sábado, 23 de julho de 2016

“TOM NA FAZENDA” (“Tom à La Ferme”), 2013, Canadá, direção de Xavier Dolan. Este foi o quarto filme escrito e dirigido pelo jovem diretor, roteirista e ator canadense. A história: após a morte do seu namorado, com quem vivia em Montreal, Tom (Dolan) entra em profunda depressão. Mesmo assim, resolve participar do funeral e visitar a mãe do falecido, Agathe (Lise Roy), e o irmão dele, Francis (Pierre-Yves Cardinal), que vivem numa fazenda. Como Agathe não sabe da opção sexual do filho, Tom esconde o romance, dizendo que era apenas amigo do morto. Para disfarçar ainda mais, Tom pede que uma amiga, Sarah (Evelyne Brochu), se apresente na fazenda dizendo ter sido namorada do jovem morto. Como em quase todos os filmes de Dolan, o clima é pesado, sufocante, com muita violência psicológica, agressões verbais e físicas. Enfim, um filme muito desagradável. Dolan sempre gostou de chocar a plateia. Quase todos os personagens que cria são emocionalmente desequilibrados, neuróticos e alguns até psicóticos, o que pode ser comprovado em “Mommy”, “Amores Imaginários” e “Eu Matei Minha Mãe”. Desde que surgiu como menino prodígio do cinema, ao dirigir “Eu Matei Minha Mãe”, em 2009, com apenas 20 anos de idade, Dolan manteve seu estilo e ganhou a simpatia dos críticos profissionais. "Tom à La Ferme" foi o vencedor do Prêmio da Crítica do Festival de Veneza 2013.  Se você prefere filmes mais leves, um entretenimento para relaxar, esqueça Dolan.                                     

quarta-feira, 20 de julho de 2016

A eutanásia, ou suicídio assistido, já gerou inúmeros filmes bons, o melhor deles – minha opinião - o francês “Amor” (“Amour”), de Michael Haneke, Oscar 2013 de Melhor Filme Estrangeiro. Outro excelente filme explorando o assunto é o dinamarquês “CORAÇÃO MUDO” (“Stille Hjerte”), 2014, dirigido por Bille August (“Pelle, o Conquistador”, “A Casa dos Espíritos”, “Trem Noturno para Lisboa”). Esther (Guita Nørby) tem esclerose múltipla e seu estado piora a cada dia. Com a aprovação do marido, o médico Poul (Morten Grunwald), e das filhas Sanne (Danica Cursic) e Heidi (Paprika Steen), ela decide cometer suicídio assistido. Antes, porém, convida a família para um último final de semana. Uma despedida. Como era esperado, cria-se um clima de tristeza geral e a decisão de Esther passa a ser contestada, gerando conflitos, arrependimentos e dúvidas. O filme é muito bom, mas o maior destaque realmente é o ótimo elenco, principalmente as veteranas atrizes dinamarquesas Guita Nørby e Paprika Steen, além da sérvia Danica Cursic. Muita emoção e momentos comoventes num filme bastante cativante. Imperdível!    

terça-feira, 19 de julho de 2016

“Este filme é dedicado às vítimas do Holocausto Soviético”. A frase, reproduzida nos créditos finais do drama estoniano “NA VENTANIA” (“RISTTUULES”), 2014, diz respeito aos milhares de cidadãos da Letônia, Estônia e Lituânia que morreram fuzilados ou nos campos de trabalhos forçados na Sibéria, para onde foram deportados pelo governo russo do ditador Stalin durante a Segunda Guerra Mundial. O filme é centrado em Erna (Laura Peterson), enviada a um campo de concentração na Sibéria juntamente com a filha Eliide (Mirt Preegel). O roteiro foi todo inspirado nas cartas escritas por Erna para o seu marido Heldur (Tarmo Song), enviado para outro campo de prisioneiros. Se a história já é trágica por si só, a concepção estética criada pelo jovem diretor estoniano Martti Helde, de 28 anos, aumentou a níveis estratosféricos o clima melancólico do filme. Não há diálogos, apenas uma narrativa em off de trechos das cartas escritas por Erna. O filme é todo em preto e branco. A maioria das cenas apresenta os personagens e figurantes imóveis. Esse recurso estético, segundo o diretor, foi escolhido depois que ele leu um trecho da carta de um preso na Sibéria onde ele dizia que “Aqui na Sibéria, parece que o tempo parou”. Para chegar até o final é preciso que o espectador se arme de uma dose monumental de paciência, pois vai encarar um filme extremamente monótono, quase entediante, embora muito comovente. Por esse trabalho de estreia, o diretor Helde conquistou o Prêmio de Melhor Diretor Estreante no Festival Internacional de Cinema de Pequim 2015.   
“AMOR E REVOLUÇÃO” (“Colonia”), 2015, Alemanha, direção de Florian Gallenberger ("Sombras do Passado"), é mais um drama histórico inspirado em fatos reais ocorridos logo após a instalação da ditadura militar no Chile. Mais um capítulo obscuro – e desconhecido, pelo menos para mim – do infame regime comandado por Augusto Pinochet. Às vésperas do golpe militar, militantes esquerdistas do mundo inteiro estão no Chile para defender o governo de Salvador Allende. Um deles é o fotógrafo e artista plástico alemão Daniel (Daniel Brühl), que em Santiago reencontra sua namorada alemã, a aeromoça Lena (Emma Watson). Depois de uma noite de amor, eles acordam logo após o golpe militar e saem às ruas. Disfarçadamente, ele fotografa a violência da repressão, só que é descoberto, preso e enviado para uma prisão militar secreta, no subsolo de uma fazenda intitulada Colonia Dignidad, cujos moradores são fanáticos seguidores de um pregador embusteiro e violento, Paul Schäfer (Michael Nyqvist). Aqui, Daniel é violentamente torturado e, fingindo desequilíbrio mental, acaba como um dos membros da seita. Lena descobre o seu paradeiro e também ingressa na seita. Lena e Daniel se reencontram e começam a planejar sua fuga. A partir daí, o filme entra num clima de tensão que vai até o final, quando tentam sair do Chile. A produção do filme é uma verdadeira salada mista: é uma coprodução Alemanha/Luxemburgo/França, é falado em inglês, o diretor é alemão, assim como Brühl e parte do elenco, Emma Watson (dos filmes de Harry Potter) é francesa, mas criada na Inglaterra, e Nyqvist é sueco. O resultado final não ficou tão bom, embora valha a pena assistir pela história. Há outros filmes muito melhores sobre o período da ditadura chilena, como “No”, “Post Mortem”, "Machuca" e “Missing”.                              

domingo, 17 de julho de 2016

É bom avisar logo de cara: “BLIND”, 2014, Noruega, não é um filme convencional, fácil de digerir. A história começa com as reflexões de Ingrid (Ellen Dorrit Petersen), narradas em off. Ela perdeu a visão recentemente, deixou de sair de casa e passa o tempo pensando no que teve a oportunidade de ver, relembrando visões e tentando descobrir as cores de um edifício, de um shopping, a raça de um cachorro etc. Enquanto passa o tempo todo sozinha no apartamento, Ingrid tem a sensação de que seu marido Morten (Henrik Rafaelsen) está sempre a observando, o que parece ser o prenúncio de alguma cena de suspense, o que não acontece. Ao mesmo tempo, a história coloca em cena personagens aleatórios como Einar (Marius Kolkenstvedt), um tarado viciado em sites pornô, e Elin (Vera Vitali), outra mulher que acaba ficando cega como Ingrid, mas com um comportamento bem mais neurótico. Estes dois últimos personagens parecem ter sido criados pela mente de Ingrid, que estaria escrevendo um romance. Ou não? Muitas das cenas parecem não fazer sentido, exigindo um esforço quase mediúnico do espectador para adivinhar o que está acontecendo. Elin, por exemplo, aparece com um filho, que depois vira uma filha. Elin aparece também em várias cenas com Morten, marido de Ingrid. Um filme difícil de entender. Trata-se da estreia do norueguês Eskil Vogt como diretor. Ele é mais conhecido como roteirista de filmes como “Oslo, 31 de Agosto” e “Mais Forte que Bombas”. De qualquer forma, “Blind” conquistou os prêmios de Melhor Filme Europeu no Festival de Berlim/2014 e o de Melhor Roteiro no Festival de Sundance (EUA), no mesmo ano.