sábado, 19 de janeiro de 2019


Não é só Hollywood que sabe fazer disaster movies. Os noruegueses aprenderam a fazer bons filmes no gênero. Coitada de Oslo. Em 2015, no filme “A Onda”, a capital da Noruega quase foi destruída pelo violento tsunami de Geiranger. Três anos depois, Oslo seria atingida por um terremoto que novamente quase a destruiu. É a história de “O TERREMOTO” (“SKJELVET” no original e “The Quake” nos países de língua inglesa). Como no primeiro filme, o geólogo Kristian Eikjord (Kristoffer Joner) alerta as autoridades noruegueses sobre o provável desastre. E também como na primeira versão, Kristian viverá momentos de alta tensão para salvar sua esposa e sua filha. O ritmo é alucinante, graças ao ótimo roteiro elaborado por Harald Rosenløw Eeg e John Kare Raake, os mesmos de “A Onda” - só mudou o diretor, agora John Andreas Andersen. As cenas de perigo são espetaculares, principalmente aquelas em que os protagonistas ficam presos no alto de um edifício prestes a desmoronar. Os cenários são tão bem produzidos que a gente quase nem percebe que tudo foi feito com computação gráfica. Como informação histórica, o filme lembra o violento terremoto – este verdadeiro - que aconteceu em Oslo em 1904 e alerta sobre a possibilidade de outros a qualquer momento. Ou seja, visite Oslo antes que acabe. Exibido durante a programação oficial do Festival de Cannes, “O Terremoto” recebeu críticas bastante elogiosas, o que não é muito comum em se tratando desse gênero de filmes. Resumo da ópera: “O Terremoto” é um entretenimento da melhor qualidade.   

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019


Selecionado para representar o Paraguai na disputa do Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro, “AS HERDEIRAS” (“LAS HEREDERAS”) ganhou o aval dos críticos profissionais que o premiaram nos Festivais de Berlim, onde estreou, e em Gramado. Trata-se de um drama, cuja história é centrada em Chela (Ana Brun), mulher de meia-idade lésbica que vive com a companheira Chiquita (Margarita Irún) há muitos anos – no começo, pensei que eram irmãs (aliás, o filme não especifica claramente a relação, podendo gerar especulações). Ambas, como o filme dá a entender, pertenciam a famílias abastadas, mas agora são obrigadas a vender seus pertences para sobreviver. A casa onde vivem recebe muitas visitas de mulheres que se interessam em comprar jogos de copos de cristal, estátuas, mesas, toalhas, prataria etc. Chela é uma mulher de falar pouco, sempre com uma atitude passiva. Tanto que, quando chegam as pessoas para comprar suas coisas, quem negocia é a empregada Pati (Nilda González). Chela fica num canto da casa só observando. Chela só fica brava quando Pati não coloca de maneira correta copos, xícaras e remédios em sua bandeja do café da manhã. Depois que Chiquita é presa por sonegação fiscal, Chela se vê ainda mais sozinha e é justamente em Pati que ela vai buscar aconchego. Até que um dia, ao dar uma carona para uma vizinha rica, Pituca (María Martins, ótima), Chela aceita, meio constrangida, “uma caixinha”. Ela então passa a trabalhar como uma taxista amadora, levando pra lá e pra cá as amigas de Pituca. Nessas andanças ela conhece a fogosa Angy (Ana Ivanova), bem mais nova, e daí surge uma amizade bem próxima de uma paixão. Chela muda seu comportamento depois de conhecer Angy e culmina com um ato desesperado depois que sua companheira, depois que saiu da prisão, vende o carro sem o consentimento da parceira. O roteirista e diretor Marcelo Martinessi, em seu primeiro longa-metragem, conseguiu um belo registro intimista de um mundo exclusivo das mulheres de meia-idade, suas fragilidades, carências e frustrações. Sem dúvida, um filme bastante sensível, cinema de alta qualidade. E que atriz é Ana Brun!      

terça-feira, 15 de janeiro de 2019


“A ÚLTIMA FAMÍLIA” (“OSTATNIA RODZINA”), 2016, Polônia, 124 minutos, direção de Jan P. Matuszynsk – mais conhecido como diretor de curtas; este é o seu primeiro longa-metragem – e roteiro de Robert Bolesto. A história é baseada em fatos reais da vida do famoso pintor surrealista polonês Zdzislaw Beksinski e sua família, compreendendo o período de 1977 até 2005. Como quase todo artista, Beksinski tinha um parafuso a menos, imaginava criar um supercomputador para transformar a atriz norte-americana Alicia Silverstone numa mulher com poderes especiais. Além disso, passava os dias pintando, filmando tudo o que acontecia em seu apartamento e fotografando cenas de Varsóvia. Beksinski (Andrzej Seweryn) vivia com a mulher Zofia (Aleksandra Konieczna) e duas idosas, uma mãe dele e a outra mãe dela. O filho Tomasz (Dawed Ogrodnik), totalmente paranoico, desequilibrado e com tendências neuróticas, morava sozinho num edifício vizinho e trabalhava fazendo bicos como DJ e dublador de filmes. Uma das avós ficava na janela gritando que a Gestapo estava chegando. Enfim, uma família totalmente disfuncional, beirando a maluquice. Tudo parece caminhar para um final trágico, o que realmente acaba acontecendo – como na vida real da família Beksinski. O filme foi exibido na programação do Festival Internacional de Cinema de São Paulo de 2016 e ganhou o “Leão de Ouro” no Gdynia Film Festival (o Oscar polonês). Por sua atuação, Andrzej Seweryn ganhou o prêmio de “Melhor Ator” no Festival de Cinema de Locarno (Suíça). Resumo da ópera: o filme é muito bom e merece ser conferido.     

domingo, 13 de janeiro de 2019


“MEMÓRIAS DA DOR” (“LA DOULEUR”), 2017, França, 2h06m, escrito e dirigido por Emmanuel Finkiel. Selecionado para representar a França no Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro, trata-se de um drama biográfico baseado nas memórias da escritora Marguerite Duras descritas no romance “La Douleur”. Marguerite Duras, vivida pela excelente atriz Mélanie Thierry, revive o episódio ocorrido em plena Segunda Guerra Mundial, quando seu marido, o também escritor Robert Antelme (Emmanuel Bourdieu) é preso pelos nazistas e enviado a um campo de concentração – tanto ele quanto Marguerite pertenciam à Resistência. Para descobrir o paradeiro do marido e saber se ainda está vivo ou morto, Marguerite forja uma amizade com o oficial da Gestapo Pierre Rabier (Benoît Magimel), admirador da então jovem escritora. A angustiante espera por notícias do marido, preso desde o início de 1944, quando a França ainda era ocupada pelos alemães, até 1945, depois do fim do conflito, é relatada por Marguerite num contexto de sofrimento e desesperança. O filme é excelente, graças à história em si, à primorosa ambientação de época e, principalmente, à magistral atuação de Mélanie Thierry, uma das melhores atrizes francesas da nova geração. Um detalhe interessante é a semelhança cada mais evidente entre o também excelente ator Benoît Magimel e o veterano Gerard Depardieu, incluindo a volumosa pança. Exibido por aqui na programação oficial do 20º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, em novembro de 2018, “Memórias da Dor” é um filmaço, cinema da melhor qualidade.


“OH LUCY!”, 2017, Japão/EUA, 1h35m, primeiro longa-metragem escrito e dirigido pela cineasta japonesa Atsuko Hirayanagi, mais conhecida como diretora de curtas. “Oh Lucy”, aliás, é uma adaptação de um curta dirigido pela própria Atsuko em 2014. Trata-se de um misto de comédia e drama. A primeira parte é uma ótima comédia, com alguns momentos até tocantes. A segunda parte da história parte para uma situação dramática, com um suspense que lembra o clássico “Atração Fatal”. Setsuko Kawashima (Shimobu Terajima) é uma mulher solitária que trabalha num escritório cuja rotina é das mais maçantes. Anônima na multidão – como dá a entender a cena inicial, com os japoneses vestindo máscaras contra a poluição de Tóquio -, Setsuko é o retrato da solidão e da infelicidade. Até que um dia resolve ingressar numa aula de inglês. O professor é John (o galã norte-americano Josh Hartnett), que adota métodos não muito convencionais para ensinar inglês. Uma das estratégias para aproximar professor e alunos é dar um longo abraço. Algum tempo depois, John sai de Tóquio e volta para Los Angeles, só que acompanhado da namorada Mika (Shioli Kutsuna), justamente a sobrinha de Setsuko, filha de sua irmã Ayako (Kaho Minami). Com o objetivo de saber como Mika está vivendo em outro país, Setsuko convence a irmã a viajar para Los Angeles. Aqui, Setsuko deixará claro quais são as suas verdadeiras intenções. O filme é todo da ótima atriz Shinobu Terajima, que arrasa no papel da mulher carente e tímida que se transforma numa espécie de ninfomaníaca apaixonada. “Oh Lucy!” estreou na programação oficial da Semaine de La Critique do Festival de Cannes 2017, recebendo entusiasmados elogios. Recomendo!