“LUCE”, 2019,
EUA, 1h49m, roteiro e direção de Julius Onah, cineasta nigeriano radicado nos
Estados Unidos. É o terceiro longa-metragem de sua carreira. Para escrever o
roteiro, Julius teve como inspiração a peça teatral escrita por J.C. Lee, que
também colaborou no filme. Trata-se de um suspense psicológico centrado no
jovem Luce Edgar (Kelvin Harrison Jr.), um ídolo em sua escola, admirado por
alunos e professores, além de orador oficial da turma nos principais eventos do
colégio. Ele havia sido adotado quando tinha 7 anos, trazido da Eritreia – país
da África Oriental - pelo casal Peter (Tim Roth) e Amy Edgar (Naomi Watts). Acontece
que Luce, por suas reações contraditórias, tinha a desconfiança da professora
Harriet Wilson (Octavia Spencer). Como se não bastasse, ela acabaria
encontrando no armário do rapaz um artigo político incitando à violência como
forma de resolver conflitos. Além disso, havia um pacote com fogos de
artifício. As situações levam a crer que Luce não era um jovem perfeito, aquele
anjo que parecia ser, mas que tinha um lado obscuro, aspecto que sua mãe
protetora jamais acreditaria. A situação cria um mal estar entre Luce e a
professora, envolvendo os pais do rapaz e a direção da escola. Nesse sentido, o
trabalho dos atores valoriza o clima tenso que vai do começo ao fim do filme.
Destaque especial para a interpretação magistral do jovem ator Kelvin Harrison
Jr., de apenas 25 anos, e também da sempre espetacular Octavia Spencer, que tem
um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Histórias Cruzadas” (2012). Naomi
Watts também está ótima como a mãe superprotetora que não vê defeitos no filho. E, finalmente, Tim Roth, com uma atuação mais contida, mas
mesmo assim excelente. A estreia mundial de “Luce” aconteceu no Festival de
Cinema Independente de Sundance, onde foi o filme mais comentado, recebendo
elogios entusiasmados. Também ganhou 94% de aprovação no site “Rotten Tomates”, uma porcentagem difícil de alcançar. Enfim, “Luce” é uma verdadeira aula de cinema, ou como fazer com que o espectador não desgrude os olhos da tela. Sensacional!
sábado, 28 de março de 2020
sexta-feira, 27 de março de 2020
“A NATUREZA DO TEMPO” (“EN ATTENDANT
LES HIROLDELLES”), 2018, coprodução França/Argélia, 1h55m, primeiro
longa-metragem escrito e dirigido pelo cineasta argelino Karim Moussaoui. São
três histórias dentro do filme. Na primeira, Mourad (Mohamed Djouhri), um
investidor do ramo imobiliário, enfrenta problemas com o filho, que pretende
abandonar a faculdade de medicina perto da formatura. Na segunda, o jovem Djalil
(Mehdi Ramdani) é contratado como motorista para levar Aicha (Hania Amar) e
seus pais à cidade do noivo para os preparativos do casamento. Na terceira e
última história, um médico neurologista (Hassan Kachach) é procurado por uma
mulher que o acusa de tê-la estuprado. No meio de cada história, o roteiro
inventa várias situações envolvendo os personagens, o que de certa forma
consegue tornar o filme um pouco mais dinâmico. Uma boa sacada do roteiro é
promover o encontro casual de personagens de uma história e das outras perto do
desfecho. Ao fim da terceira história, a do médico acusado de estupro, aparece
um homem misterioso cuja identidade não é revelada. Sua aparição cai no vazio , deixando o espectador com cara de Ué? No geral, o filme é lento demais, entediante, mas interessante sob o
ponto de vista do cotidiano da sociedade argelina. Os cenários são áridos, o
vento levantando areia para todos os lados, e as ruas são mostradas com ruínas
que parecem resultado de alguma guerra. Cenários de total desolação. “A
Natureza do Tempo” concorreu a melhor filme na Mostra “Um Certain Regard” do
Festival de Cannes. Indicado somente para cinéfilos ou espectadores
interessados em conhecer os bastidores da vida na Argélia.
quinta-feira, 26 de março de 2020
“OS AERONAUTAS” (“THE
AERONAUTS”), 2019, Inglaterra, produção Amazon Prime, 1h41m,
direção de Tom Harper, que também assina o roteiro juntamente com Jack Thorne.
A história, baseada em fatos reais, foi inspirada no livro “Falling Up Wards: How
We Took to the Air”, de Richard Holmes, que relembra a sensacional aventura de
um cientista e uma balonista (personagem fictício, que explico no final deste
comentário). O filme é ambientado no ano de 1862 em Londres. O cientista James Glaisher
associou-se à famosa balonista Amelia Wren (Felicity Jones) para um voo muito
especial: pesquisar formas de se prever a meteorologia. Enfrentando chuva
torrencial, temporais, raios, frio de congelar e muita ventania, a dupla
conseguiu, além da pesquisa em si, bater o recorde de altura da época: 8.700 quilômetros.
No filme, a personagem Amelia Wren foi criada à vontade do roteirista e do
diretor. Na verdade, o verdadeiro companheiro de Glaisher na missão foi o
também cientista Henry Coxell. Amelia Wren surgiu inspirada em uma balonista
muito famosa na época, Sophie Blanchard. Com relação a James
Glaisher, o cientista foi uma figura muito importante no mundo científico,
sendo pesquisador do departamento de Meteorologia do Observatório Real de Grenwich
e fundador da Sociedade Real de Meteorologia e da Sociedade Aeronáutica da Grã-Bretanha.
O filme é espetacular, com cenas de perigo de tirar o fôlego. A gente acompanha
tudo de muito perto, como se estivesse no balão. Méritos para o diretor Tom
Harper, que soube manter um ritmo frenético deste o início até o desfecho,
valorizando aquela que foi uma das aventuras mais espetaculares que o cinema já
produziu. Também estão no elenco Vincent Perez, Tom Courtnay, Himesh Patel,
Rebecca Front e Anne Reid. Relembro que Eddie Redmayne e Felicity Jones
trabalharam juntos em “A Teoria de Tudo” (2014), filme que resultou no Oscar de
Melhor Ator para Redmayne, que viveu o físico inglês Stephen Hawking. No caso
de “Os Aeronautas”, porém, o destaque maior fica para a dentucinha Felicity
Jones, que arrasa principalmente nas cenas de ação. IMPERDÍVEL!
quarta-feira, 25 de março de 2020
“MINHA OBRA-PRIMA” (“MI OBRA
MAESTRA”), 2018, Argentina, 1h45m, roteiro e direção de Gaston
Duprat. Mais um filme argentino para dar inveja a nosotros. Trata-se de
uma divertida e inteligente comédia reunindo dois dos mais consagrados atores
do país de Maradona: Guillermo Francella e Luis Brandoni. Guillermo é Arturo
Silva, um conhecido marchand e galerista de Buenos Aires. Brandoni é
Renzo Nervi, um pintor que fez grande sucesso na década de 80, mas agora não
consegue vender mais nada. E, pior, virou um artista carrancudo, mal-humorado,
insuportável e difícil de se lidar. E, além do mais, falido. Mesmo com a
decadência do pintor, Arturo jamais abandonou o amigo de muitos anos, que o
ajudou a ganhar muito dinheiro. Agora, porém, Arturo está tendo enorme
dificuldade de ajudar Nervi, principalmente devido ao seu comportamento antissocial.
Quando um acidente ocorre com o pintor, obrigando-o a ser internado, Arturo vê
uma ótima possibilidade de reverter o quadro de penúria do amigo e também
ganhar dinheiro com isso. Eles bolam um plano macabro para valorizar os quadros
de Nervi, que assinou um documento doando-os ao marchand. Tudo caminha
bem até que um ex-aluno de Nervi, Alex (Raul Arévalo), meio que sem querer,
descobre um segredo que abalará o mercado das artes na Argentina. Graças ao roteiro
elaborado por Duprat, o filme diverte muito com seu humor corrosivo, que no
fundo é uma sátira ao mundo das artes. Mas seu maior trunfo é, sem dúvida, o
trabalho magistral dos atores Francella e Brandoni, que conseguem transformar
seus personagens em figuras simpáticas e cativantes. Eu já conhecia Francella
dos filmes “Coração de Leão – O Amor não tem Tamanho”, “Um Namorado para Minha
Esposa” e do espetacular “O Segredo dos seus Olhos”. Aos 79 anos, Brandoni é um
dos mais conhecidos atores argentinos, mas confesso que não lembro de tê-lo
visto em algum filme. Com relação ao roteirista e diretor Gastón Duprat, lembro
de dois de seus filmes, “O Homem ao Lado” e “O Cidadão Ilustre", ambos muito
bons. “Minha Obra-Prima” é mais um filmaço argentino. Imperdível!
segunda-feira, 23 de março de 2020
“SALYUT–7: MISSÃO ESPACIAL” (“SALYUT–7”), 2017,
Rússia, 120 minutos, roteiro e direção de Klim Shipenko. A história é centrada
na missão Salyut-7, que em 1985 enviou dois cosmonautas para o espaço na nave
Soyuz com o objetivo de recuperar uma estação orbital morta. O resultado final
foi um gol de placa dos russos, que pela primeira vez na história das missões
espaciais - incluindo os norte-americanos - conseguiram acoplar e trazer a estação de volta ao serviço. Um ato heroico
que exigiu muita coragem por parte da dupla de astronautas. Vicktor (Pavel
Derevyanko) e Vladimir (Vladimir Vdovichenkov) eram os astronautas mais experientes
e bem e preparados para a difícil missão. Da Terra, na sede da Roscosmos
(agência espacial russa equivalente à Nasa), o diretor Valery Ryumin
(Aleksander Samoylenko) e sua equipe monitoravam os trabalhos. O filme tem
momentos de muita tensão, incluindo a agonia das esposas dos cosmonautas, uma
delas grávida, um dos clichês mais utilizados em filmes do gênero, embora “Salyut-7”
seja baseado em fatos reais. A gente acompanha na maior tensão a rotina perigosa
dos astronautas, a cada dia encontrando pela frente situações de alto risco, e
o drama vivido pela equipe de Valery, obrigada a tomar decisões em minutos nos
momentos mais cruciais. Como não poderia deixar de ser, o êxito da missão é
exaltado no filme de forma bem patriótica, coisa que o pessoal de Hollywood
cansa de fazer. “Salyut-7” é um dos melhores filmes que assisti sobre eventos
espaciais. Recomendo sem pestanejar.
“UM ROMANCE NAS ENTRELINHAS” (“VITA
& VIRGINIA”), 2018, Irlanda, 1h50m, segundo longa-metragem
dirigido pela jovem cineasta inglesa Chanya Button, de 33 anos. O roteiro foi
escrito pela atriz, romancista e dramaturga Eileen Atkins, autora do livro “Vita
& Virginia” e da peça teatral do mesmo nome. A história é inspirada num
acontecimento ocorrido no início dos anos 20 do século passado, ou seja, o
escandaloso romance entre a já consagrada escritora inglesa Virginia Woolf (Elizabeth
Debicki) e a aristocrata Vita Sackville (Gemma Arterton), também escritora e
grande admiradora de Virginia. Ambas eram casadas, Virginia com Leonard Woolf,
editor e dono de uma gráfica. Vita era casada com sir Harold Nicolson (Rupert
Penay-Jones), um dos diplomatas mais importantes do governo inglês. Na verdade,
Vita tinha um casamento de fachada, já que Nicolson era homossexual. O romance
entre as duas mulheres começa com o assédio de Vita. Virginia, de início, acha
que Vita é apenas uma fã ardorosa, mas logo percebe que se trata de uma paixão de verdade.
O roteiro do filme destaca a troca de cartas e poemas entre as amantes, lidas
pelas próprias protagonistas em frente da câmera. São momentos de tédio para o
espectador. Além disso, os diálogos são de um inglês empolado, extremamente pomposo,
que chega a incomodar. Não que prejudiquem o filme, mas que são entediantes,
são sim. Vale lembrar que Vita serviu de inspiração para Virginia criar o personagem
principal do livro “Orlando: Uma Biografia”, considerado o maior clássico da
literatura feminista do Século XX. Devo destacar como trunfos do filme a
primorosa ambientação de época, principalmente com relação aos figurinos e
cenários, e a fotografia, além da competente atuação de Gemma Arterton e Elizabeth Debicki,
duas ótimas atrizes. Outro destaque do elenco é a participação de Isabella
Rossellini como a baronesa Sackville, mãe de Vita. Enfim, não é um filme para o
público em geral, só para aqueles que curtem literatura e são fãs de Virginia
Woolf.
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