Não
será nenhuma surpresa se o cinema italiano conquistar pela segunda vez
consecutiva o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro/2015 (em 2014, o vencedor foi “A
Grande Beleza”). O candidato oficial da Itália, desta vez, é “CAPITAL
HUMANO” (“Il Capitale Umano”), direção
de Paolo Virzi (”La Prima Cosa Bella”). É um filmaço. O roteiro, escrito por
Virzi, é primoroso. Em quatro capítulos, ele descreve a história de vários
personagens. Num capítulo, determinado personagem é quase que um figurante. No
capítulo seguinte, assume o papel de protagonista. Virzi repete algumas cenas
modificando o ângulo da câmera de acordo com o personagem em destaque. Uma aula
de criatividade cinematográfica. A história gira em torno de um poderoso
empresário à beira da falência e de um acidente que fere gravemente um ciclista.
O principal suspeito é o filho do empresário, cujo casamento enfrenta uma fase
de grande turbulência. O filho suspeito namora uma moça cujo pai quer ganhar
dinheiro fácil e se aproxima do tal empresário. E por aí vão se entrelaçando
todos os personagens, num verdadeiro mosaico narrativo, sem jamais entediar ou confundir o espectador. O elenco é da melhor
qualidade, tendo à frente a atriz Valeria Bruni Tedeschi (irmã de Carla Bruni,
ex-primeira dama da França), que dá um show como a esposa infeliz do empresário.
Por esse papel, ela foi merecidamente premiada como Melhor Atriz no Festival de
Tribeca. Não perca, pois é cinema de altíssima qualidade.
sábado, 13 de dezembro de 2014
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Desistir
de um trabalho repleto de adrenalina em zonas de guerra ou viver de um emprego
seguro, perto da família? Esse dilema deve mexer com a cabeça de nove entre dez
fotojornalistas acostumados (ou viciados?) a trabalhar pelo mundo afora fotografando
em áreas de conflito. É o que acontece com a fotógrafa Rebecca (Juliette Binoche)
em “MIL VEZES BOA NOITE” (“Tusen Ganger God Natt”), 2012, um ótimo drama norueguês dirigido por
Erik Poppe - ele próprio um ex-fotógrafo de guerra. Em ação no Afeganistão,
Rebecca é ferida numa explosão causada por uma mulher-bomba. Quando volta para
casa, na Irlanda, ela recebe um ultimato do marido Marcus (Nikolaj
Coster-Waldau). Ou abandona esse tipo de trabalho ou então o casamento já era.
As duas filhas adolescentes apoiam o pai e Rebecca concorda em abandonar as zonas
de guerra, apesar dos protestos de sua editora, já que ela é uma das cinco
melhores fotógrafas de guerra do mundo. Quando tudo parecia correr de acordo
com o desejo de Marcus, Rebecca faz uma viagem com a filha mais velha Steph (Lauryn
Canny) ao Quênia. Essa viagem resultará numa nova crise familiar, obrigando Rebecca a tomar uma decisão definitiva. Se
o filme já é excelente, melhor ainda é o desempenho da fabulosa atriz francesa
Juliette Binoche como a mulher dividida entre a profissão e a família. Binoche
prova, mais uma vez, que é uma das melhores atrizes em atividade. Um aviso: prepare-se
para a cena inicial do filme, onde Rebecca fotografa o ritual de preparação e a
posterior ação de uma mulher-bomba. Trata-se de uma das sequências mais tensas, impactantes e bem feitas do cinema nos últimos anos. Enfim, o filme é
simplesmente imperdível.
“UMA FAMÍLIA EM TÓQUIO” (“Tokyo Kazoku”), 2012, direção de Yoji Yamada, é uma refilmagem de “Era
uma vez em Tóquio” (1953), de Yasujiro Ozu, considerado um dos grandes clássicos
do cinema japonês. O enredo é uma verdadeira crônica dos relacionamentos
familiares. O casal de idosos Tomiko (Kasuko Y oshiuki) e Shukichi (Isao Hashizume) viaja para
Tóquio com o objetivo de rever, depois de muito tempo, seus três filhos
adultos, Shigeko, dona de um salão de beleza, Koichi, médico, e Shoji, o
caçula, que vive de bicos e não é tão bem sucedido quanto os irmãos. Na recepção
aos pais, dá para perceber uma grande frieza, fruto de uma educação baseada mais no respeito do que no afeto. Não há contato físico, um abraço por exemplo. Fica claro que é uma relação de muito respeito.
As atividades profissionais não permitem que os filhos dediquem muita atenção
aos velhos. Como em quase todas as famílias do mundo, aquele gesto de carinho
ou atenção vem justamente de quem menos se espera: da nora, do filho “ovelha
negra” e de sua namorada. Perto do desfecho, um fato trágico finalmente será
capaz de reunir a família. Sem dúvida, um filme japonês bastante sensível que merece ser
visto por quem aprecia cinema de qualidade.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Rotulado como comédia, o filme italiano “VIVA A LIBERDADE” (“Viva la Libertà”) passa longe de ser
motivo de risos. Pelo contrário, tem um pano de fundo sério, baseado em questões
políticas. O grande ator italiano Toni Servillo (de “A Grande Beleza”) faz dois
personagens: Enrico Olivieri, senador e 1º Secretário de um importante partido
de esquerda, opositor do governo, e seu irmão gêmeo Giovanni Ernani, um professor
filósofo, bipolar, que de vez em quando é internado num hospício. Em
depressão por causa de uma agenda de inúmeros compromissos, somada a muitas
críticas de seus companheiros de partido e ainda pela péssima situação nas
pesquisas (17%) para a próxima eleição, Enrico resolve sumir. Viaja incógnito
para Paris. Seu assistente Andrea Bottini (o ótimo Valerio Mastandrea) não sabe
o que fazer. De início, é obrigado a cancelar reuniões e discursos de Enrico,
alegando que ele se afastou por motivo de doença. Mas a pressão é insuportável,
e Andrea tem a ideia de utilizar Giovanni para fazer o papel de Enrico. Com sua
grande erudição, o professor dá entrevistas e faz discursos utilizando uma
linguagem muito distante daquelas que os políticos costumam usar. Num dos
discursos, por exemplo, ele cita frases de Brecht. Sua atuação é responsável
por uma grande reviravolta nas pesquisas. Enquanto isso, Enrico revê um grande
amor de juventude, Danielle (Valeria Bruni Tedeschini), agora casada com um
cineasta. Tudo bem que o diretor Roberto Andó tentou fugir dos clichês próprios
desses filmes onde os personagens trocam de identidade, mas o resultado final é
decepcionante, ainda mais com um elenco tão bom.
“O ARTISTA E A MODELO” (“El Artista
y La Modelo”) é uma produção espanhola de 2012, com direção de Fernando Trueba
(de “Belle Époque”, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1993). Ambientado
em 1943 num pequeno vilarejo do interior da França próximo à fronteira da
Espanha, o filme conta a história do relacionamento do famoso escultor Marc
Cross (Jean Rochefort) com Mercé (Aida Folch), uma jovem espanhola fugitiva do
regime de Franco. Léa (Claudia Cardinale), esposa de Cross, acolhe a jovem e a
acomoda no ateliê do marido que, aos 80 anos, não trabalhava mais. A chegada da
bela Mercé, porém, dá uma renovada em Cross, que começa a esculpir de novo utilizando a
jovem como modelo. Em meio ao seu trabalho de escultor, Cross conversa muito
com Mercé, em diálogos recheados de humor e erudição, abordando temas como
filosofia, política, arte e religião. Num desses diálogos, o escultor confessa a
Mercé que existem duas provas da existência de Deus: a criação da mulher e do azeite.
Cross não acredita que Deus, responsável pela criação de tantas coisas bonitas,
como o mar e as florestas, possa ter criado um ser tão feio quanto o homem. Outro
diálogo que merece ser ressaltado é aquele em que Cross discute um famoso desenho
de Rembrandt com a modelo, um dos momentos mais tocantes do filme. Mercé aparece nua praticamente o filme inteiro, mas
a (ótima) fotografia em preto e branco atenua qualquer eventual apelo sexual. É
um filme muito bonito, valorizado por um ótimo elenco. Destaque para Claudia
Cardinale, que, aos 70 anos, ainda guarda a beleza que a consagrou como uma das
maiores musas do Cinema nas décadas de 60/70. Quanto a Rochefort, ele comprova a condição de melhor ator francês da atualidade.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
O
tema Gastronomia sempre resultou em ótimos filmes, o melhor deles, sem dúvida, “A Festa de
Babette”, de 1987. Dos mais recentes, o melhor talvez seja mesmo “A
100 PASSOS DE UM SONHO” (“The Hundred-Foot
Journey”), EUA, dirigido pelo sueco Lasse Hallström e com Steven Spielberg
Oprah Winfrey como produtores. A história começa na Índia, onde Papa Kadam (Om
Puri) possui um restaurante de comida tradicional indiana. Por motivos
políticos, seu estabelecimento é incendiado criminosamente e a família decide
fugir para a Europa. Depois de algumas andanças por aqui e ali, Papa Kadam chega
ao aprazível vilarejo de Saint-Antonin-Noble-Val, sul da França, onde resolve
abrir um restaurante. Só que bem em frente está o “Saule Pleureur”, um
restaurante chique famoso por ter obtido uma estrela do Guia Michelin, o maior reconhecimento europeu da qualidade em gastronomia. No comando do “Saule Pleureur” está Madame Mallory
(Helen Mirren), uma mulher arrogante que vive com o nariz empinado e um crônico
mau humor. O barulho da música alta, os cheiros e o medo da concorrência fazem
com que Mallory declare guerra ao restaurante indiano. Só que ela não contava
com a astúcia gastronômica do jovem Hassan Kadam (Manish Dayal), que logo se
revela um chef dos mais competentes. E por aí vai a história, entre
receitas, romances e declaração de paz entre Mallory e os indianos, com muitos
momentos sensíveis e tocantes. Um filme para curtir e, principalmente, saborear.
domingo, 7 de dezembro de 2014
“UM DIA MEU PAI VIRÁ” (“Un Jour Mon Pere Viendra”), 2011, direção de Martin Valente, é mais
uma agradável comédia francesa, com dois atores que valem o ingresso: Gerard
Jugnot e François Berléand. A história é centrada em Chloé (a cantora francesa Olivia
Ruiz), que vai casar com o famoso campeão de tênis Stephen (o ator inglês Jamie
Bamber) e precisa de um pai para conduzí-la ao altar. O rico Bernard (Berléand)
é o pai biológico que não sabia da existência da filha. Gus (Junot) foi o pai
que a criou, mas que foi rejeitado por Chloé por causa de suas bebedeiras. Para
conseguir um pai “postiço”, Chloé entrevista vários atores amadores. Por causa
de um acidente ocorrido com o ator escolhido (provocado por Bernard e Gus), Bernard
entra no jogo, fazendo-se passar pelo pai de Chloé e também por um embaixador
da Mongólia, uma mentira que irá colocá-lo em várias situações embaraçosas e engraçadas.
Até o dia do casamento, muita água vai rolar, muita confusão vai acontecer. É o primeiro papel de protagonista da cantora pop Olivia Ruiz, uma aposta do diretor Martin Valente. Sem ser muito bonita, ela dá conta do papel e até consegue ser charmosa em algumas cenas. Enfim, trata-se de uma comédia apenas agradável, capaz de proporcionar boas risadas.
Com
o mesmo estilo “machão charmoso” que o consagrou em quatro filmes da série
James Bond, o ator irlandês Pierce Brosnan é o principal protagonista do filme “O HOMEM NOVEMBRO – Um Espião nunca Morre” (“The November Man”), 214, dirigido por
Roger Donaldson. Brosnan é Peter Devereaux, um ex-espião da CIA que se afastou
há cinco anos depois de uma missão que deu errado. Ele é procurado por um dos
seus antigos chefes e convencido a voltar à ativa, depois que soube que Lucy
(Tara Jevrosimovic) corria perigo em Moscou. Além disso, Peter também é
encarregado de proteger Alice Fournier (Olga Kurylenko), a única testemunha que
pode comprovar que o general Arkady Federov (Lazar Ristovski), provável futuro
presidente da Rússia, é na verdade um sádico criminoso de guerra. Interessa à
CIA provar essa culpa, pois prevê o general como um futuro inimigo dos EUA. Peter
vai se enredar numa complicada trama de espionagem, recheada de muita ação e
suspense. A história é baseada no livro “There are no Spies”, de Bill Granger.
Uma ótima oportunidade para lembrar de Brosnan num papel parecido com o de Bond (na minha opinião, o segundo melhor Bond, só perdendo para Sean Connery) e curtir a estonteante Olga Kurylenko, que foi girl bond em “Quantum of
Solace”, com Daniel Craig. Entretenimento garantido!
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