quarta-feira, 15 de janeiro de 2020


“HEBE – A ESTRELA DO BRASIL”, 2019, direção de Maurício Farias, com roteiro de Carolina Kotscho. Trata-se da cinebiografia (incompleta) da apresentadora Hebe Camargo (1929-2012), que ficou no ar com seu programa de auditório durante 60 anos. Seja na Tupi, Record, Bandeirantes e SBT, seu programa de auditório bateu recordes de audiência, superando muitas vezes a poderosa Rede Globo. O filme acompanha a trajetória de Hebe durante a segunda metade dos anos 80, quando já era uma apresentadora consagrada em todo Brasil. Os enfoques principais são sua relação tumultuada com o diretor Walter Clark na TV Bandeirantes, seus desabafos ao vivo contra a censura, os políticos e a corrupção, o que quase lhe valeu uma prisão, e sua ida para o SBT. Mas é na sua vida particular que o filme dá maior destaque, as brigas violentas com o ciumento segundo marido Lélio Ravagnani, suas bebedeiras com as amigas Lolita Rodrigues e Nair Bello, além da sua extravagância em usar joias caríssimas e roupas exóticas e escandalosamente cheias de brilho. O fato da vida de Hebe ser retratada em apenas alguns anos da década de 80 restringiu em muito a história de Hebe, nascida em uma família pobre de Taubaté – no filme, ela dá a entender que tinha passado fome na infância. Faltou ainda abordar um aspecto importante na vida da apresentadora: sua participação no primeiro programa de televisão no Brasil, em 1950, na extinta TV Tupi. Também ficou faltando abordar seus últimos anos de vida, a doença e sua luta para sobreviver. Ou seja, como escrevi no início deste comentário, a cinebiografia de Hebe ficou incompleta, o que, na minha opinião, acabou prejudicando o resultado final – o filme virou minissérie em 10 episódios exibidos na programação Tela Quente da Rede Globo. Não assisti, mas dizem que é mais completa do que o filme. O elenco é o ponto alto do filme “Hebe – A Estrela do Brasil”: Andréa Beltrão (Hebe), Marco Ricca (Lélio Ravagnani), Danton Mello (Cláudio Pessutti, seu sobrinho e principal assessor), Caio Horowicz (Marcello, filho de Hebe), Daniel Ventura (Silvio santos), Felipe Rocha (Roberto Carlos), Stella Miranda (Dercy Gonçalves), Otávio Augusto (Chacrinha), Gabriel Braga Nunes (Décio Capuano, primeiro marido de Hebe), Danilo Grangheia (Walter Clark), Cláudia Missura (Nair Bello), Karine Teles (Lolita Rodrigues) e Renata Bastos (Roberta Close). Na mesma linha de cinebiografias de artistas brasileiros, recomendo as do Palhaço Bozo (“Bingo, o Rei das Manhãs”), Tim Maia, Chacrinha, Maysa, Elis Regina, Erasmo Carlos, Zezé de Camargo e Luciano “Os Dois Filhos de Francisco”) e Chacrinha.             

terça-feira, 14 de janeiro de 2020


“A PRECE” (“LA PRIÈRE”), 2018, França, 1h47m, direção de Cédric Kahn, que também assina o roteiro com a colaboração de Fanny Burdino e Samuel Doux. O filme tem como pano de fundo a religião, envolvendo questões como a fé, a devoção, o amor, a amizade, o sacrifício e a entrega. A história é centrada no jovem Thomas (Anthony Bajon), um viciado em heroína que aceita ser enviado a uma comunidade isolada nos Alpes franceses que trata de dependentes químicos. São dois tipos de acampamento, um para os rapazes e outro para as moças. Em ambos, a religião é a força motora para tentar a recuperação dos jovens. Desde que acordam, os jovens cumprem uma rotina bastante rigorosa e extenuante. Trabalham na horta, cortam lenha, rezam em conjunto e participam de sessões de terapia em grupo, durante a qual contam suas experiências e, alguns ex-internos, a sua vitória sobre o vício. Desde que chegou ao acampamento, Thomas sempre tem a seu lado um colega que serve de tutor ou orientador, no caso Pierre (Damien Chapelle), um ex-viciado que trabalha como voluntário. Após livrar-se das crises de abstinência, Thomas acaba descobrindo a fé e decide ir para o seminário. Quer ser padre. Ao mesmo tempo, porém, conhece a jovem Sybelle (Louise Grinberg), outra ex-viciada, pela qual se apaixona. Thomas viverá dias atormentados, devendo decidir pela Igreja ou pelo amor de uma jovem. Destaque para a participação especial da atriz alemã Hanna Schygulla como a Madre Myriam. Durante muitos anos - décadas de 70 e 80 -, Schygulla, dos clássicos “O Casamento de Maria Braun” (1978) e “Lili Marlene” (1981), foi uma das minhas musas do cinema. A atriz envelheceu e engordou. Está irreconhecível. Outro destaque de “A Prece” é o ator espanhol, de descendência alemã, Alex Brendemühl, do espetacular “The German Doctor” (2013), onde fez o papel do criminoso de guerra alemão Josef Mengele. “A Prece” estreou em fevereiro de 2018 no Festival Internacional de Cinema de Berlim e consagrou a excelente atuação de Antony Bajon com o Urso de Prata de Melhor Ator. Merecido. “A Prece” também foi exibido por aqui durante a programação oficial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Cinema da melhor qualidade.           

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020


Sou fã de carteirinha de Woody Allen desde que utilizava a mesma para pagar meia-entrada como estudante. E faz tempo – década de 60. São mais de 50 anos curtindo os filmes de Allen. Todo ano ele lança um, seja escrevendo, dirigindo ou também atuando, e não perdi nenhum. Ele sempre foi um dos meus diretores preferidos, ao lado de Scola, Fellini, Tornatori, Scorcese e Monicelli. Hoje, aos 84 anos, Allen continua em pleno vigor criativo e artístico, como comprova seu filme mais recente, “UM DIA DE CHUVA EM NOVA YORK” (“A RAINY DAY IN NEW YORK"), que escreveu e dirigiu, mas não atuou. Nele, Allen conta a história das peripécias dos namorados Gatsby (Timothée Challamet) e Ashleigh Enright (Elle Fanning) em Nova York. Fanning escreve para o jornal da faculdade e seu objetivo na Big Apple é entrevistar o diretor de cinema Roland Pollard (Liev Schreiber). O combinado é que depois da entrevista Gatsby levará Ashleigh para um passeio noturno na cidade, incluindo jantar, piano ao vivo e um giro de charrete pelo Central Park. Só que o esperado programa dá muito errado, já que Ashleigh ainda consegue uma entrevista exclusiva com o famoso roteirista Ted Davidoff (Jude Law) e ainda com o ator latino Francisco Vega (Diego Luna), o galã do momento em Hollywood. Enquanto isso, Gatsby fica desesperado por não conseguir falar com a namorada e, passeando solitário pela cidade, reencontra casualmente Shannon Tyrell (Selena Gomez), a irmã mais nova de uma antiga namorada. Além disso, ainda vai a uma festa da sua família com uma garota de programa. E por aí vai a história, com muitos encontros e desencontros, com o habitual humor de Allen, repleto de diálogos e situações inteligentes e hilariantes. Como o título já entrega, Nova York é filmada debaixo de uma chuva incessante, mas em nenhum momento perde seu charme, principalmente graças à bela fotografia do consagrado mestre italiano Vittorio Storaro. Mais um saboroso filme com a assinatura de Woody Allen e, portanto, imperdível!