sábado, 24 de fevereiro de 2018

O drama russo “SEM AMOR” (“Nelyubov” – em inglês, “Loveless”), escrito e dirigido por Andrey Zvyagintsev, estreou durante no 70º Festival de Cannes 2017 e conquistou o Grande Prêmio do Júri. Além disso, está entre os cinco finalistas que disputarão o Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro. A história envolve a relação desfeita do casal Zhenya (Mariana Spivak) e Boris (Alexey Rozin), que resolvem se separar de forma traumática, com brigas e acusações das mais ásperas. Principalmente por parte de Zhenya, que demonstra um ódio amargo pelo marido. As discussões chegam ao ponto de envolver a guarda do filho do casal, Alyosha (Matvey Novikov), um garoto entrando na adolescência. Zhenya diz que não quer ficar com o filho e Boris rebate dizendo que o menino precisa da mãe. Alyosha escuta toda essa conversa, sofre com o desamor dos pais e simplesmente desaparece do mapa, o que acaba gerando uma busca incessante por parte da polícia. A ausência de sentimentos em relação ao filho desaparecido fica mais do que evidente. Como se nada tivesse acontecido, Boris curte um romance com uma jovem bem mais moça, que está grávida, e Zhenya inicia uma nova vida amorosa indo morar com um namorado rico. O roteirista e diretor Andrey Zvyagintsev, que se revelou com o ótimo “Leviatã”, também indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015, elaborou um filme contendo uma elevada carga de dramaticidade, sem abrir concessão para qualquer tipo de sentimento que não seja a raiva e a falta de amor. Trata-se, portanto, de um drama bastante pesado e nada agradável. Mas, sem dúvida, um filme muito bem feito e impactante. Destaque para a atuação espetacular da atriz Mariana Spivak.            

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Um dos cinco finalistas ao Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro representando a Suécia e vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2017, “THE SQUARE – A ARTE DA DISCÓRDIA” (“The Square”) contém uma crítica mordaz e contundente à arte contemporânea e aos seus adeptos. Explora, por exemplo, essa coisa ridícula que chamam de instalações, cujo conceito ou finalidade ninguém sabe explicar direito, nem mesmo seus autores. Além de satirizar esse modismo que ousam chamar de arte, o filme também critica as classes privilegiadas e seu desprezo pelos mais necessitados – por incrível que pareça, Estocolmo também tem muitos moradores de rua que vivem pedindo esmolas nas ruas e nas estações de metrô. A história começa com o egocêntrico e prepotente Christian (Claes Bang), curador-chefe do Museu de Arte Moderna de Estocolmo dando uma entrevista para a jornalista norte-americana Anne (Elisabeth Moss). Ele quer divulgar a próxima exposição, cuja atração principal é uma instalação chamada “Square” (quadrado, em português). Aliás, a autora desse trabalho existe mesmo na vida real, a artista plástica argentina Lola Arias, que ficou pê da vida por não ter sido convidada para participar das filmagens. Ao mesmo tempo, Christian tem seu celular roubado e, com a ajuda de um colega de trabalho, tenta encontrar os ladrões. No meio de tudo isso que está acontecendo, Christian contrata uma firma de publicidade para divulgar a exposição. Os jovens publicitários apresentam uma alternativa pra lá de inusitada que tem tudo para dar errado... e dá. Entre as cenas de maior impacto engendradas pelo roteirista e diretor sueco Ruben Östlund (do ótimo “Força Maior”) está aquela em que, num jantar super-chique no museu, um “homem-macaco” faz uma performance bastante perturbadora. Outra cena chocante é aquela em que, no meio de uma entrevista coletiva, um homem com Síndrome de Tourette interrompe os trabalhos gritando ofensas e palavrões. Sem falar nas cenas em que aparecem os moradores de rua. O filme, falado em sueco, inglês e dinamarquês, é bastante instigante com sua sátira escancarada e debochada do excêntrico mundo da arte contemporânea. Tem boas chances de conquistar a estatueta, mas não é um filme muito fácil de digerir.      

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

“AMOR E TULIPAS” (“Tulip Fever”), 2017, EUA/Reino Unido, direção de Justin Chadwick, EUA/Reino Unido, é um drama de época adaptado para o cinema do romance “Tulip Fever”, da escritora inglesa Deborah Moggach. A história é ótima e o elenco de primeira qualidade: Alicia Vikander, Christoph Waltz, Judi Dench, Holliday Grainger, Dane DeHaan e Cara Delevingne. O filme também é muito bom, agradável de assistir. Toda a história é ambientada em Amsterdã  em meados do século 17, quando a cidade holandesa vivia a febre especulativa do mercado de tulipas. A jovem Sophia (Vikander) sai do convento para se casar com Cornelis Sandvoort (Waltz), um rico comerciante de especiarias. Cornelis contrata o jovem pintor Jan van Loos (DeHaan) para elaborar um retrato do casal. Se arrependimento matasse... Sophia se apaixona pelo pintor, e vice-versa, e ambos iniciam um tórrido romance. Os amantes, porém, passam a correr um sério risco de serem descobertos a partir do momento em que Maria (Grainger), a empregada dos Sandvoort, fica sabendo dos seus encontros e começa a chantagear a patroa. A repentina gravidez de Maria dá margem a um plano diabólico criado por Sophia. O filme fica ainda melhor depois que o diretor Chadwick (de “Mandela: O Caminho para a Liberdade” e “A Outra”) acrescenta algumas cenas de suspense recheadas de humor, aliviando um pouco a carga dramática da situação. Trata-se, portanto, de um bom entretenimento, mesmo em se tratando de um filme de época, gênero que normalmente carrega no drama e na tragédia. Pode assistir sem medo de não gostar.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Mesmo que tenha sido bastante elogiado pela crítica especializada e de ter sido indicado para representar o Brasil no Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro, confesso que relutei em assistir “BINGO, O REI DAS MANHÃS”, primeiro longa-metragem dirigido por Daniel Rezende, com roteiro de Luiz Bolognesi. Afinal, não me interessou muito o fato que o filme retratava a vida de Arlindo Barreto, um dos atores que interpretou o palhaço Bozo com grande sucesso durante a década de 1980 nas manhãs da programação infantil da TVS, depois SBT. Devido a problemas de direitos autorais, no filme Barreto passou a se chamar Augusto Mendes (Vladimir Brichta), Bozo ficou sendo Bingo, Márcia de Windsor virou Martha Mendes (Ana Lúcia Torre) e a TV Globo foi retratada como TV Mundial (até Pedro Bial faz uma ponta). Um dos únicos nomes verdadeiros que permaneceu foi a de Gretchen (Emanuelle Araújo). Arlindo Barreto/Augusto Mendes não se conformava em manter sigilo sobre sua identidade verdadeira, conforme o rígido contrato que assinou ao ser contratado para interpretar Bozo/Bingo. Ele queria ser famoso e reconhecido não como o palhaço, mas sim como o ator que o interpretava. Essa frustração foi um dos motivos que levaram Barreto às drogas e à bebida, inclusive nos bastidores do programa. Para desespero de Lúcia (Leandra Leal), Barreto/Mendes não seguia o roteiro pré-estabelecido, preferindo improvisar. Numa dessas ocasiões, quando Gretchen se apresentava cantando “Conga”, ele começou a se esfregar na cantora, gerando uma cena, convenhamos, nada apropriada para o público infantil. O filme me surpreendeu pela qualidade da direção, do roteiro, da cenografia, da recriação de época e, principalmente, pela interpretação competente de Vladimir Brichta, que, confesso, não sabia que era tão bom ator. A trilha sonora é ótima, levando-nos a uma viagem musical aos anos 80. IMPERDÍVEL!