“O
ANJO DO MOSSAD” (“THE ANGEL”), 2018, Estados Unidos, à
disposição na plataforma Netflix, 1h43m, direção do diretor israelense Ariel
Vromen, que também assina o roteiro com a colaboração de David Arata e Luke
Garret. A história é verídica e lembra o episódio envolvendo um dos personagens
mais marcantes da espionagem internacional. Estou me referindo a Ashraf Marwan
(o ator holandês de origem árabe Marwan Kensari), um oficial egípcio de alto
escalão que no início dos anos 70 se ofereceu para ser espião de Israel via
Mossad (o serviço secreto israelense). A adesão de Ashraf foi voluntária, revoltado
por ter sido humilhado publicamente pelo seu sogro, nada menos do que o
presidente do Egito Gamal Abdel Nasser. Genro e sogro nunca se entenderam e
Nasser sempre foi contra o casamento. Como mulher acostumada a obedecer ao pai,
a esposa Mona (Maisa Abd Elhad) nunca saiu em defesa do marido. Quando aderiu
ao Mossad, Ashraf forneceu importantes informações para Israel, a mais vital
delas em 1973, durante o feriado judeu do Yom Kippur, dando conta da movimentação
bélica dos países árabes, liderados pelo Egito – agora comandado por Anwar
Sadat (Sasson Gabai) –, com o objetivo de recuperar territórios tomados por
Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Por causa dessas informações, Israel
conseguiu mobilizar seu efetivo militar e derrotar seus inimigos. Dessa forma,
Ashraf seria considerado um herói por parte de Israel e, mais tarde, pelo
próprio Egito, que concluiu que o seu papel fora fundamental para a realização
do acordo de paz entre as duas nações, três anos depois. O mais interessante de
“O Anjo do Mossad” é a revelação dos bastidores do trabalho de Ashraf, suas
reuniões com o pessoal da alta cúpula militar do Egito, seus encontros secretos
com o pessoal do Mossad em Londres e seu dia a dia cada vez mais perigoso, alimentando
o clima de tensão cada vez mais crescente durante a projeção. Em vários
momentos, Ashraf correu risco de morte, negociou frente à frente com Muammar Gadaffi
(Isahi Halevi), ditador da Líbia, e teve muitos problemas com sua família, pois
sempre escondeu suas atividades secretas da esposa Mona. Para complicar ainda
mais a situação conjugal, Mona descobriria o caso do marido com uma amante
londrina, a espetacular Diana Ellis (Hannah Ware) –, mais um fator de estresse
para o coitado do espião. Todos esses detalhes só seriam revelados em 2016
no livro “O Anjo: O Espião Egípcio que Salvou Israel”, do escritor e cientista
político israelense Uri Bar-Joseph, que serviu de inspiração e base para o
roteiro do filme. Eu já conhecia o diretor israelense Ariel Vromen, radicado
nos Estados Unidos, de bons filmes como “Mente Criminosa” e “O Homem de Gelo”.
Vromen fez mais um excelente trabalho com “O Anjo do Mossad”, um filme obrigatório
para quem gosta de conhecer um pouco mais da história mundial recente.
IMPERDÍVEL!
sexta-feira, 8 de maio de 2020
quinta-feira, 7 de maio de 2020
“ALTOS NEGÓCIOS” (“BETONRAUSCH”), 2020,
Alemanha, já disponível na plataforma Netflix, 1h34m, roteiro e direção de
Cüneyt Kaya – é o seu terceiro longa-metragem. Baseado num caso real ocorrido
na Alemanha, Kaya conta a história de um rapaz pobre, Viktor Stein (David Kross), que um dia resolve ir para a
cidade grande (Berlim) com o objetivo de trabalhar e ganhar dinheiro. No início, arrumou emprego como operário na construção civil, dormiu em bancos de praça, passou
frio e mal tinha o que comer. Até que tem a ideia de
ingressar no mercado imobiliário, juntando-se a Gerry Falkland (Frederick Lau),
um fracassado malandro oficial, e a uma experiente bancária, a bela Nicole
Kleber (Janina Uhse). Viktor tem como principal trunfo o seu jeito malandro
sedutor e um sorriso cativante, abrindo as portas para vários negócios. Ele e
os novos parceiros começam a engendrar esquemas fraudulentos no ramo imobiliário
com a retaguarda de empréstimos e financiamentos ilegais junto a bancos e
instituições de crédito. Os três ganham bilhões em pouco tempo, mas gastam quase
tudo em mansões, carrões, prostíbulos luxuosos e festas regadas a muito álcool e cocaína, o que nos remete
ao estilo de vida dos principais personagens do filme “O Lobo de Wall Street”. Trata-se,
portanto, de uma história de cobiça e ambição, realizada com muita competência
pelo diretor alemão Cüneyt Kaya, que conseguiu impor um ritmo frenético do
começo ao fim. Um surpreendente filme alemão que merece ser visto. Imperdível!
terça-feira, 5 de maio de 2020
“EM GUERRA POR AMOR” (“IN
GUERRA PER AMORE”), 2016, Itália, 1h39m, roteiro e direção de
Pierfrancesco Diliberto (também conhecido como Pif). Trata-se de uma saborosa
comédia cujo pano de fundo é uma declarada homenagem aos grandes diretores italianos,
como Mario Monicelli, Fellini, Dino Risi e Ettore Scola, entre outros. Como
registram os créditos iniciais, o filme é dedicado ao mestre Scola (1931/2016),
falecido pouco antes do fim das filmagens. Ambientado em 1943, em plena Segunda
Guerra Mundial, “Em Guerra por Amor” conta a história de um amor impossível que
começa em Nova Iorque, envolvendo o fracassado Arturo Giammaresi (papel do
próprio diretor) e a bela Flora (Miriam Leone), de uma importante família ligada à
máfia. Eles pretendem se casar, mas só que a “famiglia” de Flora escolheu outro
pretendente, filho de um chefe mafioso de Nova Iorque ligado ao poderoso Lucky
Luciano. Para evitar esse casamento, Arturo precisa viajar à Sicília para pedir
a mão de Flora para o seu pai, Don Caló (Maurizio Marchetti), um chefão da máfia
local. Mas como viajar para a Sicília em meio à guerra, e, principalmente, sem
dinheiro? A resposta chegou num golpe de sorte. No balcão de um bar, Arturo
conhece um oficial norte-americano que está à procura justamente de alguém que fale
italiano e conheça bem a Sicília, já que há planos dos aliados de utilizarem a
região como ponto estratégico no combate ao exército nazista – essa ajuda seria
recompensada posteriormente pelos norte-americanos, que colocaram os mafiosos,
alguns cumprindo pena, em postos-chave dos governos municipais da Sicília.
Aliás, por sua ajuda ao exército norte-americano, o chefão da máfia em Nova
Iorque, Lucky Luciano, também recebeu algumas regalias da justiça do Tio Sam. O
filme faz uma forte crítica à conexão entre o pessoal da OSS (serviço secreto
norte-americano da época) e a máfia italiana, o que favoreceu o crescimento e o
fortalecimento da organização criminosa tanto nos EUA como em território italiano.
Enfim, o filme acompanha, com muito humor, a aventura de Arturo para chegar até
o pai de Flora, sua amizade com o oficial norte-americano Philip Chiamparino
(Andrea Di Stefano) e até sua presença na Casa Branca, em Washington, para
entregar um importante documento secreto ao presidente dos EUA. Durante o
filme, percebi várias homenagens a Fellini, como os tipos esquisitos e caricaturais, o
cego (“Amarcord”) e a cena do helicóptero (“A Doce Vida”). Com relação ao fato
de que “Em Guerra por Amor” foi dedicado à memória do grande Ettore Scola, gostaria
de mencionar aqueles que considero seus melhores filmes, alguns deles
verdadeiras obras-primas, como “O Baile", “Nós que nos Amávamos Tanto”, “Um Dia
Muito Especial”, “O Jantar”, “Feios, Sujos e Malvados” e “Splendor”, este
último uma bela homenagem ao cinema. “Em Guerra por Amor” é um filme que remete
às melhores comédias italianas dos anos 40/50/60/70 do século passado. Nostálgico,
engraçado e sensível, além de uma primorosa reconstituição de época, “Em Guerra por Amor” é um filme obrigatório para quem gosta do
bom cinema.
segunda-feira, 4 de maio de 2020
“VIVER DUAS VEZES” (“VIVIR DOS
VECES”), 2019, Espanha, produção Netflix, 1h41m, direção de María
Ripoll, com roteiro assinado por María Mínguez. Mesmo tratando de temas não
muito agradáveis, como o Mal de Alzheimer e a deficiência física infantil, essa
produção espanhola, para amenizar o contexto, tira partido de muito humor e de momentos de alta sensibilidade. Ou seja, “Viver Duas Vezes” diverte e emociona
na dose certa, transformando-se num filme bastante agradável de assistir. A
história é centrada no professor universitário aposentado Emílio (Oscar
Martínez), um gênio da matemática reconhecido no mundo inteiro. Chega o dia em
que ele começa a ter alguns apagões, como esquecimentos e desorientações, confirmando-se,
depois de alguns exames médicos, que ele sofre do Mal de Alzheimer. Ele começa
a ter atitudes esquisitas, como sair à noite pelas ruas de pijama e jogar para
o alto a comida. Nesses casos, claro, o doente precisa ser vigiado o dia inteiro,
tarefa que acaba recaindo sobre a família, no caso, a filha Julia (Inma
Cuesta), o genro Felipe (Nacho López) e a neta Blanca (Mafalda Carbonell), uma
garota esperta que enfrenta, desde que nasceu, uma grave deficiência nas
pernas. Independente desse problema, Blanca é uma garota muito esperta que
adora colocar palavrões em suas frases, para desespero dos pais. No dia em que Julia
recebe o pai para almoçar e expõe não saber o que fazer, Blanca dá o recado na
lata: “Mãe, leva ele para o asilo. É o que todo mundo faz”. A garotinha é
terrível mesmo, mas é ela que será a cúmplice do seu avô numa grande aventura.
Emílio resolve tentar encontrar um antigo amor de infância, uma tal Margarita. Blanca
tentar ajudar o avô navegando pelas redes sociais e descobre uma possibilidade
na cidade de Navarra. Emílio e a neta partem para a estrada, mas não contavam
com um problema mecânico no velho automóvel. Avô e neta ficam retidos num posto
de gasolina à espera de Júlia e do marido. O road movie continua, pois Júlia
decide, tal qual Blanca, ajudar Emílio em seu sonho quase impossível. Além da
história marcante, é sem dúvida no elenco que está o maior trunfo de “Viver
Duas Vezes”. A começar pelo grande ator argentino Oscar Martínez (“Ninho Vazio”,
“Cidadão Ilustre”, “Relatos Selvagens” e “Inseparáveis”, este último refilmagem
da comédia francesa “Intocáveis”). E a sensacional espanhola Inma Cuesta, que além de bonita é excelente atriz. Lembro dela em filmes como "Branca de Neve", "Todos já Sabem", "La Novia" e "La Voz Dormida". Mas a grande surpresa positiva é a presença de Mafalta Carbonell, cuja ótima atuação
(de estreia no cinema) garante os momentos mais divertidos. A diretora Maria Ripoll, ao dirigir "Ahora o Nunca" ("Agora ou Nunca"), em 2015, alcançou a posição invejável de diretora com a maior bilheteria da história do cinema espanhol. Enfim, “Viver Duas
Vezes” é um filme bastante sensível, diverte e emociona. Mais uma joia preciosa
lapidada pelo cinema espanhol. IMPERDÍVEL!
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