sábado, 13 de fevereiro de 2021

 

“TEMPO COMPARTILHADO” (“TIEMPO COMPARTIDO”), 2018, México, produção original Netflix, 1h36m, direção de Sebastian Hofmann, que também assina o roteiro com a colaboração de Julio Chavezmontes. Difícil definir o gênero. Tem um pouco de comédia, crítica social e abordagem anticapitalista. De qualquer forma, trata-se de um filme bastante interessante e original. Para comemorar sua promoção no trabalho, Pedro (Luis Gerardo Méndez) leva a esposa Eva (Cassandra Ciangherotti) e o filho “Raton” para passar uma semana de férias no chique Everfields Resorts. Ele fez a reserva antecipada para um apartamento, mas ao chegar tem a primeira decepção. O mesmo apartamento foi reservado para outra família. Aqui vai a primeira crítica, denunciando a ganância do grupo empresarial norte-americano que recentemente assumiu a empresa. Para mostrar serviço para os novos patrões, o departamento de vendas fez mais reservas do que as instalações disponíveis. Não teve jeito, Pedro teve que dividir o apartamento com outra família de quatro pessoas. Adeus privacidade, adeus descanso e adeus intimidade com a patroa. Em paralelo, o filme também destaca a história de Andres (Miguel Rodarte) e sua esposa Gloria (Montserrat Marañón), funcionários há vários anos do resort. Antes da nova empresa assumir o comando do resort, Andres era responsável pela parte recreativa dos hóspedes. Com a chegada do grupo norte-americano e a consequente política de redução de gastos, Andres passou a atuar no departamento de lavanderia, sendo o responsável pelo recolhimento de roupas sujas dos apartamentos. Enquanto isso, sua esposa caiu nas graças dos novos donos e logo estava trabalhando no setor de relações-públicas do resort. Não há dúvidas de que “Tempo Compartilhado” é um projeto cinematográfico ambicioso, para não dizer pretensioso em virtude de sua estética um tanto enigmática. O filme estreou no Festival Sundance de Cinema (EUA), famoso por exibir filmes independentes. O filme mexicano recebeu o Prêmio de Melhor Roteiro, além de muitos elogios da crítica especializada. Vale a pena conferir.                            

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

 

“ACRIMÔNIA - ELA QUER VINGANÇA” (“ACRIMONY”), 2018, Estados Unidos, disponível na Netflix, 120 minutos, roteiro e direção de Tyler Perry. Só para esclarecer: a palavra Acrimônia quer dizer “sabor amargo; azedume; aspereza e severidade". A história é centrada em Melinda (Taraji P. Henson), uma mulher que foi explorada durante anos por seu namorado e depois marido Robert (Lyriq Bent). Desde muito jovem, Melinda tinha ataques de raiva, explosões de fúria, não levava desaforo para casa e logo partia para briga. Os dois se conheceram na universidade, Melinda então interpretada por Ajiona Alexus e Robert por Antonio Madson. No começo do casamento, os dois passam por enormes dificuldades financeiras, pois Robert não trabalhava, vivia em casa desenvolvendo um projeto de uma bateria que iria revolucionar o fornecimento de energia. Por muitos anos, Melinda é que bancava as despesas da casa, muitas vezes trabalhando em dois empregos. Depois da morte da mãe, Melinda recebeu, juntamente com as duas irmãs, uma bolada de herança e ainda a casa onde moravam. Mas todo o dinheiro de Melinda seria aplicado no projeto de Robert e, pior, ela hipotecou a casa para sustentar o sonho do marido. Melinda perdeu tudo, inclusive a amizade das irmãs, que, desde o início, sempre foram contra Robert. O casamento acabou em divórcio e cada um partiu para o seu lado. Nesse meio tempo, Robert consegue vender a patente de sua invenção e fica milionário. E prestes a casar com uma antiga namorada. Quando soube disso, Melinda não teve dúvidas: ingressou na justiça para pedir metade do dinheiro obtido por Robert, alegando que perdeu todo o seu dinheiro e a casa para patrocinar o projeto da bateria. Perdeu, claro, e então resolveu partir para a justiça com as próprias mãos. Até aí, o filme transcorre normalmente, embora repleto de clichês. Ao chegar ao desfecho, porém, naufraga de forma lamentável. A sequência final é digna de um pastelão, tão ridícula a ponto de estragar todo o filme, que já não era muito bom. Embora seja uma ótima atriz, como já demonstrou em filmes como “Estrelas Além do Tempo”, além de tantos outros, Taraji P. Henson errou feio ao optar em atuar num filme tão fraco. Nenhuma surpresa em se tratando do roteirista e diretor Tyler Perry, responsável por outras bombas como “O Limite da Traição” e “Um Funeral em Família”.                           

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021


BOI, 2019, Espanha, 1h51m, roteiro e direção de Jorge M. Fontana (seu filme de estreia). É um suspense ambientado em Barcelona, cujo enredo acompanha a trajetória do jovem Boi (Bernat Quintana) em seus primeiros dias como motorista de aplicativo destinado a atender passageiros VIPs, enquanto sua carreira como escritor não decola. Sua vida particular está um caos. Ele mora com a tia que tem problemas mentais, com a cadela de estimação Matilda e com a namorada Anna (Miranda Gas), que, quando descobriu que estava grávida, simplesmente desapareceu. Tudo isso ficou em segundo plano a partir do momento em que Boi é enviado ao aeroporto para pegar dois empresários chineses, Gordon (Adrian Pang) e Michael (Andrew Lua). Aqui vale destacar a tendência do roteirista e diretor em colocar nomes estranhos em seus personagens, a começar pelo principal. Em segundo lugar, os nomes ocidentais escolhidos para os chineses. Com suas idas e vindas transportando os asiáticos por vários locais de Barcelona, Boi começa a desconfiar de que algo muito perigoso envolvia os negócios dos empresários. Não pense que o filme dará explicação do que aconteceu ou que está acontecendo. Você terá que adivinhar, e duvido que consiga chegar a alguma conclusão, como eu também não cheguei. Isso tudo é fruto da pretensão do roteirista e diretor Jorge M. Fontana em transformar “Boi” num filme cult, original e diferente. Mas não conseguiu, principalmente por causa de um roteiro confuso e incoerente. Piorou ainda mais quando acrescentou alguns diálogos filosóficos e reflexões tão profundas quanto um pires. O filme foi lançado nos cinemas da Espanha em março de 2019 e logo depois estreou na Netflix, onde permanece disponível. Com relação aos críticos, o filme dividiu opiniões. Alguns escreveram que “Boi” não passa de um exercício intelectual mal sucedido – o que também é minha opinião. Para outros críticos, o filme é esteticamente interessante e original. Ou seja, não é para qualquer público, o que também concordo.                            





terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

 

O MEDIADOR (BLACK BEACH), 2020, Espanha, 1h55m, direção de Esteban Crespo, que também assina o roteiro com David Moreno. Disponível na Netflix desde o dia 3 de fevereiro de 2021, o filme é um thriller de fundo político. A história é centrada no advogado Carlos (Raúl Arévalo), que trabalha para uma empresa petrolífera. Ele mora na Bélgica com a esposa Susan (Melina Matthews), que está grávida de oito meses. Quando um engenheiro norte-americano a serviço de sua empresa é sequestrado em um país da África – esse país não é nomeado -, onde a empresa mantém uma unidade de extração de petróleo, Carlos é convocado para servir de mediador com os sequestradores, membros de uma organização rebelde que luta para derrubar o governo local. Carlos já havia trabalhado naquele país africano a serviço das Nações Unidas (ONU), período em que fez amizade com aquele que hoje lidera a guerrilha. Com a promessa de que se a sua missão for bem sucedida ele será indicado para ocupar um cargo importante em Nova Iorque, Carlos parte para o país africano com a certeza de que conseguirá negociar facilmente a libertação do engenheiro. Ledo engano. Sua missão será muito mais difícil e bastante perigosa, pois enfrentará traições inesperadas que colocarão sua vida em perigo. Ainda estão no elenco Candela Peña e a atriz chilena Paulina García, de “Glória”. Só para esclarecer: o título original, “Black Beach”, refere-se ao local onde está localizado o QG dos rebeldes. Não dá para eleger o filme como bom, apenas mediano, principalmente em razão de um roteiro complicado que dificulta o entendimento por parte do espectador do que está acontecendo na tela, o que inclui a sequência do desfecho. Antes de chegar à plataforma Netflix, “O Mediador” estreou no Festival de Cinema de Málaga (Espanha), sem conquistar muitos elogios.                    

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 

O ÚLTIMO PARAÍSO (L’ULTIMO PARADISO), 2020, Itália, 1h47m, direção de Rocio Ricciardulli e roteiro de Riccardo Scamarcio, que também atua no papel do principal protagonista. É um drama romântico que remete ao movimento neorrealista que marcou o cinema italiano logo após a Segunda Guerra Mundial, cujo tema de fundo era voltado para a luta de classes e os desajustes sociais. “O Último Paraíso” é ambientado na zona rural da comuna de Gravina de Puglia, sul da Itália. A história, baseada em fatos reais, é centrada em Ciccio Paradiso (Scamarcio), o galã do vilarejo. Embora casado e com um filho, ele está sempre pulando a cerca. Ele também defende os trabalhadores explorados pelos fazendeiros locais. Uma espécie de sindicalista. Um dia, porém, ele conhece Bianca (Gaia Bermani Amaral) e se apaixona, prometendo que fugirá com ela para o norte da Itália, onde havia maiores oportunidades de trabalho. O romance chega ao conhecimento do pai de Bianca, o poderoso latifundiário Cumpa Schettino (Antonio Gerardi), temido em toda a região. Imagina naquela época um pai ultraconservador como Schettino descobrir que a filha está sendo seduzida por um homem casado. Tragédia anunciada, claro. Para escrever o roteiro, o ator Riccardo Scamarcio – que também faz o papel de Antonio, irmão de Ciccio - se inspirou num caso ocorrido na comuna à qual pertencia sua cidade natal, Trani. De tanto ouvir a história, Scamarcio resolveu adaptá-la ao cinema. Outra curiosidade é que alguns diálogos do filme são falados em dialeto pugliese – confesso que em nenhum momento eu percebi a mudança. “O Último Paraíso” também reserva um fato interessante, principalmente para os espectadores brasileiros. A atriz Gaia Germani Amaral, filha de um fotógrafo brasileiro e de uma italiana, nasceu em São Paulo e ainda jovem foi para Milão trabalhar como modelo de passarela. Logo acabaria no cinema, estreando no filme “Giomi Dell’Abbandono”, em 2005, e agora atuando com grande destaque em “O Último Paraíso”. Resumo da ópera: o filme é muito bom, um drama de primeira.