sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

“TRAÍDOS PELA GUERRA” (“DEN STØRST FORBRYTELSEN”), 2020, Noruega, disponível na plataforma Amazon Prime Video, 2h06m, direção de Eirik Svensson, seguindo roteiro assinado por Lars Gudmestad e Harald Rosenløw-Eeg. Baseado em fatos reais ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial, o filme conta a história trágica da família Braude, constituída de judeus originários da Lituânia e que se fixaram na capital norueguesa Oslo nas primeiras décadas do século passado. A trajetória dessa família foi retratada no livro “Den Størst Forbrytelsen”, escrito pela jornalista norueguesa Marte Brekke Michelet e lançado em 2014. No livro, que serviu como base ao roteiro do filme, Marte detalha também o que foi o holocausto na Noruega. No total, os nazistas invasores deportaram 773 judeus para campos de concentração, sendo que apenas 38 sobreviveram. Antes da invasão dos alemães, em 1942, os judeus noruegueses acreditaram estarem seguros, conforme garantias do governo do país. Mas o que se viu foi o colaboracionismo das autoridades do governo norueguês, que até formaram uma polícia especial de estado para colaborar com os nazistas na captura dos judeus – em 2012, o governo da Noruega anunciou um pedido oficial de desculpas. O roteiro é todo centrado na família Braude, pai, mãe e quatro filhos. Somente a filha conseguiu escapar, refugiando-se na Suécia. Nos principais papéis estão os atores Jakob Oftebro, Carl Martin Eggesbø, Pia Halvorsen e Michalis Koutsogiannakis. Fora a conjuntura histórica, que sem dúvida é o conteúdo principal, “Traídos pela Guerra” retrata de forma bastante realista o sofrimento dos noruegueses sob o jugo dos nazistas. Trata-se, portanto, de um filme muito triste e, ao mesmo tempo, impactante, mas muito bem realizado. Recomendo.         

 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

 

“UMA NOITE EM MIAMI” (“ONE NIGHT IN MIAMI”), 2020, Estados Unidos, disponível na plataforma American Prime Video, 1h54m, filme de estreia na direção da atriz Regina King. E que estreia! Antes, porém, de iniciar meu comentário, aviso que o filme não é recomendado para o grande público, mas sim para o público grande, ou seja, o público adulto. Na verdade, o filme é uma adaptação da peça teatral homônima, escrita em 2013 pelo dramaturgo Kemp Powers, também autor do roteiro. Em sua peça, Powers teve a ideia de criar um encontro fictício em fevereiro de 1964 em um hotel de Miami, reunindo quatro dos principais ícones negros da época: o lutador de boxe Cassius Clay, o ativista Malcom X, o cantor e compositor Sam Cooke e o astro do futebol americano Jim Brown. As quatro celebridades se reuniram depois de assistirem Clay ganhar o título de campeão dos pesos pesados ao vencer Sonny Liston. É um filme de diálogos, aliás muito bem escritos, relevantes e atuais, colocando em discussão temas como o racismo, os direitos civis dos negros e ainda a conversão de Malcom X e Cassius Clay para a Nação do Islã. Naquele mesmo ano, Cassius Clay mudaria seu nome para Muhammad Ali. Para interpretar os personagens principais, Regina King convocou Eli Goree (Cassius Clay), Kingsley Ben-Adir (Malcolm X), Aldis Hodge (Jim Brown) e Leslie Odom Jr. (Sam Cooke), todos ótimos e muito bem caracterizados. Também estão no elenco Lance Reddick, Michael Imperioli, Law Rence Gilliard Jr., Derek Roberts, Beau Bridges, Matt Fowker, Jeremy Pope e Christopher Gorgham. O surpreendente filme de Regina King estreou no Festival de Cinema de Veneza em setembro de 2020, foi exibido em inúmeros outros festivais – sempre com muitos elogios da crítica -, e culminou com três indicações ao Oscar 2021: Melhor Ator Coadjuvante (Leslie Odom Jr.), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Canção Original (“Speak Now”). Não levou nenhuma estatueta. Acho que foi injusto também não ter sido indicado a Melhor Filme. Trocando em miúdos, “Uma Noite em Miami” parte de uma ideia genial, transforma-se em uma peça teatral e, finalmente, em um grande filme. Aliás, um FILMAÇO!, assim mesmo, com letras maiúsculas.              

 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

 

“A OUTRA FACE DA GUERRA” (“DVSELU PUTENIS” – em inglês, “Blizzard of Souls”), 2020, Letônia, disponível na plataforma Amazon Prime, 2h3m, primeiro longa-metragem escrito e dirigido pelo cineasta letão Dzintars Dreibergs, mais conhecido como diretor de documentários. Trata-se de um excelente drama de guerra ambientado durante a Primeira Guerra Mundial. A história, baseada no livro de Aleksandrs Grins, escrito em 1934, é centrada no jovem Arturs Vanags (Oto Brantevics), de 16 anos, que vê a mãe ser assassinada pelos invasores alemães e resolve se alistar no exército imperial russo. Por causa da pouca idade, seu pai, que também é do exército, é obrigado a autorizar o seu alistamento. Dessa forma, Arturs e seu pai se alistam juntos, assim como o irmão mais velho de Arturs. O filme acompanha de perto a atuação de Arturs na frente de batalha. Só para lembrar, os combates naquele conflito eram corpo a corpo, onde as trincheiras eram a única proteção dos soldados. Além da falta de experiência como soldado, Arturs terá de enfrentar situações de alto risco, sem contar com invernos muito abaixo de zero, racionamento de alimentos e presenciar muitas mortes pelo caminho. Quando a guerra está praticamente no fim, Arturs terá que se alistar no exército da Letônia e lutar contra os próprios russos para defender a independência de seu país, já que a Rússia, agora sob o comando de Lênin e dos comunistas, pretende anexar vários países na base da violência. Dessa forma, “A Outra Face da Guerra”, além de ótimo filme, também é uma verdadeira aula de história. Como informação adicional, lembro que o filme foi o representante da Letônia na disputa do Oscar 2021 de Melhor Filme Internacional. Filmaço!           

 

“FILHOS DO ÓDIO” (“SON OF THE SOUTH”), 2020, Estados Unidos, 1h46m, disponível na plataforma Netflix. Sem dúvida, um dos melhores filmes já realizados sobre a questão racial nos Estados Unidos. Méritos para o roteirista e diretor Barry Alexander Brown, cuja parceria com o cineasta Spike Lee (produtor executivo deste) vem de longa data. Brown foi editor de vários filmes de Lee, como “Faça a Coisa Certa”, "Malcom X” e “Infiltrado na Klan”, todos abordando a temática racial. No caso de “Filhos do Ódio”, trata-se da adaptação do livro “The Wrong Side of Murder Creek”, de Constance Curry, que conta a história do jovem branco Bob Zellner (Lucas Till), que no início dos anos 60 do século passado se aliou à luta anti-segracionista dos negros. Embora pertencente à uma família de membros da temida Ku Klux Klan – seu avô era um dos líderes -, Zellner se juntou aos principais ativistas negros da época, como Rosa Parks e John Lewis, tornando-se porta-voz contra a segregação racial no sul dos Estados Unidos. Por causa de sua militância, Zellner foi preso 17 vezes em apenas três anos. Sua trajetória é contada no filme desde que ingressou como voluntário no SNCC (Comitê Coordenador Estudantil Não Violento), em Atlanta (Geórgia) – ele morava em Montgomery (Alabama). Zellner abandonou a família, a noiva e os amigos para lutar pela causa dos negros. De forma bastante realista e explícita, o filme apresenta cenas de extrema violência, misturadas a imagens da época, quando a violência é real. Além de Lucas Till, estão no elenco Lucy Hale, Lex Scott Davis, Julia Ormond, Brian Dennehy, Jake Abel, Ludi Lin, Chaka Forman, Dexter Garden, Mike Manning, Shamier Anderson, Sienna Guillory e Sharonne Lanier. Duas notas sobre o elenco: este foi o último filme do veterano ator Brian Dennehy (o avô de Zellner no filme), que faleceu logo após o fim das filmagens; outro destaque é a presença da atriz Julia Ormond, envelhecida demais, quase irreconhecível. “Filhos do Ódio” é dedicado ao ativista John Lewis, morto em 2021. Um grande filme que merece ser visto.