“NEVE NEGRA” (“NIEVE
NEGRA”), 2017, Argentina,
segundo longa-metragem escrito e dirigido por Martín Hodara. Suspense dos
melhores, cuja história é centrada no reencontro dos irmãos Marcos (Leonardo
Sbaraglia) e Salvador (Ricardo Darín), que não se viam nem se falavam há trinta
anos. A visita não era para matar as saudades do irmão Salvador e sim tentar
convencê-lo a aceitar uma proposta de venda da velha cabana e das terras que
pertenciam à família no interior da Patagônia. Salvador vive isolado ali há
muitos anos. Casado com Laura (a atriz espanhola Laia Costa) e prestes a ser
pai, Marcos precisa de dinheiro para bancar as despesas com o nascimento do bebê,
médico, hospital etc. Salvador se recusa a discutir o assunto e manda Marcos ir
embora com a mulher. A rivalidade entre os irmãos tem a ver com uma tragédia
familiar ocorrida no passado, envolvendo a morte do irmão mais novo, Juan. A
verdade do que aconteceu virá à tona no desfecho, com uma surpreendente
revelação. O diretor Martín Hodara já havia trabalhado com Darín em 2007 no
policial noir “O Sinal”, sua estreia na direção. Mesmo que Darín não seja o protagonista
principal, sua presença carismática valoriza o drama. Outro destaque é a qualidade do roteiro, um primor, que consegue manter o suspense do começo ao fim e ainda explicar toda a história sem recorrer a malabarismos intelectuais, além das presenças, também marcantes, de Dolores Fonzi e Federico Luppi. Mais um filme argentino
que merece ser visto.
Durante a Guerra Fria entre a União Soviética e os Estados
Unidos, a corrida espacial era uma das “armas” ideológicas mais importantes. Era
questão de honra sair na frente do outro. Em 1965, a União Soviética colocou em
prática a Missão Voskhod 2, que teve como principal objetivo fazer com que um
astronauta soviétivo fosse o primeiro homem a caminhar no espaço. Toda essa
história é contada no filme “PRIMEIRA
VEZ” (“VREMYA PERVYKH”), 2017, Rússia, direção de Dmitriy Kiselev (“Trovão
Negro”). A missão ficou a cargo dos astronautas Alexey Leonov (Evgeniy Mironov)
e Pavel Belyayev (Konstantin Khabenskiy). O filme, de um esmero técnico comparável
aos melhores do gênero feitos por Hollywood, não esconde o fato de que naquela época
participar de uma missão no espaço era quase um suicídio, haja vista a
precariedade dos equipamentos – o filme não esconde esse detalhe. Para quem não
conhece a história da Missão Voskhod ou não se lembra do seu desfecho, o filme
é uma ótima oportunidade para resgatar um feito heroico dos mais
representativos na corrida espacial.
De vez em quando a gente descobre uma preciosidade. Estou
falando de “A CONSTITUIÇÃO” (“Ustav Republike Hrvatske”), 2016,
Croácia, escrito e dirigido por Rajko Grlic (“O Posto da Fronteira”). Eu não tinha
qualquer referência sobre este filme, a não ser o fato de ter sido exibido
durante a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2016. Uma
surpresa das melhores, um filme inteligente, bem-humorado e sensível, mesmo que
o pano de fundo seja a rivalidade entre sérvios e croatas. A história é toda
centrada em quatro personagens que moram no mesmo edifício: o professor
homossexual Vjeko Kralij (Neojsa Glogovac, numa atuação espectacular) e seu pai
grudado numa cama com as duas pernas amputadas; a enfermeira Maja (Ksenija
Marinkovic) e seu marido, o policial Ante Samardzic (Dejan Acimovic). Em troca
de Maja ir de vez em quando dar banho e cuidar do seu pai, Vjeko se propõe a
dar aulas sobre a Constituição da Croácia a Ante, preparando-o para uma prova
que poderá lhe significar um aumento de patente. Os dois vão se estranhar o
tempo todo, já que Ante é sérvio e Vjeko é croata, o que resulta em momentos
bastante divertidos. Tudo muito contido, claro, sem apelações humorísticas. O
filme foi vencedor do Grand Prix Des Amériques no Festival de MontreaL 2016 e
eleito o melhor filme do Festival de Santa Bárbara 2017. Além disso, foi
premiado no Festival da Eslovênia e fez parte da seleção oficial do Festival de
Munique 2017. Fazia muito tempo que eu não me entusiasmava tanto por um filme. IMPERDÍVEL!
“TONI ERDMANN”, 2016, escrito e dirigido por Maren
Ade, era o grande favorito para conquistar o Oscar 2017 de Melhor Filme
Estrangeiro para a Alemanha. Ficou entre os cinco finalistas, mas acabou
perdendo para o iraniano “O Apartamento”. O filme alemão é muito bom, tem
humor, momentos sensíveis e um grande personagem. Na verdade, Toni Erdmann é o
nome inventado pelo sessentão Winfried Conradi (Peter Simonischek) quando
assume a personalidade de um cara gozador, que faz brincadeiras inusitadas
disfarçando-se com uma dentadura postiça e uma peruca comprida, inventando histórias mirabolantes e se apresentando cada vez com uma profissão diferente. Depois
da morte de seu cão de estimação e companheiro de todas as horas, Winfried resolve dar mais atenção à sua filha
Ines (Sandra Hüller), uma executiva workhlic
que trabalha no escritório de uma empresa alemã em Bucareste (capital da
Romênia). Ele vai visitá-la e tentar, com suas brincadeiras e disfarces, romper a armadura de
seriedade que envolve a filha, que não tem o mínimo sendo de humor e só pensa
em trabalhar. Que atriz maravilhosa é Sandra Hüller. Só ela vale o filme. “Toni
Erdmann” foi exibido pela primeira vez no 69º Festival de Cannes, em maio de
2016, e encantou críticos e público. Foi
eleito o melhor filme estrangeiro de 2016 pelos críticos de Nova Iorque, pela
Revista Sight & Sound e pela conceituada revista francesa Cahiers Du Cinéma. Realmente, um
filmaço!