quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
“THE BEATLES – OITO DIAS DA SEMANA” (“The Beatles –
Eight Days a Week – The Touring Years”), 2016,
EUA, direção de Ron Howard (“Uma Mente Brilhante” e “Apolo 13”). O foco
principal do documentário são as turnês realizadas pela banda entre 1963 e
1966, com destaque para as apresentações realizadas nos EUA. Nesse período, a
banda inglesa participou de nada menos do que 250 concertos no mundo inteiro.
Além das cenas desses shows ao vivo, incluindo a participação no programa de Ed
Sullivan na TV norte-americana, vista por 73 milhões de telespectadores, o
documentário apresenta depoimentos exclusivos de personalidades como Woopi
Goldberg e Sigourney Weaver, que estiveram presentes em alguns shows da banda
nos EUA e se declaram fãs de carteirinha da banda inglesa. Howard também conseguiu
entrevistar Paul McCartney e Ringo Starr, além de reproduzir depoimentos de John
Lennon e George Harrison. Muitas informações curiosas e, para mim, surpreendentes,
também estão no documentário. Por exemplo, que foi o empresário Brian Epstein
que teve a ideia, em 1962, de substituir os casacos de couro com os quais os
músicos se apresentavam no Cavern Club e em Hamburgo pelos famosos terninhos.
Outra revelação: Paul, Lennon, Ringo e Harrison, numa fase de desgaste profissional, chegaram a pensar em fundar uma
nova banda, com outro nome. Além disso, Howard abriu espaço para mostrar a dura
rotina de trabalho dos Beatles: gravações em estúdio, entrevistas coletivas,
shows ao vivo, participação em clipes etc. Também ganhou destaque no
documentário o pedido de desculpas de John Lennon, em entrevista coletiva,
depois de afirmar que os Beatles eram maiores do que Jesus. Enfim, um documentário
que proporciona uma viagem fantástica aos anos 60 na companhia da banda que
revolucionou a cultura musical e influenciou milhões de jovens pelo mundo
inteiro, inclusive este humilde comentarista. Impossível não se emocionar com tantas canções maravilhosas. Mais do que imperdível, OBRIGATÓRIO!
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
Confesso
que fiquei em dúvida se assistia ou não o drama japonês “PIETÁ NO BANHEIRO” (“Toire no Pieta” no original, ou “Pieta in the Toilet”
em inglês), 2015, roteiro e direção de Daishi Matsunaga. A começar pelo título
suspeito (explicado no desfecho), a falta de referências sobre o diretor e os protagonistas, além do fato de ser
baseado num mangá (história em quadrinhos), arte mais direcionada para os jovens. Mas resolvi assistir e acabei
diante de uma obra bastante interessante. A história é baseada num mangá autobiográfico do
escritor Osamu Tezuka. O jovem Hiroshi (o ator e astro da música pop Yojiro
Noda) desiste da carreira de pintor e resolve trabalhar como limpador de
janelas de escritórios em grandes edifícios. Ao realizar exames médicos depois
de passar mal durante o trabalho, ele descobre que tem um tumor maligno no
estômago e poucos meses de vida. A história toda gira em torno da relação de
Hiroshi com a proximidade da morte, sua amizade com a estudante Mai (Hana
Sugisaki), que se passa por sua irmã, e com os doentes terminais do hospital.
Hiroshi terá a oportunidade de refletir sobre a doença, sobre sua vida, o
relacionamento com os pais e, principalmente, sobre a falta de perspectivas. Trata-se
de um filme lento e contemplativo, mas que em nenhum momento torna-se tedioso. Um
digno representante japonês do cinema de arte. Como aval, informo que o filme foi premiado no Japan Tokyo International Film Festival de 2015.
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
O
escritor britânico John Le Carré já teve vários de seus livros adaptados para o
cinema, entre os quais obras-primas da espionagem, como “O Espião que Sabia
Demais” e “O Homem mais Procurado”. Em 2016, mais um de seus romances ganhou
versão cinematográfica. Trata-se de “NOSSO
FIEL TRAIDOR” (“Our Kind of Traitor”, nome
original do livro e do filme), cujo roteiro foi assinado por Hossein Amini e a
direção pela inglesa Susanna White. A história começa no Marrocos, onde o professor
universitário Perry Makepeace (Ewan McGregor) e sua esposa, a advogada Gail
Perkins (Naomi Harris), passam alguns dias de férias. Lá, conhecem o russo Dima (o ator sueco Stellan
Skarsgard, em mais uma ótima atuação), responsável por lavar dinheiro para uma poderosa organização
criminosa. Sentindo-se ameaçado, Dima quer se desligar da máfia e pede a Perry que entregue um pen drive ao Serviço Secreto Britânico
com provas de corrupção contra importantes políticos ingleses, um deles
ministro de Estado. Em troca, Dima pede proteção e asilo para sua família na Inglaterra. A
partir daí, Perry e Gail acabam se envolvendo numa trama bastante complicada e repleta de ação e suspense, escrita
com maestria por Le Carré (o livro foi lançado em 2010) e transformada num
excelente filme de espionagem. Programão!
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
“SULLY – O HERÓI DO RIO HUDSON” (“Sully”), 2016,
EUA, direção de Clint Eastwood, com roteiro de Todd Komarnicki. No dia 15 de
janeiro de 2009, logo depois de decolar do aeroporto LaGuardia, em Nova Iorque,
o avião pilotado por Cheslei “Sully” Sullenberger, com 155 passageiros a bordo,
teve suas turbinas avariadas pelo choque com pássaros. “Sully” foi obrigado a
realizar um pouso forçado nas águas geladas do Rio Hudson. Como todo mundo sobreviveu, “Sully”
virou herói nacional. Mas não para a agência de regulação aérea dos EUA, que
submeteu o piloto a um rigoroso julgamento a fim de esclarecer se, sob o ponto
de vista da segurança aérea, o Rio Hudson foi a melhor alternativa para um
pouso forçado. O filme de Eastwood conta toda essa história em apenas 96
minutos, alternando cenas do acidente e o resgate dos passageiros com as cenas
do julgamento do piloto. “Sully” é interpretado por Tom Hanks, numa atuação que
pode lhe valer mais um Oscar em 2017 – a Academia adora personagens heroicos, além de idolatrar Eastwood. Ainda
estão no elenco Laura Linney como a esposa de “Sully” e Aaron Eckhart como o
co-piloto Jeff Skiles. O filme já estreou por aqui depois de ter seu lançamento
adiado em duas semanas por causa do acidente do avião da Chapecoense.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
“SNOWDEN – HERÓI OU TRAIDOR” (“SNOWDEN”), 2016,
EUA, roteiro e direção de Oliver Stone. Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Shaiene
Woodley, Nicolas Cage, Melissa Leo, Zachary Quinto e Tom Wilkinson. Trata-se da
cinebiografia de Edward Snowden, que trabalhou para a CIA e para a NSA (Agência
de Segurança Nacional) e que, em 2013, denunciou publicamente a existência de programas
de vigilância e espionagem executados – a nível mundial - a mando do governo
norte-americano. Como todo mundo lembra, o caso teve uma enorme repercussão.
Mais uma vez Oliver Stone explora um tema polêmico, como já havia feito em “Nascido
em 4 de Julho”, “Nixon” e “JFK – A Pergunta que não quer Calar”. Faz parte
também do seu estilo dar um jeito de colocar o dedo na ferida de quem esteve ou
está na Casa Branca. Em “Snowden”, Stone percorre o período de 2004 a 2013,
durante o qual Edward Snowden trabalhou para o governo norte-americano. Um dos
grandes méritos do primoroso roteiro – Stone teve a colaboração de Kieran
Fitzgerald – foi conseguir condensar tantas informações em pouco mais de 2
horas de filme, desde que Snowden entrou para o exército e depois para a CIA e
NSA até a decisão de denunciar os atos do governo norte-americano, em 2013,
através dos jornais The Guardian e The Washington Post. Nos créditos finais,
Stone ainda acrescenta outras importantes informações sobre o caso. “Snowden” é
um dos 336 títulos selecionados para concorrer ao Oscar 2017 de Melhor Filme,
além de outras premiações. Aposto no Melhor Roteiro e Melhor Diretor. Um
filmaço. Imperdível!
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
Confesso
que nunca tinha ouvido falar do drama russo “COMO
TERMINEI ESTE VERÃO” (“Kak
Ya Provel Etim Letom”). O filme caiu na minha mão e resolvi assistir. Procurei referências e descobri que foi lançado
em 2010 durante o Festival de Berlim, sendo muito elogiado pelos críticos, pelo
público e pelo júri, que conferiu ao filme escrito e dirigido por Alexei
Popogrebsky o Urso de Prata. Além disso, também foi premiado em festivais de
cinema realizados em Londres, Dublin e Chicago. Realmente, o filme é muito bom,
foge do lugar-comum reinante e tem uma
fotografia (Pavel Kostomarov) maravilhosa. A história é toda ambientada numa
estação metereológica russa instalada numa ilha isolada no Oceano Ártico. Lá
trabalham o experiente Pavel (Grigroriy Dobrygin) e o jovem estagiário Sergei
(Sergey Puskepalis) – os dois atores são excelentes. A função dos dois na
estação é fazer leituras diárias da radioatividade do terreno e transmitir o
resultado das medições pelo rádio para o escritório central. Embora seja verão,
o frio é de lascar e a sensação de isolamento angustiante. Um dia, enquanto
Pavel sai para pescar trutas, Sergei recebe uma mensagem que decide omitir do companheiro, atitude que acaba
gerando ótimas situações de suspense e um pouco de humor. Uma reviravolta
acontece perto do desfecho, o que trará consequências nada positivas para o
relacionamento de Sergei e Pavel. Apesar do tédio que exala da tela, do ritmo
lento e apenas dois protagonistas, além de poucos diálogos, o filme é muito
interessante e merece ser conferido.
domingo, 18 de dezembro de 2016
“O VERÃO DE SANGAILE” (“Sangailè”),
Lituânia, 2015, segundo longa-metragem escrito e dirigido por Alanté Kavaïté –
o primeiro foi “Écoute Le Temps”. A história é centrada na jovem Sangaïle
(Julija Steponaitite), de 17 anos, introspectiva e tímida, enfim, apática, que
tem uma fascinação obsessiva por aviões de acrobacia. Num desses shows
acrobáticos, durante o verão, Sangaïle conhece Auste (Aiste Dirziute), uma
jovem de sua idade que se diferencia porque é extrovertida, alegre e falante.
Auste consegue resgatar Sangaïle de sua apatia, convidando-a para sair com sua
turma. A amizade entre as duas acaba virando uma paixão desenfreada, com
direito a inúmeras cenas eróticas, exploradas com bastante sensibilidade pela
diretora Alanté. Apesar do romance, Sangaïle continua a enfrentar seus demônios
internos. Para tentar descrevê-los, a diretora exagera numa sequência de
situações absurdas e fantasiosas difíceis de entender, como aquela em que
Sangaïle se joga no mar e, aparentemente, tenta se afogar. Acho que a diretora
tentou realizar um filme de fundo psicológico, mas conseguiu apenas confundir o
espectador. De qualquer forma, o filme foi selecionado para representar a Lituânia
na disputa do Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro. Aqui, foi exibido durante
a 40ª Mostra Internacional de Cinema, em outubro/novembro de 2016.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
A indústria do cinema no Vietnã nunca foi de produzir muitos filmes, mas de vez em quando nos presenteia com uma pérola, como foi o caso de “O Cheiro do Papaia Verde”,
de 1993, um drama sensível e comovente que foi premiado em Cannes, além de ter
sido o primeiro filme do Vietnã a concorrer ao Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro. Outra pérola é o recente "FLORES AMARELAS NA GRAMA VERDE” (“Tôi
Thây Hoa Vàng Trên Có Xanh”), também candidato
oficial daquele país para disputar o Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro. A
história, baseada no romance escrito por Nguyen Nhat Anh e que virou best-seller, é ambientada na década
de 80 num vilarejo da zona rural do Vietnã. Num cenário de extrema pobreza, mas
rodeado por uma Natureza deslumbrante, vivem os irmãos Tuong (Khang Trong) e Thieu
(Thinh Vinh). Eles levam uma vida normal comum aos garotos de sua idade (8 e 12
anos), vão à escola, caçam insetos para o sapo de estimação, enfrentam um vilão
infantil, adoram ouvir histórias assustadoras. O foco principal do filme, porém, é o processo de amadurecimento dos irmãos, a primeira paixão, os dramas vividos por algumas
famílias do vilarejo e o despertar para uma realidade que não faz parte da
inocência do mundo infantil, a pobreza em primeiro plano. O filme é dirigido com muita sensibilidade por
Victor Vu, que também assina o roteiro. A belíssima fotografia é mais um trunfo
desta elogiada produção vietnamita. Para quem curte cinema de arte, uma ótima
pedida.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
A comédia
“WILD OATS” (ainda
sem tradução por aqui, mas algo como “Aveia Selvagem” – título esquisito, não?),
2016, direção de Andy Tennant, reúne três das mais consagradas e competentes
atrizes de Hollywood: Shirley MacLaine, Jessica Lange e Demi Moore. A história
é centrada em Eva (MacLaine), que acaba de ficar viúva e aguarda receber um seguro
de vida de 50 mil dólares. Ao receber o cheque, tal qual não é sua surpresa:
por um erro de digitação ou falha do computador, o valor veio com a astronômica
quantia de 50 milhões de dólares. Ela não tem dúvida: convoca sua melhor amiga
Maddie (Lange), uma fogosa sessentona recém-separada, para uma viagem à
paradisíaca Las Palmas, nas Ilhas Canárias. A ordem é gastar todo o dinheiro em
diversão. É claro que a gastança chamará a atenção de alguns vigaristas que
tentarão roubar o dinheiro da viúva. Mas o problema não é só esse: ao verificar
o erro no preenchimento do cheque, a companhia seguradora convoca um
especialista para tentar recuperar o dinheiro e o envia a Las Palmas em
companhia da filha de Eva, Crystal (Demi Moore). A confusão, portanto, está
formada. Os raros momentos de bom humor ficam por conta de Jessica Lange, ainda
em grande forma para os seus 67 anos. Demi Moore, como Crystal, a filha da
viúva, aparece pouco e sem nenhum brilho. MacLaine sempre foi ótima em
comédias, mas nesta ficou devendo uma atuação digna de sua competência. Também
está no elenco a brasileira Rebecca da Costa, que faz carreira nos EUA como
atriz e modelo – ela já atuou até com Robert De Niro em “Profissão de Risco”, filme
de 2014. Mais uma bola fora do diretor Tennant, que já havia dirigido, entre
outros, as comédias românticas “Caçador de Recompensa” e “Hitch – Conselheiro Amoroso”,
que também não merecem recomendação.
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
O drama chinês
“VOLTANDO PARA CASA” (“Gui Lai”) estreou
no 67º Festival de Cannes, em maio de 2014, na sessão Fora de Competição,
ganhando elogios da crítica e do público. Além da história de um amor
comovente, o filme apresenta como trunfos adicionais a direção do mestre Zhang
Yimou e a atuação soberba da atriz Gong Li. Ambientada durante os anos da
Revolução Cultural de Mao-Tsé-Tung, a história é centrada em Feng Wanyu (Gong
Li), cujo marido Lu Yanshi (Chen Daoming) está preso há anos num campo de
trabalhos forçados. Com o fim da Revolução Cultural, Lu volta para casa, mas
Feng não o reconhece. Ela sofreu uma espécie de bloqueio psicológico
em virtude de uma queda. O filme segue até o seu final mostrando o empenho do
marido e da filha Dandan (Zhang Huiwen) em fazer com que Feng o reconheça
novamente. A dedicação de Lu a essa empreitada, que dura muitos anos, é uma
verdadeira prova de amor, originando os momentos mais comoventes deste sensível
filme chinês. Hoje aos 50 anos, Gong Li, que vi pela primeira vez no clássico “Lanternas
Vermelhas”, de 1991, do mesmo Zhang Yimou, já não é tão bela como antigamente –
ela chegou a ser eleita uma das 50 pessoas mais bonitas do planeta pela revista
People Magazine -, mas continua uma atriz espetacular. Aproveito para
recomendar outros filmes dirigidos por Zhang Yimou: “Tempo de Viver”, “O
Caminho para Casa”, “Flores do Oriente” e “Nenhum a Menos”. E ainda, claro, “Lanternas
Vermelhas”.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
“UM AMOR À ALTURA” (“Un Homme à La Hauteur”), França, 2016,
roteiro e direção de Laurent Tirard. Trata-se de uma refilmagem da comédia
argentina “Coração de Leão – O Amor não tem Tamanho”, de 2013, que conta a
história de uma mulher bonita, recém-separada, que esquece o celular dentro de
um restaurante e logo recebe o telefonema de um homem que achou e guardou o
aparelho e quer marcar um encontro para devolvê-lo. Durante as conversas por
telefone, o homem mostra-se um verdadeiro galanteador, o que faz com que a moça
concorde num jantar como primeiro encontro, mas uma grande surpresa está
reservada: o homem tem apenas 1,36 de altura. Apesar do tamanho, ele é muito seguro
de si, charmoso e realizado profissionalmente – é um renomado arquiteto. Com a
convivência, os dois acabam se apaixonando. A versão francesa é quase uma cópia
da original argentina, explorando as mesmas situações e repetindo até mesmo a
maioria dos diálogos, além dos efeitos especiais para “diminuir” os atores que
interpretam o baixinho, no caso francês o ator Jean Dujardin (“O Artista”). A
versão francesa é tão boa quanto a argentina. Além disso, têm em comum a beleza
e o charme das protagonistas, as atrizes Julieta Diaz e a belga Virginie Efira.
Como mais um trunfo, o filme francês é dirigido por um craque em comédias. Tirard
tem em seu currículo ótimos filmes como “O Pequeno Nicolau”, “As Férias do
Pequeno Nicolau” e “Astérix e Obélix: A Serviço de Sua Majestade”. Achei a
versão francesa melhor, mais charmosa, mais engraçada. Qualquer uma das versões proporciona um ótimo entretenimento.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
“INVASÃO DE PRIVACIDADE” (“I.T.”), 2016,
EUA, roteiro e direção de John Moore. Suspense dos melhores. O empresário Mike
Ryan (Pierce Brosnan) decide abrir o capital de sua empresa de aviação e
convida potenciais investidores para apresentar um novo projeto. Durante a
exibição de um vídeo, porém, o sistema entra em pane e a apresentação corre o
risco de se transformar num grande fiasco. A turma de informática da empresa é
chamada em caráter de emergência para resolver o problema. E quem acaba
resolvendo é justamente um estagiário do setor, Ed Porter (James Frecheville). Ele
cai nas graças de Mike e acaba sendo contratado, inclusive para instalar
câmeras e outros apetrechos tecnológicos na mansão do empresário. Além disso,
Mike convida Ed para jantar e o apresenta à sua esposa Rose (Anna Friel) e à
sua filha única Kaitlyn (Stefanie Scott). Ed começa a se achar o dono do
pedaço, aparecendo sem avisar e assediando Kaitlyn. Mike acaba ficando furioso
com a situação, demite Ed da empresa e o proíbe de chegar perto de sua família.
Ed decide se vingar. Com seu conhecimento de informática, promove uma
verdadeira invasão de privacidade na vida do empresário, incluindo sabotar os
computadores de sua firma e até filmar e divulgar pela Internet um vídeo com
sua filha tomando banho. Mike até contrata um especialista (Michael Nyqvist,
irreconhecível) para destruir o sistema instalado em sua casa por Ed. A partir
daí, o filme vira um jogo de gato e rato, Mike contra Ed. A crítica
especializada detonou o filme e também o trabalho dos atores principais,
Brosnan e Frecheville. Não achei tão ruim. O filme tem todos os ingredientes de
um bom suspense: muita tensão, violência física e psicológica, reviravoltas e
bastante ação. É bom lembrar que o diretor irlandês John Moore tem no currículo
bons filmes de ação como “Duro de Matar – Um Bom Dia para Morrer” e “Max Payne”.
Acho que vale a pena conferir esta sua nova produção.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Mesmo
ambientado num único cenário, “O HOMEM
NAS TREVAS” (“Don’t Breathe”), EUA, 2016, é um suspense aterrorizante que
não perde o pique do início até o final. O clima de tensão começa quando três
jovens delinquentes, Alex (Dyllan Minnette), Rocky (Jane Levy) e Money (Daniel
Zovatto) resolvem invadir um casarão num bairro abandonado de Detroit. O trio
está acostumado a cometer esse tipo de crime: eles invadem casas, roubam tudo e
causam enorme destruição. No casarão de Detroit, a ação parece muito fácil,
pois o proprietário (Stephen Lang, que viveu o coronel Miles Awaritch, o vilão
de “Avatar”) é cego. Não contavam, porém, que se trata de um ex-militar do exército
altamente treinado e que tem, como guia e protetor, um enorme e feroz cão
Rottweiler, empecilhos que dificultarão, e muito, a empreitada dos invasores.
Se a entrada na casa foi relativamente fácil, sair será quase impossível.
Principalmente vivo. O diretor uruguaio Fede Alvarez sabe como utilizar a
câmera de modo a colocar o espectador dentro do cenário da ação. Alvarez foi
descoberto por Hollywood depois de ter realizado, em 2009, o curta “Ataque de
Pânico”, que mostra robôs invadindo Montevidéu. Em 2013, já nos EUA, escreveu e
dirigiu “A Morte do Demônio”, muito elogiado pela crítica. “O Homem nas Trevas”, cujo roteiro também foi escrito por Alvarez, é um baita suspense, um ótimo entretenimento para quem gosta de sofrer junto
com os personagens.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
O veterano
diretor chinês Wayne Wang tem no currículo ótimos filmes, entre os quais
recomendo “Mil Anos de Orações”, “Flor da Neve e o Leque Secreto” e,
principalmente, “O Clube da Felicidade e da Sorte”. Mesmo um craque como Wang
pode, eventualmente, pisar na bola. Foi o que aconteceu quando dirigiu “ENQUANTO ELAS DORMEM” (“Onna Ga Nemuru Toki”), 2015,
Japão, cuja estreia (fora de
competição) aconteceu durante o 66º Festival de Berlim, em fevereiro de 2016. O
roteiro, escrito por Mami Sunada, Shinho Lee e Michael Ray, foi adaptado de um
dos mais conhecidos contos do escritor espanhol Javier Marías. No cinema, porém,
virou um verdadeiro conto do vigário. Indecifrável e lento. Enfim, difícil de
digerir. O filme explora temas como o voyeurismo e o desejo sexual, realidade
misturando-se com fantasia, tudo muito hermético para o espectador comum. Kenji
Shimizu (Hidetoschi Nishijima) é um escritor em crise criativa e existencial.
Ao hospedar-se com a esposa Aya (Sayuri Oyamada) num resort à beira-mar, Kenji
conhece o sr. Sahara (Takeshi Kitano), que está hospedado com a jovem Miki
(Shiori Kutsuna). A relação do idoso, de 72 anos, com a jovem de 20 anos, é um mistério.
Desde que Miki tinha 14 anos, por exemplo, Sahara sempre teve por hábito fotografá-la
dormindo – daí o título do filme. Quando Kenji vê as fotografias, fica totalmente
obcecado, passando a querer desvendar e entender o que está acontecendo. Eu
mudaria o título para “Enquanto a plateia dorme”...
“UM HOMEM CHAMADO OVE” (“En Man Som Heter Ove”), 2015,
Suécia, direção de Hannes Holm. Um drama com toques de humor, sensível e, de
certa forma, comovente. O roteiro foi inspirado no livro escrito por Fredrik
Backman. A história toda é centrada no sessentão Ove (Rolf Lassgard), um viúvo
solitário, rabugento e, acima de tudo, mal-humorado. Ele vive num condomínio fechado, do qual é o
síndico, catando bitucas de cigarro e discutindo com donos de cães e gatos. Sua
vida metódica ainda inclui visitas diárias ao túmulo da esposa. Sua depressão
chega ao limite quando é demitido pela fábrica onde trabalhava há mais de quarenta
anos, a ponto de tentar se matar várias vezes – tentativas frustradas por
alguém tocando a campainha ou por algum vizinho que insiste em fazer barulho. Por
mais impossível que possa parecer, será a chegada de uma família de imigrantes
iranianos que provocará uma enorme mudança no comportamento de Oven, provando
que mesmo as diferenças culturais não são obstáculos para o cultivo de uma bela
amizade. Como um motivo a mais para ser assistido, o filme foi indicado para
representar a Suécia na disputa do Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro.
terça-feira, 29 de novembro de 2016
“CONEXÃO ESCOBAR” (“The Infiltrator”), 2016,
EUA, direção de Brad Furman (“O Poder e a Lei”). Durante cinco anos, na década
de 80, o agente federal norte-americano Robert Mazur trabalhou infiltrado no
cartel do traficante colombiano Pablo Escobar. Ele era o responsável pela
lavagem do dinheiro obtido com a venda de drogas nos EUA. Mazur contou toda a
história no livro “The Infiltrator”, agora adaptado para o cinema por
intermédio do roteiro escrito por Ellen Brown Furman. Mazur, aqui interpretado
pelo ator Bryan Cranston (indicado ao Oscar/2016 de Melhor Ator por “Trumbo”,
que perdeu injustamente para Leonardo DiCaprio), infiltrou-se no cartel com o
pseudônimo de Robert Musella, trabalhando com a ajuda dos agentes Emir Abreu
(John Leguizamo) e Kathy Ertz (Diane Kruger). Esse trabalho levou à prisão não
apenas vários chefões do tráfico, como também executivos do Bank of Credit and
Commerce International, instituição que lavava o dinheiro para o cartel. Mazur trabalha no limite do estresse, a cada momento vivendo o perigo de ver sua
verdadeira identidade de policial sendo revelada para os traficantes. Esses momentos de tensão são explorados com bastante competência pelo diretor
Furman.
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
“CAVALOS DOMADOS” (“Broken Horses”), 2015,
EUA, é o primeiro filme em inglês escrito e dirigido pelo indiano Vidhu Vinod
Chopra. Ambientada numa cidade próxima da fronteira com o México, a história
começa com o assassinato do policial Gabriel Heckum (Thomas Jane). Seus dois filhos
adolescentes crescem e se separam mais tarde, seguindo rumos totalmente
diferentes. Buddy (Chris Marquette), o mais velho, faz parte da quadrilha do poderoso
e sanguinário Julius Hench (Vincent D’Onofrio), chefão envolvido com o tráfico
de drogas. Jake (Anton Yelchin, ator falecido em junho de 2016), o irmãos mais
novo, mora em Nova Iorque e segue promissora carreira como violinista clássico.
Ao retornar à cidade natal, depois de 8 anos, para anunciar seu casamento com
Vittoria (a atriz espanhola María Valverde) e convidar Buddy para padrinho,
Jake fica surpreso com a riqueza ostentada pelo irmão. Ao tentar descobrir como
Buddy ganhou tanto dinheiro, Jake acaba envolvido numa série de acontecimentos
que o farão se arrepender de ter feito a viagem. O drama até que vale para uma
sessão da tarde, mas está longe de ser um filme que mereça uma indicação
entusiasmada.
Depois de
escrever e dirigir o elogiado “Drive”, de 2011, o diretor dinamarquês Nicolas
Winding Refn achou que poderia ousar ainda mais. Escreveu e dirigiu também “DEMÔNIO DE NEON” (“The Neon Demon”), EUA,
2015, cuja estreia aconteceu no Festival de Cannes 2016, causando grande
polêmica – recebeu vaias da plateia. E polêmica é mesmo com Nicolas: durante suas
aparições públicas no festival francês, ele apareceu vestido com paletó, camisa
social, bermuda e chinelo de dedo. Ou seja, queria chocar e aparecer. Em “Demônio
de Neon”, ele conta a história de Jesse (Elle Fanning), uma jovem que chega a
Los Angeles para tentar a carreira de modelo profissional. Ela é contratada por
uma grande agência e logo vira a queridinha de fotógrafos e estilistas. Seu
sucesso gera ciúmes nas modelos mais antigas, como Sarah (Abbey Lee) e Gigi (Bella
Heathcote). O filme adota o suspense como gênero, utilizando muitas cenas
mórbidas e chocantes, incluindo canibalismo, necrofilia e outras aberrações. O
filme tem o ritmo lento, diálogos arrastados, muitos sem nexo, e um visual cuja
fotografia destaca as cenas como se iluminadas por lâmpadas de neon de diversas cores. O diretor também
utiliza bastante o recurso da câmera em slow
motion, o que torna o filme ainda mais enfadonho. Para coroar essa
verdadeira bobagem cinematográfica, ainda tem uma ponta do hoje canastrão Keanu
Reeves como proprietário de um motel sinistro.
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
“O MASSACRE EM GUERNICA” (“GERNIKA”), Espanha,
2015, direção de Koldo Serra. O pano de fundo é a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939). A história é toda ambientada em 1937 durante os dias que
antecederam o ataque da aviação alemã à cidade de Guernica, talvez o episódio
mais marcante e dramático do conflito. A ação acontece em Bilbao, onde um grupo
de jornalistas estrangeiros faz a cobertura da guerra. Eles frequentam e
transmitem as notícias de uma central de comunicação do governo municipal comandada
pelo dirigente russo comunista Vasyl (Jack Davenport), cujo trabalho é censurar
o material enviado pelos jornalistas, um dos quais é o norte-americano Henry
(James D’Arcy), do The New York Times. Seu personagem foi inspirado no
jornalista inglês George Steer, que denunciou o ataque dos alemães em matérias
publicadas no The Times, no The New York Times e no jornal francês L’Humanité. O
relato do jornalista sensibilizou Pablo Picasso, que logo depois pintaria um
painel que ficaria famoso no mundo inteiro. Ao mesmo tempo em que destaca o
trabalho dos jornalistas, o filme também mostra os bastidores do planejamento
alemão para o ataque aéreo. Dá a entender, por exemplo, que o ataque não passou
apenas de um treinamento prático para os pilotos alemães. Sob o ponto de vista
histórico, o filme é bastante elucidativo, com informações muito interessantes
sobre o conflito que matou milhares de pessoas. Achei forçado demais o romance –
se é que existiu – entre o jornalista Henry e Teresa (Maria Valverde), principal
assistente de Vasyl no centro de comunicações. Só para esclarecer: o título
original foi escrito em dialeto basco – o diretor Koldo Serra é basco.
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Uma
cabeça apenas não pensaria numa história tão fantasiosa. Foram precisos duas:
Daniel Kwan e Daniel Scheinert. Mais conhecidos como diretores de curtas e vídeos
musicais, os “Daniels” tiveram a ousadia de escrever e dirigir “SWISS ARMY MAN” (“Homem Canivete”, em tradução
literal, ou “Homem do Exército Suíço”; vamos aguardar a tradução quando o filme
chegar por aqui – se chegar), EUA, 2016. A história começa mostrando um homem
(Paul Dano, de “Os Suspeitos”) tentando se enforcar no que parece uma ilha. Num
primeiro momento, você é levado a acreditar que o sujeito é um náufrago. Prestes
a realizar o ato final, ele percebe que há um cadáver (Daniel Radcliffe, de “Harry
Potter”) recém-chegado à praia. Acredite se quiser: esse cadáver – na verdade,
um morto-vivo – sofre de uma incomum e barulhenta flatulência. Ele será o novo
amigo do náufrago. O cadáver é capaz de se transformar numa espécie de jet ski e sair para passear com o
náufrago a bordo. A maluquice não termina por aqui. O morto-vivo ainda tem
ereções e utiliza o pênis como bússula. Ah, eles ainda conversam sobre temas como a masturbação e o significado da vida. Quer mais? Assista, nem que seja por
curiosidade. Enfim, um filme sem pé nem cabeça, tronco e membros. Quando
estreou no Festival de Sundance (EUA), parte da plateia saiu no meio da
projeção. É preciso dizer mais?
sábado, 19 de novembro de 2016
“PROMESSA QUEBRADA” (“BROKEN VOWS”), 2015, EUA,
direção de Bram Coppens e roteiro da dupla Sean Keller e Jim Agnew. Trata-se
de um filme independente, cuja história
é a mesma de sempre, clichê dos clichês dos filmes de suspense. Mulher bonita,
Tara (Jaimie Alexander), vai a uma balada com as amigas, se encanta com o bartender e, depois de umas e outras,
acaba na cama com ele. Não dá para entender como ela não percebeu que o sujeito
tem um olhar maligno, daqueles que denunciam um psicopata. Pois Patrick (Wes
Bentley) é justamente um maluco perigoso, com uma ficha extensa na polícia por
crimes de assédio e violência. Rejeitado no dia seguinte por Tara, ele passa a persegui-la, utilizando chantagem e
muita pressão psicológica. O pior de tudo é que Tara está prestes a se casar
com Michael (Cam Gigandet). A perseguição levada a efeito por Patrick vai até a
lua-de-mel de Tara e Michael, durante a qual acontece o desfecho um tanto
forçado. O roteiro tem alguns furos que prejudicam o enredo. O principal deles
é o fato de Patrick estar livre, leve e solto, depois de tanto aprontar. Se fosse no Brasil, tudo bem... Eu
apostava num final cheio de suspense, surpresas, sustos e muito sangue. Nada disso. Wes
Bentley (“Interestelar”, “Jogos Vorazes” e “Lovelace”) até que se sai bem como
o psicopata. Do elenco, é o único que se salva. O filme é fraco, mas dá pra ver
sem compromisso.
“DESAFIANDO A ARTE” (“The Family Fang”), 2015,
EUA, segundo longa-metragem dirigido pelo ator Jason Bateman (o primeiro foi “Palavrões”,
em 2013). O roteiro foi escrito por David Lindsay-Abaire, baseado no romance “The
Family Fang”, de Kevin Wilson. A história é um tanto mirabolante e
estapafúrdia. Desde crianças, Annie e Baxter eram obrigados pelos excêntricos pais
Caleb e Camille a participar de performances públicas tipo pegadinhas para surpreender
e chocar quem estivesse por perto. Por exemplo, o menino ameaça assaltar um
banco com uma arma de verdade, aparece um policial (o pai) para tentar
desarmá-lo, a arma dispara e atinge uma mulher (a mãe), que finge estar morta,
a filha (Annie) ao lado desesperada. Todo mundo que está no banco grita de
pavor ao assistir a cena, para depois constatar que tudo não passou de uma
encenação. A família Fang fica famosa, é alvo de reportagens por todo país e
tema de discussões acaloradas entre especialistas de comportamento. Seria uma forma de arte, como dizia Caleb? Agora
adultos, Annie (Nicole Kidman), uma atriz em decadência, e Baxter (Bateman), um
escritor mediano, têm mantido distância dos pais, querendo esquecer o que
passaram na infância, ou seja, os “micos” que enfrentaram ao participar daquelas
performances malucas. Até que um dia, por causa de um acidente sofrido por
Baxter, os irmãos voltam a reencontrar os pais (Christopher Walken e Maryan
Plunkett). A reaproximação trará grandes surpresas e revelações,
incluindo um repentino sumiço dos pais. Teriam sido sequestrados e mortos ou se
trata de uma nova pegadinha? O desfecho esclarece tudo. O filme não consegue
engrenar em nenhum momento, mesmo com a presença de ótimos atores como Walken e uma quase irreconhecível Nicole Kidman, aqui de cabelos curtos e
escuros, longe da atriz esplendorosa de outros filmes. Bateman tentou fazer um
filme diferente, para um público restrito. Isso ele conseguiu. Recomendá-lo, portanto, é um tanto arriscado.
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
“CHOCOLATE” (“Chocolat”), 2015,
França, conta a história do palhaço “Chocolat”, que nos anos do final do Século
XIX e começo do Século XX encantou os franceses fazendo dupla com “Footit”. Esquecida
durante décadas, essa história foi descoberta e adaptada para o cinema pelo
ator francês Roschdy Zem, também responsável pela direção. Um verdadeiro
achado. É realmente fascinante a trajetória de Rafael Padilha (1868-1917), um
ex-escravo nascido em Cuba que chegou à França para trabalhar num circo
mambembe do interior, fazendo o papel de um canibal africano. Ele é interpretado
magistralmente por Omar Sy (“Intocáveis”), que por si só vale o filme. O palhaço
profissional George Footit, o “Footit” (o ator suíço James Thierrée, cuja semelhança
com o avô Charles Chaplin é impressionante), propõe formar uma dupla: “Footit”
e “Chocolat”. O sucesso chega rápido e eles acabam sendo contratados pelo
empresário Oller (Olivier Gourmet) para trabalhar num grande circo sofisticado
de Paris. Com o sucesso e o dinheiro entrando, Rafael Padilha começa a gastar
descontroladamente, inclusive viciando-se em jogo, mulheres e em algumas substâncias
ilícitas, o que o levará a um final dos mais tristes. Além do aspecto
biográfico do primeiro negro a trabalhar num circo na França, o diretor Roschdy
Zem faz uma clara homenagem aos palhaços de circo. Ao mesmo tempo, explora o
racismo que predominava na época. Assim como em “Vênus Negra”, de 2010, onde uma
escrava é exibida como se fosse um animal, assim acontece com Rafael Padilha. O
filme é espetacular, emocionante e cativante, os dois protagonistas principais
dão show (os números circenses são ótimos), assim como o restante do elenco, com
destaque para Olivier Gourme, Alice de Lencquesaing e Clotilde Hesme, sem falar
na primorosa recriação de época. IMPERDÍVEL!
segunda-feira, 14 de novembro de 2016
“BLOOD ORANGE”, 2016, Inglaterra, roteiro e direção de Toby Tobias. Filme de suspense ambientado numa luxuosa mansão em Ibiza (Espanha). Nela moram Bill (Iggy Pop), um ex-astro do rock em decadência e gravemente doente, e sua bela e jovem esposa Isabelle (Kacey Barnfield), que nas suas infinitas horas vagas costuma nadar nua na piscina, além de transar com um empregado da casa, David (Antonio Magro). Tudo caminha num ritmo enfadonho até aparecer Lucas (Ben Lamb, de “Divergente”), um antigo amante de Isabelle. Ele veio cobrar dela uma dívida relacionada com uma herança paterna. Até o desfecho, quando a história dá uma reviravolta com direito a um banho de sangue, o filme segue sem nenhuma novidade, arrastando-se num roteiro medíocre e com diálogos que beiram o ridículo. Para piorar, o elenco é péssimo, a começar pelo astro de rock Iggy Pop, que destaca-se apenas por sua figura grotesca e patética. A atriz inglesa Kacey Barnfield aparece nua várias vezes, mas quando abre a boca é um desastre. Antonio Magro, que faz o empregado, é o pior de todos. Ainda bem que não fala muito. Difícil saber o que é pior: o filme ou o elenco. Enfim, um dos piores filmes que assisti nos últimos anos. Não sei se será exibido por aqui no circuito comercial. Se for, passe longe.
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
“NEGÓCIO DAS ARÁBIAS” (“A HOLOGRAM FOR THE KING”), 2016, coprodução
Alemanha/EUA. Jamais imaginei que Tom Hanks pudesse participar de um filme tão
ruim quanto “A Viagem”, de 2012. Os dois filmes levam a assinatura (de
roteiro e direção) do diretor alemão Tom Tykwer, que ficou famoso com o surpreendente “Corra
Lola, Corra”, de 1998, mas depois nunca mais acertou. Tykwer adaptou a história
para o cinema do livro “A Hologram for the King”, de David Eggers. No recente
abacaxi, Tom Hanks é o empresário Alan Clay, cuja empresa de TI está à beira da
falência. Ele então parte para a Arábia Saudita, onde sua empresa já conta com
três funcionários instalados, pasmem, numa tenda no deserto. A ideia é
apresentar um software de hologramas ao rei da Arábia Saudita. Enquanto não é
recebido pelo rei, que está sempre viajando, Alan preenche seu tempo indo a uma
festa na embaixada da Dinamarca regada a muita bebida e drogas, ou embarcando numa
viagem à vila de seu motorista, Yousef (Alexander Black), no meio do deserto
(lá, é tudo no meio do deserto - as locações aconteceram no Marrocos, no Egito e na Arábia Saudita). O roteiro ainda reserva como atração adicional uma absurda cirurgia
que Alan sofrerá para retirar um caroço das costas, o que o levará a conhecer a
médica Zahra (Sarita Choudhury), por quem se apaixonará. Quer mais? Assista e veja se não tenho razão. Ao participar do filme, Tom Hanks talvez tenha feito um negócio das arábias, mas para nós, espectadores, restou o deserto.
O grande Jean
Rochefort, meu ator francês preferido, volta às telas no drama “A VIAGEM
DE MEU PAI” (“Floride”), 2015, França, roteiro e direção de Philippe Le Guay
(do ótimo “As Mulheres do 6º Andar”). Ele interpreta Claude Lherminier, um
idoso que começa a sofrer de demência. Ele mora sozinho numa enorme casa
isolada e sempre está aos cuidados de uma governanta. Como Claude é um sujeito
difícil, as cuidadoras não param no emprego, para desespero da filha Carole
(Sandrine Kiberlain). Para piorar a situação, ele não para de falar da filha Alice,
que há muitos anos mora em Miami (Flórida) e que ele insiste em visitar – daí o
título do filme. Só que ele apagou da memória que Alice morreu tragicamente há
9 anos. Em seus delírios, Claude também volta à infância e revê episódios que
viveu durante a Segunda Guerra Mundial, além de recordações de sua mãe. Baseada
na peça de teatro “Le Père”, de Florian Zeller, a história explora as mazelas
da velhice e o fato de ser um fardo para os filhos. O contexto dramático,
porém, é amenizado por muitas pitadas de humor, o que torna o filme um
entretenimento bastante agradável. E tem, claro, a presença de Rochefort, a
quem passei a admirar e curtir desde “O Marido da Cabeleireira” (1990).
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
“DEMOLIÇÃO” (“Demolition”), 2015,
EUA, direção do canadense Jean-Marc Vallée (do ótimo “Clube de Compras Dallas”,
que deu o Oscar de melhor ator a Matthew McConaughey). Depois de perder a jovem
e bela esposa Julia (Heather Lind) num trágico acidente, Davis Mitchell (Jake
Gyllenhaal), um bem sucedido executivo de um grande banco de investimentos, é
acometido de um colapso emocional e fica doidinho. Começa a escrever cartas
compulsivamente, passa a desmontar tudo o que vê pela frente – computadores,
aparelhos domésticos etc. –, e depois ingressa na fase de demolição, o que
justifica o título. A paranoia de Davis, que na fase de luto falava a quem quisesse ouvir que nunca
amou a falecida, tem início quando ele, ainda no hospital onde a esposa acabara de
morrer, não consegue tirar um M&M da máquina de doces instalada no
corredor. Ele entra em contato com o serviço de atendimento ao cliente da
empresa fabricante e acaba conhecendo a atendente Karen Moreno (Naomi Watts),
que também tem um parafuso a menos e é mãe de um adolescente problemático (Judah
Lewis). Phil (o sempre ótimo Chris Cooper), o chefe de Davis no banco e seu sogro, não sabe
mais o que fazer e se desespera ao ver o estado mental do genro. Quando estreou
no Festival de Toronto, em setembro de 2015, o filme foi recebido com frieza, tanto pelo púclico quanto pela crítica. Apesar da comprovada qualidade do diretor e do elenco, o filme realmente não funciona.
“ENFURECIDOS” (“Enragés”), 2015,
França, roteiro e direção de Éric Hannezo. Trata-se de um filme de ação e
suspense, cuja história começa quando quatro marginais assaltam um banco. A
polícia chega e tenta evitar a fuga do quarteto. Depois de um intenso tiroteio,
durante o qual morrem três policiais e um marginal, começa a perseguição aos
três bandidos restantes, que se refugiam num shopping center. Novo cerco e novo
tiroteio, com mais mortes. Os bandidos conseguem fazer uma refém e obrigam um
motorista, que estava levando o filho de 4 anos para o hospital, a ajudá-los na
fuga. Daí para frente, a fuga continua pelas estradas do interior da França e
mais mortes acabam acontecendo, num road movie bastante violento. O filme consegue
manter um bom clima de suspense, embora o ritmo da ação diminua consideravelmente
a partir da metade. No desfecho, uma surpreendente revelação causa uma reviravolta
na história. Estão no elenco Lambert Wilson, Virginie Ledoyen, Guillaume Gouix, Franck Gastambide, François Arnaud e Laurent Lucas. Difícil encontrar méritos suficientes nesta produção francesa para motivar uma recomendação entusiasmada. De qualquer forma, vale a indicação para uma sessão
da tarde.
terça-feira, 8 de novembro de 2016
“FLORENCE – QUEM É ESSA MULHER?” (“Florence Foster
Jenkins”), 2015, direção do inglês Stephen Frears (“Philomena” e “A Rainha”).
Trata-se do segundo filme a contar a história da norte-americana Florence
Foster Jenkins (1868-1944), herdeira milionária e amante do canto lírico que
ficou famosa por achar que era uma grande cantora de ópera. E, até o final de
sua vida, continuou acreditando nisso. Esta é a versão de Hollywood, lançada
nos cinemas logo depois da produção francesa “Marguerite”, também inspirada em
Florence. A comparação é inevitável. Os dois filmes são muito bons, mas a versão
de Hollywood é bem melhor, principalmente porque privilegia o humor, ao estilo das sensacionais comédias dos anos 40/50. Segundo, porque a ação toda transcorre em Nova
Iorque, cidade onde ocorreram todos os fatos narrados (na versão francesa, o cenário é Paris). Terceiro, porque, além de
Meryl Streep, conta no elenco com o inglês Hugh Grant. Ele interpreta magistralmente St. Clair
Bayfield, o marido protetor de Florence, que está sempre ao seu lado nos
momentos mais importantes, mas que à noite fica entre os lençóis com a bela
Kathleen (Rebecca Ferguson, de “Missão Impossível – Nação Secreta”). Embora
conte com a maravilhosa Meryl Streep, o dono do filme é mesmo Hugh Grant. Outro
trunfo é o ator Simon Belberg na pele do pianista Cosme McMoon, acompanhante de
Florence em seus recitais. A cena em que desce de elevador depois de ouvir
Florence pela primeira vez, é hilariante. É preciso destacar também a primorosa
recriação de época (1944), tanto nos cenários como nos figurinos. IMPERDÍVEL!
domingo, 6 de novembro de 2016
Ambientada
em apenas um dia – véspera de Ano Novo – no início dos anos 90, a comédia
argentina “LAS INSOLADAS”, 2014, apresenta
apenas seis personagens em um único cenário. São mulheres na faixa dos 30/40,
todas bonitonas – umas mais, outras menos –, que num dia de forte calor em
Buenos Aires se reúnem para tomar sol no terraço de um edifício. Amigas de um
curso de salsa, elas pretendem “ficar mulatas” para a apresentação da noite num
concurso de dança. Este será o cenário do filme inteiro, com exceção do
desfecho, onde as moças se apresentam no concurso. A cena inicial é muito
bonita, mostrando o nascer do sol e a capital argentina sendo iluminada aos
poucos, destacando a arquitetura dos prédios do centro da cidade. Tudo isso ao
som de “He Comes the Sun”, dos The Beatles. A fotografia do filme, ao estilo do diretor espanhol Pedro Almodovar, ressalta as cores fortes e amplia a sensação de um calor escaldante.
A verborragia predomina o tempo todo. As seis amigas, cada qual com uma
personalidade diferente, discutem temas como as relações amorosas,
extraterrestres, vidas passadas, tratamento com cromoterapia, a apresentação
que farão à noite e, principalmente, o planejamento de uma viagem para Cuba no
ano seguinte. Uma observação: naquela época, o bronzeado e o celular eram
símbolos de status entre os argentinos. Todas as conversas são levadas no maior
bom-humor, o que minimiza a monotonia de um cenário único e uma trama com pouca,
ou nenhuma, ação. Dessa forma, trata-se de um filme bastante agradável de
assistir. As eficientes atrizes do elenco - Carla Peterson, Luisana Lopilato, Marina Bellati, Elisa Carricajo, Maricel Alvarez e Violeta Urtizberea - são bastante conhecidas na Argentina. Umas do cinema e da TV, outras do teatro. O roteiro e a direção são assinados por Gustavo Taretto, o mesmo do
ótimo “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”.
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
O drama
francês “GERONIMO” é
ambientado num bairro carente de uma cidade litorânea no sul da França. Em sua
grande maioria, a comunidade local é constituída de imigrantes árabes,
africanos, turcos e ciganos. Ao escrever o roteiro, o diretor Tony Gatlif – ele
próprio de origem argelina e cigana – certamente foi inspirado a explorar os
problemas sociais franceses gerados pelos imigrantes que não param de chegar ao
país. A história começa com a fuga de uma jovem turca e de seu namorado cigano.
Vestida de noiva, ela acaba de abandonar o noivo à beira do altar. A família
turca dele promete vingança sanguinária, o que inclui matar os jovens amantes.
A guerra está declarada. Turcos contra ciganos. A catalã Gemma (Céline
Sallette), conhecida na comunidade como “Geronimo”, entra em ação para tentar
apaziguar os ânimos. Há muitos anos que ela cuida dos adolescentes do bairro,
livrando-os das drogas e da delinquência. Enfim, conselheira e educadora. Dessa
forma, ela tem moral para negociar um acordo de paz entre as famílias em
conflito. Só que agora é uma questão de honra, baseada numa cultura milenar. O diretor escorrega feio ao rechear a
trama de números musicais, deixando o drama com cara de musical, o que quebra o
ritmo da narrativa. Só para citar um exemplo: ciganos e turcos se encontram uma
noite e, quando se espera grossa pancadaria, passam a desafiar uns aos outros
com coreografias de dança de rua. Outro aspecto que não gostei foi a histeria do
casal de fujões, que vive berrando sem parar. Chatice monumental. Com exceção da
bela Céline Sallette e do ator espanhol Sérgi López, o resto do elenco é desconhecido.
Lançado no Festival de Cannes 2014, o filme foi recebido com bastante frieza
pelo público e pelos críticos. Deu saudades do verdadeiro Gerônimo, líder apache, dos faroestes americanos.
terça-feira, 1 de novembro de 2016
“ARRANHA-CÉUS” (“High-Rise”),
Inglaterra, 2015, roteiro e direção de Ben Wheatley. Quando estreou nos cinemas da Inglaterra, no
início de 2016, a reação de grande parte da plateia foi sair no meio da
projeção. Atitude compreensível, já que se trata de um filme totalmente maluco,
onde imperam o humor negro, o surreal, a violência, o sexo e, acima de tudo, a falta de nexo.
Para completar o cenário, não há uma história linear, com começo, meio e fim.
As cenas vão acontecendo num ritmo alucinante, a maioria delas sem qualquer
explicação. A história toda – se há alguma – é ambientada nos anos 70, assim
como o romance escrito por James Graham Ballard, no qual foi baseado o roteiro
escrito por Wheatley, com a ajuda de sua esposa, Amy Jump. Um luxuoso edifício
de 40 andares serve de cenário para toda a ação. Nos andares inferiores moram
os condôminos de classe média baixa, nos andares intermediários os de classe
média alta e, nos andares superiores, os mais ricos. No complexo residencial
ainda funcionam um mercado e uma escola. Quando os serviços param de funcionar,
a começar pelos elevadores, o caos se instala e a violência corre solta. Tem
churrasco de husky siberiano, mulher grávida transando com o vizinho, pancadaria generalizada, briga por
mercadorias no mercado etc. Apesar de tudo, o elenco é de primeira: Jeremy
Irons, Tom Hiddleston, Sienna Miller, Luke Evans e Elisabeth Moss. Alguns críticos profissionais acharam o filme maravilhoso, enquanto o público normal detestou. Tire suas próprias conclusões assistindo, nem que seja só por curiosidade.
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