sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

“O BAILE DAS LOUCAS” (“LES BAL DES FOLLES”), 2021, França, produção e distribuição Amazon Prime Video, 2h02m, roteiro e direção da atriz Mélanie Laurent, que também atua. É o sexto filme de Mélanie, que já desponta também como uma ótima roteirista e diretora. Como atriz, já está consagrada. Em “Les Bal des Folles”, ela adaptou a história do livro homônimo escrito em 2019 por Victoria Mas. Trata-se de um drama sobre espiritualidade ambientado no final do século 19, que também aborda o tratamento cruel e abusivo ao qual eram submetidos os doentes mentais naquela época. O foco é o hospital psiquiátrico de Salpêtrière só para mulheres, em Paris, dirigido pelo médico Jean-Martin Charcot, um dos pioneiros da neurologia e da psiquiatria. Charcot, como mostra o filme, fazia experiências com pacientes diagnosticados com loucura, histeria e epilepsia. Além da hipnose, Charcot utilizava métodos que causavam grande sofrimento aos pacientes. A história do filme tem como personagem principal a jovem Eugénie (Lou de Laâge, excelente), de uma família nobre da sociedade parisiense. Ela tem o dom da mediunidade, fazendo contato com espíritos, ouvindo suas palavras e até conselhos. Este seu comportamento acaba desagradando seu pai, que resolve interná-la no hospital de Charcot. Como novata, ela não é muito bem recebida pelas demais internas, mas logo consegue se integrar e fazer amizades. Durante esse tempo, Eugénie terá a oportunidade de presenciar os cruéis tratamentos a que eram submetidas as internas. Só para citar um deles, a paciente era colocada numa banheira cheia de gelo durante horas. Por causa da sua mediunidade, Eugénie fará uma amizade especial com a enfermeira Geneviève (Melanie Laurent), uma das principais assistentes de Charcot. Essa amizade terá papel fundamental no destino de Eugénie. O título “Les Bal Des Folles” refere-se ao baile anual promovido por Charcot em seu hospital, com os convidados interagindo com as pacientes de forma nada convencional e completamente desrespeitosa. Também estão no elenco Emmanuelle Bercot, Grégoire Bonnet e Benjamin Voisin. Resumindo, “O Baile das Loucas” é um drama muito bem realizado, com excelente fotografia e um primoroso roteiro. Mais um filme francês de muita qualidade. Recomendo.                                                       

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

“VIAJANTES – INSTINTO E DESEJO” (“VOYAGERS”), 2021, Estados Unidos, disponível na plataforma Amazon Prime Video, 1h48m, roteiro e direção de Neil Burger (“Divergente”, “O Ilusionista”). Embora costumam dizer que eu vivo no mundo da Lua, nunca fui muito fã desses filmes de ficção científica com aventuras siderais, espaçonaves, astronautas etc., a ponto de achar “2001, Uma Odisséia no Espaço” apenas um bom filme, mas não genial e obra-prima, como considera até hoje grande parte dos críticos especializados. Este “Voyagers” conta mais uma história mirabolante. Em 2063, um grande projeto é elaborado para enviar seres humanos para um planeta distante que possui recursos naturais em abundância, enquanto a humanidade terráquea vive a iminência de extinção graças à falta deles. Só que há um grande problema: a viagem até o tal planeta dura nada menos do que 86 anos. Dessa forma, sob o comando de um adulto, o oficial Richard Alling (Colin Farrell), crianças de ambos os sexos são recrutadas para viver essa aventura. Segundo o programa da viagem, a espécie humana deverá ser preservada apenas através de inseminação artificial. Para que não tenham extintos agressivos e sexuais, quando chegam à adolescência eles são obrigados a ingerir uma substância azul. Mas aí aparece aquele que resolve se rebelar, incentivando os demais a não mais tomar mais a tal substância, o que acarretará o início de muitos problemas entre os viajantes, incluindo ódio, inveja, desejo sexual e de poder, violência e outros instintos menos saudáveis. A viagem, claro, vira uma bagunça, principalmente depois que Richard sofre um acidente e os passageiros ficam sem um líder. No elenco, além de Farrell, estão Tye Sheridan, Fion Whitehead e a inexpressiva Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp com a atriz francesa Vanessa Paradis. Assim como elenco de apoio, a atuação deles é sofrível, para não dizer lamentável. Parece que todos trabalham no piloto automático - assim como a aeronave. Como era de se prever, o filme, lançado nos cinemas em abril de 2021, foi um grande fracasso de bilheteria, arrecadando apenas 4,9 milhões de dólares, enquanto a produção custou 29 milhões. Trocando em miúdos, “Voyagers” é uma grande decepção, uma verdadeira bobagem intergaláctica.                     

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

 

Depois de assistir “CONQUISTA” (“VANQUISH”), 2021, EUA, disponível na plataforma Amazon Prime Video, 1h36m, fiquei com vontade de ligar para o ator Morgan Freeman e perguntar por que ele topou fazer esse enorme abacaxi. Certamente não foi por necessidade de grana, pois Freeman é um ator consagrado de Hollywood e já deve ter feito um belo pé-de-meia. Ou quem sabe por amizade com o diretor George Gallo, com quem tinha feito outra bomba monumental em 2019: “Rosa Venenosa” – que tinha também como cúmplice John Travolta. Neste “Conquista”, Freeman é o policial Damon, aposentado por invalidez e preso a uma cadeira de rodas depois de receber um tiro. O filme já começa mal: como é que um policial tão condecorado e respeitado mora numa mansão espetacular, literalmente de cinema? E logo de cara vem a resposta: ele lidera uma gangue de policiais corruptos acostumados a extorquir dinheiro de traficantes. Mas o absurdo não para por aí. Damon contratou como sua cuidadora uma ex-traficante pertencente à máfia russa, Victoria (Ruby Rose), que tem uma filha, a pequena Lily (Juju Journey Brener), que sofre de uma doença grave – ninguém explica qual. Enquanto preparava uma salada na cozinha, Victoria recebe de Damon um pedido: ser a mensageira para pegar dinheiro de extorsão de cinco quadrilhas de traficantes. De início, ela não aceita o trabalho, pois prometeu a si mesma não voltar para o crime, mas então Damon sequestra sua filha e só admite soltá-la depois que Victoria termine o trabalho. E por aí vai essa história mirabolante, de uma credibilidade que chega a insultar a nossa inteligência. Mas o pior ainda está por vir, em uma surpreendente reviravolta no desfecho, no mínimo dura de engolir e tão crível quanto a palavra de um político. Abro um parêntese para destacar a atriz, modelo e DJ australiana Ruby Rose. Aliás, considerá-la atriz é no mínimo ofender a classe. Com seu jeito macho de ser (fazer papel de mãe, então, é um disparate) – Ruby é lésbica na vida real –, ela fez sucesso quando apareceu na série “Orange is the New Black”, da Netflix, e passou a receber convites para atuar em outras séries e filmes. Bem, voltando ao “Conquista”, a melhor definição eu ouvi numa live do crítico Waldemar Dalenogare Neto no YouTube: “O filme extrapola todos os limites da paciência humana”. Realmente, trata-se de um acinte cinematográfico capaz de despertar os instintos mais primitivos e assassinos de qualquer cinéfilo. Sem dúvida, o pior filme de 2021.                                                           

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

 

“ADEUS, PROFESSOR” (“RICHARD SAYS GOODBYE”), 2018, EUA, disponível na plataforma Amazon Prime Video, 1h31m, segundo longa-metragem escrito e dirigido por Wayne Roberts – o primeiro foi “Katie Says Goodbye”, de 2016. Trata-se de uma comédia dramática que tem em sua receita bons momentos de humor e outros mais sensíveis e comoventes. Humor ácido, na verdade, recheado com diálogos afiadíssimos. Começa o filme e está lá o professor universitário Richard Brown (Johnny Depp, ótimo) ouvindo do médico que está com câncer terminal, em fase adiantada de metástase. Seis meses ou no máximo um ano de vida. Ele chega em casa pensando em como dar a notícia. Na mesa de jantar estão sua esposa Veronica (Rosemarie DeWitt) e a filha adolescente Claire (Zoey Deutch). Antes de abrir a boca, porém, a filha se antecipa e confessa que é lésbica e está apaixonada por uma garota. Veronica não aceita a opção dela e pega pesado, começando a maior discussão. No meio dela, Veronica joga na cara de Richard que está tendo um caso com Henry Wright (Ron Livingston), reitor da universidade e chefe do marido. Diante da confusão armada, Richard adia a trágica notícia. Depois disso e diante da iminente partida, ele resolve ligar o botão da vida no “Que se Dane!”. Começa por retirar da sua classe alunos que não atendem à sua filosofia de vida, escolhendo apenas aqueles com algum conteúdo. Decreta liberdade total, a ponto de fazer sexo com um aluno gay. Também começa a fumar maconha e a consumir doses generosas de álcool. A situação de Richard comove Peter (Danny Huston), seu melhor amigo e personagem responsável pelos melhores momentos de humor. Também estão no elenco Linda Emond, Siobhan Fallon Hogan, Kaitlyn Bernard, Devon Terrell, Matreya Scarrwener, Farrah Aviva e Justine Warrington. O filme estreou no Festival de Cinema de Zurique (Suíça) de 2019, e no mesmo ano foi exibido por aqui no circuito comercial. Gostei muito e recomendo.