“QUE VIVA EISENSTEIN!” (“Eisenstein in Guanajuato”), 2014, México, direção de Peter Greenaway. Os
filmes do veterano cineasta britânico não são para iniciantes. Sabe disso quem
já assistiu a alguns deles, como “O Livro de Cabeceira”, “Afogando em Números”
e, principalmente, “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante”. Baseado num
fato real, ou seja, a viagem do diretor russo Sergei Eisenstein ao México, em
1931, para filmar “Que Viva México!”, Greenaway inventou uma série de
acontecimentos que provavelmente foram frutos de sua fértil imaginação. E
transformou tudo num filme em que fica difícil distinguir a ficção da
realidade. Uma biografia surreal. Greenaway apresenta um Eisenstein (o ator
finlandês Elmer Bäck) excêntrico, egocêntrico, verborrágico e inconveniente, o que talvez
não tenha sido o diretor de filmes conceituados como “Encouraçado Potemkin”, “Greve”
e “Outubro”. Greenaway utiliza um recurso visual bastante interessante para
ilustrar as conversas de Eisenstein com seu guia mexicano, Palomino Cañedo
(Luis Alberti). Cada vez que o diretor russo cita o nome de uma personalidade,
seja um artista de cinema, escritor, filósofo ou político, imediatamente
aparece na tela a foto de quem é citado. Num desses diálogos, Eisenstein cita
os artistas que teve a oportunidade de conhecer em sua viagem a Hollywood, o
que entendi ser uma homenagem de Greenaway ao cinema do Tio Sam. Achei que o
diretor britânico explorou em demasia a homossexualidade do diretor russo,
inclusive por intermédio de longas cenas de sexo entre ele e o seu guia mexicano.
O filme estreou no 65º Festival de Berlim, em fevereiro de 2015, sem muitos
elogios. Enfim, mais um filme de Greenaway difícil de digerir, mas interessante
de assistir.
Produzido
em 2008 inicialmente para ser exibido na TV francesa, o drama “A
BELA JUNIE” (“La Belle Personne”) ganhou espaço no circuito comercial de
cinemas e fez sucesso junto ao público jovem e também adulto. Trata-se de uma
adaptação do romance “La Princesse de Clèves”, escrito no século 17 por Madame
de La Fayette. O roteiro e a direção ficaram a cargo de Christophe Honoré. A
jovem Junie (Lea Seydoux), de 16 anos, vai morar em Paris na casa dos tios
depois da morte de seus pais. Em seu novo colégio, Junie começa a atrair a
atenção de outros jovens, encantados por sua beleza. Jacques Nemours (Louis
Garrel), professor de italiano, acaba se apaixonando por Junie, mas ela está
namorando Otto (Grégore Leprince-Ringuet), um rapaz tímido e quieto. Em meio a
esse triângulo amoroso, o filme transcorre abordando a insegurança dos jovens a
respeito de suas emoções, paixões, desilusões e ciúmes. O filme não é apenas
interessante pela história em si, mas também pela oportunidade de ver alguns atores
franceses que hoje são sucesso em início de carreira, como Lea Seydoux (morena
e um pouco mais gordinha, mas já uma ótima atriz), Louis Garrel e Anaïs Demoustier. Assim como é interessante a pequena e quase anônima participação da atriz Chiara Mastroianni. Gostei e recomendo.
“PAIXÕES UNIDAS” (“United Passions – La Légende du
Football”), 2014, direção de Frédéric
Auburtin, é um filme dos mais interessantes para quem curte futebol. Em suas
quase duas horas de duração, conta a história dos 111 anos da FIFA (Federação
Internacional de Futebol), desde sua fundação em Paris, em 1904, até a Copa do
Mundo na África do Sul, em 2010. O filme dá destaque especial a três dos
principais personagens que construíram essa história, Jules Rimet (Gérard
Depardieu), João Havelange (Sam Neill) e Joseph Blatter (Tim Roth). A produção
francesa destaca também os bastidores e os intensos preparativos para a
realização da primeira Copa do Mundo de Futebol, no Uruguai, em 1930, e a final
de 1950, no Maracanã, quando o Uruguai calou 200 mil torcedores com sua vitória
sobre a seleção brasileira. Também são destacados os bastidores das negociações
da FIFA com fabricantes de materiais esportivos, a eleição de João Havelange e
depois de Blatter e as crises financeiras da entidade. Pena que essa história
tão bonita tenha sido manchada pela acusação de corrupção que atingiu seus
principais dirigentes em 2015, o que prejudicou, e muito, o lançamento dessa
caprichada produção francesa. De qualquer forma, trata-se de um filme que
merece ser visto.
Grande
vencedor da “Palma de Ouro” do Festival de Cannes 2015, “DHEEPAN,
O REFÚGIO“ (“DHEEPAN”) é mais um ótimo filme
do diretor francês Jacques Audiard (de “O Profeta” e “Ferrugem e Osso”), também
autor do roteiro. Audiard aborda o drama dos refugiados, tema tão em evidência
nos últimos tempos. A história é focada em três personagens que fogem do Sri
Lanka: Dheepan (Antonythasan Jesuthasan), um ex-soldado envolvido na guerra
civil, Yalini (Kalieaswari Srinivasan), que perdeu toda a família, e a menina órfã
Illayaal (Claudine Vinasithmby). Eles se conhecem num campo de refugiados e,
fingindo ser uma família, conseguem chegar à França. Só que, ao invés de
encontrar um mar de rosas, encontram um oceano de espinhos. Os três vão morar
num conjunto habitacional barra-pesada na periferia de Paris. Em meio à briga
de gangues e tiroteios quase que diários, Dheepan arruma emprego como zelador
de um prédio e Yalini vai trabalhar como cuidadora de um idoso. Mesmo que o contexto
seja bastante dramático, Audiard adiciona pitadas de humor e momentos de
sensibilidade, tornando esse filme muito agradável de assistir. Destaque para o excelente trabalho do ator que interpreta Dheepan. O filme é quase todo falado em tâmil, um dos idiomas oficiais do Sri Lanka. Quem aprecia
filmes de qualidade não pode perder.
Numa
das cenas iniciais do filme, Isabel (Ana de Armas) está esperando o trem no
metrô quando um homem de repente levita sobre os trilhos. Quando sai à rua, ela
começa a ver fantasmas. Pensei na hora: lá vem bomba! Não deu outra. “FILHA
DE DEUS” (“Exposed”), EUA, 2015, direção de Declan Dale, é um “abacaxi”
dos mais azedos. Nem o astro Keanu
Reeves consegue salvar. Reeves interpreta o detetive Scott Galban, encarregado
de investigar o misterioso assassinato do seu parceiro numa estação do metrô. Durante
as investigações, o policial descobrirá que seu falecido parceiro não era “flor
que se cheire”. Era corrupto e mau-caráter. O detetive Scott vai atrás dos principais
suspeitos, mas o verdadeiro assassino só é apresentado no final, numa revelação
bombástica. O filme é muito fraco, com problemas sérios de roteiro, principalmente
com relação às aparições vistas por Isabel, que não têm nada a ver com a
história. Apesar de bonita, ainda falta muito para a cubana Ana de Armas ser
considerada uma boa atriz. Reeves atua no piloto automático, devagar quase
parando. O último filme bom em que atuou foi “De Volta ao Jogo”, de 2014. A
única que se salva é Mira Sorvino como Janine, viúva do policial morto.