sábado, 21 de junho de 2014

Mais um novo e obrigatório filme escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore: “A Melhor Oferta” (“La Migliore Offerta”), 2013. Trata-se de um drama centrado na vida do leiloeiro e colecionador de arte Virgil Oldman (o fabuloso Geoffrey Rush), um homem excêntrico e solitário. Só se relaciona com seus empregados e com o pessoal que comparece aos seus leilões de alta categoria. Em seu luxuoso apartamento, seu único prazer é ficar admirando as dezenas de quadros de mulheres que mantém expostos nas paredes de um salão guardado a sete chaves e em total segredo. Todas as obras são de pintores famosos desde o século XV. Enfim, uma coleção valiosíssima, conseguida em muitos anos com a ajuda do amigo Billy (Donald Sutherland) em transações não muito honestas. A vida de Virgil tomará um rumo diferente a partir do dia em que é contratado para avaliar os objetos de arte da família Ibbetson, representada pela herdeira Claire (a atriz holandesa Sylvia Hoeks), uma jovem misteriosa que vive reclusa numa antiga mansão. Tornatore faz uma bela homenagem ao mundo das artes e, ao mesmo tempo, cria um retrato cruel da solidão humana na figura do leiloeiro, adicionando ao drama muito suspense e mistério. Com mais esse ótimo filme, o diretor italiano reforça um currículo impecável composto também por “Cinema Paradiso”, “Malèna”, “Baaria – A Porta do Vento” e “A Lenda do Pianista do Mar”, entre outros.   

sexta-feira, 20 de junho de 2014

A história de “A Menina que roubava Livros” (“The book thief”), co-produção EUA/Alemanha de 2012, é baseada no livro best-seller do escritor australiano Marcus Zusak. Alemanha, 1936. O enredo acampanha a trajetória da jovem Liesel Meminger (Sophie Nélisse), levada por sua mãe – perseguida pelos nazistas por ser comunista – para ser adotada em Munique pelo casal Rosa (Emily Watson) e Hans Hubermann (Geoffrey Rush), que receberão, em troca, um benefício em dinheiro do governo alemão. O irmão mais novo de Liesel, que também seria adotado pelo casal, morre no meio da viagem. Em seu enterro, o coveiro deixa cair um “Manual do Coveiro”, que Liese pega mesmo sem saber ler. Seria seu primeiro livro roubado e através do qual Hans a ensinará a ler. Liesel é encarregada de levar as roupas que Rosa lava para a casa do prefeito da cidade. Ilsa Hermann (Barbara Auer), a primeira dama, deixa Liesel frequentar a biblioteca da casa, oportunidade em que a jovem começa a ler alguns livros - e a surrupiá-los na calada da noite. "Eu os pego emprestados", diz ela ao amigo Rico (Nico Liersch). Nesse meio tempo, Rosa e Hans escondem um rapaz judeu, Max (Ben Schnetzer), no porão da casa, com o qual Liesel iniciará uma forte amizade. Mesmo em meio aos trágicos acontecimentos trazidos pela Segunda Guerra Mundial, a história reserva muitos momentos tocantes e comoventes, o que o diretor Brian Percival soube explorar com competência, principalmente ao escalar a jovem e expressiva atriz canadense Sophie Nélisse no papel principal. Lágrimas vão rolar...                            
“O que Fazer” (“The Angriest Man in Brooklyn”), EUA, 2013, é uma comédia que parte de um acontecimento um tanto inverossímil. Henry Altmann (Robin Williams) tem horário marcado com um médico. Ele vai saber o resultado de uma tomografia que fez do cérebro. No meio do caminho, um táxi bate no seu carro. Já irritado, chega ao hospital e demora para ser atendido. Ele entra para a consulta e lá não está seu médico, e sim a Dra. Sharon Gill (Mila Kunis), médica residente. Ele fica ainda mais irritado. Ela também não está nos seus melhores dias. Ao ser informado que tem um aneurisma cerebral, Altmann perde as estribeiras, grita com a médica e exige saber quanto tempo ainda tem de vida. Revoltada com o comportamento agressivo de Altmann, ela responde que ele tem apenas 90 minutos de vida. O inverrossímel está aqui: ele acredita na previsão da médica e sai correndo do hospital para corrigir seus erros com relação à sua esposa Bette (Melissa Leo) e ao seu filho Tommy (Hamish Linklater). Enquanto isso, a Dra. Gill sai desesperada pelas ruas de Nova Iorque atrás de Altmann para desfazer o seu prognóstico absurdo. A comédia até que funciona. Robin Williams está menos chato do que de costume, Mila Kunis e Melissa Leo seguram o humor com seus ataques histéricos e ainda tem uma boa cena de humor com James Earl Jones, que faz o balconista gago de uma loja onde Altmann, cheio de pressa, vai comprar uma filmadora. Dá pra ver numa boa.                                 

quinta-feira, 19 de junho de 2014


“Mel de Laranjas” (“Miel de Naranjas”), 2012, direção de Imanol Uribe, é um drama espanhol ambientado no ínicio dos anos 50, quando a “fúria espanhola” não era a seleção de futebol, e sim a ditadura do Generalíssimo Franco. A barra era bem pesada! Enrique (Iban Garate) namora com Carmen (Blanca Suárez, uma das atrizes mais bonitas do cinema espanhol), sobrinha do major Eládio (Karra Elejalde), comandante do Tribunal Militar de Andaluzia e figura de destaque no governo de Franco. Enrique está prestes a se alistar no Exército para cumprir o Serviço Militar obrigatório, o que naquela época significava ser mandado para alguma colônia. Carmen, então, pede ao tio que assegure a Enrique uma vaga no Tribunal Militar. O major Eládio coloca Enrique como seu assistente direto e motorista, além de encarregado de datilografar os processos instaurados contra os presos políticos. Só que Enrique fica revoltado com as atitudes arbitrárias do Tribunal, que incluem torturas, fuzilamentos e falcatruas nos processos. Então, a contragosto de Carmen e mesmo com o provável fim do seu relacionamento, ele entra para a luta armada contra o governo Franco e vira espião dos rebeldes dentro do Tribunal. O filme é baseado em fatos reais e deu o prêmio de melhor diretor a Uribe no Festival de Málaga. Quem gosta de filmes com pano de fundo político e histórico vai gostar.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

“A Execução” (“Une Exécution Ordinairey”), 2010, é um drama francês baseado no livro de Marc Dugain, que também é diretor do filme. O ano é 1952. Uma médica, a Dra. Anna (Marina Hands), urologista num hospital dos arredores de Moscou, tem a fama de curar doenças com a energia das mãos (Reiki?). Essa fama corre Moscou e chega aos ouvidos dos assessores de Joseph Stalin (Andre Dussolier), na ocasião bastante doente (morreria no ano seguinte). A médica é “convocada” para tirar as dores do ditador russo. No que poderia ser o início de uma fase de privilégios pela aproximação com Stalin, a médica, pelo contrário, vê sua vida se transformar num verdadeiro inferno. Ela e o marido, um físico, correrão risco de vida. Utilizando cenários sombrios, Dugain consegue retratar o clima de terror e medo que imperava na Rússia de Stalin. Algumas revelações do ditador russo, ditas à médica na base da confidência, são bastante interessantes para quem gosta de curtir História, mas, no geral, o filme passa longe de um entretenimento agradável.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Está nos dicionários: Fábula é uma narração alegórica, cujos personagens são animais, que encerra uma lição moral. A definição é perfeita para “A Parede” (“Die Wand”), 2012, uma co-produção Áustria/Alemanha, com direção de Julian Roman Rölsler. A única é diferença é que aqui os animais não falam. Aliás, nem a atriz principal. Com o acréscimo de um pouco de surrealismo, o filme conta a história de uma mulher (a atriz alemã Martina Gedeck) que viaja com um casal de amigos para uma cabana de caça nas montanhas da Áustria. À noite, os amigos saem para ir até a cidade, deixando a visitante sozinha com o cachorro Luchs. O casal não volta e, pela manhã, ela sai para ver o que aconteceu. Quando está a caminho, ela dá de cara com uma parede invisível. Ela vai pra cá e pra lá e chega à conclusão de que está aprisionada numa espécie de redoma intransponível. Daí em diante, ela ficará sozinha com o cachorro. Depois ainda chegam dois gatos e uma vaca. O filme inteiro é narrado in off  pela mulher, que, evidentemente, está escrevendo um diário. Ela não vê saída para sua situação e terá que aprender a viver – e sobreviver – sozinha. O tom da narrativa é monótono e melancólico, talvez para realçar a solidão da personagem. As paisagens dos Alpes austríacos são deslumbrantes e minimizam um pouco toda essa tristeza. O filme, baseado no livro da escritora austríaca Marlen Haushofer, disputou o Oscar 2014 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro representando a Áustria.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

 
 “Apenas Henry – A Verdade de uma Vida” (“Just Henry”), dirigido por David Moore, é um drama produzido em 2011 para a TV inglesa baseado no livro "Goodnight Mister Tom", de Michelle Magorian. O ano é 1950 na Inglaterra. O garoto Henry (Josh Bolt), de 15 anos, vive numa pequena casa na periferia de Londres. Ele mora com a mãe, o padrasto e a avó. O pai, morto em 1941, era um soldado considerado herói de guerra. Henry nunca se deu com o padrasto (Dean Andrews), no que é apoiado pela avó, mãe de seu pai. Em meio a essas rusgas familiares, um dia Henry vai ao cinema com a namoradinha Grace (Charlie May-Clark) e, ao fim da sessão, a fotografa na rua. Ao revelar a foto, Henry vê ao fundo um homem que parece muito ser seu pai. É apenas um vulto, mas o garoto, ao contrário de todos, acredita piamente que aquele é seu pai que ressurgiu. E não é que ele está certo? A partir daí, porém, muitas verdades virão à tona e revelarão que o pai de Henry não é exatamente o homem que Henry idolatrava. Próximo ao seu final, o filme deixa o clima  novelão de lado (a mãe de Henry vive desmaiando) e parte para um movimentado policial noir, com direito a sequestros e perseguições.                  

     

domingo, 15 de junho de 2014

“O Invasor” (“L’Envahisseur”), 2011, é um vigoroso drama belga. Trata-se do primeiro longa dirigido por Nicolas Provost. Começa o filme com dois africanos chegando, extenuados - provavelmente náufragos de alguma embarcação vinda da África – a uma praia de nudismo no litoral europeu (sul da Espanha?). A primeira visão humana que eles têm é de uma estonteante loira ao natural. Devem ter pensado: “Será aqui o Paraíso?”. Entram os créditos e, na cena seguinte, um dos africanos, Amadou (Isaka Sawadogo), está em Bruxelas (Bélgica) trabalhando duro numa obra juntamente com outros clandestinos. Um dia, Amadou consegue fugir de uma batida do serviço de imigração belga e começa a peregrinar pelas ruas de Bruxelas. Com seu jeito simpático e carismático, Amadou começa a conversar com as pessoas, que o tratam bem, sem qualquer tipo de rejeição. Um tanto inverossímil essa liberdade de Amadou pelas ruas sem ser interpelado pela polícia. Afinal, trata-se de um sujeiro enorme e evidentemente imigrante que pode estar com sua situação irregular, como de fato está. Em suas andanças, ele vai conhecer Agnès Yael (a atriz italiana Stefania Rocca), uma bela e rica executiva casada com um grande empresário. Amadou, que agora se apresenta como Obama, diz que é um homem de negócios em busca de novas oportunidades. Agnès fica encantada com o charme de Amadou/Obama e se entrega à sedução do africano, uma atitude da qual se arrependerá mais tarde. O filme é muito bem feito e tem como trunfo, além da história em si, dois atores estupendos: Sawadogo e a italiana Stefania.             
“Uma Vida Tranquila” (“Uma Vita Tranquilla”), 2010, é uma co-produção Itália/Alemanha/França dirigida por Claudio Cupellini e traz, encabeçando o elenco, o ator italiano Toni Servillo (de “A Grande Beleza”). Trata-se de um drama que, perto de seu desfecho, vira um suspense policial bem ao estilo dos filmes que envolvem mafiosos – Cupellini, aliás, dirigiu uma série de TV baseada no livro “Gomorra”. Servillo é Rosario Russo, um homem de passado obscuro na Itália e que há 15 anos mora nos arredores de Frankfurt (Alemanha), onde possui uma pousada. Ele é casado com a alemã Renate (Juliane Köhler), uma mulher bem mais jovem, e tem um filho pré-adolescente. O filme começa mostrando Rosário em sua rotina de trabalho na pousada, o que inclui supervisionar o pessoal da cozinha na elaboração dos pratos. Não há qualquer indício de seu passado nebuloso na Itália e essa calma aparente – a vida tranquila do título – só será abalada quando um dia chega à pousada Diego (Marco D’Amore), o filho italiano que Rosario abandonara na Itália. Diego chega com um amigo, Edoardo (Francesco di Leva). Quando Rosario descobre o verdadeiro motivo da visita dos dois, terá que agir rápido não só para proteger sua vida como também a da sua família. O filme estreou no Brasil durante a 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2011.