quinta-feira, 2 de novembro de 2017

“NEVE NEGRA” (“NIEVE NEGRA”), 2017, Argentina, segundo longa-metragem escrito e dirigido por Martín Hodara. Suspense dos melhores, cuja história é centrada no reencontro dos irmãos Marcos (Leonardo Sbaraglia) e Salvador (Ricardo Darín), que não se viam nem se falavam há trinta anos. A visita não era para matar as saudades do irmão Salvador e sim tentar convencê-lo a aceitar uma proposta de venda da velha cabana e das terras que pertenciam à família no interior da Patagônia. Salvador vive isolado ali há muitos anos. Casado com Laura (a atriz espanhola Laia Costa) e prestes a ser pai, Marcos precisa de dinheiro para bancar as despesas com o nascimento do bebê, médico, hospital etc. Salvador se recusa a discutir o assunto e manda Marcos ir embora com a mulher. A rivalidade entre os irmãos tem a ver com uma tragédia familiar ocorrida no passado, envolvendo a morte do irmão mais novo, Juan. A verdade do que aconteceu virá à tona no desfecho, com uma surpreendente revelação. O diretor Martín Hodara já havia trabalhado com Darín em 2007 no policial noir “O Sinal”, sua estreia na direção. Mesmo que Darín não seja o protagonista principal, sua presença carismática valoriza o drama. Outro destaque é a qualidade do roteiro, um primor, que consegue manter o suspense do começo ao fim  e ainda explicar toda a história sem recorrer a malabarismos intelectuais, além das presenças, também marcantes, de Dolores Fonzi e Federico Luppi. Mais um filme argentino que merece ser visto.   

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Durante a Guerra Fria entre a União Soviética e os Estados Unidos, a corrida espacial era uma das “armas” ideológicas mais importantes. Era questão de honra sair na frente do outro. Em 1965, a União Soviética colocou em prática a Missão Voskhod 2, que teve como principal objetivo fazer com que um astronauta soviétivo fosse o primeiro homem a caminhar no espaço. Toda essa história é contada no filme “PRIMEIRA VEZ” (“VREMYA PERVYKH”), 2017, Rússia, direção de Dmitriy Kiselev (“Trovão Negro”). A missão ficou a cargo dos astronautas Alexey Leonov (Evgeniy Mironov) e Pavel Belyayev (Konstantin Khabenskiy). O filme, de um esmero técnico comparável aos melhores do gênero feitos por Hollywood, não esconde o fato de que naquela época participar de uma missão no espaço era quase um suicídio, haja vista a precariedade dos equipamentos – o filme não esconde esse detalhe. Para quem não conhece a história da Missão Voskhod ou não se lembra do seu desfecho, o filme é uma ótima oportunidade para resgatar um feito heroico dos mais representativos na corrida espacial.   

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

De vez em quando a gente descobre uma preciosidade. Estou falando de “A CONSTITUIÇÃO” (“Ustav Republike Hrvatske”), 2016, Croácia, escrito e dirigido por Rajko Grlic (“O Posto da Fronteira”). Eu não tinha qualquer referência sobre este filme, a não ser o fato de ter sido exibido durante a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2016. Uma surpresa das melhores, um filme inteligente, bem-humorado e sensível, mesmo que o pano de fundo seja a rivalidade entre sérvios e croatas. A história é toda centrada em quatro personagens que moram no mesmo edifício: o professor homossexual Vjeko Kralij (Neojsa Glogovac, numa atuação espectacular) e seu pai grudado numa cama com as duas pernas amputadas; a enfermeira Maja (Ksenija Marinkovic) e seu marido, o policial Ante Samardzic (Dejan Acimovic). Em troca de Maja ir de vez em quando dar banho e cuidar do seu pai, Vjeko se propõe a dar aulas sobre a Constituição da Croácia a Ante, preparando-o para uma prova que poderá lhe significar um aumento de patente. Os dois vão se estranhar o tempo todo, já que Ante é sérvio e Vjeko é croata, o que resulta em momentos bastante divertidos. Tudo muito contido, claro, sem apelações humorísticas. O filme foi vencedor do Grand Prix Des Amériques no Festival de MontreaL 2016 e eleito o melhor filme do Festival de Santa Bárbara 2017. Além disso, foi premiado no Festival da Eslovênia e fez parte da seleção oficial do Festival de Munique 2017. Fazia muito tempo que eu não me entusiasmava tanto por um filme. IMPERDÍVEL!     

domingo, 29 de outubro de 2017

“TONI ERDMANN”, 2016, escrito e dirigido por Maren Ade, era o grande favorito para conquistar o Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro para a Alemanha. Ficou entre os cinco finalistas, mas acabou perdendo para o iraniano “O Apartamento”. O filme alemão é muito bom, tem humor, momentos sensíveis e um grande personagem. Na verdade, Toni Erdmann é o nome inventado pelo sessentão Winfried Conradi (Peter Simonischek) quando assume a personalidade de um cara gozador, que faz brincadeiras inusitadas disfarçando-se com uma dentadura postiça e uma peruca comprida, inventando histórias mirabolantes e se apresentando cada vez com uma profissão diferente. Depois da morte de seu cão de estimação e companheiro de todas as horas, Winfried resolve dar mais atenção à sua filha Ines (Sandra Hüller), uma executiva workhlic que trabalha no escritório de uma empresa alemã em Bucareste (capital da Romênia). Ele vai visitá-la e tentar, com suas brincadeiras e disfarces, romper a armadura de seriedade que envolve a filha, que não tem o mínimo sendo de humor e só pensa em trabalhar. Que atriz maravilhosa é Sandra Hüller. Só ela vale o filme. “Toni Erdmann” foi exibido pela primeira vez no 69º Festival de Cannes, em maio de 2016, e encantou críticos e público. Foi eleito o melhor filme estrangeiro de 2016 pelos críticos de Nova Iorque, pela Revista Sight & Sound e pela conceituada revista francesa Cahiers Du Cinéma. Realmente, um filmaço!