quinta-feira, 15 de junho de 2017

Jim Jarmusch é um dos diretores de cinema mais cultuados da atualidade por grande parte dos críticos especializados. Esse status foi obtido por filmes autorais como “Flores Partidas”, “Amantes Eternos” e “Estranhos no Paraíso”, que definiram seu estilo pouco convencional. Com o recente “PATERSON”, o diretor norte-americano de 64 anos novamente arrancou elogios entusiasmados, transformando-se numa das grandes sensações do Festival de Cannes 2016. Ambientado na cidade de Paterson, em Nova Jersey, o filme acompanha o cotidiano de Paterson (Adam Driver, de “Star Wars”), um motorista de ônibus que adora escrever poesias nas horas vagas. Ele é casado com Laura (a bela atriz iraniana Golshifteh Farahani), uma mulher ingênua e infantil que procura seu lugar no mundo profissional, indecisa entre a música, a culinária ou as artes plásticas. A rotina de Paterson começa cedo com o café da manhã com Laura, o trabalho de motorista, a cerveja no final do dia no bar de Doc (Barry Shabaka Henrley) e os passeios com o buldogue Marvin. E, claro, escrever poesias, que Jarmusch faz questão de reproduzir na tela – na verdade, o autor delas é o poeta Ron Padgett, a quem o diretor admira há muitos anos. Como na maioria de seus filmes, Jarmusch mais uma vez reúne humor, ironia e erudição, tornando “Paterson” um entretenimento inteligente e acima da média.


segunda-feira, 12 de junho de 2017

O filme se chama “DESCONHECIDA” (“Complete Unknown”), mas poderia se chamar “Inexplicável”. Vou tentar explicar o “Inexplicável”, a começar pela história sem pé nem cabeça.  Mulher bonita (Alice - Rachel Weisz) conhece um rapaz num bar. Este a convida para jantar com uma turma de amigos na casa de um deles, Tom (Michael Shannon). Todo mundo fica curioso em conhecê-la. Ela conta que viajou pelo mundo inteiro, trabalhou como bióloga na Tasmânia e até como assistente de mágico na China, entre outras peripécias que deixariam Forrest Gump com vergonha. Será ela uma mentirosa compulsiva ou tudo que disse é verdade? Pior: Tom, que é casado, acaba lembrando da moça, que há muitos anos se chamava Jennifer. Parece que tiveram um romance. Muita coincidência ela aparecer justamente na casa dele. O pessoal sai para dançar numa discoteca. Alice, ou Jennifer, vai embora e Tom sai atrás. Enquanto conversam, uma senhora (Kathy Bates) leva um tombo e eles a socorrem. Alice, ou Jennifer, diz que Tom é médico e que cuidará dela. E por aí vai essa aberração cinematográfica, que inclui uma longa cena com sapos noturnos, que não quer dizer absolutamente nada, assim como o filme inteiro. Inexplicável também é o fato de Rachel Weisz e Michael Shannon, dois bons atores, aceitarem participar de tamanho descalabro. E também Kathy Bates e Danny Glover, estes últimos em rápida aparição, talvez envergonhados. Quem escreveu e dirigiu esse verdadeiro abacaxi foi Joshua Marston, que ficou conhecido depois de dirigir “Maria Cheia de Graça”, filme de 2004, que não é tão ruim como este. Conselho: passe bem longe!    


domingo, 11 de junho de 2017

"QUANDO A NEVE CAI" (“DESPITE THE FALLING SNOW”), 2016, Inglaterra, roteiro e direção da inglesa Shamim Sarif, que adaptou para o cinema o romance que ela mesmo escreveu. A história é ambientada no final da década de 50 em Moscou, durante a Guerra Fria. Depois de viver com o trauma de ver seus pais assassinados pelo regime de Stalin, Katya (a sueca Rebecca Fergusson, de “Missão Impossível: Nação Secreta”) resolve se vingar e passa a trabalhar como espiã para os EUA. Numa de suas missões, ela é escalada para conseguir informações junto a Alexander (Sam Reid), que ocupa um cargo importante no governo comunista, a quem deveria seduzir. Katya não poderia imaginar, porém, que Alexander iria se apaixonar perdidamente por ela, e vice-versa. E os dois acabam se casando. Em 1961, Alexander acompanha uma missão diplomática russa para uma reunião com os norte-americanos em Nova Iorque e acaba desertando. A história salta para 1992. A fotógrafa Lauren (papel também de Fergusson), sobrinha de Alexander, resolve ir para Moscou tentar descobrir o que aconteceu com Katya depois que o marido desertou. Ela conhece Marina (a bela atriz alemã Antje Traue), uma jornalista de grande influência na capital soviética, que se propõe a ajudá-la. Ao encontrar um antigo parceiro de Katya, ela descobrirá toda a verdade. Mesmo que a espionagem apareça como pano de fundo, é o romance entre Katya e Alexander que norteará todo o desenrolar da história. Não é o melhor filme de espionagem que já vi, nem é ruim, mas fica bem longe dos melhores.                                   
“UM MERGULHO NO PASSADO” (“A Bigger Splash”), 2015, coprodução Itália/França, roteiro de David Kajganich e direção de Luca Guadagnino, é uma refilmagem do clássico policial francês “A Piscina”, de 1969, com Alain Delon e Romy Schneider. No filme recente, falado em inglês, a história é centrada na estrela do rock Marianne Lane (Tilda Swinton), que resolve passar as férias de verão com o namorado Paul de Smedt (Mathias Schoenaearts) numa casa na paradisíaca Ilha de Pantelleria, na Sicília. Tudo vai bem com o casal até que chega uma visita das mais inesperadas e indesejadas: Harry Hawkes (Ralph Fiennes), ex-produtor musical de Marianne, e sua filha Penélope (Dakota Johnson). Prevendo confusão, Paul não quer que Marianne hospede Harry e a filha. Marianne, porém, não tem opção, pois, além de antigo amigo, Harry produziu muitos de seus discos e shows. Os dias passam e o clima vai ficando cada vez mais pesado, principalmente pelo comportamento inconveniente do egocêntrico e verborrágico Hawkes, que não para de beber, toma banho de piscina nú e ainda assedia Marianne. Os jogos de sedução também envolvem Penélope e Paul. É claro que a convivência acabará numa tragédia e, a partir de então, o filme se transforma num verdadeiro suspense policial, envolvendo até mesmo os coitados dos refugiados que chegam de barco ao litoral italiano. Apesar do elenco de astros, o filme não convence e, em muitos momentos, torna-se até desagradável, principalmente por causa do personagem histriônico e irritante de Ralph Fiennes.                                


O drama inglês “45 ANOS” (“45 YEARS”), foi escrito e dirigido por Andrew Haigh e teve sua primeira exibição no Festival de Berlim/2015. Na tranquilidade bucólica da confortável casa em que vivem numa zona rural da Inglaterra, Geoff Mercer (Tom Courtnay) e Kate (Charlotte Rampling) curtem uma rotina tediosa ao lado do seu cão pastor Max. Às vésperas da festa do  45º aniversário de casamento, Geoff recebe a notícia de que o corpo de uma antiga namorada e uma de suas grandes paixões da juventude, que estava desaparecida depois de um acidente, foi encontrado numa geleira dos Alpes Suíços. Ao recordar alguns fatos dessa antiga paixão, Geoff acaba gerando ciúmes em Kate. O relacionamento entre os dois fica abalado, principalmente pela insegurança de Kate quanto ao verdadeiro amor de Geoff, se ela ou a antiga namorada. Nos dias em que antecedem a festa, Kate e Geoff recordam alguns fatos que marcaram seu casamento, mas o fantasma da antiga namorada sempre aparece no meio da conversa. Será que haverá clima para a festa? A resposta você só terá assistindo a este excelente filme, cujo roteiro foi baseado no conto “In Another Country”, de David Constantine, e claramente inspirado no clássico “Cenas de um Casamento”, de 1973, do diretor sueco Ingmar Bergman. “45 Anos” foi premiado em vários festivais pelo mundo afora. Charlotte Rampling e Tom Courtnay conquistaram o Prêmio Urso de Ouro de Melhor Atriz e Ator no Festival de Berlim/2015. Além disso, também por esse filme, Rampling foi indicada e disputou o Oscar/2016 de Melhor Atriz. A trilha sonora, dos anos 60, é deliciosa: Marvin Gaye, Aaron Neville, Buffalo Springfield, The Moody Blues, The Turtles etc.