em 2016, ambas dirigidos pelo malasiano James Wan, um dos roteiristas de “A Freira”. Aliás, Taissa Farmiga é a irmã mais nova da também atriz Vera Farmiga, que atuou nos dois “Invocação do Mal”. Para quem gosta do gênero terror – e mesmo quem não gosta – vai adorar “A Freira”. Tensão garantida na frente da telinha.      

sábado, 1 de dezembro de 2018


“A GAROTA NA NÉVOA” (“LA RAGAZZA NELLA NEBBIA”), 2017, Itália, estreia no roteiro e direção de Donato Carrisi, um escritor italiano de romances policiais de grande sucesso. Ele mesmo adaptou para o cinema o livro que escreveu e que leva o título original. Trata-se de um suspense policial centrado no desaparecimento misterioso da jovem Anna Lou (Ekaterina Buscemi), moradora num vilarejo localizado nos Alpes Italianos. O inspetor Vogel (Toni Servillo) é encarregado de investigar o caso, formando uma grande equipe de detetives. Durante as investigações, surge um suspeito: o professor Loris Martin (Alessio Boni), que é detido e logo considerado culpado. O caso chega ao conhecimento da imprensa, que envia várias equipes ao vilarejo, transformando o sumiço de Anna Lou no grande assunto dos noticiários italianos. Até chegar ao desfecho, numa surpreendente reviravolta, o filme segue num ótimo suspense, ficando o espectador no aguardo de uma situação esclarecedora.   Porém, não é isso que acontece. Não há respostas claras sobre o verdadeiro responsável pelo sequestro e suas razões, culminando com um final confuso, sem uma explicação razoável. A crítica especializada não economizou elogios, mas eu não gostei. A começar pelo desempenho de Toni Servillo (“A Grande Beleza”), atuando no piloto automático, sempre com olhar de “peixe morto”, parecendo dopado. O elenco conta ainda com o ator francês Jean Reno, Lucrezia Guidone e Greta Scacchi (irreconhecível). Numa das cenas mais importantes do filme, perto do desfecho, o fundo musical é de Beth Carvalho cantando “Dança da Solidão”. Não entendi a intenção do diretor ao acrescentar esse número musical que nada tem a ver com a história. De qualquer forma, o filme foi um grande sucesso de bilheteria na Itália. Se quiser arriscar, fique à vontade.    

quarta-feira, 28 de novembro de 2018


“NASCE UMA ESTRELA” (“A Star is Born”), 2018, EUA, 2h16, marca a estreia na direção do ator Bradley Cooper, que também atua como um dos protagonistas principais. Trata-se da quarta versão da história: a primeira em 1937, escrita pelos roteiristas William A. Wellman e Robert Carson; a segunda, em 1954; e a terceira em 1977, com Barbra Streisand e Kris Kristofferson. Na versão de 2018, a grande surpresa é o excelente desempenho da cantora Lady Gaga (seu nome verdadeiro é Stefani Joanne Angelina Germanotta). Ela atua de “cara lavada” quase o filme inteiro, demonstrando um talento surpreendente também como atriz. Além disso, ela também é responsável pela autoria de todas as canções do filme. O filme conta a história do astro do rock Jackson Maine (Cooper), que numa noite, após um de seus shows, vai a uma boate e se entusiasma com uma cantora chamada Ally (Gaga) interpretando “La Vie en Rose”. Ele vai procurá-la no camarim, conversam e acabam, claro, se apaixonando. A partir daí, o enredo segue adiante como todo mundo conhece: ela acaba se transformando numa grande estrela da música e ele, em franca decadência, aumenta o consumo de bebida e de drogas. Resumo da ópera: o filme é um drama musical romântico que se destaca pelos ótimos números musicais e pelo desempenho de Gaga e Bradley como o par romântico da história. Certamente será um dos indicados ao Oscar 2019, com boas chances para Melhor Trilha Sonora, Música ("Shallow"), Melhor Atriz, Melhor Ator e, quem sabe, Melhor Diretor. Não sou muito fã de musicais, mas achei este bem interessante e muito bem realizado.   

segunda-feira, 26 de novembro de 2018


“REFÉM DO JOGO” (“Final Score”), 2018, Inglaterra, direção de Scott Mann (O Sequestro do Ônibus 657”). É um filme de ação ambientado dentro do Upton Park Stadium, em Londres, onde as equipes do West Ham e Dínamo Moscou decidiriam uma das vagas para a finalíssima da Liga Europa. O jogo é à noite, o estádio lotado (35 mil pessoas), tudo em clima de festa. Só que nos bastidores a história era outra. Um grupo de terroristas dissidentes russos ocuparam a cabine de comando do complexo esportivo, fecharam todos os acessos e saídas, além de implantar várias bombas num dos setores mais importantes do estádio. O objetivo dos terroristas é identificar, entre os torcedores do Dínamo, o líder revolucionário russo Dimitri (Pierce Brosnan) e sequestrá-lo. Quem tentará impedir esta ação é o ex-soldado do exército norte-americano Michael Knox (Dave Bautista). Ele enfrentará sozinho os terroristas, apanhará muito e, ao estilo Bruce Willis de “Duro de Matar”, sobreviverá todo arrebentado. É o quarto filme do grandalhão Dave Bautista, um ex-lutador de MMA. Antes, havia participado de “007 Contra Spectre”, “Guardiões da Galáxia e “Blade Runner 2049”. Embora o material promocional do filme dê destaque à participação do ator Pierce Brosnan, ele aparece pouco e sem nenhum brilho. Enfim, trata-se de um bom filme de ação num ritmo alucinante, com cenas espetaculares de luta e perseguições no telhado do estádio e muito suspense. Ótimo entretenimento, sem exigir muito dos neurônios do espectador.   

domingo, 25 de novembro de 2018


“CORO” (“CHORUS”), 2015, Canadá, 1h36, escrito e dirigido por François Delisle. Filmado em preto e branco e falado em francês, “Coro” é um drama bastante pesado, beirando o limite do depressivo. Dez anos depois de ter desaparecido misteriosamente, o corpo de Hugo, um garoto de oito anos, foi descoberto enterrado numa zona rural. Irene (Fanny Mallette), a mãe, é avisada. Ela entra em contato com Christophe (Sébastian Ricard), ex-marido e pai do menino, que agora mora no México. Ela pede a ele que venha com urgência para ajudá-la a enfrentar a situação: depoimentos à polícia, reconhecimento dos objetos do filho, velório, enterro etc. Ao se reencontrarem, após cerca de dez anos separados, Irene e Christophe engatam uma possibilidade de reconciliação. Antes, porém, terão que enfrentar situações bastante desagradáveis, tais como assistir ao vídeo no qual o pedófilo Jean-Pierre Blake (Luc Senay) confessa o crime e o descreve em detalhes dos mais escabrosos. Eu gostei do filme. Achei muito bem feito, uma fotografia em preto e branco muito bonita e um elenco de primeira, destaque para os dois protagonistas principais e a presença marcante da veterana atriz canadense Genevíève Bujold, que chegou a ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 1969 por “Ana dos Mil Dias”, quando interpretou magistralmente Ana Bolena, a segunda esposa do rei inglês Henrique VIII. Foi ótimo revê-la na telinha.      

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

“MARIE CURIE: A CORAGEM DO CONHECIMENTO” (“Marie Curie”), coprodução Polônia/Alemanha/França, roteiro e direção da alemã Marie Noëlle. O filme estreou no Toronto International Film Festival em 2016, recebendo rasgados elogios. Trata-se de mais uma adaptação cinematográfica da biografia da cientista polonesa Marie Curie (cujo verdadeiro nome era Maria Sklodowska), responsável pela descoberta da radioatividade. Ela saiu da Polônia para estudar na Universidade de Sourbonne, onde conheceu o professor Pierre Curie, com quem se casaria e formaria uma dupla consagrada de cientistas. Eles receberam o Prêmio Nobel de Física em 1903. Em 1911, Marie ganhou o Nobel de Química, desta vez sozinha, tornando-se a única pessoa, até hoje, a ganhar dois prêmios Nobel. Falado em francês, o filme conta toda essa história, complementada por aspectos de sua vida particular, como seu caso com um cientista casado, romance que acabou em grande escândalo. Por ser mulher, Marie Curie enfrentou a desconfiança e uma certa inveja dos cientistas. Marie encarou toda essa situação com muita coragem, assim como lutou durante toda a sua vida pelo reconhecimento da comunidade científica. Dessa forma, indico como obrigatório assistir “Marie Curie”, interpretada com enorme competência pela atriz polonesa Karolina Gruszka. Também estão no elenco, entre outros, Charles Berling e Arieh Worthalter.  fotografia e a ambientação de época também são destaques nesta ótima versão cinematográfica da biografia desta cientista que anos mais tarde seria eleita a mulher mais influente da História pela BBC History.     

terça-feira, 20 de novembro de 2018


“O MELHOR PROFESSOR DA MINHA VIDA” (“LES GRANDS ESPRITS”), 2017, França, roteiro e direção de Olivier Ayache-Vidal em seu primeiro longa-metragem. Professor de literatura francesa no renomado Liceu “Henri IV”, um dos mais tradicionais colégios de Paris, frequentado pelos filhos da elite, François Foucault (Denis Podalydès), a pedido do Ministério da Cultura, é designado para dar aulas numa escola pública da periferia da capital parisiense, cujos alunos, em sua maioria, são pobres, filhos de imigrantes africanos e árabes e com um mínimo de cultura e educação. No início, Foucault tentou transmitir um pouco de sua erudição e impor sua linha de trabalho, mas logo percebeu que teria que mudar de tática, interagir com os alunos e exercer sua função com mais psicologia. O roteiro dedica grande parte ao relacionamento entre Foucault e Seydou (Abdoulaye Diallo), um jovem filho de imigrantes africanos cujo comportamento tira qualquer professor do sério. As atuações de Denis Podalydès, um consagrado ator francês de teatro, e do estreante Abdoulaye Diallo, valem o ingresso. Mais uma joia do cinema francês, comovente, sensível e, ao mesmo tempo, divertido na dose certa. Um belo filme que merece ser visto por quem curte cinema de qualidade. Irresistível!  

domingo, 18 de novembro de 2018


“O CHEIRO DA TANGERINA” (“L’Odeur de La Mandarine”), 2015, França, direção de Gilles Legrand, que teve a ideia do enredo, desenvolvido para roteiro por Guilaume Laurant. Ambientado em 1918, às vésperas do término da Primeira Guerra Mundial, o filme é centrado no relacionamento entre o oficial de cavalaria Charles (Olivier Gourmet) e sua enfermeira Angèle (Georgia Scalliet). Charles foi ferido gravemente no início do conflito e perdeu parte da perna direita. Ele mora num casarão – na verdade, um castelo – da família, com uma governanta e um motorista. Angèle foi contratada para cuidar do ferimento de Charles. Juntamente com sua filha, fruto de um relacionamento antigo, Angèle acaba morando no casarão e, com o correr do tempo, desperta uma paixão desenfreada em Charles. Eles se casam e, no início, até que o relacionamento funciona com harmonia, mas a questão sexual acaba interferindo e causando problemas. Aliás, o pano de fundo do filme é todo dedicado ao sexo, principalmente depois da chegada de um soldado desertor com seu cavalo. A “Tangerina” do título é justamente a égua de Charles, que propõe um cruzamento entre ela e o garanhão recém-chegado. Deu para sacar a intenção do título? Apesar de ser um drama, o roteirista conseguiu achar espaço para alguns momentos de humor, tornando o filme ainda mais agradável. Além da história em si, o grande trunfo do diretor Laurant foi escalar o excelente ator francês Olivier Gourmet e a atriz de teatro Georgia Scalliet, que fez sua estreia no cinema. Os dois estão ótimos e garantem, sozinhos, a qualidade da produção. O filme é excelente e merece ser conferido.      

sexta-feira, 16 de novembro de 2018


“22 DE JULHO” (“22 July”), 2018, EUA/Noruega, 2h23m, roteiro e direção de Paul Greengrass, produção Netflix – foi lançado mundialmente no dia 10 de outubro de 2018. O filme relembra em detalhes a tragédia ocorrida na Noruega no dia 22 de julho de 2011, quando um maluco neonazista, anti-islâmico e  com ideais fundamentalistas de extrema-direita, explodiu um carro-bomba nas proximidades da sede do governo norueguês, em Oslo, e logo em seguida rumou para a ilha de Utoya, onde saiu atirando e matando dezenas de jovens que estavam numa colônia de férias. Os dois atentados resultaram na morte de 77 pessoas e ferimentos em outras 200. O filme descreve todos os detalhes da tragédia, incluindo os preparativos do terrorista, os atentados em si e em seguida o julgamento de Anders Behring Breivk, além das consequências para uma família cujo filho foi gravemente ferido. O realismo das cenas é de alta tensão, principalmente aquelas que mostram o ataque aos jovens acampados na ilha de Utoya. Méritos ao diretor inglês Paul Greengrass, que já mostrou competência no gênero ação/suspense em filmes como “Capitão Phillips”, “O Ultimato Bourne”, “A Supremacia Bourne” e, principalmente, em “Vôo United 93”, pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Diretor em 2007. “22 de Julho” foi exibido no Festival de Veneza 2018, conquistando o Prêmio Especial do Júri. Para elaborar o roteiro, Greengrass utilizou as informações contidas no livro “One of Us: The Story of Anders Breivik and The Massacre in Norway”, da jornalista norueguesa Asne Seierstad (“O Livreiro de Cabul”). Embora falado em inglês, o elenco de “22 de Julho” é todo composto por atores noruegueses, a grande maioria amadores. É preciso ter estômago forte para assistir a este filme tão chocante e impactante, mas é cinema de alta qualidade. Imperdível! Complementando o comentário, acrescento a informação de que também foi lançado recentemente um outro filme, desta vez norueguês, abordando a mesma tragédia. Trata-se de “Utoya 22 de Julho: Terrorismo na Noruega”, do diretor Erik Poppe.

terça-feira, 13 de novembro de 2018


“MISSÃO IMPOSSÍVEL 6: EFEITO FALLOUT” ("MISSION IMPOSSIBLE – FALLOUT”), EUA, 2018, roteiro e direção de Christopher McQuarrie. Duas horas e meia de muita ação que farão os fãs do gênero delirar com as perseguições, tiroteios, pancadarias, algumas pitadas de humor, muito suspense e mulheres bonitas (Rebecca Ferguson, Michelle Monaghan e Vanessa Kirby, um trio de respeito). Mais uma aventura do agente especial Ethan Hunt (Tom Cruise), desta vez contra o grupo terrorista chamado de “Apóstolos”, que rouba um carregamento de plutônio e ameaça explodir várias cidades importantes do mundo. Para sua missão “impossível”, Hunt é obrigado, muito a contragosto, a aceitar um novo parceiro, o agente da CIA August Walker (Henry Cavill). As cenas de ação são espetaculares, principalmente aquela com uma perseguição pelas ruas de Paris. Méritos para o diretor Christopher McQuarrie, que já havia dirigido Cruise em “Missão Impossível: Nação Secreta” e em “Jack Reacher: O Último Tiro”, ambos também excelentes filmes de ação. Com toda justiça, “Efeito Fallout” é considerado, inclusive pelos críticos especializados, o melhor filme da franquia “Missão Impossível”, iniciada em 1995. O custo da produção chegou a 250 milhões de dólares e até agosto último, o retorno nas bilheterias do mundo inteiro já havia superado o dobro dessa quantia. Como é sabido, o astro Tom Cruise faz questão de participar das cenas de perigo e, por isso mesmo, quebrou o tornozelo numa correria pelas ruas de Londres. As filmagens foram interrompidas durante 8 semanas. Será que ainda farão a versão número 7? Duvido que supere “Efeito Fallout”. Embarque nesta sensacional aventura e divirta-se com um sacão de pipoca. Imperdível!   

domingo, 11 de novembro de 2018


“A BELA E OS CÃES” (“AALA KAF IFRIT”), 2016, coprodução Tunísia/França, roteiro e direção da diretora tunisiana Kaouther Bem Hania. Inspirada em fatos reais ocorridos em 2012 em Túnis (capital da Tunísia) e relatados no livro “Culpada de Ser Estuprada”, de Mariem Ben Mohamed, a história é toda centrada na jovem Mariam (Mariam Al Ferjani), que, ao sair de uma balada acompanhada pelo jovem Youssef (Ghanem Zrelli), acaba sendo estuprada por dois policiais. Ela vai ao hospital pedir ajuda e pegar um atestado médico que comprovaria o que aconteceu. Os médicos se recusam a fazer o exame, exigindo um boletim de ocorrência. Só que, para isso, ela teria que ir à delegacia, onde possivelmente estariam seus agressores. O filme acompanha o dilema da jovem, que é tratada como se fosse a culpada de tudo o que aconteceu. Nesse contexto, o filme deve ser visto como uma denúncia contra uma sociedade machista e patriarcal – como acontece em quase todos os países árabes -, onde a mulher não passa de um ser de segunda classe. É terrível e angustiante assistir ao sofrimento da jovem Mariam, imaginando que tudo aconteceu de verdade. O filme tem grande impacto, embora o elenco seja muito fraco. A atriz Mariam Al Ferjani é gorducha demais para ser chamada de “Bela”, pelo menos para os padrões ocidentais. O filme estreou no Festival de Cannes 2017, competindo na mostra “Um Certain Regard”.      

quinta-feira, 8 de novembro de 2018


“HANNAH”, 2016, coprodução Itália/França, é o segundo longa-metragem escrito e dirigido pelo diretor italiano Andrea Pallaoro – o primeiro foi “Medeas”, de 2013. Hannah (Charlotte Rampling) é uma mulher na terceira idade que enfrenta uma fase bastante difícil. Seu marido foi para a prisão, o filho a rejeita e a velhice está chegando para acabar com qualquer sonho futuro. Hannah é o retrato da infelicidade. Parece que nada deu certo em sua vida. Para sobreviver, ela trabalha como faxineira em casas de alto luxo e suas únicas distrações são nadar de vez em quando na piscina de um clube e participar de aulas de interpretação teatral. Em nenhuma dessas atividades ela procura se socializar, fazer amizades. Sua atitude é de uma solitária crônica. O diretor preferiu o silêncio como forma de aumentar a dramaticidade da história. Há poucos diálogos, cenas muito longas e praticamente nenhuma resposta para perguntas evidentes: Por que o marido foi preso? Por que o filho a rejeita? Nada disso, porém, prejudica o desenrolar da trama. O filme é todo da inglesa Charlotte Rampling. Ela aparece praticamente em todas as cenas, comprovando que é uma senhora atriz – agora atriz senhora – na vida real, tem 72 anos. Seu desempenho é espetacular, trabalhando apenas com a expressão facial e entregando-se totalmente ao papel, incluindo algumas cenas de nudez que ela encara sem o menor pudor. Esse trabalho lhe garantiu o Prêmio de Melhor Atriz no 74º Festival Internacional de Veneza, em 2017.  

terça-feira, 6 de novembro de 2018


“ACROSS THE WATERS” (“Fuglene over sundet”), 2016, Dinamarca, roteiro e direção de Nicolo Donato – é o seu segundo longa-metragem. Conservei o título em inglês, pois ainda não há tradução em português, já que o filme não chegou por aqui -  e nem deve chegar. Trata-se de mais uma história terrível e muito triste ambientada durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1943, rompendo um acordo que havia feito com o governo dinamarquês, Hitler ordenou que suas tropas de ocupação na Dinamarca prendessem todos os judeus para depois enviá-los para os campos de concentração. Muitos conseguiram fugir para a Suécia, país neutro, mas os que não conseguiram foram assassinados ali mesmo na Dinamarca. O filme é centrado na família do guitarrista de jazz Arne Itkin (David Dencik), que fugiu às pressas de Copenhague para tentar pegar um barco na vila de pescadores Gilleleje. Como milhares de outros dinamarqueses, Arne, a esposa Miriam (Danica Curcic) e o filho Jacob, de 5 anos, foram surpreendidos pelos agentes da Gestapo quando tentavam embarcar. E daí para a frente, só desgraça e tristeza. Para escrever o roteiro, o diretor Nicolo Donato se inspirou nas memórias do seu avô, um dos barqueiros de Gilleleje que ajudaram muitos judeus a fugir para a Suécia. Mais um capítulo lamentável das atrocidades dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O filme é ótimo, tão bom que ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival Internacional de Rügen (Alemanha). Mais um episódio da história mundial que merece ser conhecido.  

segunda-feira, 5 de novembro de 2018


“SICARIO 2: DIA DO SOLDADO” (“SICARIO: DAY OF THE SOLDIER”), 2018, EUA, direção do italiano Stefano Sollima (“Suburra”) e roteiro de Taylor Sheridan, o mesmo que escreveu a história do primeiro filme “Sicario: Terra de Ninguém”, de 2015. Nesta segunda sequência, a trama também se desenvolve na fronteira do México com os Estados Unidos, mas o foco não é mais o tráfico de drogas, e sim a entrada de terroristas iemenitas – a cena inicial, quando homens-bomba se matam num supermercado, é bastante impactante. Claro que os traficantes mexicanos estão envolvidos, além de piratas somalianos. Para dar um fim à situação, o agente federal Matt Gravers (Josh Brolin) propõe uma estratégia de jogo sujo, ou seja, provocar uma guerra entre os principais cartéis mexicanos. Para isso, contrata uma equipe de mercenários (sicários) chefiada por Alejandro Gillick (Benício Del Toro), sedento por vingança, pois um dos chefões das drogas, anos antes, assassinou toda a sua família. Para jogar um cartel contra o outro, Gravers e Alejandro sequestram a filha caçula de um dos chefões das drogas, Isabela Reyes (Isabela Moner), fornecendo indícios para que um outro cartel seja acusado. Josh Brolin é um bom ator, mas quem leva o filme nas costas é Benício Del Toro. Quem gosta de filmes do gênero vai curtir bastante, pois tem ação do começo ao fim.     

domingo, 4 de novembro de 2018


O velho ditado já dizia: “Família feliz só no álbum de retratos”. Dentro desse contexto, o cinema produziu inúmeros filmes, alguns excelentes, como “Festa em Família”, de Thomas Vintenberg, “Álbum de Família”, de John Wells, com Meryl Streep e Julia Roberts, e o melhor de todos, “Parente é Serpente”, do grande diretor italiano Mario Monicelli. Descobri agora mais um excelente filme que também explora o tema: o drama polonês “NOITE SILENCIOSA” (“CICHA NOC”), 2017, escrito e dirigido por Piotr Domalewski. Como aqueles citados no começo deste comentário, o filme polonês começa na melhor das intenções: reunir a família para a ceia de Natal. Só que, como previsto, acaba na maior baixaria, lavagem de roupa suja, agressões, revelações bombásticas e desunião generalizada. Um resumo: o filho mais velho, Adam (Dawid Ogrodnik), que reside na Holanda com a esposa, vai passar o Natal com a família, numa zona rural da Polônia. Com o passar do tempo, descobrimos que sua intenção não era rever ou saudar a família, e sim tentar herdar a casa do avô, fazer dinheiro e investir no próprio negócio. Tem o cunhado violento que bate na esposa; o pai alcoólatra que ficou anos fora de casa e praticamente abandonou a família, e por aí vai a cascata de acusações, culminando com uma revelação sórdida que vai abalar ainda mais a relação entre Adam e seu irmão mais novo Pawel (Tomasz Zietek). Ou seja, uma noite em que o espírito de Natal passou bem longe. O filme é ótimo, tanto que conquistou nada menos do que 9 prêmios no Polish Film Awards 2018 (o Oscar polonês), entre os quais o de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro.  

sábado, 3 de novembro de 2018


“POR TRÁS DO SEU OLHAR” (“All I Se eis You”), 2016, EUA, roteiro e direção de Marc Forster. Apesar do título em português lembrar alguma música da bossa nova, não se trata de um filme romântico. É um drama que em seu transcorrer tem pitadas de suspense, dando a entender que vem por aí um desfecho violento e trágico. A história: Gina (Blake Lively) é cega desde criança, quando foi vítima de um acidente de trânsito que matou seus pais. Nos dias atuais, ela é casada com James (Jason Clarke), que cuida dela com o maior carinho. Por causa do emprego dele, eles estão morando em Bangkok, capital da Tailândia. Aliás, uma das muitas falhas desse filme é a confusão de cenários que acaba confundindo o espectador, que fica em dúvida se esta ou aquela cena é nos Estados Unidos ou na Tailândia. Segue a história: um médico, Dr. Hughes (Danny Huston), sugere uma operação que pode recuperar pelo menos um olho de Gina. A cirurgia é um sucesso e ela passa a enxergar. Daí para a frente, o casamento de Gina com James entra em rota de colisão, pois ele não quer que ela se torne independente dele. Por seu lado, Gina, ao não se tornar mais dependente do marido, sente que será mais feliz com a liberdade de ir e vir sozinha, sem os cuidados do marido. Aí o caldo do casamento vai engrossar de vez. Este é, sem dúvida, um dos filmes mais fracos do diretor alemão Marc Forster, que tem em seu currículo, só como exemplo, “007 – Quantum of Solage”, “O Caçador de Pipas” e “Em Busca da Terra do Nunca”. Ou seja, é um bom diretor que desta vez pisou na bola. Com exceção da presença da bela e charmosa Blake Lively, o filme não fornece muitos motivos para ser recomendado.    


quinta-feira, 1 de novembro de 2018


“DAMASCUS COVER” (como ainda não chegou por aqui – e talvez nem chegue -, não tem tradução), Inglaterra, 2018, primeiro longa-metragem dirigido por Daniel Zelik Berk. O roteiro foi assinado por Samantha Newton, que se baseou nos fatos reais reportados no romance “The Damascus Cover”, escrito pelo norte-americano Howard Kaplan e lançado em 1977. Como quase todo filme de espionagem, você demora pelo menos meia-hora para saber quem é quem e entender o que está acontecendo. Neste “Damascus Cover”, o agente secreto israelense Ari Ben-Sion (o ator irlandês Jonathan Rhys-Meyers), do Mossad, é designado para uma missão em Damasco, capital da Síria. Disfarçado de empresário e com o nome de Hans Hoffmann, Ari tentará fazer alguns contatos para ajudá-lo a tirar da Síria um cientista e sua família. Em Damasco, Ari acaba conhecendo Kim (Olivia Thirlby), uma fotógrafa a serviço de um jornal inglês, pela qual se apaixonará. O vilão da história é Sarraj (Navid Negahban), o chefão do serviço secreto da Síria, que perseguirá e tentará prender Ari até o final do filme. Em sua missão, Ari ainda se infiltrará num grupo secreto de simpatizantes nazistas. Enfim, “Damascus Cover” tem suspense, romance e ação, o que garante um entretenimento descompromissado. Vale pelo fato de ser baseado em acontecimentos reais.  

quarta-feira, 31 de outubro de 2018


“CUSTÓDIA” (“JUSQU’À LA GARDE”), 2017, França, primeiro filme escrito e dirigido pelo ator e agora diretor Xavier Legrand. Uma ótima estreia, aliás, que mereceu o Prêmio de “Melhor Diretor” no Festival de Veneza. A trama é centrada no casal Miriam e Antoine Besson (Léa Drucker e Denis Ménochet), que acaba de se divorciar e agora estão brigando pela guarda do filho Julien (Thomas Gioria). Em audiência no tribunal, Miriam pede a guarda exclusiva do menino, alegando que Antoine é muito violento e pode machucá-lo. A juíza do caso, porém, concede ao pai o direito de visita semanal. A partir dessa decisão, mãe e filho viverão momentos de tensão a cada visita do pai (o semblante do ator Antoine Besson é realmente assustador), que continua insistindo com Miriam para retomar o casamento. Nos minutos que antecedem o desfecho, o diretor cria um clima de tensão sufocante e angustiante capaz de gelar o sangue e eriçar os pelos da nuca do espectador. Uma aula de cinema de suspense, que faria inveja até ao mestre Hitchcock. Por aqui, além do circuito comercial, o filme foi exibido como uma das atrações do Festival Varilux de Cinema Francês, em 2018, e durante a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2017. Um filmaço imperdível!   


segunda-feira, 29 de outubro de 2018


“TRISTEZA E ALEGRIA” (“Sorg og Glaede”), Dinamarca, 2013, roteiro e direção de Nils Malmros. Esqueça a “Alegria” do título. O filme é só “Tristeza”. Já começa de forma trágica. O cineasta Johannes (Jakob Cedergren) chega em casa e é surpreendido pela notícia de que sua esposa Signe (Helle Fagralid) acabara de assassinar a filha de 9 meses de idade. Cabe aqui uma explicação: Signe há muito tempo é maníaco-depressiva, deixou de tomar os remédios com a concordância do marido e, num surto psicótico, acabou matando a filha cortando-lhe a garganta. Para tentar entender o que aconteceu, Johannes procura o dr. Birkemose (Nicolas Bro), psiquiatra que cuidava de Signe. Durante a conversa entre os dois, o filme volta no tempo e conta como o romance entre Johannes e Signe começou. Signe tinha um ciúme doentio do marido, principalmente com relação às atrizes que ele dirigia. Ela não parava de chorar, um sinal evidente da doença. Quando a filhinha nasceu, imaginava-se que Signe poderia melhorar, mas não foi o que aconteceu. Os dois principais protagonistas são interpretados por ótimos atores, principalmente Helle Fagralid. Não custa nada repetir: é um filme pesado, muito triste, mas excelente sob o ponto de vista cinematográfico. Na verdade, foi um ato de grande coragem do diretor Nils Malmros, que escreveu a história baseado no que aconteceu em sua vida particular no início dos anos 80.  

domingo, 28 de outubro de 2018


“TULLY”, EUA, 2018, chega para comprovar, de forma definitiva, o imenso talento da bela atriz sul-africana Charlize Theron. Ela interpreta Marlo, mãe de duas crianças e prestes a ter o seu terceiro filho. Grávida e com um baita barrigão, Marlo sofre o diabo para cumprir os afazeres domésticos, como servir o café da manhã e levar os filhos para o colégio. O mais difícil é lidar com o filho do meio, um garoto do tipo autista, que só dá trabalho no colégio. O marido, Drew (Ron Livingston), não ajuda muito, pois trabalha o dia inteiro e à noite prefere se isolar no quarto para jogar videogame. Ou seja, não dá para contar com ele. Quando a rotina fica pesada demais, principalmente logo depois do nascimento do bebê, o irmão de Marlo resolve ajudá-la, contratando uma babá noturna, a Tully do título, interpretada por Mackenzie Davis. A chegada de Tully fará com que Marlo consiga relaxar e descansar. As duas começam a se dar tão bem que acabam ficando amigas, a ponto de trocar confidências e intimidades. Segundo o material de divulgação, Charlize engordou 23 quilos para representar Marlo. Sei não. Acredito mesmo é que houve alguma trucagem ou então uma eficiente maquiagem corporal. De qualquer forma, Charlize, mesmo gorda, continuou linda. O filme foi dirigido pelo ator e diretor Jason Reitman (“Amor sem Escalas”, “Jovens Adultos” – também com Charlize – e “Juno”. Além da presença da bela atriz, outro trunfo do filme é o roteiro criativo, inteligente e bem-humorado escrito por Diablo Cody, a mesma roteirista de “Juno”, pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Roteiro. “Tully” é um bom filme, mas acredito que vá agradar apenas o público feminino.


MULHER QUE SEGUE À FRENTE (“WOMAN WALKS AHEAD”), EUA, 2018, direção de Susanna White (“Nosso Fiel Traidor”) e roteiro de Steven Knight. Trata-se de uma história baseada em fatos reais. Em 1890, a viúva aristocrata Catherine Weldon (Jessica Chastain), pintora nas horas vagas, resolve sair de Nova Iorque e se aventurar numa perigosa viagem até Dakota do Norte. Seu objetivo era pintar um retrato do lendário Touro Sentado (Michael Greyeyes), chefe dos índios Sioux, que, depois de vencer inúmeras batalhas contra o exército norte-americano e matar muitos homens brancos, vivia pacificamente como plantador de batatas numa reserva indígena controlada pelos federais. Temerosa em lidar com um grande guerreiro, Catherine foi aos poucos se aproximando de Touro Sentado, com o qual começa uma forte amizade (o filme dá a entender que os dois tiveram um caso). Catherine se engajou na briga entre índios e brancos pela disputa de terras e enviou várias cartas a senadores norte-americanos e ao próprio governo pedindo uma intermediação em favor dos indígenas. Esta sua atitude revoltou o pessoal do exército e ela passou a ser perseguida e até espancada. O vilão da história é o coronel Groves (Sam Rockwell), que sempre tentou dissuadir Catherine a volta para Nova Iorque e ficar quietinha no seu canto. Pelo fato de relembrar um fato histórico pouco conhecido por aqui, o filme vale a pena ser visto. E ainda mais pela presença da excelente atriz Jessica Chastain, da qual sou fã incondicional.     

quinta-feira, 25 de outubro de 2018


“A GAROTA OCIDENTAL – ENTRE O CORAÇÃO E A TRADIÇÃO” (“Nuces” no original, que na tradução literal para o português significa “Núpcias”, o que seria um título mais coerente com a história), 2017, Bélgica, roteiro e direção de Stephan Streker (é o seu terceiro longa-metragem). Para escrever o roteiro, Streker se inspirou num caso verídico ocorrido em 2007 no interior da Bélgica envolvendo uma jovem chamada Sadia Sheikh. Na época, o caso gerou grande comoção no país. No filme, a jovem chama-se Zahira Kazim (Lina El Arabi), de 18 anos de idade, uma das filhas de    Mansoor Kazim (Babak Karimi), um comerciante paquistanês estabelecido em Bruxelas há muitos anos. O patriarca da família exige que os filhos sigam as regras da religião muçulmana, assim como as tradições milenares do Paquistão. Para agradar aos seus pais, Zahira, mais ocidentalizada, usa o lenço sobre a cabeça e costuma disfarçar em casa fazendo-se passar por uma muçulmana legítima. Numa de suas escapadas, Zahira acaba ficando grávida do namorado, que foge da paternidade. Sem saber da situação de Zahira, seus pais a obrigam a casar com um paquistanês, como manda a tradição, e escolhem três pretendentes através da internet. Só que ela se apaixona por um francês. Aí a coisa vai pegar para o seu lado, pois a família não deixará a ovelha desgarrar-se do rebanho. Entre trágico e comovente, o desfecho coroa um drama muito bem elaborado, com atores muito bons, principalmente a jovem atriz francesa de origem marroquina Lina El Arabi, e uma história que privilegia um passeio cultural pela intimidade de uma família muçulmana tradicional. O filme é ótimo, tendo participado da seleção oficial de vários festivais de cinema mundo afora, como Toronto, Edimburgo, Istambul, Roma e Roterdãm, recebendo muitos elogios da crítica e do público. Imperdível!      

quarta-feira, 24 de outubro de 2018



“RASTROS” (“POKOT”), 2016, Polônia, marca a volta da veterana e consagrada diretora polonesa Agnieszka Holland à telona, depois de anos dedicados à direção de séries televisivas. A história de "Rastros" é centrada em Janina Duszejko (Agnieszka Mandat-Grabka), uma engenheira aposentada que trabalha como astróloga e professora de inglês num vilarejo localizado no Vale de Klodzko, cercado por florestas. Chamada pelo pessoal de “velha excêntrica”, Janina é uma ferrenha defensora dos animais e inimiga mortal dos caçadores, que formam a maioria da população do vilarejo. É contra eles que Janina dedica seu maior tempo, principalmente depois que suas cadelas desapareceram misteriosamente. Ao mesmo tempo, vários caçadores aparecem mortos, sem pistas aparentes para a polícia. No depoimento de Janina aos policiais, ela aponta os animais como os maiores suspeitos, afirmando que se trata de uma espécie de vingança contra aqueles que os perseguem e os matam. A dedicação de Janina em favor dos animais chega ao ponto de afrontar o padre do vilarejo no meio da sua homilia numa missa, quando ele defendia o direito dos caçadores de exterminar os bichinhos. Até perto do desfecho fica a pergunta: quem anda matando os caçadores? Veja o filme e saiba a resposta. Faço questão de destacar o espetacular desempenho dessa atriz polonesa maravilhosa, Agnieszka Mandat-Grabka. Só a atuação dela vale o ingresso. Mas não é só de drama que o filme é feito. Também tem muito humor. “Pokot” estreou no 67º Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2017, sendo selecionado posteriormente para representar a Polônia na disputa do Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro. A crítica especializada não gostou. Eu gostei muito e recomendo. Só para lembrar, a diretora polonesa é responsável por filmes excelentes, como "O Segredo de Beethoven", "Filhos da Guerra" e "Na Escuridão", entre outros.