sexta-feira, 21 de abril de 2017

“A PARTIDA” (“Departure”), Reino Unido, 2015, roteiro e direção de Andrew Steggall. A história é centrada em Beatrice (Juliet Stevenson, a Madre Teresa de Calcutá, de “The Letters”), e no seu filho Elliot (Alex Lawther). Os dois são ingleses e viajam para o sul da França com o objetivo de vender a casa de campo da família. Durante os dias em que ficam por lá separando os móveis e os objetos que desejam se livrar, os dois fazem amizade com Clément (Phénix Brossard), um enigmático jovem francês que vive perambulando pelas redondezas. Beatrice é uma mulher à beira de um ataque de nervos, infeliz, desequilibrada, carente e neurótica. O filho Elliot, que pretende ser poeta, é um homossexual enrustido que não vê a hora de sair do armário. A convivência com Clément desperta os desejos incontidos na mãe e no filho, lembrando o enredo do clássico “Teorema”, de Pasolini, onde um intruso (Terence Stamp) seduz e desintegra uma família burguesa. A chegada de Philip (Finbar Lynch), marido de Beatrice e pai de Elliot, ao invés de colocar ordem no ambiente, acaba tumultuando ainda mais o relacionamento familiar, principalmente depois que um segredo sórdido do seu passado é revelado. O filme é pesado, um tanto arrastado e com poucos atrativos para merecer uma recomendação entusiasmada, a não ser a ótima fotografia. Não confundir com o drama japonês do mesmo nome, este sim um grande filme.        

quinta-feira, 20 de abril de 2017

“UM LUGAR NA TERRA” (“Une Place Sur La Terre”), França, 2013, segundo longa-metragem escrito e dirigido por Fabienne Godet. Antoine Dumas (o ator belga Benoît Poelvoorde) é um fotógrafo freelancer que mora sozinho num apartamento da periferia de uma cidade, provavelmente Paris. Ele é depressivo, fumante inveterado e alcoólatra, só encontrando algum alento na amizade com Mateo (Max Baissette de Malglaive), um garoto de 7 anos que mora no mesmo prédio e que o visita constantemente. Numa noite qualquer, Dumas escuta alguém tocando piano e vê, pela janela, que é uma moça. Ele pega sua máquina fotográfica e passa a retratá-la. Dumas acaba conhecendo a tal moça, Elena (a bela atriz grega Ariane Labed), depois que ela sofre um acidente e ele a socorre. O que parecia apenas uma amizade transforma-se em paixão doentia para Dumas e por fim uma obsessão paranoica, tão forte a ponto de transformar as paredes de seu apartamento numa grande exposição de fotos da moça. O filme inteiro é focado num homem dilacerado pelo amor que nunca se concretiza e que transforma seus sentimentos num verdadeiro inferno. O tratamento dado à história e a maneira de contá-la descartam qualquer apelo comercial, posicionando o filme como do gênero “cinema de arte”, ou seja, não é destinado para todo tipo de público. Aliás, não vi qualquer ligação do título com a história. Em todo caso, vale pelo ótimo desempenho de Poelvoorde e pela competência e beleza de Ariane Labed.    

quarta-feira, 19 de abril de 2017

O grande trunfo do drama espanhol “TRUMAN”, 2015, roteiro e direção de Cesc Gay (“O que os Homens Falam”), é a presença do ator argentino Ricardo Darín, mais uma vez dando um show de interpretação. Ele é Julián, um ator argentino radicado na Espanha e que está com os dias contados por conta de um câncer em fase de metástase. Ao tomar conhecimento da doença do antigo amigo, Tomás (Javier Cámara), que há muitos anos mora no Canadá, viaja para Madrid para dar uma força a Julián. Durante quatro dias, os amigos terão a oportunidade de conversar, lembrar os velhos tempos e preparar os últimos dias de Julián, o que envolve uma visita a uma funerária, uma última consulta ao médico, um jantar com a amiga Paula (Dolores Fonzi), uma viagem a Amsterdam para o aniversário do filho de Julián e, por fim, encontrar um lar para “Truman”, o velho cachorro prestes a ficar órfão. A situação, embora dramática, é tratada com muito bom humor através de diálogos afiados e do sarcasmo de Julián. Tem também seus momentos de sensibilidade, que farão rolar lágrimas dos espectadores mais emotivos. Por falar em lágrimas, o cão que “interpreta” Truman – que na vida real se chamava “Troilo” - morreu meses depois do término das filmagens. “Truman” é um programa bastante agradável. Recomendo como imperdível, principalmente, repito, pela presença de Ricardo Darín.   

terça-feira, 18 de abril de 2017



O drama francês “UM BELO VERÃO” (“La Belle Saison”), 2015, roteiro e direção de Catherine Corsini (“Partir”, “Três Mundos”), conta a história do amor de duas mulheres no início dos anos 70. Delphine (Izïa Higelin) trabalha na fazenda dos pais e é lésbica assumida, embora esconda essa condição. Numa viagem a Paris, conhece Carole (Cécile de France), uma militante feminista. É bom lembrar que naqueles anos o movimento feminista e a liberação sexual estavam no auge no mundo inteiro e, especialmente, na França. Embora casada com Manuel (Benjamin Bellecour), Carole cede ao assédio de Delphine e as duas acabam se apaixonando. Para assumir o romance, Delphine e Carole serão obrigadas a lutar contra o preconceito reinante na época, principalmente na comunidade rural onde vivem os pais de Delphine. A história lembra o polêmico “Azul é a Cor mais Quente”, de 2013, inclusive nas cenas de sexo, bastante ousadas, embora não explícitas. Além da história bem contada, também devo destacar a atuação do elenco, principalmente as duas atrizes principais, a belga Cécile de France e a francesa Izïa Higelin, que não negam fogo nas cenas eróticas. Conforme afirmou a diretora Corsini, o filme foi realizado como homenagem a Delphine Seyrig e Carole Roussopoulus, cinegrafistas que ficaram famosas ao filmar as lutas das mulheres nos anos 70, como, por exemplo, a primeira marcha homossexual da França. Sem dúvida, um dos melhores filmes franceses desta década.  
Grande sensação do cinema independente norte-americano em 2015, o drama “KRISHA” é um dos filmes mais perturbadores que já vi. Como escreveu um crítico, trata-se de “um furacão de emoções”. E é verdade, pois o clima tenso impera do começo ao fim. Com roteiro e direção de Trey Edward Saults – é seu primeiro longa-metragem -, o filme tem como personagem principal a sessentona Krisha (Krisha Fairchild), que depois de 10 anos afastada da família, retorna para passar o feriado de Ação de Graças na casa da irmã. Aliás, toda a trama acontece num único cenário, justamente a casa onde estão reunidos todos os parentes, incluindo o filho dela, interpretado pelo próprio diretor. A presença inesperada de Krisha deixa o clima pesado, pois todos sabem que ela é mentalmente desequilibrada, graças a um passado dedicado ao alcoolismo e ao vício de drogas. A relação traumática com a família é exposta durante o almoço. Sobra até para o peru... Claro que não é um entretenimento dos mais agradáveis, mas vale a pena assistir pelo desempenho impressionante da atriz Krisha Fairchild, de "The Killing of John Lennon" e "Fuga Desenfreada". O filme venceu o Grande Prêmio do Público no SXSW Film Festival/2015 e foi exibido por aqui na programação da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2016.