sexta-feira, 7 de novembro de 2014

“LONGWAVE – NAS ONDAS DA REVOLUÇÃO” (“Les Grandes Ondes – À L’Ouest”), 2013, é uma co-produção Suíça/França/Portugal dirigida por Lionel Baier. Trata-se de uma comédia bastante divertida, que tem como pano de fundo a Revolução dos Cravos, movimento que acabou com a ditadura salazarista. O filme é ambientado, claro, em abril de 1974, e conta a história da jornada de dois jornalistas (Julie e Cauvin) e um técnico de som (Bob) de uma emissora de rádio suíça escalados para realizar reportagens sobre a contribuição do governo da Suíça para algumas áreas essenciais de Portugal, como, por exemplo, a Educação – eles visitam um colégio e constatam que a colaboração se resumiu a um relógio de parede (suíço, é claro). Mais algumas tentativas e eles chegam à conclusão de que a viagem foi uma “furada”. Em meio aos preparativos para retornar à Suíça, eles contratam um jovem tradutor chamado Pelé (o rapaz é branco). Quando resolvem voltar, no dia 25 de abril, se dão conta de que teve início, na noite anterior, uma grande revolução no país. Eles partem então para Lisboa, centro dos acontecimentos, e acabam se envolvendo numa série de confusões. De qualquer forma, farão valer a viagem. Nos créditos finais, aparece a foto da verdadeira Julie, agora bem mais velha, o que dá a entender que a história realmente aconteceu, embora com muitas pitadas de ficção. Vale a pena assistir, pois, além de engraçado, é um filme inteligente.     

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

“AMADOR”, 2010, é um drama espanhol dirigido por Fernando León de Aranoa (de “Segunda-feira ao Sol”, com Javier Bardem). Conta a história do casal de imigrantes peruanos Marcela e Nelson, que enfrenta um período de grande dificuldade financeira na Espanha. Nelson (Pietro Sibille) vende nas ruas flores que rouba de um entreposto. Marcela (Magaly Solier) ajuda o marido. Como o negócio não vai bem, Marcela decide procurar emprego. Em meio a essa situação difícil, Marcela ainda descobre que está grávida, mas tem medo de contar para o marido. Ela aceita o emprego para cuidar de um idoso doente, Amador (Celso Bugallo), até que a filha dele, Yolanda (Sonia Almarcha), volte da viagem de férias. Marcela vai encontrar em Amador um bom ouvinte e conselheiro. Esse convívio acaba gerando uma grande amizade entre os dois, até que um fato inesperado acontece e deixa Marcela numa situação alarmante. Ela vai tentar superar o problema com a ajuda de Puri (Fanny de Castro), uma prostituta sessentona que “visitava” Amador uma vez por semana. Puri é responsável por alguns bons momentos de humor, suavizando o clima triste que ronda a trajetória de Marcela e do próprio filme. O diretor utiliza o jogo de quebra-cabeças como representação da complexidade da vida. É montando um quebra-cabeças com pedaços de uma foto, por exemplo, que Marcela descobrirá um segredo nada agradável sobre o marido. Um filme mais interessante do que bom, mas que merece ser visto não apenas pela história um tanto inusitada, mas também pela ótima atriz peruana Magaly Solier, do premiado “A Teta Assustada”.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

“O SEGREDO DAS ÁGUAS” (“Futatsume no Mado” ou, no inglês, “Still the Water”), 2013, é um drama japonês sensível que merece ser visto por quem curte discussões filosóficas e conversas sobre os vários aspectos da nossa vida. O filme é ambientado na ilha Amami Oshima, ao Sul do Japão, e centra o desenvolvimento do enredo nos jovens Kioko (Jun Yoshinaga) e Kaito (Nigirô Murakami). Os fatos que se desenrolam em torno deles é que dão margem às discussões filosóficas já mencionadas. A doença terminal da mãe de Kioko e o aparecimento de um cadáver na praia, por exemplo, resultam em reflexões sobre a vida e a morte. A separação dos pais de Kaito leva os protagonistas a refletir sobre o amor, casamento e paternidade. O mesmo acontece com relação a temas como o destino, a Natureza, religião etc. Quem tiver paciência – e tempo – poderá até mesmo copiar os diálogos e depois refletir sobre o que foi dito. Num deles, o viúvo pai de Kioko compara a morte de Isa, sua esposa, ao fim de uma onda na praia, atribuindo ambos os fatos à energia que se esvai, mas que já tiveram sua força e o seu esplendor. Há também muitas cenas comoventes, como aquela em que a família e os amigos se despedem de Isa nos seus últimos momentos de vida. As cenas de mar - aéreas, submarinas e das ondas - são belíssimas e dizem muito sobre a força da Natureza. O filme, dirigido pela cineasta japonesa Namomi Kawase, disputou a Palma de Ouro do Festival de Cannes/2014 e foi exibido, aqui no Brasil, durante o 38º Festival Internacional de Cinema de São Paulo. Mais um belo filme que merece ser visto.                                              
“CARIBE – A TRAJETÓRIA DE WORRICKER” (“Turks & Caicos”), telefilme produzido e exibido pela BBC em 2013, é o segundo filme de uma trilogia que tem como protagonista principal Johnny Worricker (Bill Nighy), agente do MI-5, Serviço Secreto da Inglaterra (o primeiro filme da trilogia é “Page 8”, de 2010). Trata-se de um suspense político ambientado num luxuoso hotel das ilhas Turcas e Caicos, nas Antilhas, na verdade um paraíso fiscal. Lá se reúnem algums empresários americanos, a relações-públicas deles Melanie Fall (Winona Ryder), Curtis Pelissier (Christopher Walken), agente da CIA, e o próprio Worricker, além de uma contadora anã que aparece lá pelo meio do filme. Pelo que o enredo muito complicado dá a entender, ninguém sabe da verdadeira identidade de Worricker nem de Pelissier. O filme é repleto de diálogos, a maioria deles incompreensíveis e tediosos, num blá blá blá interminável dos mais irritantes. Não há ação e muito menos suspense. O elenco ainda conta com Helena Bonhan Carter e Ralph Fiennes, ou seja, um desperdício de talentos. Se o filme já é ruim, pior mesmo é o ator Bill Nighy, que faz o protagonista principal. Tem mais cara de agente funerário do que agente secreto. Feio, cara de fuinha, expressão de abobado, nenhum carisma e muito menos charme. Resumindo: o filme é uma bomba de proporções atômicas.                                                                                                        

domingo, 2 de novembro de 2014

“A BICICLETA DO MEU PAI” (“Mój Rower”), 2012, Polônia, direção de Peter Trzaskalski, é daqueles filmes sensíveis e comoventes que, ao mesmo tempo, divertem. Depois de uma vida juntos, a mulher de Wlodek (Michal Urbaniak) o abandona por um novo amor. Ela tem, veja só, 75 anos.  Wlodek deve ter a mesma idade, talvez um pouco mais velho.    Depois de ler a carta de despedida da esposa, ele bebe umas a mais e acaba sendo internado num hospital, pois é diabético. Seu filho Paul (Artur Zmijewski), um pianista muito famoso, chega às pressas da Alemanha para visitá-lo. O mesmo faz o jovem Maciec (Krzysztof Chodorowski), neto de Wlodec e filho de Paul, que vem de Londres para ficar ao lado do avô. O reencontro dos três, que não se viam a alguns anos, vai trazer à tona antigos desentendimentos. Paul decide buscar a mãe onde ela estiver e exige que seja acompanhado por Wlodek e Maciec. Nesse road movie, os três vão se conhecer melhor e tentar amenizar o relacionamento conflituoso que sempre tiveram. Os ásperos diálogos entre Paul e Maciec são hilariantes. Choque de gerações em estado puro. Há também muitos momentos comoventes, como aquele em que Wlodek e Paul tocam juntos no aniversário de uma menina, ou quando os três estão nadando juntos num rio. Mas o nó na garganta está reservado mesmo para o desfecho, quando Paul se apresenta ao lado da  Orquestra Sinfônica de Berlim. A trilha sonora é outro ponto alto do filme, do jazz de  Benny Goodman à música clássica de Mozart. Um filme para ver, ouvir, rir e se comover. E recomendar para os amigos.  Simplesmente imperdível!                                      
“EXUBERANTE DESERTO” (“Adama Meshuga’at”), 2006, dirigido por Dror Shaul, é um belo e sensível drama israelense que tem como pano de fundo a vida num kibutz tradicional. A história é ambientada em 1974 e tem como principais protagonistas Dvir (Tomer Steinhof), um menino de 12 anos, e sua mãe Miri (Ronit Yudkvitz), uma mulher que sofre de depressão a nível psiquiátrico, além de alcoólatra e  viciada em remédios. Dvir tem um irmão mais velho, Eyal (Pini Tavger), que não liga muito para a mãe. Quem cuida dela é mesmo Dvir. O filme mostra as normas rígidas que regem um kibutz, naquela época uma comunidade bastante fechada e tradicional. Interessante que os filhos, depois que nasciam, eram encaminhados para uma creche intitulada “Casa das Crianças” e lá moravam até os 13 anos, quando faziam o Bar Mitzvah. Dessa maneira, os pais, de acordo com a norma dos kibutz, ficavam livres para o trabalho comunitário. O filme tem momentos tocantes e bastante comoventes, principalmente quando envolve a relação afetuosa entre Dvir e a mãe, interpretada por esta estupenda atriz Ronit Yudikvitz. A qualidade desse filme foi reconhecida no Festival de Sundance/2007, onde conquistou o “Grande Prêmio do Júri”, e, no mesmo ano, no Festival de Berlim, onde ganhou o Urso de Vidro de Melhor Filme. Um filme sensível que merece ser visto e revisto.                                                                                                         
“A GAROTA DO 14 DE JULHO” (“La Fille du 14 Juillet”) é uma comédia francesa de 2013. Trata-se do primeiro longa dirigido por Antonin Peretjavko. É um filme que abusa do humor nonsense, com situações absurdas e sem nexo, piadas infames sem a menor graça e personagens caricatos cujos nomes incluem, por exemplo, Dr. Placenta, Sr. Guilhotin etc. Algumas cenas fazem referência a filmes franceses da década de 60, da chamada Nouvelle Vague, mas o estilo de paródia adotado pelo diretor Peretjavko passou longe de configurar uma homenagem. A personagem principal é Truquette (Vimala Pons), uma moça que transita pra cá e pra lá de vestido curto e biquíni com sua amiga Charlotte (Marie-Lorna Vaconsin). As duas conhecem Hector (Grégoire Tachnakian) e Pator (Vincent Macaigne) e com eles irão viajar para a praia no início das férias de verão. No meio do caminho, eles ficam sabendo que as férias de verão foram canceladas em toda a França pelo governo devido à recessão. Todo mundo deve voltar a trabalhar. E por aí vai esse filme repleto de bobagens, um nonsense generalizado. Quem quiser arriscar e assistir, pelo menos vai curtir a atriz de origem indiana Vimala Pons, que, mesmo fazendo papel de abobada, mantém um charme irresistível, complementado por uma bela silhueta. Aqui no Brasil, o filme foi exibido durante a 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.