sábado, 22 de dezembro de 2018


“INFILTRADO NA KLAN” (“BLACKkKLANSMAN”), 2018, EUA, 2h16m, direção de Spike Lee, que também é autor do roteiro juntamente com Charlie Washtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott. Baseado em fatos reais, o filme é centrado no policial negro Ron Stallworth, da polícia do Colorado, que em 1978 conseguiu se infiltrar na organização clandestina e racista Ku Klux Klan. Na época, além dos negros, a Klan também praticava atentados violentos contra judeus e imigrantes. Ao mesmo tempo em que faz uma crítica contundente à elite branca racista norte-americana, incluindo, é claro, Donald Trump, Spike Lee trata do assunto com bom humor, principalmente ancorado na ótima atuação dos atores John David Washington (Ron) e Adam Driver (Flip Zimmerman). A ambientação de época é mais um dos destaques desse ótimo filme de Spike Lee, com claras chances de algumas indicações ao próximo Oscar. A saborosa trilha sonora, com alguns sucessos da Black Music dos anos 70, também contribui para tornar o filme um entretenimento dos mais agradáveis. Numa das cenas mais comoventes do filme, o grande ator e cantor Harry Belafonte aparece ainda em grande forma aos 91 anos, relembrando o assassinato de um negro em 1917. No desfecho, Spike Lee reproduziu imagens reais do conflito ocorrido em Charlottesville em 2017, quando neonazistas ocuparam as ruas para defender, na base da porrada, a supremacia da raça branca. Ou seja, antes era o pessoal da Ku Klux Klan e, agora, os neonazistas. A discriminação racial continua leve e solta na terra do Tio Sam, tema que Spike Lee adora explorar. E com muita competência. O filme estreou no 71º Festival de Cannes, em maio de 2018, recebendo muitos elogios tanto do público como da crítica especializada. Filmaço, imperdível!.    

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

"LÍDA BAAROVÁ", 2016, coprodução Eslováquia/República Tcheca, 1h46, direção de Filip Renc. O drama biográfico conta uma história pouco conhecida por nós, a da atriz tcheca Lída Baarová (1914-2000), famosa nos anos 30 não apenas por atuar em filmes de sucesso, mas também por ter sido amante do figurão nazista Joseph Goebbels, Ministro das Comunicações de Hitler e um dos idealizadores do Holocausto.  Lída Baarová (na verdade o nome artístico de Ludmila Babková) saiu de Praga (Tchecoslováquia) ainda jovem para tentar a sorte no cinema alemão, mais especificamente nos estúdios de Babelsberg (Berlim), então considerada a Hollywood europeia. Lída (Tatiana Pauhofová) não demorou a conquistar fama principalmente depois de contracenar filmes românticos com o maior galã alemão da época, Gustav Fröhich (Gedeon Burkahard), com o qual casaria logo depois. A beleza da atriz tcheca impressionou Goebbels, que passou a assediá-la de forma acintosa, mesmo depois dela ter-se casado com Gustav. O poder e a inteligência de Goebbels acabaram por fascinar a jovem atriz tcheca, independente do nazista ser casado e ter vários filhos. O caso virou um escândalo nos jornais e Hitler foi obrigado a intervir, pelo bem do nazismo e da família alemã. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Lída foi considerada traidora, acabou presa e condenada à morte, o que não aconteceu graças à interferência do seu pai, amigo de um líder comunista. Lída continuaria a atuar em filmes na Espanha e na Itália, dedicando-se posteriormente ao teatro. Resumo da ópera: o filme “Lída Baarová” é excelente, apresenta atuações soberbas da atriz tcheca Tatiana Pauhofová e do ator austríaco Karl Markovics como Goebbels, além do excelente roteiro e da primorosa ambientação de época – cenários e figurinos. Eu concluo dizendo que é uma verdadeira obra-prima do cinema europeu, à disposição na programação da Netflix. Não deixe de assistir!      

domingo, 16 de dezembro de 2018


“A BALADA DE ADAM HENRY” (“THE CHILDREN ACT”), 2017, Inglaterra, 1h46, direção de Richard Eyre, com roteiro assinado por Ian McEwan, autor do livro “The Children Act”, lançado em 2014. O drama inglês é centrado na Juíza da Alta Corte Fiona Maye (Emma Thompson), responsável pelos julgamentos de casos do Direito Familiar. Em meio à crise conjugal que vive com o marido Jack (Stanley Tucci), Fiona é obrigada a julgar casos difíceis e polêmicos, o que a coloca sempre em evidência na mídia. Ainda mais depois de iniciar o julgamento de um processo que envolve o jovem Adam Henry (Fionn Whitehead, de “Dunkirk”), que tem leucemia e vive um dilema: precisa de uma transfusão de sangue para sobreviver, mas como é adepto das Testemunhas de Jeová, recusa-se a fazer o procedimento, apoiado pelos pais. Numa atitude sem precedentes no meio judiciário, a juíza se propõe a ouvir o desejo do rapaz pessoalmente no hospital onde está internado. Essa visita terá consequências em relação ao futuro de Adam e resultará também numa mudança na própria vida da juíza. O filme é muito bom, valorizado ainda mais pela atuação magistral de Emma Thompson, que comprova mais uma vez ser uma das melhores atrizes da atualidade. O jovem ator Fionn Whitehead também mostra muita competência. Imperdível!   


“SANGUE FRANCÊS” (“UN FRANÇAIS”), 2016, França, 1h38, segundo longa-metragem escrito e dirigido por Diastème (nome artístico de Patrick Asté). A história, baseada em fatos reais, começa em 1992, quando um grupo de neonazistas e skinheads passa as noites em Paris agredindo árabes, negros, comunistas e homossexuais. A violência das cenas é bastante realista. Marco (Alban Lenoir, excelente ator) é um desses neonazistas no qual toda a história é centrada. Marco e os amigos defendem os ideais do partido de extrema-direita Front National, cuja principal bandeira é o ódio aos imigrantes, negros e outras minorias. O nacionalismo exacerbado e radical é mostrado não apenas nas reuniões dos neonazistas, como nos encontros sociais de uma parte da elite francesa, onde se canta a “La Marseillaise” após terem assistido a vídeos do político ultradireitista Jean-Marie Le Pen discursando em público. O fanatismo desse pessoal é tão forte que durante a final do mundo de 1998, em que a França derrotou o Brasil, alguns se negaram a comemorar simplesmente porque um árabe (Zidane) fez dois gols. O filme acompanha a trajetória de Marco como um jovem que, com o passar do tempo, amadurece e tenta seguir sua vida adiante sem a estigma de ter sido um neonazista fichado na polícia. O filme é excelente. Pena que não chegou a ser exibido por aqui no circuito comercial. Teve apenas uma exibição durante o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro em 2015. Obrigatório para quem curte cinema de qualidade.