O
veterano diretor norte-americano Martin Scorsese (de “Os Bons Companheiros”, “O
Lobo de Wall Street” e tantos outros filmes importantes) alimentou durante mais
de 20 anos o desejo de realizar “SILÊNCIO” (“Silence”), um drama épico
ambientado no Século 17, cuja história é inspirada no romance escrito pelo
japonês Shusaku Endo em 1966. O filme, que tem quase três horas de duração,
começa quando a Companhia de Jesus, em Portugal, recebe a notícia de que o
padre Cristóvão Ferreira (Liam Neeson), que estava no Japão em missão
catequista, havia renunciado publicamente à Fé Cristã. Para confirmar a
notícia, dois jesuítas são enviados ao país do sol nascente: Sebastião
Rodrigues (Andrew Garfield, de “Até o Último Homem”) e Francisco Garupe (Adam
Driver). Eles chegam clandestinamente, já que o Regime Tokugawa, que dominava o
Japão, havia proibido a prática de qualquer outra religião no país – só era
permitido o Budismo. A perseguição aos cristãos era violenta: tortura e morte
por decapitação ou crucificação. Até chegar a Ferreira, os dois padres
enfrentarão inúmeros perigos e correrão risco de vida. Estranho que o filme não
tenha conseguido uma divulgação mais efetiva, ainda mais em se tratando do
consagrado diretor, além da presença de astros como Liam Neeson e Andrew
Garfield. Aliás, embora os cartazes do filme tenham destacado Liam Neeson como
astro principal, na verdade é Andrew Garfield quem leva o filme nas costas.
Neeson aparece pouco, apenas no início e no final. Mesmo com Scorsese na
direção, o filme não teve indicações importantes ao Oscar 2017. Apenas uma: a de
Melhor Fotografia.
quarta-feira, 1 de março de 2017
terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
Ambientado
entre os anos 50 e 60, quando a questão racial estava em plena efervescência nos
EUA, “LOVING” conta a história verdadeira do casal Richard e Mildred
Loving (interpretados por Joel Edgerton e Ruth Negga), ele branco e ela negra. Como
residem no Estado da Virginia, onde o casamento inter-racial é proibido, eles
se casam secretamente em Washington, mas quando voltam são imediatamente presos.
Decisão do juiz: se permanecerem na Virginia cumprirão pena; para escapar da cadeia, terão que viver em
outro estado por nada menos do que 25 anos. É claro que eles optam pela segunda
opção. Anos depois, porém, já com três filhos, eles resolvem voltar e arriscar
a sorte. O embate jurídico tem seu desenrolar quando um advogado de uma
associação ligada aos direitos civis decide levar o caso à Suprema Corte. Escrito
e dirigido por Jeff Nichols (“Amor Bandido” e “O Abrigo”), o filme disputou a
Palma de Ouro no Festival de Cannes 2016 e teve Ruth Negga indicada para Melhor
Atriz no Oscar 2017 – a atuação de Edgerton também é magistral. Ao contrário de
filmes como “Selma – Uma Luta pela Igualdade” e “Malcom X”, por exemplo, “Loving”
é bastante contido ao explorar o tema do racismo, focando a questão apenas no
relacionamento entre o casal e nas suas dificuldades em concretizar um amor proibido. Cinema da melhor qualidade.
Todo
mundo deve ter ouvido falar de Madre Teresa de Calcutá – hoje Santa –, mas
poucos conhecem os principais detalhes da trajetória dessa religiosa albanesa que
dedicou toda a sua vida a ajudar os pobres. “AS CARTAS DE MADRE TERESA” (“The
Letters”), EUA, 2014, roteiro e direção de William Riead, conta essa
história, desde seu período de enclausuramento no Convento Irmãs de Loreto, a
fundação da Congregação Missionárias da Caridade até o Prêmio Nobel da Paz, em
1979. O roteiro é inspirado nas inúmeras cartas que Teresa (interpretada de
forma magistral pela atriz inglesa Juliet Stevenson) escreveu, durante 50 anos,
ao seu amigo e conselheiro espiritual, padre Celeste van Exem (Max Von Sydow). Além
dos trechos mais importantes dessas cartas, num das quais revela que muitas
vezes sentia uma escuridão dentro de si, ou seja, a ausência de Deus, o filme
explora o trabalho de Teresa junto à população carente das favelas de Calcutá,
graças ao qual se tornou famosa no mundo inteiro. Além de prestar atendimento
médico aos doentes, muitos largados para morrer no meio da rua, Teresa percorria as favelas da cidade ensinando as crianças
a ler e escrever. O filme também mostra alguns detalhes de bastidores do processo
que resultou em sua beatificação pela Igreja Católica em 2003 e sua canonização
em 2016. Além de Juliet e Von Sydow, o elenco conta ainda com a participação
especial de Rutger Hauer como o padre Benjamin Praagh. Enfim, uma história
maravilhosa que precisa ser conhecida. Imperdível!
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
Mais
uma ótima comédia francesa com o ator Cristian Clavier. “O QUE EU FIZ PARA MERECER ISSO?” (“Une heure de
Tranquillité”), 2014, roteiro e direção do veterano Patrice Leconte (“O
Marido da Cabeleireira”). A história é baseada na peça teatral homônima de
grande sucesso na França, escrita por Florian Zeller. Como diz o título
original, uma hora de tranquilidade é o que deseja o cirurgião-dentista Michel
Leproux (Clavier) para ouvir um LP raro de jazz que acabara de comprar
num sebo de discos de vinil. Quando chega em casa, porém, uma série de
acontecimentos acaba estragando seu dia. A revelação bombástica da esposa, Nathalie
(Carole Bouquet), a festa barulhenta dos vizinhos, o filho que aparece trazendo
um grupo de imigrantes filipinos e a inesperada visita de Elsa (Valérie
Bonneton), amante de Michel. Além disso, Michel tem que suportar as trapalhadas de
dois pedreiros encarregados da reforma de um dos quartos do apartamento. Uma
confusão dos diabos. Diversão garantida! Cristian Clavier é um ótimo
comediante. Entre seus filmes mais engraçados, recomendo também “Que Mal Eu fiz
a Deus?”, de 2014, “Asterix e Obelix – Missão Cleópatra”, de 2002, e “Os
Visitantes”, de 1998. Em tempos tenebrosos como os que estamos vivendo, nada melhor do que uma boa comédia.
“MA MA”, 2014, Espanha, roteiro e direção de Julio Medem,
com Penélope Cruz, Luis Tosar, Alex Brendemühl, Asier Etxeandia e Teo Planell. Filme foi lançado no Festival Internacional de Cinema de Toronto/2015. Um drama e tanto. A
história é centrada em Magda (Cruz), recentemente abandonada pelo marido,
desempregada e mãe de um menino de 10 anos. Como desgraça não vem sozinha,
ainda descobre que está com câncer e será obrigada a fazer uma mastectomia. Em
meio a este cenário trágico, ela conhece Arturo (Tosar), que acaba de perder a
mulher e a filha num acidente de trânsito. Os dois começam um romance e ela engravida.
Quando tudo levava a crer que Magda começaria uma vida nova, eis que surge mais
uma péssima notícia. O drama de Magda não tem fim, mas, para atenuar a situação, ela conta com o apoio de Arturo e também de Julián (Asier Etxeandia), seu
médico e grande amigo. Penélope Cruz, aos 42 anos, está cada vez mais bonita e
competente, apesar de representar uma personagem tão sofrida. Uma curiosidade:
antes de ingressar no cinema, o diretor Julio Medem era médico. Ele tem em seu
currículo filmes como “Os Amantes do Círculo Polar”, o erótico “Um Quarto em
Roma” e “Lúcia e o Sexo” (que revelou a atriz Paz Vega). Embora tenha exagerado
na dose dramática, Medem não conseguiu fazer de “Ma Ma” um filme daqueles de
arrancar lágrimas, o que talvez tenha sido sua intenção. Enfim, dá para ver numa boa!
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