sexta-feira, 8 de maio de 2020


“O ANJO DO MOSSAD” (“THE ANGEL”), 2018, Estados Unidos, à disposição na plataforma Netflix, 1h43m, direção do diretor israelense Ariel Vromen, que também assina o roteiro com a colaboração de David Arata e Luke Garret. A história é verídica e lembra o episódio envolvendo um dos personagens mais marcantes da espionagem internacional. Estou me referindo a Ashraf Marwan (o ator holandês de origem árabe Marwan Kensari), um oficial egípcio de alto escalão que no início dos anos 70 se ofereceu para ser espião de Israel via Mossad (o serviço secreto israelense). A adesão de Ashraf foi voluntária, revoltado por ter sido humilhado publicamente pelo seu sogro, nada menos do que o presidente do Egito Gamal Abdel Nasser. Genro e sogro nunca se entenderam e Nasser sempre foi contra o casamento. Como mulher acostumada a obedecer ao pai, a esposa Mona (Maisa Abd Elhad) nunca saiu em defesa do marido. Quando aderiu ao Mossad, Ashraf forneceu importantes informações para Israel, a mais vital delas em 1973, durante o feriado judeu do Yom Kippur, dando conta da movimentação bélica dos países árabes, liderados pelo Egito – agora comandado por Anwar Sadat (Sasson Gabai) –, com o objetivo de recuperar territórios tomados por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Por causa dessas informações, Israel conseguiu mobilizar seu efetivo militar e derrotar seus inimigos. Dessa forma, Ashraf seria considerado um herói por parte de Israel e, mais tarde, pelo próprio Egito, que concluiu que o seu papel fora fundamental para a realização do acordo de paz entre as duas nações, três anos depois. O mais interessante de “O Anjo do Mossad” é a revelação dos bastidores do trabalho de Ashraf, suas reuniões com o pessoal da alta cúpula militar do Egito, seus encontros secretos com o pessoal do Mossad em Londres e seu dia a dia cada vez mais perigoso, alimentando o clima de tensão cada vez mais crescente durante a projeção. Em vários momentos, Ashraf correu risco de morte, negociou frente à frente com Muammar Gadaffi (Isahi Halevi), ditador da Líbia, e teve muitos problemas com sua família, pois sempre escondeu suas atividades secretas da esposa Mona. Para complicar ainda mais a situação conjugal, Mona descobriria o caso do marido com uma amante londrina, a espetacular Diana Ellis (Hannah Ware) –, mais um fator de estresse para o coitado do espião. Todos esses detalhes só seriam revelados em 2016 no livro “O Anjo: O Espião Egípcio que Salvou Israel”, do escritor e cientista político israelense Uri Bar-Joseph, que serviu de inspiração e base para o roteiro do filme. Eu já conhecia o diretor israelense Ariel Vromen, radicado nos Estados Unidos, de bons filmes como “Mente Criminosa” e “O Homem de Gelo”. Vromen fez mais um excelente trabalho com “O Anjo do Mossad”, um filme obrigatório para quem gosta de conhecer um pouco mais da história mundial recente. IMPERDÍVEL!


quinta-feira, 7 de maio de 2020


“ALTOS NEGÓCIOS” (“BETONRAUSCH”), 2020, Alemanha, já disponível na plataforma Netflix, 1h34m, roteiro e direção de Cüneyt Kaya – é o seu terceiro longa-metragem. Baseado num caso real ocorrido na Alemanha, Kaya conta a história de um rapaz pobre, Viktor Stein (David Kross), que um dia resolve ir para a cidade grande (Berlim) com o objetivo de trabalhar e ganhar dinheiro. No início, arrumou emprego como operário na construção civil, dormiu em bancos de praça, passou frio e mal tinha o que comer. Até que tem a ideia de ingressar no mercado imobiliário, juntando-se a Gerry Falkland (Frederick Lau), um fracassado malandro oficial, e a uma experiente bancária, a bela Nicole Kleber (Janina Uhse). Viktor tem como principal trunfo o seu jeito malandro sedutor e um sorriso cativante, abrindo as portas para vários negócios. Ele e os novos parceiros começam a engendrar esquemas fraudulentos no ramo imobiliário com a retaguarda de empréstimos e financiamentos ilegais junto a bancos e instituições de crédito. Os três ganham bilhões em pouco tempo, mas gastam quase tudo em mansões, carrões, prostíbulos luxuosos e festas regadas a muito álcool e cocaína, o que nos remete ao estilo de vida dos principais personagens do filme “O Lobo de Wall Street”. Trata-se, portanto, de uma história de cobiça e ambição, realizada com muita competência pelo diretor alemão Cüneyt Kaya, que conseguiu impor um ritmo frenético do começo ao fim. Um surpreendente filme alemão que merece ser visto. Imperdível!

terça-feira, 5 de maio de 2020


“EM GUERRA POR AMOR” (“IN GUERRA PER AMORE”), 2016, Itália, 1h39m, roteiro e direção de Pierfrancesco Diliberto (também conhecido como Pif). Trata-se de uma saborosa comédia cujo pano de fundo é uma declarada homenagem aos grandes diretores italianos, como Mario Monicelli, Fellini, Dino Risi e Ettore Scola, entre outros. Como registram os créditos iniciais, o filme é dedicado ao mestre Scola (1931/2016), falecido pouco antes do fim das filmagens. Ambientado em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, “Em Guerra por Amor” conta a história de um amor impossível que começa em Nova Iorque, envolvendo o fracassado Arturo Giammaresi (papel do próprio diretor) e a bela  Flora (Miriam Leone), de uma importante família ligada à máfia. Eles pretendem se casar, mas só que a “famiglia” de Flora escolheu outro pretendente, filho de um chefe mafioso de Nova Iorque ligado ao poderoso Lucky Luciano. Para evitar esse casamento, Arturo precisa viajar à Sicília para pedir a mão de Flora para o seu pai, Don Caló (Maurizio Marchetti), um chefão da máfia local. Mas como viajar para a Sicília em meio à guerra, e, principalmente, sem dinheiro? A resposta chegou num golpe de sorte. No balcão de um bar, Arturo conhece um oficial norte-americano que está à procura justamente de alguém que fale italiano e conheça bem a Sicília, já que há planos dos aliados de utilizarem a região como ponto estratégico no combate ao exército nazista – essa ajuda seria recompensada posteriormente pelos norte-americanos, que colocaram os mafiosos, alguns cumprindo pena, em postos-chave dos governos municipais da Sicília. Aliás, por sua ajuda ao exército norte-americano, o chefão da máfia em Nova Iorque, Lucky Luciano, também recebeu algumas regalias da justiça do Tio Sam. O filme faz uma forte crítica à conexão entre o pessoal da OSS (serviço secreto norte-americano da época) e a máfia italiana, o que favoreceu o crescimento e o fortalecimento da organização criminosa tanto nos EUA como em território italiano. Enfim, o filme acompanha, com muito humor, a aventura de Arturo para chegar até o pai de Flora, sua amizade com o oficial norte-americano Philip Chiamparino (Andrea Di Stefano) e até sua presença na Casa Branca, em Washington, para entregar um importante documento secreto ao presidente dos EUA. Durante o filme, percebi várias homenagens a Fellini, como os tipos esquisitos e caricaturais, o cego (“Amarcord”) e a cena do helicóptero (“A Doce Vida”). Com relação ao fato de que “Em Guerra por Amor” foi dedicado à memória do grande Ettore Scola, gostaria de mencionar aqueles que considero seus melhores filmes, alguns deles verdadeiras obras-primas, como “O Baile", “Nós que nos Amávamos Tanto”, “Um Dia Muito Especial”, “O Jantar”, “Feios, Sujos e Malvados” e “Splendor”, este último uma bela homenagem ao cinema. “Em Guerra por Amor” é um filme que remete às melhores comédias italianas dos anos 40/50/60/70 do século passado. Nostálgico, engraçado e sensível, além de uma primorosa reconstituição de época, “Em Guerra por Amor” é um filme obrigatório para quem gosta do bom cinema.  

segunda-feira, 4 de maio de 2020


“VIVER DUAS VEZES” (“VIVIR DOS VECES”), 2019, Espanha, produção Netflix, 1h41m, direção de María Ripoll, com roteiro assinado por María Mínguez. Mesmo tratando de temas não muito agradáveis, como o Mal de Alzheimer e a deficiência física infantil, essa produção espanhola, para amenizar o contexto, tira partido de muito humor e de momentos de alta sensibilidade. Ou seja, “Viver Duas Vezes” diverte e emociona na dose certa, transformando-se num filme bastante agradável de assistir. A história é centrada no professor universitário aposentado Emílio (Oscar Martínez), um gênio da matemática reconhecido no mundo inteiro. Chega o dia em que ele começa a ter alguns apagões, como esquecimentos e desorientações, confirmando-se, depois de alguns exames médicos, que ele sofre do Mal de Alzheimer. Ele começa a ter atitudes esquisitas, como sair à noite pelas ruas de pijama e jogar para o alto a comida. Nesses casos, claro, o doente precisa ser vigiado o dia inteiro, tarefa que acaba recaindo sobre a família, no caso, a filha Julia (Inma Cuesta), o genro Felipe (Nacho López) e a neta Blanca (Mafalda Carbonell), uma garota esperta que enfrenta, desde que nasceu, uma grave deficiência nas pernas. Independente desse problema, Blanca é uma garota muito esperta que adora colocar palavrões em suas frases, para desespero dos pais. No dia em que Julia recebe o pai para almoçar e expõe não saber o que fazer, Blanca dá o recado na lata: “Mãe, leva ele para o asilo. É o que todo mundo faz”. A garotinha é terrível mesmo, mas é ela que será a cúmplice do seu avô numa grande aventura. Emílio resolve tentar encontrar um antigo amor de infância, uma tal Margarita. Blanca tentar ajudar o avô navegando pelas redes sociais e descobre uma possibilidade na cidade de Navarra. Emílio e a neta partem para a estrada, mas não contavam com um problema mecânico no velho automóvel. Avô e neta ficam retidos num posto de gasolina à espera de Júlia e do marido. O road movie continua, pois Júlia decide, tal qual Blanca, ajudar Emílio em seu sonho quase impossível. Além da história marcante, é sem dúvida no elenco que está o maior trunfo de “Viver Duas Vezes”. A começar pelo grande ator argentino Oscar Martínez (“Ninho Vazio”, “Cidadão Ilustre”, “Relatos Selvagens” e “Inseparáveis”, este último refilmagem da comédia francesa “Intocáveis”). E a sensacional espanhola Inma Cuesta, que além de bonita é excelente atriz. Lembro dela em filmes como "Branca de Neve", "Todos já Sabem", "La Novia" e "La Voz Dormida". Mas a grande surpresa positiva é a presença de Mafalta Carbonell, cuja ótima atuação (de estreia no cinema) garante os momentos mais divertidos. A diretora Maria Ripoll, ao dirigir "Ahora o Nunca" ("Agora ou Nunca"), em 2015, alcançou a posição invejável de diretora com a maior bilheteria da história do cinema espanhol. Enfim, “Viver Duas Vezes” é um filme bastante sensível, diverte e emociona. Mais uma joia preciosa lapidada pelo cinema espanhol. IMPERDÍVEL!