sábado, 9 de julho de 2022

 

“SPENCER”, 2021, coprodução Inglaterra/EUA/Chile, 1h57m, disponível na plataforma Amazon Prime Video, direção de Pablo Larrain, com roteiro assinado por Steven Knight. A história acompanha a visita da princesa Diana (Spencer é seu nome de solteira) à propriedade real de Sandringham House, situada na zona rural de Norfolk, para os três dias festivos de Natal. Estamos no início dos anos 90, quando o casamento de Diana com o príncipe Charles está em plena crise. À sua espera estão seu então marido, os dois filhos, a rainha Elizabeth II e seu marido, príncipe Filipe. Ou seja, toda a família real reunida. Conforme o filme anuncia em seus créditos iniciais, trata-se de “Uma fábula inspirada numa tragédia real”. Diana é retratada como uma esposa infeliz, perturbada e à beira de um ataque de nervos, indicando que estava prestes a se divorciar, atingida em cheio pela descoberta de que seu marido a traía com Camilla Parker Bowles. Fica claro que Diana detestava as rígidas normas rígidas da família real. Entendi o filme como um estudo psicológico do estado mental de Diana e sua total infelicidade, com direito a ter alucinações, como as várias aparições do fantasma de Ana Bolena, esposa rejeitada pelo Rei Henrique VIII no século 16. Sem falar na enorme pressão exercida pelos paparazzi, que não a deixavam em paz nem mesmo no período natalino. Nesse aspecto, é preciso destacar a excelente performance da atriz Kristen Stewart, que realizou, sem dúvida, o melhor desempenho de sua carreira, tanto que foi indicada ao Oscar 2022 (a única indicação do filme). Aliás, Stewart está linda. O restante do elenco também merece um destaque especial: Jack Farthing, Sally Hawkins, Timothy Spall, Sean Harris, Stela Conet e Amy Manson. “Spencer” consagra ainda o talento do cineasta chileno Pablo Larrain, responsável por filmes como “No”, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, e “O Clube, indicado ao Globo de Ouro 2015. Além destes, também são dele “Jackie”, “Neruda”, “Tony Manero” e “Post Mortem”, entre outros. Resumo da ópera: “Spencer” é um filme de altíssima qualidade. Imperdível!     

quinta-feira, 7 de julho de 2022

 

“CASA GUCCI” (“HOUSE OF GUCCI”), 2021, coprodução Canadá/Estados Unidos, 2h37m, disponível na plataforma Amazon Prime Video, direção de Ridley Scott, seguindo roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, que se inspiraram no livro homônimo escrito por Sara Gay Forden. O enredo contempla três décadas de história da famosa grife italiana Gucci, a partir de meados da década de 70, quando já era um verdadeiro império mundial da moda. O filme explora, principalmente, as questões familiares, envolvendo traição, ambição, vingança e assassinato. A história começa a partir do momento em que Patrizia Reggiani (Lady Gaga), uma jovem de origem simples, ingressa na família casando com um de seus principais herdeiros, Maurizio Gucci (Adam Driver). O poder da empresa ainda estava com os irmãos Aldo (Al Pacino) e Rodolfo Gucci (Jeremy Irons), este último pai de Maurizio. O outro herdeiro era Paolo Gucci (Jared Leto), filho de Aldo. Aos poucos, Patrizia começa a se envolver nos negócios, saindo em defesa do marido durante as desavenças familiares e, principalmente, relativas à sua participação acionária. Algum tempo depois, Maurizio arranja uma amante e se divorcia de Patrizia, que não aceita a situação e parte para a vingança. Em 1978, com a cumplicidade da sua amiga vidente Giuseppina Auriema (Salma Hayek) e dois capangas, Patrizia combina o assassinato de Maurizio. O caso virou manchete mundial na mídia e chocou o mundo da moda. Anos depois, Patrizia e os comparsas são presos, julgados e condenados. Junto e misturado, isso tudo está no filme, graças ao primoroso roteiro. O diretor inglês Ridley Scott, mesmo aos 83 anos, esbanja vitalidade e competência, como já demonstrou em inúmeros outros filmes. Só para citar alguns: “Thelma & Louise”, “Blade Runner”, “Alien, o 8º Passageiro”, “Chuva Negra” e “Falcão Negro em Perigo”. O elenco é outro fator de destaque, especialmente o desempenho de Lady Gaga, na verdade a novaiorquina Stefani Joanne Angelina Germanotta. Além de um talento enorme como cantora, ela se revela também uma excelente atriz. Acho até que pelo seu trabalho em “Casa Gucci” deveria ter sido indicada ao Oscar 2022. Mais uma injustiça da premiação. Destaque especial para o ator Jared Leto, cuja maquiagem deixou-o irreconhecível. Também está ótimo como um dos herdeiros Gucci. Além dos veteranos Al Pacino, Salma Hayek e Jeremy Iron, também em atuações destacadas, estão no elenco Jack Huston, Reeve Carney, Camille Cottin e Florence Andrews. Os herdeiros atuais da família Gucci criticaram o filme, afirmando em nota à imprensa: “A produção não se preocupou em consultar os herdeiros antes de descrever os Gucci como bandidos, ignorantes e insensíveis ao mundo ao seu redor”. Apesar dessa grande polêmica, “Casa Gucci” é cinema de Hollywood na sua melhor forma. IMPERDÍVEL com letras maiúsculas.   

segunda-feira, 4 de julho de 2022

 

“MADRES, MÃES DE NINGUÉM” (“MADRES”), 2021, Estados Unidos, disponível na plataforma Amazon Prime Video, 1h24m, roteiro e direção de Ryan Zaragoza. Mais do que um filme de suspense e terror, trata-se de um filme-denúncia, pois relata, de forma realista, a prática, nos Estados Unidos, da esterilização não consentida em mulheres grávidas que chegam ao país como imigrantes ilegais, principalmente mexicanas. Ao longo do século passado, mais de 64 mulheres e homens foram esterilizados à força nos EUA como parte do infame Movimento Nacional de Eugenia, cujo objetivo era restringir os direitos reprodutivos dos considerados geneticamente inferiores. Em 1975, um grupo de imigrantes mexicanas processou um hospital de Los Angeles onde foram esterilizadas sem permissão. Não deu em nada. A prática voltou neste século no Estado da Geórgia. A história de “Madres” é ambientada nos anos 70 e tem como personagem principal um casal de origem mexicana, Diana (Ariana Guerra) e Beto (Tenoch Huerta), ela grávida prestes a dar à luz. Eles chegam a uma pequena cidade da Califórnia e alugam uma casa assombrada pelo fantasma de uma mulher. Sem entrar muito nos detalhes da história para não estragar as surpresas, Diana acaba como paciente de uma dessas clínicas de esterilização. O filme tem o clima de suspense e alguns sustos, mas está longe de ser um filme de dar medo, ou seja, um terror digno do nome. Quando o filme começa há uma citação do escritor Joseph Conrad que explica o que vamos assistir: “A crença em uma origem sobrenatural do mal não é necessária; o Homem, por si só, é capaz de qualquer maldade”. Trocando em miúdos, “Madres” consegue o objetivo de denunciar uma prática execrável da medicina nos EUA (até hoje, nenhuma das vítimas foi indenizada).  

domingo, 3 de julho de 2022

 

“GREED – A INDÚSTRIA DA MODA” (“GREED”), 2019, Inglaterra, disponível na plataforma Amazon Prime Video, 1h44m, direção de Michael Winterbotton, que também assina o roteiro com Sean Gray. Trata-se de uma sátira bastante ácida mostrando o lado obscuro e nefasto do mundo empresarial da moda, além de críticas pesadas à exploração de mão-de-obra, desigualdade social e a questão dos imigrantes ilegais que chegam à Europa. A figura central da história é o empresário inglês Richard McCreadie (Steve Coogan), que há 30 anos impera no mundo da moda fast fashion – segundo alguns críticos, o personagem foi criado à imagem e semelhança do empresário Philip Green, presidente da Arcadia Group, empresa de varejo proprietária de várias marcas e franquias. O enredo de “Greed” contempla quatro vertentes. A primeira, e mais destacada, refere-se aos preparativos da festa de 60 anos de McCreadie em cenário suntuoso na ilha grega de Mykonos com o tema “Gladiador”. Para isso, foi construída uma arena romana à beira da praia, com direito até a um leão. A segunda explora a infância e juventude do polêmico empresário, no tempo em que começou a manipular e enganar as pessoas. A terceira vertente diz respeito ao julgamento de McCreadie pela acusação de abuso financeiro e ético na indústria da moda, evasão fiscal, corrupção financeira e exploração implacável de mão-de-obra (ele pagava uma miséria para trabalhadores em Bangladesh, Mianmar, Índia e Sri Lanka). O filme ainda aborda a questão dos imigrantes ilegais que costumam desembarcar nas praias da Grécia, no caso de “Greed”, imigrantes sírios. O ator Steve Coogan está ótimo no papel do empresário ganancioso, prepotente, desonesto e manipulador, capaz de humilhar seus assistentes mais diretos com ofensas e xingamentos. Também estão no elenco Jamie Blackley (o jovem McCreadie), David Mitchel (o jornalista contratado para escrever a biografia do empresário), Isla Fisher (a ex-mulher), Shirley Henderson (a mãe dele), Sophie Cookson (a filha), Asa Butterfield (o filho), Shanina Shaik (a atual namorada), Dinita Gohil e Sara Solemani (assistentes). O filme conta ainda com rápidas participações especiais de Keira Knightley, Colin Firth, Keith Richards, Ben Stiller, Stephen Fry e Louis Walsh. Em resumo, o filme é ótimo, esclarecedor e impactante, além de bem-humorado. Imperdível!