quinta-feira, 2 de janeiro de 2020


Discutir a relação no casamento. O assunto já foi abordado inúmeras vezes no cinema, sendo impossível não lembrar do clássico “Cenas de um Casamento” (1973), do sueco Ingmar Bergman, onde Liv Ullmann e Erland Josephson discutem a relação durante quase 3 horas de projeção. Em “Kramer vs. Kramer” (1979), a relação conjugal também foi discutida pelo casal vivido por Meryl Streep e Dustin Hoffman, culminando numa disputa judicial pela guarda do filho. Esses dois aspectos – discutir o relacionamento e disputa judicial – foram incorporados ao drama “HISTÓRIA DE UM CASAMENTO” (“MARRIAGE STORY”), 2019, Estados Unidos, 2h17m, roteiro e direção de Noah Baumbach. No início, tudo parece correr às mil maravilhas com Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson). Depois de dez anos de casados, que resultaram no filho Henry (Azhy Robertson), a relação começa a azedar a partir do momento em que Nicole, uma atriz de teatro, resolve sair de Nova Iorque para tentar o cinema em Hollywood, levando o filho a tiracolo. Charlie, diretor de teatro, não se conforma com a situação e parte para Los Angeles com o objetivo de tentar um acordo. Só que Nicole contrata a advogada Nora Fanshaw (Laura Dern) e entra com uma ação na justiça para preservar a guarda do menino e ainda exigir uma grana de Charlie. E por aí vai a “História de um Casamento”, com muito blá, blá, blá – é verborrágico ao extremo, como é o estilo do roteirista e diretor Noah Baumbach (dos chatérrimos “Frances Ha” e “Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe”). Para escrever o roteiro de “História de um Casamento”, Noah confirmou em entrevista que inseriu muitos momentos de seu tumultuado casamento com a atriz Jennifer Jason Leigh, com a qual viveu de 2005 até 2012. Também estão no elenco Alan Alda, Ray Liotta e Julie Hagerty. Dizem que existe uma grande chance de Adam Driver e Scarlett Johansson serem indicados ao Oscar 2020. Pode ser, mas o filme em si não chega a ser uma maravilha. Achei a situação forçada demais e a verborragia reinante chega a incomodar. Em todo caso, vale uma visita para conferir.      

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019


“ATLANTIQUE”, 2019, coprodução França/Senegal/Bélgica, com distribuição da Netflix (foi lançado mundialmente em 29 de novembro de 2019), 1h47m, marca a estreia da atriz francesa Mati Diop como roteirista e diretora de longa-metragens. A história reúne ingredientes de vários gêneros: drama, romance, policial, mistério, suspense e fantasia. É ambientado em Dakar, capital do Senegal, e totalmente falado em Wolof, a língua oficial do país. A jovem Ada (a atriz estreante Mame Bineta Sane), de 17 anos, de uma família humilde da periferia de Dakar, é prometida em casamento para Omar (Babacar Sylla), herdeiro de uma família rica. Só que ela ama Suleiman (Ibrahima Traoré), um jovem operário que trabalha no canteiro de obras de um edifício futurista em Dakar. Como não recebem salário há meses, Suleiman e alguns companheiros decidem embarcar clandestinamente para a Espanha, mas o barco desaparece misteriosamente. Enquanto isso, durante os preparativos para o casamento de Ada, acontece um incêndio na casa de Omar, iniciado no leito nupcial destinado ao casal. A polícia entra em ação para investigar o fato e começa a desconfiar que o incêndio não foi simplesmente um acidente e sim uma vingança de Suleiman, que, embora desaparecido, teria sido visto andando pelas ruas de Dakar. Ao mesmo tempo, os espíritos dos homens desaparecidos no mar assumem o corpo de várias jovens, que vão até o empresário Nidaye (Diankou Sembene) cobrar os salários devidos pelo trabalho na construção. O mar – no caso, o Oceano Atlântico (daí o “Atlantique”) - aparece em várias cenas do filme, com a câmera estática, uma ideia da diretora para destacar sua importância na história. “Atlantique” foi selecionado para disputar a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2019, conquistando o também importante “Grand Prix Spécial Du Jury”. Em Cannes, Mati Dopi também se destacou como a primeira diretora negra a competir pela Palma de Ouro. O filme é muito interessante, merece ser visto.