“OS
ESCRITOS SECRETOS” (“THE SECRET SCRIPTURE”), 2016, Irlanda, 1h48m.
A história é inspirada no livro homônimo escrito pelo poeta, dramaturgo e
escritor irlandês Sebastian Barry, adaptado e dirigido pelo veterano Jim
Sheridan (“Meu Pé Esquerdo”, “Em Nome do Pai”). Uma clínica psiquiátrica está
prestes a ser desativada e os seus pacientes transferidos para outras unidades
ou então liberados para voltar para casa. O psiquiatra William Grene (Eric
Bana) ficou encarregado de avaliar as condições mentais da idosa Roseanne
McNuttry, que há 50 anos vive na clínica, acusada de ter assassinado seu bebê.
Em meio à sua investigação, dr. Grene encontra um diário secreto escrito por
Roseanne, no qual ela conta a história da sua vida, sua paixão pelo aviador
Michael Eneas (Jack Reynor) e a perseguição que sofreu por parte do padre
católico Gaunt (Theo James). O médico também descobrirá a verdade sobre o
suposto assassinato do bebê, revelação que é feita no desfecho. Quando moça,
Roseanne é interpretada pela ótima atriz norte-americana Rooney Mara. Como não
poderia deixar de ser, quem rouba a cena é a veterana Vanessa Redgrave com uma atuação magistral, o que por si só já é
motivo suficiente para assistir a este bom drama irlandês.
domingo, 30 de dezembro de 2018
sábado, 29 de dezembro de 2018
“EM
BUSCA DE FELLINI” (“In Search of Fellini”), coprodução EUA/Itália,
2017, longa-metragem de estreia do diretor sul-africano de curtas Taron Lexton,
seguindo o roteiro escrito por Nancy Cartwright e Peter Kjenaas. Trata-se de
uma bela homenagem ao grande diretor italiano Federico Fellini (1920-1993). Ambientada
no início dos anos 90, pouco antes da morte de Fellini, a história - baseada em fatos reais - é centrada
em Lucy (Ksenia Solo), uma garota de 20 anos residente numa cidade de Ohio
(EUA). Ela é muito tímida e superprotegida pela mãe Claire (Maria Bello), tem
dificuldade de encarar a realidade da vida e, por isso, passa os dias
assistindo a filmes antigos e vivendo num verdadeiro mundo de sonhos. Numa mostra
dedicada ao cineasta italiano, Lucy fica encantada com o estilo onírico de
Fellini, passando a alugar todos os seus filmes. Uma paixão fulminante, a tal
ponto de ir para a Itália tentar um encontro com o diretor. Enquanto aguarda
uma resposta, Lucy visita alguns cenários dos filmes mais
famosos de Fellini e, em algumas cenas fantasiosas, contracena com alguns dos
principais personagens – estilizados, é claro - de “A Doce Vida”, “A Estrada da
Vida”, “Satyricon” e “8 ½”. Senti falta de menções a “Amarcord”, meu filme
preferido de Fellini. “Em Busca de Fellini” ganhou os prêmios de Melhor Filme,
Melhor Diretor e Melhor Atriz (Ksenia) no Festival de Ferrara (Itália). Resumo da
ópera: o filme é muito bom, principalmente para ser curtido pelos fãs do grande
diretor italiano, como eu, e uma grande oportunidade para que as novas gerações
conheçam um pouco da arte desse gênio do cinema.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2018
“ALI
& NINO”, lançado no Festival de Sundance (EUA) em
janeiro de 2016, é uma coprodução Inglaterra/Azerbaijão, com direção de Asif
Kapadia e roteiro de Christopher Hampton, que se inspirou no livro do mesmo
nome escrito por Kurban Said em 1937. O pano de fundo da história é a guerra da
independência do Azerbaijão, ao fim da Primeira Guerra Mundial, e que voltaria
a ser dominado pelos russos a partir de 1920 (o Azerbaijão era rico em petróleo
– não sei se ainda é). Na verdade, o tema central é o romance entre a princesa
cristã ortodoxa Nino (Maria Valverde) e o príncipe muçulmano Ali (Adam Bakri).
Romance que não teve o apoio das famílias, que eram contra a união por questões
religiosas. O filme acompanha a tumultuada relação entre Ali e Nino, que um dia
resolvem enfrentar os desafios das diferenças e se casar. Ao mesmo tempo, a
história destaca a brava e corajosa defesa do povo do Azarbaijão contra os
poderosos russos, que dominariam o pequeno país até 1991, quando enfim
conquistam a sua independência. A equipe técnica e o elenco do filme formam uma
verdadeira ONU: o diretor Asif é indiano naturalizado britânico; Maria Valverde
é espanhola; Adam Bakri é palestino; Connie Nielsen (a duquesa Kipiani) é
dinamarquesa, e por aí afora, além de ser falado em inglês, azerbaijano e
russo. O filme é bastante interessante pela questão histórica, envolvendo um
país pouco conhecido por nós. Há que se destacar também a caprichada produção,
envolvendo um verdadeiro exército de figurantes. Os cenários são magníficos,
com locações no próprio Azerbaijão, Turquia, Geórgia e Rússia. Só para fechar o
leque de informações: o diretor Asif Kapadia é o mesmo dos documentários “Senna”,
sobre o nosso grande piloto, e “Maradona”, o polêmico jogador argentino.
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
“UM
DIA A MAIS PARA VIVER” (“Bereave”), 1h40m, EUA, roteiro e direção
dos irmãos Evangelos e George Giovanis. O filme foi produzido em 2015 e lançado
somente em 2018, mas não chegou por aqui. A história: o casal Garvey (Malcolm
McDowell) e Evelyn (Jane Seymour) está entrando na terceira idade em plena
crise conjugal. Casados há mais de 40 anos, eles vivem uma crise conjugal
principalmente por conta dos sintomas de depressão e demência senil que afetam a sanidade
de Garvey, que passa a tratar mal a companheira. Em meio às complicações do
casamento, e para complicar ainda mais a situação e tumultuar o ambiente, aparece o irmão dele, Victor
(Keith Carradine) e a filha Penelope (Vinessa Shaw), ambos tentando amenizar o
conflito entre Garvey e Evelyn. Engana-se quem pensa que, por esta pequena sinopse,
trata-se de um drama. Pelo contrário, é uma comédia das mais saborosas,
valorizada pela atuação dos dois veteranos Malcolm McDoweel e Jane Seymour,
ambos em grande forma. Mas quem se destaca mesmo é Seymour, ainda ótima atriz,
linda e charmosa, mesmo aos 67 anos. Méritos aos irmãos Giovanis, que souberam
conciliar drama e comédia com grande competência, tornando esse filme bastante
agradável de assistir.
domingo, 23 de dezembro de 2018
Sempre que você
encontrar o ator francês Vincent Lindon nos créditos, pode crer: o filme é bom.
Já assisti a quase todos em que ele atua e nunca me decepcionei (veja a lista
que recomendo no fim do comentário). Não poderia ser diferente no recente drama
“A APARIÇÃO” (L’APPARITION”), 2018, França,
2h24m, roteiro e direção de Xavier Giannoli (“Marguerite”). Lindon interpreta o
jornalista Jacques Mayano, conhecido por fazer coberturas de guerras para uma
famosa revista francesa. Graças à sua fama de jornalista também investigativo,
Mayano é convidado pelo Vaticano a fazer parte de uma comissão canônica
encarregada de investigar a veracidade da afirmação da jovem Anna (Galatea
Bellugi), no interior da França, que diz ter presenciado a aparição da Virgem
Maria. Além de Mayano, integram a comissão três padres – um deles exorcista – e
uma médica psiquiatra. O vilarejo onde ocorreu o fenômeno logo se transformou
num local de peregrinação de milhares de crentes ávidos por conhecer e tocar a
menina e, quem sabe, presenciar um milagre. É claro que o padre local (Patrick
D’Assunção) não gostou da chegada da tal comissão do Vaticano, já que o
resultado da investigação poderá desmentir a aparição e espantar os peregrinos
do vilarejo (claro, comércio acima de tudo). Do começo ao fim, o filme trata do
mistério da fé e por que é tão difícil apurar a veracidade de uma aparição. Nesse
contexto, o filme despeja inúmeras dúvidas para o espectador e o convida a
participar do veredito, como se ele mesmo fizesse parte da comissão canônica. O
filme é excelente e Vincent Lindon mais uma vez mostra sua competência como
ator. Como prometi no início, aí vai uma lista com os melhores filmes de
Lindon: “Uma Primavera com Minha Mãe”, ”Os Cavaleiros Brancos”, “Tudo por Ela”,
“O Diário de uma Camareira” e “Mea Culpa”.
sábado, 22 de dezembro de 2018
“INFILTRADO
NA KLAN” (“BLACKkKLANSMAN”), 2018, EUA, 2h16m, direção de
Spike Lee, que também é autor do roteiro juntamente com Charlie Washtel, David
Rabinowitz e Kevin Willmott. Baseado em fatos reais, o filme é centrado no policial
negro Ron Stallworth, da polícia do Colorado, que em 1978 conseguiu se
infiltrar na organização clandestina e racista Ku Klux Klan. Na época, além dos
negros, a Klan também praticava atentados violentos contra judeus e imigrantes.
Ao mesmo tempo em que faz uma crítica contundente à elite branca racista
norte-americana, incluindo, é claro, Donald Trump, Spike Lee trata do assunto com
bom humor, principalmente ancorado na ótima atuação dos atores John David
Washington (Ron) e Adam Driver (Flip Zimmerman). A ambientação de época é mais
um dos destaques desse ótimo filme de Spike Lee, com claras chances de algumas
indicações ao próximo Oscar. A saborosa trilha sonora, com alguns sucessos da Black Music dos anos 70, também
contribui para tornar o filme um entretenimento dos mais agradáveis. Numa das cenas mais comoventes do filme, o grande ator e cantor Harry Belafonte aparece ainda em grande forma aos 91 anos, relembrando o assassinato de um negro em 1917. No
desfecho, Spike Lee reproduziu imagens reais do conflito ocorrido em
Charlottesville em 2017, quando neonazistas ocuparam as ruas para defender, na
base da porrada, a supremacia da raça branca. Ou seja, antes era o pessoal da
Ku Klux Klan e, agora, os neonazistas. A discriminação racial continua leve e
solta na terra do Tio Sam, tema que Spike Lee adora explorar. E com muita
competência. O filme estreou no 71º Festival de Cannes, em maio de 2018, recebendo muitos elogios tanto do público como da crítica especializada. Filmaço, imperdível!.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
"LÍDA BAAROVÁ", 2016, coprodução Eslováquia/República Tcheca, 1h46,
direção de Filip Renc. O drama biográfico conta uma história pouco conhecida
por nós, a da atriz tcheca Lída Baarová (1914-2000), famosa nos anos 30 não
apenas por atuar em filmes de sucesso, mas também por ter sido amante do
figurão nazista Joseph Goebbels, Ministro das Comunicações de Hitler e um dos
idealizadores do Holocausto. Lída Baarová
(na verdade o nome artístico de Ludmila Babková) saiu de Praga (Tchecoslováquia)
ainda jovem para tentar a sorte no cinema alemão, mais especificamente nos
estúdios de Babelsberg (Berlim), então considerada a Hollywood europeia. Lída (Tatiana
Pauhofová) não demorou a conquistar fama principalmente depois de contracenar
filmes românticos com o maior galã alemão da época, Gustav Fröhich (Gedeon
Burkahard), com o qual casaria logo depois. A beleza da atriz tcheca
impressionou Goebbels, que passou a assediá-la de forma acintosa, mesmo depois
dela ter-se casado com Gustav. O poder e a inteligência de Goebbels acabaram por
fascinar a jovem atriz tcheca, independente do nazista ser casado e ter vários filhos.
O caso virou um escândalo nos jornais e Hitler foi obrigado a intervir, pelo
bem do nazismo e da família alemã. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Lída foi considerada
traidora, acabou presa e condenada à morte, o que não aconteceu graças à
interferência do seu pai, amigo de um líder comunista. Lída continuaria a atuar
em filmes na Espanha e na Itália, dedicando-se posteriormente ao teatro. Resumo
da ópera: o filme “Lída Baarová” é excelente, apresenta atuações soberbas da
atriz tcheca Tatiana Pauhofová e do ator austríaco Karl Markovics como Goebbels,
além do excelente roteiro e da primorosa ambientação de época – cenários e
figurinos. Eu concluo dizendo que é uma verdadeira obra-prima do cinema europeu,
à disposição na programação da Netflix. Não deixe de assistir!
domingo, 16 de dezembro de 2018
“A
BALADA DE ADAM HENRY” (“THE CHILDREN ACT”), 2017, Inglaterra,
1h46, direção de Richard Eyre, com roteiro assinado por Ian McEwan, autor do
livro “The Children Act”, lançado em 2014. O drama inglês é centrado na Juíza
da Alta Corte Fiona Maye (Emma Thompson), responsável pelos julgamentos de
casos do Direito Familiar. Em meio à crise conjugal que vive com o marido Jack
(Stanley Tucci), Fiona é obrigada a julgar casos difíceis e polêmicos, o que a
coloca sempre em evidência na mídia. Ainda mais depois de iniciar o julgamento
de um processo que envolve o jovem Adam Henry (Fionn Whitehead, de “Dunkirk”),
que tem leucemia e vive um dilema: precisa de uma transfusão de sangue para sobreviver,
mas como é adepto das Testemunhas de Jeová, recusa-se a fazer o procedimento,
apoiado pelos pais. Numa atitude sem precedentes no meio judiciário, a juíza se
propõe a ouvir o desejo do rapaz pessoalmente no hospital onde está internado.
Essa visita terá consequências em relação ao futuro de Adam e resultará também
numa mudança na própria vida da juíza. O filme é muito bom, valorizado ainda mais pela
atuação magistral de Emma Thompson, que comprova mais uma vez ser uma das
melhores atrizes da atualidade. O jovem ator Fionn Whitehead também mostra
muita competência. Imperdível!
“SANGUE
FRANCÊS” (“UN FRANÇAIS”), 2016, França, 1h38, segundo
longa-metragem escrito e dirigido por Diastème (nome artístico de Patrick Asté).
A história, baseada em fatos reais, começa em 1992, quando um grupo de neonazistas
e skinheads passa as noites em Paris agredindo árabes, negros, comunistas e
homossexuais. A violência das cenas é bastante realista. Marco (Alban Lenoir, excelente
ator) é um desses neonazistas no qual toda a história é centrada. Marco e os
amigos defendem os ideais do partido de extrema-direita Front National, cuja
principal bandeira é o ódio aos imigrantes, negros e outras minorias. O
nacionalismo exacerbado e radical é mostrado não apenas nas reuniões dos
neonazistas, como nos encontros sociais de uma parte da elite francesa, onde se
canta a “La Marseillaise” após terem assistido a vídeos do político ultradireitista
Jean-Marie Le Pen discursando em público. O fanatismo desse pessoal é tão forte
que durante a final do mundo de 1998, em que a França derrotou o Brasil, alguns
se negaram a comemorar simplesmente porque um árabe (Zidane) fez dois gols. O
filme acompanha a trajetória de Marco como um jovem que, com o passar do tempo,
amadurece e tenta seguir sua vida adiante sem a estigma de ter sido um
neonazista fichado na polícia. O filme é excelente. Pena que não chegou a ser
exibido por aqui no circuito comercial. Teve apenas uma exibição durante o Festival
Internacional de Cinema do Rio de Janeiro em 2015. Obrigatório para quem curte
cinema de qualidade.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
“POLINA” (“POLINA, DANSER AS VIE”), 2016,
França, é um drama centrado numa bailarina clássica russa de muito talento –
papel da dançarina Anastasia Shevtsova em sua estreia no cinema. Aos 18 anos, Polina
consegue ingressar no famoso Balé Bolshoi e, prestes a fazer a sua apresentação
oficial, fica encantada com um espetáculo de dança contemporânea. Para
desespero dos pais, ela acaba desistindo do Bolshoi e vai com o namorado francês
Adrien (Niels Schneider) para a França, onde inicia seu treinamento na escola
da famosa coreógrafa e professora de dança contemporânea Liria Elsaj (Juliette
Binoche). A partir dessa mudança, a vida de Polina vira uma verdadeira montanha
russa, de altos e baixos - mais baixos do que altos. Sem dinheiro, ela acaba aceitando um trabalho como
garçonete de uma discoteca em Bruxelas (Bélgica). E por aí vai o drama dessa
jovem que tinha um futuro garantido no Balé Bolshoi, mas que resolveu arriscar
seu futuro em outra modalidade de dança. O filme foi escrito e dirigido por Valérie
Müller, com a colaboração do coreógrafo Angelin Preljocaj. No começo, pensei
que fosse uma história baseada em fatos reais. Que nada! O roteiro de “Polina”
foi inspirado na graphic novel (quadrinhos)
do francês Bastien Vivès. O filme estreou no Festival de Veneza 2016 e foi
muito elogiado pelo público e pela crítica especializada. Realmente, o filme é
muito bom, apesar das inúmeras cenas de ensaios de coreografias de dança contemporânea.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
“BEL
CANTO”, 2018, EUA, roteiro e direção de Paul Weitz. Inspirado em
fatos reais ocorridos no Peru em 1996, trata-se de uma adaptação cinematográfica
da histórica tomada da embaixada japonesa em Lima por guerrilheiros do
Movimento Revolucionário Túpac Maru, que durante quatro meses mantiveram centenas
de reféns, entre as quais embaixadores de vários países – inclusive o do Brasil
-, autoridades governamentais, empresários e figuras da alta sociedade peruana.
Para escrever o roteiro de “Bel Canto”, o diretor norte-americano tomou como
base o livro do mesmo nome escrito por Ann Patchett. Paul Weitz acrescentou
romance, cantoria e humor, exagerando na dose fantasiosa. O elenco é de
primeira: Julianne Moore, o astro japonês Ken Watanabe, o ator mexicano Demian
Bichir, o francês Christopher Lambert e o alemão Sebastian Kock. O filme, de
segunda – ou terceira. Julianne Moore interpreta uma cantora lírica
norte-americana famosa que é contratada para cantar na festa – na verdade, ela
dubla a soprano Renée Flemming. Ela e o empresário Katsumi Hosokawa (Watanebe)
acabam se apaixonando, um romance tão forçado quanto o do tradutor japonês com uma
guerrilheira. Além do mais, os guerrilheiros são retratados como se fossem
ótimas pessoas, vítimas do sistema. Tenha paciência! É de surpreender que
atores tão bons tenham participado dessa produção tão medíocre, alguns deles com uma atuação das mais constrangedoras, como o francês Christopher Lambert. E olha que o
diretor Paul Weitz já fez alguns filmes muito bons como “O Céu Pode Esperar”, “Um
Grande Garoto”, “Entrando numa Fria maior ainda com a Família”, entre outros. Enfim,
“Bel Canto” nada mais é do que um filme esquecível e descartável.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
“O
FILHO DE JEAN” (“Le Fils de Jean”), 2016, coprodução
França/Canadá, 1h38, roteiro e direção de Philippe Lioret. Drama sensível e
comovente centrado num jovem francês residente em Paris que um dia recebe a
notícia de que seu pai biológico acabara de falecer em Montreal (Canadá). Ele
nunca soube quem era seu pai biológico e nem que morava em outro país. Sua mãe sempre
escondeu a verdade. Matthieu (Pierre Deladonchamps) resolve ir para o enterro.
Chegando em Montreal, ele é recebido por Pierre Lesage (Gabriel Arcand), um
médico que foi colega de seu pai biológico, Jean, também médico. Matthieu descobre
que tem dois irmãos e quer conhecê-los antes do enterro. Pierre promete apresentá-los
com a condição de Matthieu não dizer que é um filho bastardo. Até o enterro,
Matthieu conviverá com os irmãos e com a família de Pierre, até a surpreendente
revelação no desfecho. O filme é excelente, recebeu inúmeros elogios da crítica
especializada e rendeu dois prêmios César (o Oscar francês), o de Melhor Ator
para Pierre Deladonchamps e de Ator Coadjuvante para Gabriel Arcand. Imperdível!
domingo, 9 de dezembro de 2018
“MILADA”, 2017,
República Checa/EUA (Netflix), 2h10, é um drama biográfico centrado na
advogada, ativista dos direitos humanos e política Milada Horáková (1901-1950),
que ficou famosa por sua coragem na luta contra a ocupação nazista na Tchecoslováquia
durante a Segunda Guerra Mundial e depois contra o Partido Comunista (sob o
comando da Rússia) que assumiu o poder no país em 1948. O filme é dirigido por David
Mrnka (seu primeiro longa-metragem), com roteiro de Roberta Gant e Robert
Conant. Milada é interpretada de forma magistral pela atriz israelense Ayelet
Zurer. Por participar da resistência aos nazistas, Milada foi presa e torturada
pela Gestapo, sendo depois encaminhada para um campo de concentração. Ao fim da
Segunda Guerra, ela foi libertada como heroína do povo tcheco. Logo em seguida,
foi eleita deputada e, em 1948, com a tomada do poder pelos comunistas, ela
renunciou e acabou sendo presa novamente. Um julgamento totalmente parcial
julgou-a culpada pelo crime de traição à pátria, sendo condenada à morte por
enforcamento. O filme é ótimo, com destaque para a primorosa recriação de
época, figurinos, fotografia e, principalmente, pela atuação maravilhosa da
atriz Ayelet Zurer (“Ben-Hur”, “Os Últimos Cavaleiros”). Também merece destaque a reprodução de imagens cinematográficas da época enfocada. A cereja do bolo,
porém, é, sem dúvida, a história incrível de coragem de uma mulher que lutou pelo seu
país e jamais cedeu em suas opiniões. Imperdível!
sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
“SHIVÁ
– UMA SEMANA E UM DIA” (“Shavua ue Yom”), 2016, Israel, 1h38,
primeiro longa-metragem escrito e dirigido pelo jovem diretor Asaph Polonsky,
de 35 anos, mais conhecido por curta-metragens e produções televisivas.
Trata-se de uma comédia, embora o pano de fundo envolva uma família enlutada. Eyal
Spivak (Shai Avivi) e sua esposa Vicky (Evgenia Dodina) acabam de sair do
período de Shivá, o que na religião judaica significa uma semana de luto,
quando os familiares permanecem em casa reverenciando a memória do ente
falecido. No caso, o filho de Eyal e Vicky. O filme é todo ambientado no dia
seguinte ao Shivá. O casal tenta retomar sua rotina habitual, sair do período
de luto. Mas só Vicky consegue. Ela é professora e vai ao colégio reiniciar
suas aulas, só que já colocaram uma substituta em seu lugar. Ao voltar para
casa, surpreende Eyal fumando maconha com o jovem Zooler (Tomer Kapon), seu
vizinho e amigo de infância do filho falecido. O diretor Asaph consegue tratar
da temática do luto com extrema leveza e bom humor. Algumas cenas são realmente
hilariantes, como aquela em que Eyal tenta enrolar um baseado ou outra quando
Zooler “toca” uma guitarra imaginária ao som de um rock pesado. “Shivá” foi
exibido pela primeira vez no Festival de Cannes 2016, conquistando o Prêmio Gan
Fundation de Distribuição na 55ª Semaine de La Critique. Também foi sucesso em
outros festivais, conquistando 8 prêmios e mais 14 indicações internacionais.
Realmente, um filme bastante interessante por sair da mesmice habitual. Por isso,
merece ser conferido por quem gosta de curtir novidades.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
“A
ESPOSA” (“THE WIFE”), 2017, Suécia/EUA, direção de Björn Runge e
roteiro de Jane Anderson, responsável pela adaptação do romance “The Wife”, da
escritora norte-americana Meg Wolitzer. A trama é sobre uma mulher que sempre viveu à sombra da fama do marido escritor e que um dia se cansa do seu papel secundário. A história é centralizada no casal Joseph
Castleman (Jonathan Price) e Joan (Glenn Close). Eles estão casados há mais de
40 anos, ele um escritor famoso e ela uma esposa e mãe exemplar. Eles têm um filho,
David (Max Irons), que pretende ser escritor, mas vive em conflito pessoal por
não mostrar muito talento. Joseph é escolhido para receber o Prêmio Nobel de
Literatura e os três vão a Estocolmo participar da solenidade de premiação.
Pouco antes do evento, uma revelação surpreendente e inesperada ligada ao
passado irá causar desavenças entre o casal. O elenco conta ainda com Elizabeth
McGovern (uma das minhas antigas musas da tela, agora, infelizmente, bastante envelhecida), Annie
Starke (Joan jovem), Harry Lloyd (Joseph jovem) e Christian Slater como um escritor de biografias sem escrúpulos. O filme é
muito bom, com diálogos inteligentes e uma história bastante interessante. Os veteranos Glenn Close e Janathan Price dão um
verdadeiro show de interpretação. Gleen, inclusive, é cotada para uma indicação
ao Oscar/2019 de Melhor Atriz. Ela está realmente sensacional. Imperdível!
segunda-feira, 3 de dezembro de 2018
“EUFORIA”
(“EUPHORIA”), 2017, Inglaterra, 1h44, escrito e dirigido por
Lisa Langseth. Drama destinado a um final "chororô" cujo pano de fundo é a
eutanásia. Duas irmãs se reencontram após vários anos de separação e combinam
viajar juntas. Emille (Eva Green) cuida do roteiro, cujo destino é uma casa de
campo para hospedar doentes terminais. Começa o filme e a gente logo percebe
que Ines (Alicia Vikander) não está muito à vontade com Emille. Ou seja, não se
davam muito bem. Ines não sabe o motivo pelo qual Emille escolheu aquele local
para passar alguns dias, mas logo fica sabendo. Durante os dias em que ficarão
juntas, as irmãs recordarão alguns episódios da infância e o relacionamento com
os pais. Sobre os motivos que levaram as duas irmãs a se distanciarem, o filme
deixa a resposta no ar. Como é previsível desde o início, o filme caminha para
um desfecho de lágrimas. Destaque para a participação da veterana atriz
Charlotte Rampling como a gerente do estabelecimento, situado num belo cenário
dos Alpes Suíços. “Euforia” foi o primeiro filme falado em inglês da diretora
sueca Lisa Langseth, que já havia dirigido a também sueca Alicia Vikander em “Pure”
e “Hotel Terapêutico”. O veterano ator inglês Charles Dance também está no
elenco.
domingo, 2 de dezembro de 2018
Suspense, tensão de
arrepiar os pelos da nuca e muitos sustos são alguns dos ingredientes que fazem um bom filme de terror. Eles estão em profusão no terror “A FREIRA” (“The Nun”),
2018, EUA, segundo longa-metragem dirigido por Corin Hardy (“A Maldição da
Floresta” foi o primeiro), com roteiro de James Wan e Gary Dauberman. A história
é ambientada em 1952 num convento isolado na Romênia e, segundo o material de divulgação,
inspirada em fatos reais. Claro que os roteiristas acrescentaram muita coisa.
Nesse tal convento, uma freira se suicida e a notícia chega ao Vaticano, que
convoca o padre Burke (o ator mexicano Demian Buchir) e a Irmã Irene (Taissa
Farmiga), prestes a se tornar freira, para investigarem os motivos que levaram
a freira a cometer suicídio. Com a ajuda de um rapaz (Jonas Bloquet) habitante
de uma aldeia próxima, padre Burke e a Irmã Irene chegam ao convento e logo se
darão conta de que a situação é grave, que o mal está instalado por lá e não vai dar trégua. E
dá-lhe sustos, um atrás do outro. O filme faz parte da saga “Invocação do Mal”,
que teve duas versões, a primeira em 2013 e a mais recente em 2016, ambas
dirigidos pelo malasiano James Wan, um dos roteiristas de “A Freira”. Aliás,
Taissa Farmiga é a irmã mais nova da também atriz Vera Farmiga, que atuou nos
dois “Invocação do Mal”. Para quem gosta do gênero terror – e mesmo quem não
gosta – vai adorar “A Freira”. Tensão garantida na frente da telinha.
sábado, 1 de dezembro de 2018
“A
GAROTA NA NÉVOA” (“LA RAGAZZA NELLA NEBBIA”), 2017, Itália, estreia
no roteiro e direção de Donato Carrisi, um escritor italiano de romances
policiais de grande sucesso. Ele mesmo adaptou para o cinema o livro que
escreveu e que leva o título original. Trata-se de um suspense policial
centrado no desaparecimento misterioso da jovem Anna Lou (Ekaterina Buscemi), moradora
num vilarejo localizado nos Alpes Italianos. O inspetor Vogel (Toni Servillo) é
encarregado de investigar o caso, formando uma grande equipe de detetives. Durante
as investigações, surge um suspeito: o professor Loris Martin (Alessio Boni),
que é detido e logo considerado culpado. O caso chega ao conhecimento da
imprensa, que envia várias equipes ao vilarejo, transformando o sumiço de Anna
Lou no grande assunto dos noticiários italianos. Até chegar ao desfecho, numa
surpreendente reviravolta, o filme segue num ótimo suspense, ficando o espectador
no aguardo de uma situação esclarecedora. Porém,
não é isso que acontece. Não há respostas claras sobre o verdadeiro responsável
pelo sequestro e suas razões, culminando com um final confuso, sem uma explicação
razoável. A crítica especializada não economizou elogios, mas eu não gostei. A
começar pelo desempenho de Toni Servillo (“A Grande Beleza”), atuando no piloto
automático, sempre com olhar de “peixe morto”, parecendo dopado. O elenco conta
ainda com o ator francês Jean Reno, Lucrezia Guidone e Greta Scacchi (irreconhecível).
Numa das cenas mais importantes do filme, perto do desfecho, o fundo musical é
de Beth Carvalho cantando “Dança da Solidão”. Não entendi a intenção do diretor
ao acrescentar esse número musical que nada tem a ver com a história. De
qualquer forma, o filme foi um grande sucesso de bilheteria na Itália. Se
quiser arriscar, fique à vontade.
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
“NASCE UMA ESTRELA” (“A Star is Born”), 2018, EUA, 2h16, marca a estreia na direção do ator Bradley Cooper, que também atua como um dos protagonistas principais. Trata-se da quarta versão da história: a primeira em 1937, escrita pelos roteiristas William A. Wellman e Robert Carson; a segunda, em 1954; e a terceira em 1977, com Barbra Streisand e Kris Kristofferson. Na versão de 2018, a grande surpresa é o excelente desempenho da cantora Lady Gaga (seu nome verdadeiro é Stefani Joanne Angelina Germanotta). Ela atua de “cara lavada” quase o filme inteiro, demonstrando um talento surpreendente também como atriz. Além disso, ela também é responsável pela autoria de todas as canções do filme. O filme conta a história do astro do rock Jackson Maine (Cooper), que numa noite, após um de seus shows, vai a uma boate e se entusiasma com uma cantora chamada Ally (Gaga) interpretando “La Vie en Rose”. Ele vai procurá-la no camarim, conversam e acabam, claro, se apaixonando. A partir daí, o enredo segue adiante como todo mundo conhece: ela acaba se transformando numa grande estrela da música e ele, em franca decadência, aumenta o consumo de bebida e de drogas. Resumo da ópera: o filme é um drama musical romântico que se destaca pelos ótimos números musicais e pelo desempenho de Gaga e Bradley como o par romântico da história. Certamente será um dos indicados ao Oscar 2019, com boas chances para Melhor Trilha Sonora, Música ("Shallow"), Melhor Atriz, Melhor Ator e, quem sabe, Melhor Diretor. Não sou muito fã de musicais, mas achei este bem interessante e muito bem realizado.
segunda-feira, 26 de novembro de 2018
“REFÉM
DO JOGO” (“Final Score”), 2018, Inglaterra, direção de Scott Mann
(O Sequestro do Ônibus 657”). É um filme de ação ambientado dentro do Upton
Park Stadium, em Londres, onde as equipes do West Ham e Dínamo Moscou decidiriam
uma das vagas para a finalíssima da Liga Europa. O jogo é à noite, o estádio
lotado (35 mil pessoas), tudo em clima de festa. Só que nos bastidores a
história era outra. Um grupo de terroristas dissidentes russos ocuparam a
cabine de comando do complexo esportivo, fecharam todos os acessos e saídas,
além de implantar várias bombas num dos setores mais importantes do estádio. O
objetivo dos terroristas é identificar, entre os torcedores do Dínamo, o líder
revolucionário russo Dimitri (Pierce Brosnan) e sequestrá-lo. Quem tentará
impedir esta ação é o ex-soldado do exército norte-americano Michael Knox (Dave
Bautista). Ele enfrentará sozinho os terroristas, apanhará muito e, ao estilo
Bruce Willis de “Duro de Matar”, sobreviverá todo arrebentado. É o quarto filme
do grandalhão Dave Bautista, um ex-lutador de MMA. Antes, havia participado de “007
Contra Spectre”, “Guardiões da Galáxia e “Blade Runner 2049”. Embora o material
promocional do filme dê destaque à participação do ator Pierce Brosnan, ele
aparece pouco e sem nenhum brilho. Enfim, trata-se de um bom filme de ação num
ritmo alucinante, com cenas espetaculares de luta e perseguições no telhado do
estádio e muito suspense. Ótimo entretenimento, sem exigir muito dos neurônios
do espectador.
domingo, 25 de novembro de 2018
“CORO”
(“CHORUS”), 2015, Canadá, 1h36, escrito e dirigido por François
Delisle. Filmado em preto e branco e falado em francês, “Coro” é um drama
bastante pesado, beirando o limite do depressivo. Dez anos depois de ter desaparecido misteriosamente, o
corpo de Hugo, um garoto de oito anos, foi descoberto enterrado numa zona
rural. Irene (Fanny Mallette), a mãe, é avisada. Ela entra em contato com Christophe
(Sébastian Ricard), ex-marido e pai do menino, que agora mora no México. Ela
pede a ele que venha com urgência para ajudá-la a enfrentar a situação:
depoimentos à polícia, reconhecimento dos objetos do filho, velório, enterro etc. Ao se
reencontrarem, após cerca de dez anos separados, Irene e Christophe engatam uma
possibilidade de reconciliação. Antes, porém, terão que enfrentar situações
bastante desagradáveis, tais como assistir ao vídeo no qual o pedófilo Jean-Pierre
Blake (Luc Senay) confessa o crime e o descreve em detalhes dos mais
escabrosos. Eu gostei do filme. Achei muito bem feito, uma fotografia em preto
e branco muito bonita e um elenco de primeira, destaque para os dois protagonistas
principais e a presença marcante da veterana atriz canadense Genevíève Bujold, que
chegou a ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 1969 por “Ana dos Mil Dias”,
quando interpretou magistralmente Ana Bolena, a segunda esposa do rei inglês
Henrique VIII. Foi ótimo revê-la na telinha.
quarta-feira, 21 de novembro de 2018
“MARIE
CURIE: A CORAGEM DO CONHECIMENTO” (“Marie Curie”), coprodução
Polônia/Alemanha/França, roteiro e direção da alemã Marie Noëlle. O filme estreou
no Toronto International Film Festival em 2016, recebendo rasgados elogios.
Trata-se de mais uma adaptação cinematográfica da biografia da cientista polonesa
Marie Curie (cujo verdadeiro nome era Maria Sklodowska), responsável pela
descoberta da radioatividade. Ela saiu da Polônia para estudar na Universidade
de Sourbonne, onde conheceu o professor Pierre Curie, com quem se casaria e
formaria uma dupla consagrada de cientistas. Eles receberam o Prêmio Nobel de
Física em 1903. Em 1911, Marie ganhou o Nobel de Química, desta vez sozinha,
tornando-se a única pessoa, até hoje, a ganhar dois prêmios Nobel. Falado em
francês, o filme conta toda essa história, complementada por aspectos de sua
vida particular, como seu caso com um cientista casado, romance que acabou em
grande escândalo. Por ser mulher, Marie Curie enfrentou a desconfiança e uma
certa inveja dos cientistas. Marie encarou toda essa situação com muita
coragem, assim como lutou durante toda a sua vida pelo reconhecimento da
comunidade científica. Dessa forma, indico como obrigatório assistir “Marie
Curie”, interpretada com enorme competência pela atriz polonesa Karolina Gruszka. Também estão no elenco, entre outros, Charles Berling e Arieh Worthalter. fotografia e a ambientação de época também são destaques nesta ótima versão
cinematográfica da biografia desta cientista que anos mais tarde seria eleita a
mulher mais influente da História pela BBC History.
terça-feira, 20 de novembro de 2018
“O
MELHOR PROFESSOR DA MINHA VIDA” (“LES GRANDS ESPRITS”), 2017,
França, roteiro e direção de Olivier Ayache-Vidal em seu primeiro longa-metragem.
Professor de literatura francesa no renomado Liceu “Henri IV”, um dos mais
tradicionais colégios de Paris, frequentado pelos filhos da elite, François
Foucault (Denis Podalydès), a pedido do Ministério da Cultura, é designado para
dar aulas numa escola pública da periferia da capital parisiense, cujos alunos,
em sua maioria, são pobres, filhos de imigrantes africanos e árabes e com um
mínimo de cultura e educação. No início, Foucault tentou transmitir um pouco de
sua erudição e impor sua linha de trabalho, mas logo percebeu que teria que mudar de tática, interagir com os alunos e exercer sua função com mais psicologia. O roteiro dedica grande parte ao relacionamento
entre Foucault e Seydou (Abdoulaye Diallo), um jovem filho de imigrantes
africanos cujo comportamento tira qualquer professor do sério. As atuações de Denis
Podalydès, um consagrado ator francês de teatro, e do estreante Abdoulaye
Diallo, valem o ingresso. Mais uma joia do cinema francês, comovente, sensível
e, ao mesmo tempo, divertido na dose certa. Um belo filme que merece ser visto
por quem curte cinema de qualidade. Irresistível!
domingo, 18 de novembro de 2018
“O
CHEIRO DA TANGERINA” (“L’Odeur de La Mandarine”), 2015,
França, direção de Gilles Legrand, que teve a ideia do enredo, desenvolvido
para roteiro por Guilaume Laurant. Ambientado em 1918, às vésperas do término
da Primeira Guerra Mundial, o filme é centrado no relacionamento entre o
oficial de cavalaria Charles (Olivier Gourmet) e sua enfermeira Angèle (Georgia
Scalliet). Charles foi ferido gravemente no início do conflito e perdeu parte
da perna direita. Ele mora num casarão – na verdade, um castelo – da família,
com uma governanta e um motorista. Angèle foi contratada para cuidar do
ferimento de Charles. Juntamente com sua filha, fruto de um relacionamento
antigo, Angèle acaba morando no casarão e, com o correr do tempo, desperta uma
paixão desenfreada em Charles. Eles se casam e, no início, até que o
relacionamento funciona com harmonia, mas a questão sexual acaba interferindo e
causando problemas. Aliás, o pano de fundo do filme é todo dedicado ao sexo,
principalmente depois da chegada de um soldado desertor com seu cavalo. A “Tangerina”
do título é justamente a égua de Charles, que propõe um cruzamento entre ela e
o garanhão recém-chegado. Deu para sacar a intenção do título? Apesar de ser um
drama, o roteirista conseguiu achar espaço para alguns momentos de humor, tornando o filme ainda mais agradável. Além da história em si, o grande
trunfo do diretor Laurant foi escalar o excelente ator francês Olivier Gourmet
e a atriz de teatro Georgia Scalliet, que fez sua estreia no cinema. Os dois
estão ótimos e garantem, sozinhos, a qualidade da produção. O filme é excelente e merece ser conferido.
sexta-feira, 16 de novembro de 2018
“22
DE JULHO” (“22 July”), 2018, EUA/Noruega, 2h23m, roteiro e
direção de Paul Greengrass, produção Netflix – foi lançado mundialmente no dia 10
de outubro de 2018. O filme relembra em detalhes a tragédia ocorrida na Noruega
no dia 22 de julho de 2011, quando um maluco neonazista, anti-islâmico e com ideais fundamentalistas de
extrema-direita, explodiu um carro-bomba nas proximidades da sede do governo
norueguês, em Oslo, e logo em seguida rumou para a ilha de Utoya, onde saiu
atirando e matando dezenas de jovens que estavam numa colônia de férias. Os
dois atentados resultaram na morte de 77 pessoas e ferimentos em outras 200. O
filme descreve todos os detalhes da tragédia, incluindo os preparativos do
terrorista, os atentados em si e em seguida o julgamento de Anders Behring Breivk,
além das consequências para uma família cujo filho foi gravemente ferido. O realismo
das cenas é de alta tensão, principalmente aquelas que mostram o ataque aos
jovens acampados na ilha de Utoya. Méritos ao diretor inglês Paul Greengrass,
que já mostrou competência no gênero ação/suspense em filmes como “Capitão
Phillips”, “O Ultimato Bourne”, “A Supremacia Bourne” e, principalmente, em “Vôo
United 93”, pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Diretor em 2007. “22 de Julho”
foi exibido no Festival de Veneza 2018, conquistando o Prêmio Especial do Júri.
Para elaborar o roteiro, Greengrass utilizou as informações contidas no livro “One
of Us: The Story of Anders Breivik and The Massacre in Norway”, da jornalista
norueguesa Asne Seierstad (“O Livreiro de Cabul”). Embora falado em inglês, o
elenco de “22 de Julho” é todo composto por atores noruegueses, a grande
maioria amadores. É preciso ter estômago forte para assistir a este filme tão chocante
e impactante, mas é cinema de alta qualidade. Imperdível! Complementando o
comentário, acrescento a informação de que também foi lançado recentemente um outro
filme, desta vez norueguês, abordando a mesma tragédia. Trata-se de “Utoya 22
de Julho: Terrorismo na Noruega”, do diretor Erik Poppe.
terça-feira, 13 de novembro de 2018
“MISSÃO
IMPOSSÍVEL 6: EFEITO FALLOUT” ("MISSION IMPOSSIBLE – FALLOUT”), EUA, 2018,
roteiro e direção de Christopher McQuarrie. Duas horas e meia de muita ação que
farão os fãs do gênero delirar com as perseguições, tiroteios, pancadarias, algumas
pitadas de humor, muito suspense e mulheres bonitas (Rebecca Ferguson, Michelle
Monaghan e Vanessa Kirby, um trio de respeito). Mais uma aventura do agente
especial Ethan Hunt (Tom Cruise), desta vez contra o grupo terrorista chamado
de “Apóstolos”, que rouba um carregamento de plutônio e ameaça explodir várias cidades
importantes do mundo. Para sua missão “impossível”, Hunt é obrigado, muito a
contragosto, a aceitar um novo parceiro, o agente da CIA August Walker (Henry
Cavill). As cenas de ação são espetaculares, principalmente aquela com uma
perseguição pelas ruas de Paris. Méritos para o diretor Christopher McQuarrie,
que já havia dirigido Cruise em “Missão Impossível: Nação Secreta” e em “Jack
Reacher: O Último Tiro”, ambos também excelentes filmes de ação. Com toda
justiça, “Efeito Fallout” é considerado, inclusive pelos críticos especializados, o melhor filme da franquia “Missão
Impossível”, iniciada em 1995. O custo da produção chegou a 250 milhões de
dólares e até agosto último, o retorno nas bilheterias do mundo inteiro já havia superado o dobro dessa quantia. Como é sabido, o astro Tom Cruise faz questão de
participar das cenas de perigo e, por isso mesmo, quebrou o tornozelo numa
correria pelas ruas de Londres. As filmagens foram interrompidas durante 8
semanas. Será que ainda farão a versão número 7? Duvido que supere “Efeito
Fallout”. Embarque nesta sensacional aventura e divirta-se com um sacão de
pipoca. Imperdível!
domingo, 11 de novembro de 2018
“A
BELA E OS CÃES” (“AALA KAF IFRIT”), 2016, coprodução Tunísia/França,
roteiro e direção da diretora tunisiana Kaouther Bem Hania. Inspirada em fatos
reais ocorridos em 2012 em Túnis (capital da Tunísia) e relatados no livro “Culpada
de Ser Estuprada”, de Mariem Ben Mohamed, a história é toda centrada na jovem Mariam
(Mariam Al Ferjani), que, ao sair de uma balada acompanhada pelo jovem Youssef
(Ghanem Zrelli), acaba sendo estuprada por dois policiais. Ela vai ao hospital
pedir ajuda e pegar um atestado médico que comprovaria o que aconteceu. Os
médicos se recusam a fazer o exame, exigindo um boletim de ocorrência. Só que,
para isso, ela teria que ir à delegacia, onde possivelmente estariam seus
agressores. O filme acompanha o dilema da jovem, que é tratada como se fosse a
culpada de tudo o que aconteceu. Nesse contexto, o filme deve ser visto como
uma denúncia contra uma sociedade machista e patriarcal – como acontece em quase
todos os países árabes -, onde a mulher não passa de um ser de segunda classe.
É terrível e angustiante assistir ao sofrimento da jovem Mariam, imaginando que
tudo aconteceu de verdade. O filme tem grande impacto, embora o elenco seja
muito fraco. A atriz Mariam Al Ferjani é gorducha demais para ser chamada de “Bela”,
pelo menos para os padrões ocidentais. O filme estreou no Festival de Cannes
2017, competindo na mostra “Um Certain Regard”.
quinta-feira, 8 de novembro de 2018
“HANNAH”, 2016,
coprodução Itália/França, é o segundo longa-metragem escrito e dirigido pelo
diretor italiano Andrea Pallaoro – o primeiro foi “Medeas”, de 2013. Hannah
(Charlotte Rampling) é uma mulher na terceira idade que enfrenta uma fase
bastante difícil. Seu marido foi para a prisão, o filho a rejeita e a velhice
está chegando para acabar com qualquer sonho futuro. Hannah é o retrato da
infelicidade. Parece que nada deu certo em sua vida. Para sobreviver, ela
trabalha como faxineira em casas de alto luxo e suas únicas distrações são
nadar de vez em quando na piscina de um clube e participar de aulas de
interpretação teatral. Em nenhuma dessas atividades ela procura se socializar,
fazer amizades. Sua atitude é de uma solitária crônica. O diretor preferiu o
silêncio como forma de aumentar a dramaticidade da história. Há poucos diálogos,
cenas muito longas e praticamente nenhuma resposta para perguntas evidentes: Por
que o marido foi preso? Por que o filho a rejeita? Nada disso, porém, prejudica
o desenrolar da trama. O filme é todo da inglesa Charlotte Rampling. Ela
aparece praticamente em todas as cenas, comprovando que é uma senhora atriz –
agora atriz senhora – na vida real, tem 72 anos. Seu desempenho é espetacular, trabalhando
apenas com a expressão facial e entregando-se totalmente ao papel, incluindo
algumas cenas de nudez que ela encara sem o menor pudor. Esse trabalho lhe
garantiu o Prêmio de Melhor Atriz no 74º Festival Internacional de Veneza, em
2017.
terça-feira, 6 de novembro de 2018
“ACROSS
THE WATERS” (“Fuglene over sundet”), 2016, Dinamarca, roteiro e
direção de Nicolo Donato – é o seu segundo longa-metragem. Conservei o título
em inglês, pois ainda não há tradução em português, já que o filme não chegou
por aqui - e nem deve chegar. Trata-se
de mais uma história terrível e muito triste ambientada durante a Segunda
Guerra Mundial. Em 1943, rompendo um acordo que havia feito com o governo
dinamarquês, Hitler ordenou que suas tropas de ocupação na Dinamarca prendessem
todos os judeus para depois enviá-los para os campos de concentração. Muitos
conseguiram fugir para a Suécia, país neutro, mas os que não conseguiram foram
assassinados ali mesmo na Dinamarca. O filme é centrado na família do
guitarrista de jazz Arne Itkin (David Dencik), que fugiu às pressas de Copenhague
para tentar pegar um barco na vila de pescadores Gilleleje. Como milhares de
outros dinamarqueses, Arne, a esposa Miriam (Danica Curcic) e o filho Jacob, de
5 anos, foram surpreendidos pelos agentes da Gestapo quando tentavam embarcar. E
daí para a frente, só desgraça e tristeza. Para escrever o roteiro, o diretor Nicolo Donato se inspirou nas memórias do seu avô, um dos barqueiros de Gilleleje que ajudaram muitos judeus a fugir para a Suécia. Mais um capítulo lamentável das atrocidades dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. O filme é ótimo, tão bom que ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival Internacional de Rügen (Alemanha). Mais um episódio da história mundial que merece ser conhecido.
segunda-feira, 5 de novembro de 2018
“SICARIO
2: DIA DO SOLDADO” (“SICARIO: DAY OF THE SOLDIER”), 2018,
EUA, direção do italiano Stefano Sollima (“Suburra”) e roteiro de Taylor
Sheridan, o mesmo que escreveu a história do primeiro filme “Sicario: Terra de
Ninguém”, de 2015. Nesta segunda sequência, a trama também se desenvolve na
fronteira do México com os Estados Unidos, mas o foco não é mais o tráfico de
drogas, e sim a entrada de terroristas iemenitas – a cena inicial, quando
homens-bomba se matam num supermercado, é bastante impactante. Claro que os
traficantes mexicanos estão envolvidos, além de piratas somalianos. Para dar um
fim à situação, o agente federal Matt Gravers (Josh Brolin) propõe uma
estratégia de jogo sujo, ou seja, provocar uma guerra entre os principais
cartéis mexicanos. Para isso, contrata uma equipe de mercenários (sicários) chefiada
por Alejandro Gillick (Benício Del Toro), sedento por vingança, pois um dos
chefões das drogas, anos antes, assassinou toda a sua família. Para jogar um
cartel contra o outro, Gravers e Alejandro sequestram a filha caçula de um dos
chefões das drogas, Isabela Reyes (Isabela Moner), fornecendo indícios para que
um outro cartel seja acusado. Josh Brolin é um bom ator, mas quem leva o filme nas costas é Benício Del Toro. Quem gosta de filmes do gênero vai curtir
bastante, pois tem ação do começo ao fim.
domingo, 4 de novembro de 2018
O velho ditado já
dizia: “Família feliz só no álbum de retratos”. Dentro desse contexto, o cinema
produziu inúmeros filmes, alguns excelentes, como “Festa em Família”, de Thomas
Vintenberg, “Álbum de Família”, de John Wells, com Meryl Streep e Julia
Roberts, e o melhor de todos, “Parente é Serpente”, do grande diretor italiano
Mario Monicelli. Descobri agora mais um excelente filme que também explora o
tema: o drama polonês “NOITE SILENCIOSA”
(“CICHA NOC”), 2017, escrito e dirigido por Piotr Domalewski. Como aqueles
citados no começo deste comentário, o filme polonês começa na melhor das
intenções: reunir a família para a ceia de Natal. Só que, como previsto, acaba
na maior baixaria, lavagem de roupa suja, agressões, revelações bombásticas e desunião
generalizada. Um resumo: o filho mais velho, Adam (Dawid Ogrodnik), que reside na Holanda com a esposa, vai passar o Natal com a família, numa zona
rural da Polônia. Com o passar do tempo, descobrimos que sua intenção não era
rever ou saudar a família, e sim tentar herdar a casa do avô, fazer dinheiro e
investir no próprio negócio. Tem o cunhado violento que bate na esposa; o pai
alcoólatra que ficou anos fora de casa e praticamente abandonou a família, e
por aí vai a cascata de acusações, culminando com uma revelação sórdida que vai
abalar ainda mais a relação entre Adam e seu irmão mais novo Pawel (Tomasz
Zietek). Ou seja, uma noite em que o espírito de Natal passou bem longe. O filme
é ótimo, tanto que conquistou nada menos do que 9 prêmios no Polish Film Awards
2018 (o Oscar polonês), entre os quais o de Melhor Filme, Melhor Diretor e
Melhor Roteiro.
sábado, 3 de novembro de 2018
“POR TRÁS DO SEU OLHAR” (“All I Se eis You”),
2016,
EUA, roteiro e direção de Marc Forster. Apesar do título em português lembrar
alguma música da bossa nova, não se trata de um filme romântico. É um drama que
em seu transcorrer tem pitadas de suspense, dando a entender que vem por aí um desfecho violento e
trágico. A história: Gina (Blake Lively) é cega desde criança, quando foi
vítima de um acidente de trânsito que matou seus pais. Nos dias atuais, ela é
casada com James (Jason Clarke), que cuida dela com o maior carinho. Por causa
do emprego dele, eles estão morando em Bangkok, capital da Tailândia. Aliás, uma
das muitas falhas desse filme é a confusão de cenários que acaba confundindo o
espectador, que fica em dúvida se esta ou aquela cena é nos Estados Unidos ou
na Tailândia. Segue a história: um médico, Dr. Hughes (Danny Huston), sugere
uma operação que pode recuperar pelo menos um olho de Gina. A cirurgia é um
sucesso e ela passa a enxergar. Daí para a frente, o casamento de Gina com
James entra em rota de colisão, pois ele não quer que ela se torne independente
dele. Por seu lado, Gina, ao não se tornar mais dependente do marido, sente que
será mais feliz com a liberdade de ir e vir sozinha, sem os cuidados do marido.
Aí o caldo do casamento vai engrossar de vez. Este é, sem dúvida, um dos filmes
mais fracos do diretor alemão Marc Forster, que tem em seu currículo, só como
exemplo, “007 – Quantum of Solage”, “O Caçador de Pipas” e “Em Busca da Terra
do Nunca”. Ou seja, é um bom diretor que desta vez pisou na bola. Com exceção da presença
da bela e charmosa Blake Lively, o filme não fornece muitos motivos para ser
recomendado.
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
“DAMASCUS COVER” (como
ainda não chegou por aqui – e talvez nem chegue -, não tem tradução),
Inglaterra, 2018, primeiro longa-metragem dirigido por Daniel Zelik Berk. O
roteiro foi assinado por Samantha Newton, que se baseou nos fatos reais reportados no romance “The Damascus Cover”, escrito pelo norte-americano Howard
Kaplan e lançado em 1977. Como quase todo filme de espionagem, você demora pelo
menos meia-hora para saber quem é quem e entender o que está acontecendo. Neste
“Damascus Cover”, o agente secreto israelense Ari Ben-Sion (o ator irlandês Jonathan
Rhys-Meyers), do Mossad, é designado para uma missão em Damasco, capital da
Síria. Disfarçado de empresário e com o nome de Hans Hoffmann, Ari tentará
fazer alguns contatos para ajudá-lo a tirar da Síria um cientista e sua
família. Em Damasco, Ari acaba conhecendo Kim (Olivia Thirlby), uma fotógrafa a
serviço de um jornal inglês, pela qual se apaixonará. O vilão da história é
Sarraj (Navid Negahban), o chefão do serviço secreto da Síria, que perseguirá e
tentará prender Ari até o final do filme. Em sua missão, Ari ainda se infiltrará num
grupo secreto de simpatizantes nazistas. Enfim, “Damascus Cover” tem suspense,
romance e ação, o que garante um entretenimento descompromissado. Vale pelo
fato de ser baseado em acontecimentos reais.
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
“CUSTÓDIA” (“JUSQU’À LA GARDE”),
2017, França, primeiro filme escrito e dirigido pelo ator e agora diretor
Xavier Legrand. Uma ótima estreia, aliás, que mereceu o Prêmio de “Melhor
Diretor” no Festival de Veneza. A trama é centrada no casal Miriam e Antoine
Besson (Léa Drucker e Denis Ménochet), que acaba de se divorciar e agora estão
brigando pela guarda do filho Julien (Thomas Gioria). Em audiência no tribunal,
Miriam pede a guarda exclusiva do menino, alegando que Antoine é muito violento
e pode machucá-lo. A juíza do caso, porém, concede ao pai o direito de visita
semanal. A partir dessa decisão, mãe e filho viverão momentos de tensão a cada
visita do pai (o semblante do ator Antoine Besson é realmente assustador), que continua insistindo com Miriam para retomar o casamento. Nos
minutos que antecedem o desfecho, o diretor cria um clima de tensão sufocante e
angustiante capaz de gelar o sangue e eriçar os pelos da nuca do espectador.
Uma aula de cinema de suspense, que faria inveja até ao mestre Hitchcock. Por aqui, além do circuito comercial, o filme
foi exibido como uma das atrações do Festival Varilux de Cinema Francês, em
2018, e durante a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro
de 2017. Um filmaço imperdível!
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
“TRISTEZA E ALEGRIA” (“Sorg
og Glaede”), Dinamarca, 2013, roteiro e direção de Nils Malmros. Esqueça a “Alegria”
do título. O filme é só “Tristeza”. Já começa de forma trágica. O cineasta
Johannes (Jakob Cedergren) chega em casa e é surpreendido pela notícia de que
sua esposa Signe (Helle Fagralid) acabara de assassinar a filha de 9 meses de
idade. Cabe aqui uma explicação: Signe há muito tempo é maníaco-depressiva,
deixou de tomar os remédios com a concordância do marido e, num surto
psicótico, acabou matando a filha cortando-lhe a garganta. Para tentar entender
o que aconteceu, Johannes procura o dr. Birkemose (Nicolas Bro), psiquiatra que
cuidava de Signe. Durante a conversa entre os dois, o filme volta no tempo e
conta como o romance entre Johannes e Signe começou. Signe tinha um ciúme
doentio do marido, principalmente com relação às atrizes que ele dirigia. Ela
não parava de chorar, um sinal evidente da doença. Quando a filhinha nasceu,
imaginava-se que Signe poderia melhorar, mas não foi o que aconteceu. Os dois
principais protagonistas são interpretados por ótimos atores, principalmente
Helle Fagralid. Não custa nada repetir: é um filme pesado, muito triste, mas
excelente sob o ponto de vista cinematográfico. Na verdade, foi um ato de grande
coragem do diretor Nils Malmros, que escreveu a história baseado no que
aconteceu em sua vida particular no início dos anos 80.
domingo, 28 de outubro de 2018
“TULLY”, EUA,
2018, chega para comprovar, de forma definitiva, o imenso talento da bela atriz
sul-africana Charlize Theron. Ela interpreta Marlo, mãe de duas crianças e prestes
a ter o seu terceiro filho. Grávida e com um baita barrigão, Marlo sofre o diabo
para cumprir os afazeres domésticos, como servir o café da manhã e levar os
filhos para o colégio. O mais difícil é lidar com o filho do meio, um garoto do
tipo autista, que só dá trabalho no colégio. O marido, Drew (Ron Livingston),
não ajuda muito, pois trabalha o dia inteiro e à noite prefere se isolar no
quarto para jogar videogame. Ou seja, não dá para contar com ele. Quando a
rotina fica pesada demais, principalmente logo depois do nascimento do bebê, o
irmão de Marlo resolve ajudá-la, contratando uma babá noturna, a Tully do
título, interpretada por Mackenzie Davis. A chegada de Tully fará com que Marlo
consiga relaxar e descansar. As duas começam a se dar tão bem que acabam
ficando amigas, a ponto de trocar confidências e intimidades. Segundo o
material de divulgação, Charlize engordou 23 quilos para representar Marlo. Sei
não. Acredito mesmo é que houve alguma trucagem ou então uma eficiente
maquiagem corporal. De qualquer forma, Charlize, mesmo gorda, continuou linda. O
filme foi dirigido pelo ator e diretor Jason Reitman (“Amor sem Escalas”, “Jovens
Adultos” – também com Charlize – e “Juno”. Além da presença da bela atriz,
outro trunfo do filme é o roteiro criativo, inteligente e bem-humorado escrito
por Diablo Cody, a mesma roteirista de “Juno”, pelo qual ganhou o Oscar de
Melhor Roteiro. “Tully” é um bom filme, mas acredito que vá agradar apenas o
público feminino.
MULHER
QUE SEGUE À FRENTE (“WOMAN WALKS AHEAD”), EUA, 2018, direção de
Susanna White (“Nosso Fiel Traidor”) e roteiro de Steven Knight. Trata-se de
uma história baseada em fatos reais. Em 1890, a viúva aristocrata Catherine
Weldon (Jessica Chastain), pintora nas horas vagas, resolve sair de Nova Iorque
e se aventurar numa perigosa viagem até Dakota do Norte. Seu objetivo era
pintar um retrato do lendário Touro Sentado (Michael Greyeyes), chefe dos índios
Sioux, que, depois de vencer inúmeras batalhas contra o exército norte-americano
e matar muitos homens brancos, vivia pacificamente como plantador de batatas
numa reserva indígena controlada pelos federais. Temerosa em lidar com um
grande guerreiro, Catherine foi aos poucos se aproximando de Touro Sentado, com
o qual começa uma forte amizade (o filme dá a entender que os dois tiveram um
caso). Catherine se engajou na briga entre índios e brancos pela disputa de
terras e enviou várias cartas a senadores norte-americanos e ao próprio governo
pedindo uma intermediação em favor dos indígenas. Esta sua atitude revoltou o
pessoal do exército e ela passou a ser perseguida e até espancada. O vilão da
história é o coronel Groves (Sam Rockwell), que sempre tentou dissuadir
Catherine a volta para Nova Iorque e ficar quietinha no seu canto. Pelo fato de
relembrar um fato histórico pouco conhecido por aqui, o filme vale a pena ser
visto. E ainda mais pela presença da excelente atriz Jessica Chastain, da qual
sou fã incondicional.
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
“A
GAROTA OCIDENTAL – ENTRE O CORAÇÃO E A TRADIÇÃO” (“Nuces”
no original, que na tradução literal para o português significa “Núpcias”, o
que seria um título mais coerente com a história), 2017, Bélgica, roteiro e
direção de Stephan Streker (é o seu terceiro longa-metragem). Para escrever o
roteiro, Streker se inspirou num caso verídico ocorrido em 2007 no interior da
Bélgica envolvendo uma jovem chamada Sadia Sheikh. Na época, o caso gerou
grande comoção no país. No filme, a jovem chama-se Zahira Kazim (Lina El
Arabi), de 18 anos de idade, uma das filhas de Mansoor Kazim (Babak Karimi), um comerciante
paquistanês estabelecido em Bruxelas há muitos anos. O patriarca da família exige
que os filhos sigam as regras da religião muçulmana, assim como as tradições
milenares do Paquistão. Para agradar aos seus pais, Zahira, mais
ocidentalizada, usa o lenço sobre a cabeça e costuma disfarçar em casa fazendo-se
passar por uma muçulmana legítima. Numa de suas escapadas, Zahira acaba ficando
grávida do namorado, que foge da paternidade. Sem saber da situação de Zahira,
seus pais a obrigam a casar com um paquistanês, como manda a tradição, e
escolhem três pretendentes através da internet. Só que ela se apaixona por um
francês. Aí a coisa vai pegar para o seu lado, pois a família não deixará a
ovelha desgarrar-se do rebanho. Entre trágico e comovente, o desfecho coroa um
drama muito bem elaborado, com atores muito bons, principalmente a jovem atriz
francesa de origem marroquina Lina El Arabi, e uma história que privilegia um
passeio cultural pela intimidade de uma família muçulmana tradicional. O filme
é ótimo, tendo participado da seleção oficial de vários festivais de cinema
mundo afora, como Toronto, Edimburgo, Istambul, Roma e Roterdãm, recebendo
muitos elogios da crítica e do público. Imperdível!
quarta-feira, 24 de outubro de 2018
“RASTROS” (“POKOT”), 2016, Polônia, marca a volta da veterana e consagrada
diretora polonesa Agnieszka Holland à telona, depois de anos dedicados à
direção de séries televisivas. A história de "Rastros" é centrada em Janina Duszejko
(Agnieszka Mandat-Grabka), uma engenheira aposentada que trabalha como
astróloga e professora de inglês num vilarejo localizado no Vale de Klodzko,
cercado por florestas. Chamada pelo pessoal de “velha excêntrica”, Janina é uma
ferrenha defensora dos animais e inimiga mortal dos caçadores, que formam a
maioria da população do vilarejo. É contra eles que Janina dedica seu maior
tempo, principalmente depois que suas cadelas desapareceram misteriosamente. Ao
mesmo tempo, vários caçadores aparecem mortos, sem pistas aparentes para a
polícia. No depoimento de Janina aos policiais, ela aponta os animais como os maiores suspeitos, afirmando que se trata de uma espécie de vingança contra aqueles
que os perseguem e os matam. A dedicação de Janina em favor dos
animais chega ao ponto de afrontar o padre do vilarejo no meio da sua homilia numa missa, quando ele
defendia o direito dos caçadores de exterminar os bichinhos. Até perto do
desfecho fica a pergunta: quem anda matando os caçadores? Veja o filme e saiba
a resposta. Faço questão de destacar o espetacular desempenho dessa atriz
polonesa maravilhosa, Agnieszka Mandat-Grabka. Só a atuação dela vale o ingresso. Mas não é só de drama que o filme é feito. Também tem muito humor. “Pokot” estreou no 67º Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2017,
sendo selecionado posteriormente para representar a Polônia na disputa do Oscar
2018 de Melhor Filme Estrangeiro. A crítica especializada não gostou. Eu gostei
muito e recomendo. Só para lembrar, a diretora polonesa é responsável por filmes excelentes, como "O Segredo de Beethoven", "Filhos da Guerra" e "Na Escuridão", entre outros.
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