sábado, 6 de fevereiro de 2016

“DIFRET”, 2014, Etiópia, roteiro e direção do estreante Zeresenay Berhane Mehari. Angelina Jolie assina como produtora executiva (quem mais seria?). Trata-se de um drama sensível e comovente, baseado em fatos reais acontecidos em 1996. A adolescente Hirut Assefa (Tizita Hagere), de 14 anos, vive com a família numa aldeia do interior da Etiópia. Ao receber uma recusa dos pais de Hirut ao seu casamento, o pretendente, ajudado por amigos, resolve sequestrá-la. Ela consegue fugir do cativeiro, depois de violentada, e mata o responsável pelo estupro. Hirut é presa e será julgada. A advogada Meaza Ashenafi (Meron Getnet), que trabalha para uma ONG que defende os direitos humanos das mulheres, assume a defesa da menina. O caso vira comoção nacional e se transforma numa grande polêmica, pois o sequestro de mulheres para casamento é uma tradição secular na Etiópia. A manutenção dessa tradição estará em jogo dependendo do resultado do julgamento de Hirut. Exibido em vários festivais pelo mundo, o filme foi bastante elogiado e até ganhou prêmios, como o do Festival de Sundance (EUA), na categoria “Cinema Dramático Mundial”. Para se ter uma ideia da importância desse reconhecimento, basta dizer que “Difret” é simplesmente o quarto filme realizado na paupérrima Etiópia. Assista e se emocione com o desempenho da jovem atriz Tizita Hagere. Enfim, um filme para encher os olhos. De lágrimas, inclusive. Não perca!                                                                          
O drama canadense “FÉLIX & MEIRA” (“Félix et Meira”), 2014, roteiro e direção de Maxime Giroux, fez parte da programação oficial do 19º Festival de Cinema Judaico de São Paulo, em outubro/novembro 2015. A história, ambientada na comunidade judaica ortodoxa de Montreal (Canadá), é centrada na jovem Meira (Hadas Yaron), casada com o rabino Shulem (Luzer Twersky). Insatisfeita com a rotina de obediência ao marido e à religião, Meira passa os dias cuidando da filha e participando de reuniões com outras mulheres da comunidade hassídica. O marido a proíbe até de escutar algumas músicas que, segundo ele, denigrem a imagem da família. Ao mesmo tempo, Meira recusa-se a manter a tradição das mulheres judias de gerar muitos filhos, o que deixa o marido bastante contrariado. Crise conjugal instalada, Meira, em suas andanças com a filha pelo bairro, acaba conhecendo Félix (Martin Dubreuil), um solteirão solitário e carente em luto pela morte do pai. Da amizade inicial, a coisa extrapola para um romance proibido, o que dá combustível para a segunda metade do filme. O maior destaque do filme vai para o desempenho da atriz israelense Hadas Yaron, conhecida pelo ótimo “A Noiva Prometida”, que lhe valeu o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza/2012. 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

“YOUTH” (“La Giovinezza”), 2015, filme mais recente do diretor italiano Paolo Sorrentino (de “La Grande Bellezza”, Oscar 2015 de Melhor Filme Estrangeiro). Podemos definir este filme somando três adjetivos: onírico, satírico, felliniano. A história gira em torno de alguns hóspedes ilustres de um luxuoso hotel nos Alpes Suíços: Fred Ballinger (Michael Kane), um famoso maestro, sua filha Lena (Rachel Weisz, belíssima), tentando se recuperar de um casamento desfeito, Mick Boyle (Harvey Keitel), um cineasta em busca de um bom roteiro para o seu próximo filme, a atriz Brenda Morel (Jane Fonda), que chega ao hotel apenas para conversar com Boyle, Jimmy Tree (Paul Dano), um ator norte-americano, uma Miss Universo (a estonteante modelo romena Madalena Diana Ghenea) e ninguém menos do que Diego Maradona (Roly Serrano), caracterizado como uma figura patética e grotesca. Não faltarão também, num delírio visual do diretor Boyle, mulheres representando personagens femininas marcantes do cinema. A cada cena, Sorrentino nos presenteia com imagens belíssimas, formando um visual que poucos cineastas são capazes de criar. Para reforçar, o diretor ainda acrescenta cenários e paisagens deslumbrantes dos Alpes Suíços. Embora seja produção italiana, é todo falado em inglês. O filme causou polêmica ao ser exibido no Festival de Cannes 2015, quando disputou a Palma de Ouro. Ao final da exibição, uma parte da plateia aplaudiu de pé. Outra parte vaiou. Se eu estivesse lá, seguiria o pessoal que aplaudiu de pé. Aliás, gostei mais deste do que de “A Grande Beleza”. Faço questão de aplaudir, também de pé, Jane Fonda, que nos poucos minutos em que permanece em cena dá um verdadeiro show de interpretação. Cinema da melhor qualidade.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

“O ENCONTRO” (“Time Out of Mind”), 2015, EUA, roteiro e direção do israelense Oren Moverman (“O Mensageiro”). A história acompanha a rotina do sem-teto George (Richard Gere, que também é um dos produtores) pelas ruas de Nova Iorque, a luta diária para conseguir dinheiro para comer, enfrentar a burocracia dos serviços sociais para tirar documentos e as dificuldades para encontrar vaga nos abrigos nas noites de inverno. George é alcóolatra e sofre de confusão mental. Ele busca uma reaproximação com a filha, Maggie (Jena Malone), que trabalha num bar. Em suas perambulações, George faz amizade com outro morador de rua, Dixon (Ben Vereen), que afirma ter sido um grande músico de jazz, tendo tocado, inclusive, com Bill Evans. Se o filme se arrasta numa monotonia tediosa, fica pior ainda com o surgimento de Dixon, um sujeiro inconveniente que não para de falar um segundo, irritando não só os outros personagens do filme como o próprio espectador. Você vai ver um Richard Gere como nunca se viu na tela. Envelhecido, cara de sujo, inchado, doente. Longe, muito longe, do galã charmoso de tantos filmes. Um filme melancólico, muito triste, desagradável. Difícil recomendar, mesmo com a presença de Gere.

                                                       

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O tráfico de drogas na fronteira EUA/México é o tema central de “SICÁRIO – TERRA DE NINGUÉM” (“Sicario”), 2014, direção do canadense Denis Villeneuve (dos ótimos “Incêndios” e “Os Suspeitos”). A personagem central é Kate Macy (Emily Blunt), agente do FBI recrutada para fazer parte de um grupo encarregado de prender um grande líder de um cartel de drogas mexicano. A equipe é comandada pelo agente da CIA Matt Graver (Josh Brolin) e tem como um de seus integrantes um mercenário sanguinário e violento, Alejandro (Benício Del Toro). Kate começa a discordar dos métodos utilizados pelo grupo, que incluem interrogatórios com torturas, das quais Alejandro é especialista, e assassinatos sumários. A cena inicial é bastante chocante, quando a equipe do FBI comandada por Kate descobre dezenas de cadáveres “emparedados” na casa de um traficante. Outra cena marcante acontece no final. Garotos jogam futebol num campo de areia na periferia da violenta Ciudad Juárez, no México, quando, de repente, ouvem uma rajada de metralhadora. Param o jogo por segundos, prestam atenção e logo voltam a jogar novamente, como se nada tivesse acontecido. O filme é bom, tem ação e suspense do começo ao fim.                           

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Fã dos filmes de Wood Allen, confesso que me decepcionei com o seu mais recente, “HOMEM IRRACIONAL” (“Irrational Man”), 2015. Não é uma comédia, como poderia ter sido, muito menos um romance ou um drama. Está mais para um suspense policial, gênero que Allen já havia adotado em “Crimes e Pecados”, “Match Point” e “O Sonho de Cassandra”, com resultado bem melhor. “Homem Irracional” ficou com a cara daqueles filmes baseados em romances da escritora Patricia Highsmith, com algumas referências a Hitchcock. Em crise existencial e com depressão, o professor de Filosofia Abe Lucas (Joaquin Phoenix) vai lecionar numa universidade de uma pequena cidade. Sua presença agita as jovens alunas, mas apenas uma delas conseguirá uma atenção maior de Abe, a bela Jill (Emma Stone). A professora Rita (Parker Posey) também encontrará um espaço na cama de Abe. Allen explora a Filosofia como a grande fonte dos diálogos, com citações de Sartre, Kierkegaard e Kant. Quem não está acostumado com o tradicional estilo verborrágico de Allen pode não gostar e se cansar de tanto blá-blá-blá. Mesmo não sendo um dos melhores filmes do diretor norte-americano, fica bem acima da média reinante.
Inspirado no romance “The Price of Salt”, escrito por Patrícia Highsmith – o que já é um bom começo -, o drama “CAROL” conta a história do envolvimento amoroso de duas mulheres nos anos 50. Uma delas é Carol (Cate Blanchett), mulher refinada da sociedade nova-iorquina que está em processo de divórcio. A outra é Therese Belivet (Rooney Mara), vendedora de uma loja de departamentos. A atração entre ambas acontece no dia em que Carol vai comprar um presente para sua filha pequena e é atendida por Therese. O romance entre as duas enfrentará muitas barreiras, a pior delas do marido de Carol, Harge Aird (Kyle Chandler), que consegue a guarda da filha mediante a acusação de que sua esposa tinha e tem casos com outras mulheres, uma delas Abby (Sarah Paulson) e agora Therese. O que mais impressiona no filme é o esmero visual criado pelo diretor Todd Haynes (“Longe do Paraíso” e “Não Estou Lá”). Fotografia, cenários, figurinos e até o recurso de misturar ambientes em P/B com pessoas e objetos em cores. Tudo feito com classe, requinte e elegância. O filme é ainda valorizado pela atuação espetacular da dupla principal de atrizes, Cate Blanchett e Rooney Mara. Não foi à toa que o filme recebeu 6 indicações para o Oscar 2016 (Atriz, Atriz Coadjuvante, Fotografia, Trilha Sonora, Roteiro Adaptado e Figurinos). Achei injusto não ter sido indicado para “Melhor Filme” e “Melhor Diretor”. O filme é ótimo, tanto que, ao final de sua exibição de estreia no Festival de Cannes 2015, foi aplaudido de pé.