Não é só Hollywood que
sabe fazer disaster movies. Os
noruegueses aprenderam a fazer bons filmes no gênero. Coitada de Oslo. Em 2015,
no filme “A Onda”, a capital da Noruega quase foi destruída pelo violento tsunami
de Geiranger. Três anos depois, Oslo seria atingida por um terremoto que
novamente quase a destruiu. É a história de “O TERREMOTO” (“SKJELVET” no original e “The Quake” nos países de
língua inglesa). Como no primeiro filme, o geólogo Kristian Eikjord (Kristoffer
Joner) alerta as autoridades noruegueses sobre o provável desastre. E também
como na primeira versão, Kristian viverá momentos de alta tensão para salvar
sua esposa e sua filha. O ritmo é alucinante, graças ao ótimo roteiro elaborado
por Harald Rosenløw Eeg e John Kare Raake, os mesmos de “A Onda” - só mudou o diretor, agora John Andreas Andersen. As cenas de
perigo são espetaculares, principalmente aquelas em que os protagonistas ficam
presos no alto de um edifício prestes a desmoronar. Os cenários são tão bem
produzidos que a gente quase nem percebe que tudo foi feito com computação
gráfica. Como informação histórica, o filme lembra o violento terremoto – este verdadeiro
- que aconteceu em Oslo em 1904 e alerta sobre a possibilidade de outros a
qualquer momento. Ou seja, visite Oslo antes que acabe. Exibido durante a
programação oficial do Festival de Cannes, “O Terremoto” recebeu críticas bastante
elogiosas, o que não é muito comum em se tratando desse gênero de filmes. Resumo
da ópera: “O Terremoto” é um entretenimento da melhor qualidade.
sábado, 19 de janeiro de 2019
quarta-feira, 16 de janeiro de 2019
Selecionado para
representar o Paraguai na disputa do Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro, “AS HERDEIRAS” (“LAS HEREDERAS”) ganhou
o aval dos críticos profissionais que o premiaram nos Festivais de Berlim, onde
estreou, e em Gramado. Trata-se de um drama, cuja história é centrada em Chela
(Ana Brun), mulher de meia-idade lésbica que vive com a companheira Chiquita
(Margarita Irún) há muitos anos – no começo, pensei que eram irmãs (aliás, o filme não especifica claramente a relação, podendo gerar especulações). Ambas, como
o filme dá a entender, pertenciam a famílias abastadas, mas agora são obrigadas
a vender seus pertences para sobreviver. A casa onde vivem recebe muitas
visitas de mulheres que se interessam em comprar jogos de copos de cristal,
estátuas, mesas, toalhas, prataria etc. Chela é uma mulher de falar pouco,
sempre com uma atitude passiva. Tanto que, quando chegam as pessoas para
comprar suas coisas, quem negocia é a empregada Pati (Nilda González). Chela
fica num canto da casa só observando. Chela só fica brava quando Pati não
coloca de maneira correta copos, xícaras e remédios em sua bandeja do café da
manhã. Depois que Chiquita é presa por sonegação fiscal, Chela se vê ainda mais
sozinha e é justamente em Pati que ela vai buscar aconchego. Até que um dia, ao
dar uma carona para uma vizinha rica, Pituca (María Martins, ótima), Chela aceita,
meio constrangida, “uma caixinha”. Ela então passa a trabalhar como uma taxista
amadora, levando pra lá e pra cá as amigas de Pituca. Nessas andanças ela
conhece a fogosa Angy (Ana Ivanova), bem mais nova, e daí surge uma amizade bem
próxima de uma paixão. Chela muda seu comportamento depois de conhecer Angy e culmina com um ato
desesperado depois que sua companheira, depois que saiu da prisão, vende o carro
sem o consentimento da parceira. O roteirista e diretor Marcelo Martinessi, em
seu primeiro longa-metragem, conseguiu um belo registro intimista de um mundo
exclusivo das mulheres de meia-idade, suas fragilidades, carências e frustrações.
Sem dúvida, um filme bastante sensível, cinema de alta qualidade. E que atriz é
Ana Brun!
terça-feira, 15 de janeiro de 2019
“A
ÚLTIMA FAMÍLIA” (“OSTATNIA RODZINA”), 2016, Polônia, 124 minutos, direção
de Jan P. Matuszynsk – mais conhecido como diretor de curtas; este é o seu
primeiro longa-metragem – e roteiro de Robert Bolesto. A história é baseada em
fatos reais da vida do famoso pintor surrealista polonês Zdzislaw Beksinski e
sua família, compreendendo o período de 1977 até 2005. Como quase todo artista,
Beksinski tinha um parafuso a menos, imaginava criar um supercomputador para transformar
a atriz norte-americana Alicia Silverstone numa mulher com poderes especiais. Além
disso, passava os dias pintando, filmando tudo o que acontecia em seu
apartamento e fotografando cenas de Varsóvia. Beksinski (Andrzej Seweryn) vivia
com a mulher Zofia (Aleksandra Konieczna) e duas idosas, uma mãe dele e a outra
mãe dela. O filho Tomasz (Dawed Ogrodnik), totalmente paranoico, desequilibrado
e com tendências neuróticas, morava sozinho num edifício vizinho e trabalhava
fazendo bicos como DJ e dublador de filmes. Uma das avós ficava na janela
gritando que a Gestapo estava chegando. Enfim, uma família totalmente disfuncional,
beirando a maluquice. Tudo parece caminhar para um final trágico, o que
realmente acaba acontecendo – como na vida real da família Beksinski. O filme foi
exibido na programação do Festival Internacional de Cinema de São Paulo de 2016
e ganhou o “Leão de Ouro” no Gdynia Film Festival (o Oscar polonês). Por sua
atuação, Andrzej Seweryn ganhou o prêmio de “Melhor Ator” no Festival de Cinema
de Locarno (Suíça). Resumo da ópera: o filme é muito bom e merece ser
conferido.
domingo, 13 de janeiro de 2019
“MEMÓRIAS
DA DOR” (“LA DOULEUR”), 2017, França, 2h06m, escrito e dirigido
por Emmanuel Finkiel. Selecionado para representar a França no Oscar 2019 de
Melhor Filme Estrangeiro, trata-se de um drama biográfico baseado nas memórias
da escritora Marguerite Duras descritas no romance “La Douleur”. Marguerite
Duras, vivida pela excelente atriz Mélanie Thierry, revive o episódio ocorrido em
plena Segunda Guerra Mundial, quando seu marido, o também escritor Robert
Antelme (Emmanuel Bourdieu) é preso pelos nazistas e enviado a um campo de
concentração – tanto ele quanto Marguerite pertenciam à Resistência. Para
descobrir o paradeiro do marido e saber se ainda está vivo ou morto, Marguerite
forja uma amizade com o oficial da Gestapo Pierre Rabier (Benoît Magimel),
admirador da então jovem escritora. A angustiante espera por notícias do marido,
preso desde o início de 1944, quando a França ainda era ocupada pelos alemães,
até 1945, depois do fim do conflito, é relatada por Marguerite num contexto de
sofrimento e desesperança. O filme é excelente, graças à história em si, à
primorosa ambientação de época e, principalmente, à magistral atuação de Mélanie
Thierry, uma das melhores atrizes francesas da nova geração. Um detalhe
interessante é a semelhança cada mais evidente entre o também excelente ator Benoît Magimel e o veterano Gerard Depardieu, incluindo a volumosa pança. Exibido por aqui na programação
oficial do 20º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, em novembro
de 2018, “Memórias da Dor” é um filmaço, cinema da melhor qualidade.
“OH
LUCY!”, 2017, Japão/EUA, 1h35m, primeiro longa-metragem escrito e
dirigido pela cineasta japonesa Atsuko Hirayanagi, mais conhecida como diretora
de curtas. “Oh Lucy”, aliás, é uma adaptação de um curta dirigido pela própria Atsuko em
2014. Trata-se de um misto de comédia e drama. A primeira parte é uma ótima
comédia, com alguns momentos até tocantes. A segunda parte da história parte
para uma situação dramática, com um suspense que lembra o clássico “Atração
Fatal”. Setsuko Kawashima (Shimobu Terajima) é uma mulher solitária que
trabalha num escritório cuja rotina é das mais maçantes. Anônima na multidão – como
dá a entender a cena inicial, com os japoneses vestindo máscaras contra a poluição
de Tóquio -, Setsuko é o retrato da solidão e da infelicidade. Até que um dia
resolve ingressar numa aula de inglês. O professor é John (o galã
norte-americano Josh Hartnett), que adota métodos não muito convencionais para
ensinar inglês. Uma das estratégias para aproximar professor e alunos é dar um
longo abraço. Algum tempo depois, John sai de Tóquio e volta para Los Angeles,
só que acompanhado da namorada Mika (Shioli Kutsuna), justamente a sobrinha de Setsuko,
filha de sua irmã Ayako (Kaho Minami). Com o objetivo de saber como Mika está
vivendo em outro país, Setsuko convence a irmã a viajar para Los Angeles. Aqui,
Setsuko deixará claro quais são as suas verdadeiras intenções. O filme é todo da
ótima atriz Shinobu Terajima, que arrasa no papel da mulher carente e tímida que
se transforma numa espécie de ninfomaníaca apaixonada. “Oh Lucy!” estreou na
programação oficial da Semaine de La Critique do Festival de Cannes 2017,
recebendo entusiasmados elogios. Recomendo!
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