terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Quando as luzes se acenderam ao final da exibição do drama alemão “NADA DE MAL PODE ACONTECER” (“Tore Tanzt”), direção de Katrin Gesse, durante a 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2014, a plateia – os que ficaram, pois muitos foram embora na metade - estava completamente em silêncio. Na verdade, chocada, pois o filme é angustiante, desagradável demais. É repleto de cenas envolvendo violência, tortura física e psicológica, sodomia e maus tratos a animais. A história é centrada no jovem Tore (Julius Feldmeier), pertencente aos Fanáticos de Jesus (The Jesus Freaks), um movimento punk cristão que existiu na cidade de Hamburgo. Tore não tem família e mora num abrigo juntamente com outros integrantes do grupo. Um dia, no estacionamento de um posto de gasolina, ele vê um motorista que não consegue fazer pegar o motor do seu carro. Tore vai até o veículo, fecha o capô e faz uma oração. O carro pega na hora. Tore, em seu fanatistmo religioso, acredita que é abençoado por Deus, quem sabe até o novo Messias. Benno (Sascha Alexander Gersak), o motorista do carro, convida Tore para morar com sua família – mulher, uma filha adolescente e um garoto de uns 5 anos. Benno, porém, é a maldade em pessoa, violento, um verdadeiro demônio. Ele assedia sexualmente a jovem enteada e encontra em Tore um bom saco de pancadas. Percebendo os instintos animalescos de Benno, Tore resolve testar sua fé colocando em prática dois dos principais ensinamentos de Cristo: oferecer a outra face e perdoar sempre. Segundo ele crê, com Jesus no coração nada de mal pode acontecer. Saber que a história é baseada em fatos reais talvez seja mais chocante do que o próprio filme.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O fantasma do Alzheimer assombra milhões de famílias no munto inteiro. Só quem teve um parente ou alguém próximo atingido pela doença sabe de suas consequências - dor, sofrimento e desesperança. No filme “PARA SEMPRE ALICE” (“Still Alice”), EUA, 2014, direção de Richard Glatzer, o espectador terá a oportunidade de acompanhar o declínio mental da dra. Alice Howland (Juliane Moore), conceituada professora de Linguística que passa a sofrer de um tipo raro de Alzheimer. Lidar com a doença e com a doente não é tarefa das mais fáceis para o marido John (Alec Baldwin) e os três filhos Ana (Kate Bosworth), Lydia (Kristen Stewart) e Tom (Hunter Parrish). Para aumentar ainda mais o drama familiar, um teste revela que um dos filhos tem 100% de chance de também ser atingido pela doença no futuro. A história, baseada no best-seller da neurocientista Lisa Genova, é muito triste, principalmente quando acompanha os esforços de Alice para não sucumbir às armadilhas do Alzheimer. Toda hora Alice se pergunta até quando será a mesma. “Será que amanhã eu acordarei sendo a mesma Alice?”. Um dos momentos mais tocantes do filme é quando Alice ministra uma palestra sobre a doença, durante a qual revela como tenta conviver com a crescente perda da memória. Juliane mostra a competência de sempre, atuando com a carga de emoção que o papel exige. Kristen Stewart, a mocinha da Saga Crespúsculo, é outro destaque do elenco. Um filme para refletir e se emocionar.                      
Um filme com emoção, delicadeza e muita sensibilidade. Assim pode ser definido o drama inglês “NA CADÊNCIA DO AMOR” (“Lilting”), 2013, dirigido pelo cambojano Hong Khaou. O cenário é Londres. Depois da morte trágica de seu namorado Kai (Andre Leung), o jovem Richard (o ótimo Ben Whishaw) tenta uma aproximação com a “sogra” Junn (Pei-Pei Cheng), que vive num asilo e nunca soube da relação homossexual do filho. Ela é uma senhora tão teimosa a ponto de não falar inglês depois de muitos anos morando na capital inglesa. No asilo, embora não fale a mesma língua, ela vive um namorico com Alan (Peter Bowles), um senhor bem-humorado que insiste em levá-la para a cama. A história do filme é centrada nos diálogos entre Richard e Junn, por intermédio de uma intérprete, a jovem Vann (Namomi Christie). Richard tem como objetivo cumprir alguns desejos manifestados por Kai, um deles tirar a mãe do asilo. Entre as tentativas de Richard de cair nas graças de Junn e as dificuldades dela na convivência com Alan - o que resulta em bons momentos de humor -, o filme destaca algumas cenas em flashbacks mostrando como era o relacionamento entre o jovem casal gay. O filme estreou no Festival de Sundance 2014, onde conquistou o Prêmio de Melhor Fotografia. Muito pouco para um filme tão original e sensível. Pena que o título dado em nossa tradução seja por demais ridículo para um filme tão bom.           
Considerado como a grande obra-prima do diretor Aleksandr Sokúrov e do próprio cinema russo e mundial, “ARCA RUSSA” ("Russkij Kovcheg"), 2002, realmente é de encher os olhos. O filme é original, criativo e erudito. É  todo filmado numa única tomada (plano-sequência), sem cortes, em seus 97 minutos de duração. Toda a ação se desenvolvendo no interior do Museu Hermitage, em São Petersburgo, antigo palácio dos czares e dono de um acervo inestimável de obras de arte. A câmera percorre os 35 salões do museu na companhia de um aristocrata europeu que funciona como uma espécie de guia. Ele vai denominando as salas, alguns quadros e esculturas, identificando seus autores, enquanto a câmera vai captando os detalhes arquitetônicos dos amplos corredores, peças artísticas e a decoração dos ambientes. Quando a câmera ingressa em alguns salões, o cenário volta no tempo e damos de cara com algumas figuras da maior importância da história russa, como Pedro, o Grande, Catarina, a Grande, Catarina II, a família do Czar Nicolau e a Czarina Aleksandra. Quem tiver paciência e chegar até ao final terá o prazer e o privilégio de assistir à reprodução de um baile da corte do Czar Nicolau II com a participação de 3 mil figurantes, num esmero visual próprio de uma grande obra de arte. Um dos filmes mais importantes do cinema atual. Imperdível!      

domingo, 28 de dezembro de 2014

“FÉRIAS NA GRÉCIA” (“Sune I Grekland”), Suécia, 2012, é uma comédia ao estilo daquela série de filmes intitulada “Férias Frustadas”, com Chevy Chase e Beverly D’Angelo, grande sucesso na década de 80. Neste filme sueco, o chefe de família é o contador Rudolf (Morgan Alling), que todos os anos, nas férias, embarca num trailer com a mulher e os filhos para um lugar chamado Ilha Mosquito. A família não aguenta mais essa rotina. Quando tudo estava pronto para uma nova e entediante viagem, o chefe de Rudolf pede a ele que vá representar o escritório num congresso de contadores na Grécia. Com tudo pago. Rudolf chega em casa e anuncia a novidade, para a alegria da mamãe Karin (Anja Lundkivist) e dos três filhos, principalmente o adolescente Sune (William Ringström), que já imagina grandes aventuras amorosas na Grécia. Só que o chefe de Rudolf resolve ir com a esposa para o tal congresso e cancela a viagem do seu funcionário. Rudolf não quer decepcionar a família e resolve assumir as despesas da viagem, endividando-se completamente. Como em “Férias Frustadas”, a família de Rudolf, incluindo o próprio, se envolve em inúmeras confusões, o que garante situações hilariantes e boas risadas. A história é baseada no livro "Anderssons in Greece", um clássico da literatura infanto-juvenil sueca, escrito por Anders Jacobsson e Sören Olsson. Trata-se de um filme ideal para curtir numa sessão da tarde com a família, pipoca e guaraná. Um bom programa para quem não exige muito.  

sábado, 27 de dezembro de 2014

A presença de Juliette Binochet e Clive Owen é um bom motivo para assistir à comédia romântica “POR FALAR DE AMOR” (“Words and Pictures”), EUA, 2013, direção de Fred Schepisi. Jack Marcus (Owen) é professor de literatura inglesa numa escola secundária. É um poeta frustrado, editor de uma revista da escola e beberrão crônico. Uma nova professora de Artes Plásticas é contratada pela escola. Chama-se Dina Delsanto (Binochet). No primeiro dia, ela tem seu primeiro contato com Marcus na sala dos professores. E o encontro não é dos mais simpáticos – clichê dos clichês dos filmes românticos. Em sua primeira aula, ministrada aos mesmos alunos da turma de Marcus, Delsanto defende a afirmação de que uma imagem vale por mil palavras. Ao saber disso, Marcus retruca aos alunos que as palavras são muito mais importantes do que a arte visual. A guerra entre os dois professores está declarada, dividindo os alunos entre os defensores da tese de Delsanto e aqueles que dão valor às palavras, em apoio a Marcus. Até que os argumentos de um e de outro são bastante interessantes, fornecendo um toque de erudição ao filme. O toque dramático da história fica por conta do personagem de Binochet, que sofre de artrite reumatoide, doença que prejudica os movimentos e provoca muita dor. No mais, nada que mereça uma indicação entusiasmada.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

“SEM RUMO” (Rudderless”), 2014, EUA, marca a estreia do ator William H. Macy na direção. E não fez feio. Trata-se de um drama com pano de fundo musical, estrelado por Billy Crudup, Anton Yelchin, Felicity Huffman, Selena Gomez, Laurence Fishburne, Miles Heizer e o próprio Macy. A história começa com o adolescente Josh (Heizer) matando seis colegas e se suicidando na escola. Antes de cometer a tragédia, Josh compunha músicas e as gravava em CDs. Ao arrumar o quarto do garoto, a mãe Emily (Huffman) separa seus pertences e os entrega ao ex-marido Sam (Crudup), hoje morando num barco e trabalhando como pedreiro – antes da tragédia, ele era alto executivo de uma empresa. Antigo músico amador, Sam encontra os CDs e começa a ouví-los. Ele escolhe uma das canções e consegue uma oportunidade para uma apresentação no bar de Trill (Macy). Quentin (Anton Yelchin), um jovem guitarrista, ouve a música e se encanta. Ele procura Sam e propõe que formem uma banda para tocar aquelas músicas – Sam não fala que foram compostas pelo filho, o que será um grande problema mais tarde. Embora o tom dramático predomine, Macy consegue um bom resultado ao amenizá-lo, com muita música e alguns momentos de humor, tornando seu filme um entretenimento bastante agradável.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Embora não seja um grande filme, “GAROTA EXEMPLAR” (“Gone Girl”), 2014, EUA, já desponta como um dos favoritos a ganhar algumas estatuetas no Oscar 2015. Acho um exagero, em todo caso... Trata-se de um thriller inspirado no livro “Garota Exemplar”, de Gillian Flynn, que também é a autora do roteiro. É o tipo de filme que só permite comentar sua primeira parte para não estragar a surpresa da reviravolta que mudará o rumo da história. Nick Dunne (Bem Affleck) é casado há cinco anos com Amy (Rosamund Pike). O casamento vive uma crise quando, de repente, Amy desaparece de casa. Os indícios apontam, inicialmente, para um provável sequestro, mas a polícia descobrirá algumas pistas que colocam Nick como principal suspeito de assassinato. O jogo psicológico, recheado de suspense, é mantido até o final. Impossível não ficar ansioso para saber o que vai acontecer. Méritos para o experiente diretor David Fincher (“Clube da Luta”, “Seven – Os Sete Pecados Capitais”, “O Curioso Caso de Benjamin Button”). A grande surpresa do filme, além da inesperada reviravolta na história, é o ótimo desempenho da atriz inglesa Rosamund Pike, que finalmente ganha um papel à altura do seu talento.     
“UM PEQUENO CASO DE SETEMBRO” (‘Bi Küçük Eylül Meselesi”), 2013, direção de Kerem Deren, é um drama romântico turco daqueles bem açucarados. A jovem Eylül (a loiraça Farah Zeyner Abdullah) sofre um acidente de carro com o namorado Atil (Onur Tuna). Quando é levada para um hospital em estado grave, Eylül tem uma parada cardíaca por minutos e durante um bom tempo fica desacordada. Quando acorda, não se lembra do que aconteceu durante o mês anterior, setembro, quando viajou de férias com a amiga Berrak (Ceren Moray) para a ilha de Bozcaada, no Mar Egeu. O filme inteiro é dedicado ao esforço de Eylül para relembrar tudo o que aconteceu – estranho para os nossos padrões que a mocinha do filme (Eylül) fume sem parar. Em sua estada na ilha ela conheceu Tekin (Engin Akyürek), um tipo simples com cara e jeito de autista que vive pelas ruas ganhando uns trocados para desenhar placas e letreiros. Eylül e Tekin viverão um romance de férias. Em vários flashbacks, o filme mostra ao espectador o que Eylül tenta relembrar. Parece que consegue, mas aí vem o desfecho com uma reviravolta que tenta arrancar lágrimas, mas que deixa o filme ainda mais piegas, lembrando uma novela das Sete à moda turca. Quem for diabético que tome cuidado: a dosagem de açúcar é elevadíssima!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

“REACH ME” (ainda sem tradução por aqui, mas algo como “Siga-me”), 2013, EUA, direção de John Herzfeld, é uma comédia meio non sense reunindo vários personagens cujos caminhos irão se cruzar um dia. Uma piromaníaca em liberdade condicional, um policial que cada vez que mata procura um padre para se confessar, uma atriz frustrada que acaba num filme pornô, um jornalista que é obrigado por seu editor a descobrir o paradeiro de um escritor, mafiosos em busca de vingança, capangas com remorso. E por aí vai. Cada personagem com sua história, todos, de uma forma ou de outra, têm alguma ligação com o livro de autoajuda intitulado “Reach Me”, escrito por Teddy Raymonds (Tom Berenger), um ex-treinador de futebol americano que vive recluso. Sylvester Stallone está no elenco como Gerald, o editor carrasco que ameaça Roger (Kevin Connolly) de demissão caso ele não consiga uma entrevista com o tal escritor. Embora um tanto irregular, o filme tem algumas boas sacadas, como a relação do policial Wolfie (Thomas Jane) com o Padre Paul (Danny Aiello). Cada vez que mata um bandido, Wolfie corre para se confessar com o Padre Paul. Foram tantas vezes que um dia o Padre Paul recusa-se a ouví-lo, dizendo que já se achava um cúmplice. De um modo geral, é um filme  interessante, com um bom elenco, que serve como um entretenimento bastante agradável.   
O cinema brasileiro tem tradição de fazer boas cinebiografias: “Gonzaga – De Pai para Filho”, “Getúlio”, “Heleno” e "Cazuza - o Tempo não Para" são algumas delas. Agora, lança “TIM MAIA”, direção de Mauro Lima, que conta a história da vida turbulenta do magistral cantor e compositor carioca. O roteiro foi baseado no livro “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, escrito por Nelson Motta. Dos primórdios no bairro da Tijuca, tocando bateria no conjunto “The Sputniks”, ao lado de Roberto e Erasmo Carlos, passando pela temporada em Nova Iorque, até o seu final trágico, aos 55 anos, afogado na bebida e nas drogas, o filme não esconde quem foi Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia, um ser humano dos mais execráveis, malcriado, prepotente, ególatra, irresponsável e mais todos os adjetivos que formam um mau caráter. O que não se pode negar, porém, e o filme deixa bem claro isso, é que Tim era um raro talento musical, não apenas como cantor, mas também como compositor. A trilha sonora, deliciosa, é recheada de seus maiores sucessos. O filme destaca também a grande amizade de Tim com o cantor e compositor Fábio (lembram-se de “Stella”?), interpretado por Cayã Reymond, o romance com Janaína (Alinne Moraes) e a sua indisfarçável mágoa de Roberto Carlos. Não deixa de ser um filme bastante interessante. Destaques também para os atores Babu Santana (Tim adulto) e Robson Nunes (Tim jovem), ambos ótimos. Você vai, com certeza, balançar muito na poltrona. 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Se em “Capitão Phillips”, de 2013, os piratas somalianos sequestram a tripulação e o navio comandados por Tom Hanks, em “O SEQUESTRO” (“Default”), EUA, 2014, os terroristas – também somalianos - fazem refém uma equipe de TV norte-americana. Só que, ao invés de navio, desta fez é um avião prestes a decolar do aeroporto das Ilhas Seychelles, no Oceano Índico. Se no filme com Tom Hanks a tensão é de arrasar, neste é duas vezes de arrasar. Tanto a tripulação do avião quanto a equipe de TV vão passar o maior sufoco. É o mesmo suspense “mata-não-mata”, gritos e tortura psicológica. O objetivo dos somalianos é que o jornalista Frank Saltzman (Greg Callahan), membro da equipe sequestrada, faça uma entrevista com o líder do grupo, Atlas (David Oyelowo). Só que a situação acaba saindo de controle e, ao contrário de “Capitão Phillips”, a história não vai acabar bem. O filme é claustrofóbico demais - toda a ação se passa dentro da aeronave. O espectador também vai sentir desconforto com a câmera agitada, nervosa, como se tudo fosse filmado por um cinegrafista amador tremendo de medo. Parece que a história é verídica, pois aparece muito noticiário televisivo aparentemente verdadeiro sobre o sequestro. Deveria haver alguma indicação nos créditos. De qualquer forma, é daqueles filmes com tanto suspense e tensão que você nem percebe quando o saco de pipoca acabou nem que entortou o braço da poltrona.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O drama “IDA” é a grande aposta do cinema polonês na disputa do Oscar 2015 de Melhor Filme Estrangeiro. O filme, dirigido por Pawel Pawlikowski, está entre os 9 finalistas selecionados para concorrer ao prêmio. E não será nenhuma surpresa se vencer, pois trata-se de um belíssimo filme. A história, ambientada em 1962, está centrada na  noviça Anna (a estreante Agata Trzebuchowska), de 18 anos, que vive desde pequena num convento. Prestes a ser ordenada, ela é liberada para visitar seu único parente vivo, a tia Wanda Cruz (Agata Kulesza), que é juíza num tribunal comunista. O encontro entre as duas fará ressurgir alguns segredos de família tendo como pano de fundo acontecimentos trágicos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial. Anna descobrirá, por exemplo, que nasceu de uma família judia e que seu verdadeiro nome é Ida. A noviça quer resgatar toda essa história, descobrir como seus pais morreram e onde estão enterrados. Em nenhum momento, porém, sua fé católica correrá risco. Tia e sobrinha iniciam então um road movie para encontrar pessoas que tenham algo para contar sobre tudo o que aconteceu. Se para Ida a viagem foi esclarecedora e, de certa forma, redentora, para Wanda foi um martírio que afetará ainda mais a sua já abalada condição psicológica. A fotografia em preto e branco é um dos destaques do filme, além dos enquadramentos originais e do trabalho excepcional das atrizes, principalmente Agata Kulesza. Sem exagero, um dos momentos mais sublimes do cinema nos últimos anos.   

domingo, 21 de dezembro de 2014

Embora a protagonista principal seja interpretada pela atriz francesa Marion Cotillard, “DOIS DIAS, UMA NOITE” (“Deux Jours, unie Nuit”), 2014, é um filme belga, dirigido pelos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne. Aliás, o filme foi candidado da Bélgica ao Oscar 2015 de Melhor Filme Estrangeiro, mas não ficou entre os 9 selecionados para a disputa. Concorreu ainda à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2014, também sem sucesso. A verdade é que a história não é das mais animadoras. Sandra (Cottilard) retorna ao trabalho depois de um período de afastamento por motivos de saúde (depressão). Só que tem um problema: o chefe da empresa prometeu um bônus de mil euros para os funcionários, mas com o retorno de Sandra, esse bônus não poderia ser pago – menção à crise econômica europeia. Ficou decidido que haveria uma votação numa sexta-feira. Sandra perdeu, mas não desistiu e insistiu numa nova votação. Conseguiu ama nova chance para segunda-feira. Ou seja, os dois dias e uma noite do título. Ela teria, portanto, o final de semana para visitar os seus colegas de trabalho e convencê-los a desistir do bônus em favor de sua readmissão. O filme inteiro mostra os esforços de Sandra para pedir votos para sua causa, em meio a novos surtos de depressão. Muito pouco para um filme que tem dois diretores consagrados e uma atriz que até já ganhou Oscar (por “Piaf – Um Hino ao Amor”, em 2007). Dá até para recomendá-lo, mas sem muito entusiasmo. 
Com o visual de um Kung Fu afrodescentente, Denzel Washington não economiza na porrada no filme de ação “O PROTETOR” (“The Equalizer”), EUA, 2014, dirigido por Antoine Fuqua e inspirado numa série de TV de grande sucesso nos EUA na década de 80, “The Equalizer”. Denzel é o misterioso e pacato cidadão Robert McCall, empregado numa grande loja de ferramentas e que todas as noites vai tomar um chá e ler um livro numa lanchonete perto de sua casa. Na verdade, McCall é um ex-agente especial do governo dos EUA, perito em artes marciais. Quando vê uma injustiça ou alguém em perigo, ele se transforma num misto de David Carradine, Steven Seagal e Van Damme. Ou seja, numa verdadeira máquina mortífera. Ninguém fica de pé - e muito menos vivo - para contar história. Seus métodos para matar são os mais variados e criativos possíveis. Ao se vingar do cafetão que agrediu Teri (Chloë Grace Moretz), uma jovem prostituta, McCall atrai o ódio de uma organização de mafiosos russos, que envia um assassino sanguinário para matá-lo. O assassino, interpretado por Marton Csokas, também dá medo. E daí para a frente, até o final do filme, não vai faltar pancadaria.  Washington, mais uma vez, dá conta do recado como um vingador frio e calculista. Pra quem gosta de filmes de ação, um programão! 

sábado, 20 de dezembro de 2014

“O JUIZ” (“The Judge”), 2014, EUA, é um drama que, na mão de outro diretor, poderia descambar para um dramalhão daqueles. Mas David Dobkin, que já havia dirigido as comédias “Penetras Bons de Bico”, “Uma Noite Fora de Série” e “Eu queria ter a sua vida”, amenizou a história com muito humor. Não deve ter sido fácil. Afinal, o juiz do título, Joseph Palmer (Robert Duvall), fica viúvo, é acusado de assassinato e tem um câncer avançado; seu filho mais novo é deficiente mental e ele não se dá com o filho do meio, Hank Palmer (Robert Downey Jr.), um advogado sem escrúpulos que não recusa defender gente da pior qualidade. Ele se justifica para um colega dizendo que "Os inocentes não podem pagar meus honorários". Para defendê-lo no tribunal, Joseph contrata um advogado incompetente e atrapalhado. A muito custo, Joseph concorda que Hank o defenda. Em sua grande parte, o filme retrata justamente a difícil relação entre Hank e o pai, alguns flashbacks da família em filmes antigos e muitas cenas de tribunal. Mas o grande destaque do filme é, sem dúvida, o ótimo elenco. Além de Downey e Duvall, também trabalham Vera Farmiga, Billy Bob Thornton, Vincente D’Onofrio e Jeremy Strong. Como curiosidade, vale lembrar que Jack Nicholson e Tommy Lee Jones foram cogitados para o papel do Juiz, que ficou em boas mãos com Duvall. Há que se destacar também Vera Farmiga, que, além de excelente atriz, está mais madura e cada vez mais bonita. Trata-se de um ótimo entretenimento.   

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

“ISOLADOS”, 2014, direção de Tomas Portella, é mais uma tentativa do cinema brasileiro de emplacar um filme no gênero suspense. Pena que ainda não foi desta vez, embora seja superior a outras produções. Na verdade, trata-se de um suspense com cara de terror psicológico, na linha de “O Sexto Sentido” ou “Os Outros”. O médico psiquiatra Lauro (Bruno Gagliasso) e sua namorada e paciente Renata (Regiane Alves) alugam um casarão na região serrana do Rio de Janeiro para passar alguns dias. Eles não sabem, mas dias antes houve o assassinato de uma menina. E a polícia está por lá investigando. Enquanto isso, Lauro e Renata são atacados durante um passeio na floresta e se trancam no casarão com medo de um novo ataque. Renata sofre de ataques histéricos e Lauro começa a perder o controle. A tensão aumenta cada vez mais e, alguns sustos depois, o mistério é desvendado, numa reviravolta inesperada e surpreendente. O ator José Wilker faz uma aparição rápida no filme como Dr. Fausto, colega de Lauro no hospital psiquiátrico. Foi o último filme de Wilker, que acabou homenageado nos créditos finais.                                         

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

“BETIBÚ”, co-produção Argentina/Espanha de 2013, direção de Miguel Cohan, é um policial ao estilo daquela série sueca Millenium. A morte misteriosa de um poderoso empresário mobiliza dois jornalistas de um mesmo jornal, o experiente Jaime Brena (Daniel Fanego) e o novato Mariano Saravia (Alberto Ammann). Para ajudá-los no trabalho investigativo, o editor Lorenzo Rinaldi (José Coronado) convoca Nurit Iscar (Mercedes Morán), conhecida também pelo apelido de Betibú, uma ex-repórter do jornal que agora é escritora de romances policiais. Outras mortes ocorrem e a polícia, como sempre, está mais perdida do que cego em tiroteio. Os dois jornalistas e a escritora vão seguir algumas pistas relacionadas com o passado dos homens mortos. Tudo leva a crer que a chave do mistério está numa foto antiga em que o empresário assassinado aparece ao lado de alguns amigos, todos jovens – as outras vítimas. A explicação será dada mais tarde pelo irmão mais novo do empresário. O filme, cuja história foi inspirada no livro homônimo da escritora argentina Claudia Piñero, foi uma das atrações da 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, realizado em outubro de 2014.      

domingo, 14 de dezembro de 2014

Nem Nicole Kidman, nem Colin Firth e muito menos Mark Strong salvam o suspense psicológico inglês “ANTES DE DORMIR” (“Before I Go to Sleep”), 2014, dirigido por Rowan Joffe, que em 2010 já havia sido responsável por outro abacaxi, “Um Homem Misterioso”, com George Clooney. Depois de sofrer um acidente, Christine Lucas (Kidman) tem a memória afetada. Além de não lembrar o que aconteceu no dia fatídico, ela acorda todos os dias sem saber quem é, o que aconteceu no dia anterior e nem reconhece o marido Ben (Firth). Todos os dias ela também conversa com o dr. Nash (Strong), que diz ser seu psiquiatra há anos. O médico trata de Christine e a obriga a não dizer nada ao marido. Se a história já é meio esquisita, fica pior ainda quando surge Claire (Anne-Marie Duff), uma misteriosa mulher que se intitula sua antiga amiga e protetora. Os fatos vão acontecendo sem nenhuma lógica, perturbando ainda mais a cabeça da coitada da Christine – e também do espectador. Se às vezes o desfecho salva um filme, neste só serve para piorá-lo. A história é baseada no livro homônimo escrito por S. J. Watson, sua estreia na literatura. Se houve o interesse em adaptá-lo para o cinema, o livro não deve ser tão ruim. Mas o filme...
“LONDRES PROIBIDA” (“London to Brighton”), 2006, é um bom suspense inglês dirigido por Paul Andrew Williams. A história é meio barra pesada. A prostituta de rua Kelly (Lorraine Stanley) recebe uma ordem de seu cafetão Derek (Johnny Harris): encontrar uma menina bem novinha para satisfazer os desejos de um milionário pedófilo. Ao sair pelas ruas de Londres, Kelly encontra Joanne (Georgia Groome), de 11 anos, que pedia esmola na escadaria de uma estação do metrô. Em troca de 100 libras, a menina topa fazer o programa, desde que Kelly vá junto. O programa toma um rumo diferente e o pedófilo acaba sendo morto pelas duas, que acabam fugindo para Brighton. Só que o filho do milionário assassinado é um bandidão violento que quer vingança. Ele e seus capangas vão atrás de Kelly e Joanne. Esse jogo de gato e rato vai permear praticamente toda a ação, com muitas cenas de violência e um desfecho dos mais imprevisíveis. A história é legal, o filme é bem feito e o elenco é ótimo. Mesmo com toda violência, pode ser um entretetenimento interessante. O filme foi premiado em vários festivais, inclusive o de melhor estreia em direção concedido a Paul Andrew Williams, que depois faria “Cabana Macabra” (2008) e “Canção para Marion” (2010).                                        
Para comemorar de forma inusitada o 60º aniversário do Festival de Cannes, em 2007, Gilles Jacob, o presidente do evento, encomendou a 34 dos principais cineastas do mundo um curta-metragem de 3 minutos cujo tema era “O Amor ao Cinema”. O resultado está no filme "CADA UM COM SEU CINEMA" ("Chacun son Cinéma"), exibido durante o festival daquele ano na sessão de gala. Alguns diretores optaram pelo bom humor, como Roman Polanski e Lars von Trier. Claude Lelouch reproduziu cenas do filme “Top Hat”, de 1935, onde Fred Astaire e Ginger Rogers aparecem dançando “Cheek to Cheek”. No curta, Lelouch lembra que seus pais se conheceram durante uma sessão do filme. O grego Theo Angelopoulos utilizou a atriz Jeanne Moreau para fazer uma bela e tocante homenagem a Marcello Mastroianni. O cineasta malaio Ming Liang Tsai mostra uma família com o retrato da mãe falecida voltado para a tela. A mãe adorava ir ao cinema. Walter Salles, único diretor brasileiro a participar do projeto, optou por utilizar uma dupla de repentistas em frente à fachada de um cinema no Nordeste. Cada qual com seu estilo, os cineastas convidados realizaram um belíssimo trabalho. O conjunto da obra ficou ótimo, mas, como escreveu Luiz Carlos Merten, crítico do Estadão, “É o filme dos sonhos de qualquer cinéfilo". Realmente, o projeto é direcionado apenas aos aficionados por cinema. Quem quiser curtir duas excelentes homenagens ao cinema deve assistir "Splendor", de Ettore Scola, e "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore, este último uma verdadeira obra-prima.  

sábado, 13 de dezembro de 2014

Não será nenhuma surpresa se o cinema italiano conquistar pela segunda vez consecutiva o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro/2015 (em 2014, o vencedor foi “A Grande Beleza”). O candidato oficial da Itália, desta vez, é “CAPITAL HUMANO” (“Il Capitale Umano”), direção de Paolo Virzi (”La Prima Cosa Bella”). É um filmaço. O roteiro, escrito por Virzi, é primoroso. Em quatro capítulos, ele descreve a história de vários personagens. Num capítulo, determinado personagem é quase que um figurante. No capítulo seguinte, assume o papel de protagonista. Virzi repete algumas cenas modificando o ângulo da câmera de acordo com o personagem em destaque. Uma aula de criatividade cinematográfica. A história gira em torno de um poderoso empresário à beira da falência e de um acidente que fere gravemente um ciclista. O principal suspeito é o filho do empresário, cujo casamento enfrenta uma fase de grande turbulência. O filho suspeito namora uma moça cujo pai quer ganhar dinheiro fácil e se aproxima do tal empresário. E por aí vão se entrelaçando todos os personagens, num verdadeiro mosaico narrativo, sem jamais entediar ou confundir o espectador. O elenco é da melhor qualidade, tendo à frente a atriz Valeria Bruni Tedeschi (irmã de Carla Bruni, ex-primeira dama da França), que dá um show como a esposa infeliz do empresário. Por esse papel, ela foi merecidamente premiada como Melhor Atriz no Festival de Tribeca. Não perca, pois é cinema de altíssima qualidade.           

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Desistir de um trabalho repleto de adrenalina em zonas de guerra ou viver de um emprego seguro, perto da família? Esse dilema deve mexer com a cabeça de nove entre dez fotojornalistas acostumados (ou viciados?) a trabalhar pelo mundo afora fotografando em áreas de conflito. É o que acontece com a fotógrafa Rebecca (Juliette Binoche) em “MIL VEZES BOA NOITE” (“Tusen Ganger God Natt”), 2012, um ótimo drama norueguês dirigido por Erik Poppe - ele próprio um ex-fotógrafo de guerra. Em ação no Afeganistão, Rebecca é ferida numa explosão causada por uma mulher-bomba. Quando volta para casa, na Irlanda, ela recebe um ultimato do marido Marcus (Nikolaj Coster-Waldau). Ou abandona esse tipo de trabalho ou então o casamento já era. As duas filhas adolescentes apoiam o pai e Rebecca concorda em abandonar as zonas de guerra, apesar dos protestos de sua editora, já que ela é uma das cinco melhores fotógrafas de guerra do mundo. Quando tudo parecia correr de acordo com o desejo de Marcus, Rebecca faz uma viagem com a filha mais velha Steph (Lauryn Canny) ao Quênia. Essa viagem resultará numa nova crise familiar, obrigando Rebecca a tomar uma decisão definitiva. Se o filme já é excelente, melhor ainda é o desempenho da fabulosa atriz francesa Juliette Binoche como a mulher dividida entre a profissão e a família. Binoche prova, mais uma vez, que é uma das melhores atrizes em atividade. Um aviso: prepare-se para a cena inicial do filme, onde Rebecca fotografa o ritual de preparação e a posterior ação de uma mulher-bomba. Trata-se de uma das sequências mais tensas, impactantes e bem feitas do cinema nos últimos anos. Enfim, o filme é simplesmente imperdível. 
“UMA FAMÍLIA EM TÓQUIO” (“Tokyo Kazoku”), 2012, direção de Yoji Yamada, é uma refilmagem de “Era uma vez em Tóquio” (1953), de Yasujiro Ozu, considerado um dos grandes clássicos do cinema japonês. O enredo é uma verdadeira crônica dos relacionamentos familiares. O casal de idosos Tomiko (Kasuko Y oshiuki) e Shukichi (Isao Hashizume) viaja para Tóquio com o objetivo de rever, depois de muito tempo, seus três filhos adultos, Shigeko, dona de um salão de beleza, Koichi, médico, e Shoji, o caçula, que vive de bicos e não é tão bem sucedido quanto os irmãos. Na recepção aos pais, dá para perceber uma grande frieza, fruto de uma educação baseada mais no respeito do que no afeto. Não há contato físico, um abraço por exemplo. Fica claro que é uma relação de muito respeito. As atividades profissionais não permitem que os filhos dediquem muita atenção aos velhos. Como em quase todas as famílias do mundo, aquele gesto de carinho ou atenção vem justamente de quem menos se espera: da nora, do filho “ovelha negra” e de sua namorada. Perto do desfecho, um fato trágico finalmente será capaz de reunir a família. Sem dúvida, um filme japonês bastante sensível que merece ser visto por quem aprecia cinema de qualidade.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Rotulado como comédia, o filme italiano “VIVA A LIBERDADE” (“Viva la Libertà”) passa longe de ser motivo de risos. Pelo contrário, tem um pano de fundo sério, baseado em questões políticas. O grande ator italiano Toni Servillo (de “A Grande Beleza”) faz dois personagens: Enrico Olivieri, senador e 1º Secretário de um importante partido de esquerda, opositor do governo, e seu irmão gêmeo Giovanni Ernani, um professor filósofo, bipolar, que de vez em quando é internado num hospício. Em depressão por causa de uma agenda de inúmeros compromissos, somada a muitas críticas de seus companheiros de partido e ainda pela péssima situação nas pesquisas (17%) para a próxima eleição, Enrico resolve sumir. Viaja incógnito para Paris. Seu assistente Andrea Bottini (o ótimo Valerio Mastandrea) não sabe o que fazer. De início, é obrigado a cancelar reuniões e discursos de Enrico, alegando que ele se afastou por motivo de doença. Mas a pressão é insuportável, e Andrea tem a ideia de utilizar Giovanni para fazer o papel de Enrico. Com sua grande erudição, o professor dá entrevistas e faz discursos utilizando uma linguagem muito distante daquelas que os políticos costumam usar. Num dos discursos, por exemplo, ele cita frases de Brecht. Sua atuação é responsável por uma grande reviravolta nas pesquisas. Enquanto isso, Enrico revê um grande amor de juventude, Danielle (Valeria Bruni Tedeschini), agora casada com um cineasta. Tudo bem que o diretor Roberto Andó tentou fugir dos clichês próprios desses filmes onde os personagens trocam de identidade, mas o resultado final é decepcionante, ainda mais com um elenco tão bom.    
“O ARTISTA E A MODELO” (“El Artista y La Modelo”) é uma produção espanhola de 2012, com direção de Fernando Trueba (de “Belle Époque”, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1993). Ambientado em 1943 num pequeno vilarejo do interior da França próximo à fronteira da Espanha, o filme conta a história do relacionamento do famoso escultor Marc Cross (Jean Rochefort) com Mercé (Aida Folch), uma jovem espanhola fugitiva do regime de Franco. Léa (Claudia Cardinale), esposa de Cross, acolhe a jovem e a acomoda no ateliê do marido que, aos 80 anos, não trabalhava mais. A chegada da bela Mercé, porém, dá uma renovada em Cross, que começa a esculpir de novo utilizando a jovem como modelo. Em meio ao seu trabalho de escultor, Cross conversa muito com Mercé, em diálogos recheados de humor e erudição, abordando temas como filosofia, política, arte e religião. Num desses diálogos, o escultor confessa a Mercé que existem duas provas da existência de Deus: a criação da mulher e do azeite. Cross não acredita que Deus, responsável pela criação de tantas coisas bonitas, como o mar e as florestas, possa ter criado um ser tão feio quanto o homem. Outro diálogo que merece ser ressaltado é aquele em que Cross discute um famoso desenho de Rembrandt com a modelo, um dos momentos mais tocantes do filme. Mercé aparece nua praticamente o filme inteiro, mas a (ótima) fotografia em preto e branco atenua qualquer eventual apelo sexual. É um filme muito bonito, valorizado por um ótimo elenco. Destaque para Claudia Cardinale, que, aos 70 anos, ainda guarda a beleza que a consagrou como uma das maiores musas do Cinema nas décadas de 60/70. Quanto a Rochefort, ele comprova a condição de melhor ator francês da atualidade.                   

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O tema Gastronomia sempre resultou em ótimos filmes, o melhor deles, sem dúvida, “A Festa de Babette”, de 1987. Dos mais recentes, o melhor talvez seja mesmo “A 100 PASSOS DE UM SONHO” (“The Hundred-Foot Journey”), EUA, dirigido pelo sueco Lasse Hallström e com Steven Spielberg Oprah Winfrey como produtores. A história começa na Índia, onde Papa Kadam (Om Puri) possui um restaurante de comida tradicional indiana. Por motivos políticos, seu estabelecimento é incendiado criminosamente e a família decide fugir para a Europa. Depois de algumas andanças por aqui e ali, Papa Kadam chega ao aprazível vilarejo de Saint-Antonin-Noble-Val, sul da França, onde resolve abrir um restaurante. Só que bem em frente está o “Saule Pleureur”, um restaurante chique famoso por ter obtido uma estrela do Guia Michelin, o maior reconhecimento europeu da qualidade em gastronomia. No comando do “Saule Pleureur” está Madame Mallory (Helen Mirren), uma mulher arrogante que vive com o nariz empinado e um crônico mau humor. O barulho da música alta, os cheiros e o medo da concorrência fazem com que Mallory declare guerra ao restaurante indiano. Só que ela não contava com a astúcia gastronômica do jovem Hassan Kadam (Manish Dayal), que logo se revela um chef dos mais competentes. E por aí vai a história, entre receitas, romances e declaração de paz entre Mallory e os indianos, com muitos momentos sensíveis e tocantes. Um filme para curtir e, principalmente, saborear.

domingo, 7 de dezembro de 2014

“UM DIA MEU PAI VIRÁ” (“Un Jour Mon Pere Viendra”), 2011, direção de Martin Valente, é mais uma agradável comédia francesa, com dois atores que valem o ingresso: Gerard Jugnot e François Berléand. A história é centrada em Chloé (a cantora francesa Olivia Ruiz), que vai casar com o famoso campeão de tênis Stephen (o ator inglês Jamie Bamber) e precisa de um pai para conduzí-la ao altar. O rico Bernard (Berléand) é o pai biológico que não sabia da existência da filha. Gus (Junot) foi o pai que a criou, mas que foi rejeitado por Chloé por causa de suas bebedeiras. Para conseguir um pai “postiço”, Chloé entrevista vários atores amadores. Por causa de um acidente ocorrido com o ator escolhido (provocado por Bernard e Gus), Bernard entra no jogo, fazendo-se passar pelo pai de Chloé e também por um embaixador da Mongólia, uma mentira que irá colocá-lo em várias situações embaraçosas e engraçadas. Até o dia do casamento, muita água vai rolar, muita confusão vai acontecer. É o primeiro papel de protagonista da cantora pop Olivia Ruiz, uma aposta do diretor Martin Valente. Sem ser muito bonita, ela dá conta do papel e até consegue ser charmosa em algumas cenas. Enfim, trata-se de uma comédia apenas agradável, capaz de proporcionar boas risadas.          
Com o mesmo estilo “machão charmoso” que o consagrou em quatro filmes da série James Bond, o ator irlandês Pierce Brosnan é o principal protagonista do filme “O HOMEM NOVEMBRO – Um Espião nunca Morre” (“The November Man”), 214, dirigido por Roger Donaldson. Brosnan é Peter Devereaux, um ex-espião da CIA que se afastou há cinco anos depois de uma missão que deu errado. Ele é procurado por um dos seus antigos chefes e convencido a voltar à ativa, depois que soube que Lucy (Tara Jevrosimovic) corria perigo em Moscou. Além disso, Peter também é encarregado de proteger Alice Fournier (Olga Kurylenko), a única testemunha que pode comprovar que o general Arkady Federov (Lazar Ristovski), provável futuro presidente da Rússia, é na verdade um sádico criminoso de guerra. Interessa à CIA provar essa culpa, pois prevê o general como um futuro inimigo dos EUA. Peter vai se enredar numa complicada trama de espionagem, recheada de muita ação e suspense. A história é baseada no livro “There are no Spies”, de Bill Granger. Uma ótima oportunidade para lembrar de Brosnan num papel parecido com o de Bond (na minha opinião, o segundo melhor Bond, só perdendo para Sean Connery) e curtir a estonteante Olga Kurylenko, que foi girl bond  em “Quantum of Solace”, com Daniel Craig. Entretenimento garantido!

sábado, 6 de dezembro de 2014

Alguns cineastas asiáticos descobriram a fórmula certa para conquistar prêmios em festivais de cinema: fazer filmes totalmente incompreensíveis, sem nexo e sem história. Verdadeiros quebra-cabeças cinematográficos. Foi assim que o tailandês Apichatpong Weerasethakul ganhou a Palma de Ouro em Cannes com o abominável e ridículo “Tio Boonmee, que pode recordar vidas passadas”. O mais novo absurdo vem da China e se chama “CÃES ERRANTES” (“Xi You”), dirigido por Tsai Ming-Liang. Ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza 2013. Durante intermináveis e entediantes 2 horas e 18 minutos, o espectador terá à sua frente cenas imóveis, algumas delas durando mais de 10 minutos sem nada acontecer e sem ninguém falar. A primeira cena já fornece a pista do que vem a seguir: durante muitos minutos câmera estática filma uma mulher utilizando secador de cabelo e, ao seu lado, duas crianças dormindo. Depois, mais uma cena interminável, dois homens segurando placas de propaganda numa avenida movimentada. E ainda: homem comendo e cuspindo um repolho cru. Um filme sem pé nem cabeça, tronco e membros. Enfim, o espectador é submetido a um verdadeiro teste de resistência. Vai praticar um ato heroico se conseguir assistir até o final. Incrível que alguns críticos profissionais tenham elogiado o filme, destacando, principalmente, a sua "qualidade estética". Se isso for cinema, rasgo minha carteirinha de cinéfilo. Depois da sessão em que o filme foi exibido em Veneza, o diretor Ming-Liang afirmou que este seria seu último filme. Tomara!    

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

“MAGIA AO LUAR” (“Magic in the Moonlight”), 2014, é mais uma comédia romântica de Woody Allen. O filme foi todo rodado na França, como Allen já havia feito há cerca de três anos com “Meia-Noite em Paris”. Desta vez, ele ambienta a história em 1928 na Cote d’Azur, em meio a famílias abonadas, mansões luxuosas e cenários deslumbrantes. Stanley Crawford (Colin Firth) é um famoso mágico que atua em espetáculos pela Europa como o chinês Wei Ling Soon. Ele também é conhecido por denunciar, com provas, charlatões que anunciam possuir poderes mediúnicos. A pedido de um antigo amigo, Stanley segue para a mansão da milionária viúva Grace (Jacki Weaver) com o objetivo de desmascarar Sophie (Emma Stone), uma jovem que se diz médium. Ela garante que entrará em contato com o espírito do falecido marido de Grace. Sophie é alvo da paixão de Brice (Hamish Linklater), filho de Grace, que a pede em casamento. Só que Stanley também se apaixona, e os dois disputarão o coração de Sophie, até que uma inesperada revelação acontece e muda o rumo da história. Em suas últimas comédias românticas, Woody Allen tem privilegiado mais o romance do que a comédia, restrita exclusivamente a um ou outro diálogo. Dessa forma, as antigas gargalhadas se transformam em poucos sorrisos. De qualquer forma, o texto continua inteligente e, mesmo sendo um Allen inferior, é bem superior a muito filme que anda por aí fazendo sucesso.               

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

“UM CASTELO NA ITÁLIA” (“Um Château en Italie”), 2012, França, é mais um filme escrito, dirigido e protagonizado pela atriz Valeria Bruni Tedeschi (irmã de Carla Bruni, ex-primeira dama da França). Baseado na peça teatral “O Jardim das Cerejeiras”, do escritor russo Anton Tchekhov, o enredo tenta misturar comédia com drama ao contar a história de uma tradicional família francesa falida que precisa vender um casarão – quase um castelo, daí o título - na Itália. Só que no casarão mora Ludovic (Filippo Timi), recluso desde que começou o tratamento contra a AIDS. Sua irmã Louise (Valerie Bruni Tedeschi), uma quarentona frustrada por não ter filhos, quer engravidar de qualquer maneira. Atriz mal sucedida, ela descarrega todas as suas frustações bancando a abobalhada e espalhafatosa, tendo constantes ataques histéricos, o que transformou a personagem, embora a principal do filme, numa figura das mais desagradáveis e enervantes.  Se a intenção era fazer uma comédia, saiu tudo errado, pois não há graça nenhuma. Se a ideia era acrescentar algum drama ou romance, também fracassou. Na verdade, tudo resultou num filme pretensioso demais, querendo ser "Cinema de Arte". O filme disputou a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2013. Não ganhou, claro. Não é filme para palmas...      

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

“INSEPARÁVEIS” (“Da Geht Noch Was”), 2013, é um filme alemão que mistura comédia, drama e romance, cada um na dose certa. A história começa quando Conrad (Florian David Fitz) recebe a notícia de que sua mãe Helene (a ainda bela e charmosa Leslie Malton) deixou seu pai Carl (Henry Hübchen) por outro homem, depois de 40 anos de casamento. Em alguns flashbacks, Conrad relembra o horror que tinha do pai, um homem ranzinza e extremamente mal-humorado, que gostava de tratá-lo da pior forma possível. Quando a mãe pede a Conrad que vá à antiga casa para pegar um quadro, ele leva Jonas (Marius Haas), seu filho adolescente. Durante a visita, Carl sofre um acidente e precisa ficar em repouso e aos cuidados de alguém. Muito a contragosto, Conrad resolve cuidar do pai por um tempo. Com isso, Conrad vai colocar em risco seu casamento com Tamara (Thekla Reuten, hilariante), com quem iria viajar de férias. Em sua primeira metade, o filme é uma comédia das mais divertidas. Na segunda metade, descamba para o drama romântico, com direito a tentativas de reaproximação dos casais e até a uma doença grave, o que não impede que o filme permaneça em clima de alto astral e termine, para a alegria geral, no maior happy-end. Resumindo: trata-se de um filme bastante agradável, sem nenhuma contraindicação, ideal para uma sessão família com pipoca e guaraná.   

domingo, 30 de novembro de 2014

Nos últimos anos, seja como roteirista, diretor ou ator – em alguns casos, os três juntos -, o humorista francês Dany Boon fez muitas ótimas comédias como, por exemplo, “Um Plano Perfeito”, “Bem-Vindo ao Norte” e “Nada a Declarar”, entre outras. A mais recente que escreveu, dirigiu e atuou é “SUPERCONDRÍACO” (“Supercondriaque”), 2014. Ele está na pele de Romain Faubert, um hipocondríaco crônico que há 18 anos se trata com o dr. Dimitri (Kad Merad). A obsessão de Faubert por doenças é tão forte que ele sai das festas de réveillon minutos antes da meia-noite para não receber abraços e beijos – tem medo de contaminação. Pelo mesmo motivo, quando está num vagão do metrô, ele se recusa a segurar as barras de ferro para se equilibrar, situação que resultou numa das cenas mais hilariantes do filme. Para incrementar ainda mais a história, Faubert se envolve numa briga durante a chegada de refugiados num navio e acaba trocando de identidade com Anton Miroslav (Jean-Yves Bertellot), líder revolucionário de um país que luta por sua independência da Rússia. Como a nova identidade proporciona a admiração de Anna (Alice Pol), a irmã de Dimitri, Faubert resolve manter a farsa, metendo-se em inúmeras confusões. Para se ter a ideia do prestígio de Dany Boon, este seu filme foi o mais visto na França em 2014, registrando 5,1 milhões de espectadores.   
“O VALE SOMBRIO” (“Das Finstere Tal”), 2014, direção de Andreas Prochaska, tem todas as características dos filmes do Velho Oeste que Hollywood sempre soube fazer melhor do que ninguém. A própria história já é um clichê dos faroestes: cavaleiro desconhecido chega a uma vila cuja população é dominada por uma família de malfeitores. O resto todo mundo que curte cinema é capaz de adivinhar. Só que tem apenas um detalhe muito importante: o filme é austríaco e o Velho Oeste aqui nada mais é do que os Alpes da Áustria. Quem já assistiu a um faroeste austríaco que levante a mão. A história é ambientada em 1875. O cavaleiro misterioso que chega à vila é Greider (o ator inglês Sam Riley), que se diz fotógrafo norte-americano e que acabou de chegar da América com o objetivo de fotografar as montanhas e vales que circundam aquela região. Só que, na verdade, a intenção dele é outra. Ele tem sede de vingança por causa de fatos que aconteceram há mais de 20 anos. O filme é muito bem feito, os cenários são deslumbrantes e tudo funciona realmente como um bom e tradicional western, com direito a um desfecho sangrento e violento ao estilo do diretor norte-americano Sam Peckinpah. O filme é o pré-candidato oficial da Áustria ao Prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2015. Um faroeste austríaco concorrendo ao Oscar? Viva o Cinema!   

sábado, 29 de novembro de 2014

Misto de filme de ação e ficção científica, “LUCY”, 2014, França/EUA, conta uma história mirabolante e fantasiosa, bem ao estilo do diretor francês Luc Besson. Ele mesmo já disse: tem um pouco de “O Profissional”, “A Origem” e “2001 – Uma Odsseia no Espaço”. Obrigada por um namorado traficante, Lucy (Scarlett Johansson) vai ao covil de um poderoso mafioso chinês entregar uma maleta. Ela não sabe, mas está carregando quatro pacotes da droga chamada CPH4, que os chineses querem introduzir no mercado europeu. Para isso, eles introduzem os pacotes no estômago de quatro “voluntários”, entre os quais Lucy. No caso dela, porém, o pacote abre e seu organismo absorve a droga. Aí começa a fantasia. Lucy vira uma mulher com superpoderes, fato explicado cientificamente pelo professor Norman (Morgan Freeman). Segundo ele, o ser humano só utiliza 10% de sua capacidade cerebral. A droga faz com que Lucy ultrapasse esse limite, aumentando a porcentagem – e os poderes - a cada dia que passa. Ela vai querer, é claro, se vingar de Mr. Jang (Choi Min-Sik), o mafioso responsável pela confusão toda. Aí o bicho vai pegar! Os efeitos especiais são ótimos e o visual psicodélico de algumas cenas lembra aquelas imagens sempre ligadas à utilização do LSD. Impossível não associar com a música “Lucy in the Sky with Diamonds”, dos Beatles. O filme funciona como um excelente entretenimento, além de contar com Scarlett Johansson em grande forma.           

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

“CARVÃO NEGRO, GELO FINO” (“Bai Ri Yan Huo”) é um policial chinês que tenta ser “noir”. Dirigido por Yi’nan Diao, o filme conquistou o “Urso de Ouro” do Festival de Berlim 2014. A história, ambientada no Norte da China, começa em 1999, com a investigação de um crime sórdido. Partes do corpo de um homem aparecem em vagões de trem carregados de carvão. Os pedaços são encontrados em várias cidades, o que aumenta ainda mais o mistério. Na chefia das investigações, o detetive Zhang Zili (Liao Fan) é baleado durante a detenção de dois suspeitos. O filme dá um pulo de cinco anos. Outros assassinatos semelhantes são cometidos e a polícia passa a desconfiar de Wu Zhizhen (Lun-Mei Gwei), funcionária de uma lavanderia. Afinal, todas as vítimas tinham alguma ligação com a mulher. Zhang está aposentado, mas mesmo assim continua as investigações daquele caso antigo por conta própria e também vai pressionar Zhizhen. Só que se apaixona por ela, o que, obviamente, vai colocá-lo em perigo. O diretor Diao não facilita as coisas para o espectador. O enredo é meio complicado e no começo fica difícil saber até quem é quem, pois os atores são muito parecidos. Mesmo após a elucidação dos crimes, perto do final, há uma série de acontecimentos que complicam o entendimento, tornando o desfecho um tanto esquisito. Vai ver que foi por isso que o júri de Berlim premiou o filme. Afinal, como diz Rubens Ewald Filho, “crítico adora o que não entende”. E olha que REF é um dos nossos críticos mais respeitados. De qualquer forma, o filme tem lá sua dose de criatividade e é muito bem feito.      

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O diretor norte-americano Jim Jarmusch já fez alguns filmes muito bons, como, por exemplo, “Flores Partidas” (2005) ou “Sobre Café e Cigarros” (2003). Não são filmes comuns, alguns chegam perto do esquisito. Mais uma comprovação do estilo único e diferente de Jarmusch é “AMANTES ETERNOS” (“Only Lovers Left Alive”), que ganhou muitos elogios quando estreou no Festival de Cannes 2013. Conta a história do amor entre dois vampiros eruditos, Eve (Tilda Swinton) e Adam (Tom Hiddleston). Com visual (gótico) de astro do rock, ele mora em Detroit (EUA), é músico (compõe temas fúnebres) e vive entediado. Ela mora em Tânges (Marrocos) para ficar perto de seu mentor, Christopher Marlowe (John Hurt). Pelo que o filme dá a entender, Eve e Adam não se vêem, literalmente, há séculos. Ele entra em contato com ela e diz estar sentindo muito a sua falta. Eve resolve viajar para Detroit e lá viver um tempo com o amante. Nesse meio tempo, chega, como visita inesperada e inoportuna, a irmã mais nova de Eve, a também vampira Ava (Mia Wasikowska), que acaba expulsa da casa depois de “drenar” o sangue de um amigo de Adam. Apesar do ritmo lento e do visual soturno, o filme tem muito bom humor, principalmente nos diálogos, e chega a ser divertido em alguns momentos. E, apesar da história envolver vampiros, não tem mordida no pescoço nem estaca no coração. Aliás, a palavra “vampiro” nunca é mencionada no filme. Jarmusch fez mais um filme muito interessante.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Baseado em conto da escritora canadense Alice Munro (Prêmio Nobel de Literatura 2013), “AMORES INVERSOS” (“Hateship Loveship”), com direção de Liza Johnson, marca a estreia da atriz Kristen Wiig em dramas. Ela ficou conhecida como comediante no humorístico Saturday Night Live, onde trabalhou de 2005 a 2012. No cinema, fez algumas comédias como “Missão Madrinha de Casamento” e “Minha Vida dava um Filme”, entre outras. Neste drama de 2013, ela interpreta Johanna, uma mulher solitária, tímida, melancólica e carente que é contratada para trabalhar na casa de um idoso, Mr. McCauley (Nick Nolte). Aqui vive também a jovem Sabitha (Hailee Steinfeld), neta de McCauley. Típica brincadeira de adolescentes, Sabitha e uma amiga bolam um plano dos mais sórdidos, fazendo com que Johanna acabe se apaixonando por Ken (Guy Pierce), pai de Sabitha e um cara totalmente irresponsável, chegado em bebida e drogas, além de amante crônico do ócio. A paixão vai despertar o vulcão que estava adormecido em Johanna. Essa mudança radical de comportamento – e suas consequências - deixa o filme ainda mais interessante. Só como informação: o título do conto no qual o filme foi baseado é "Itateship, Friendship, Courtship, Loveship, Marriage".                                                               

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O escritor John Le Carré sempre foi especialista em romances de espionagem, principalmente histórias ambientadas durante a Guerra Fria. Baseado em mais um de seus livros, “O HOMEM MAIS PROCURADO” (“A Most Wanted Man”), 2013, direção de Anton Corbijn, apresenta como novidade a espionagem envolvendo o terrorismo islâmico, mas o estilo de suspense é o mesmo dos filmes já feitos baseados em seus romances. Como sempre, o enredo é complexo e demora um tempo para ser entendido. Enquanto investiga um poderoso empresário árabe presidente de uma ONG, suspeito de financiar grupos terroristas, o serviço alemão consegue a informação de que um misterioso checheno entra ilegalmente na Alemanha. Será que ele vem participar de algum atentato terrorista? Os agentes querem essa resposta, assim como a CIA, que, como sempre, entra na jogada. Num jogo de traições, chantagens, pressão psicológica, escutas ilegais e vigilância eletrônica, os agentes alemães conseguem o que almejavam, mas uma reviravolta inesperada no desfecho mudará toda a história. O filme é muito bom e o elenco melhor ainda, encabeçado por Philip Seymour Hoffman em seu último trabalho, além de Rachel McAdams, Willem Defoe, Robin Wright, Nina Hoss. Grigoriy Dobrygin e Daniel Brühl.

domingo, 23 de novembro de 2014

Se já tinha dois prêmios Oscar de Melhor Atriz em sua prateleira (“Meninos não Choram”, de 1999, e “Menina de Ouro”, de 2004), a atriz norte-americana Hilary Swank deve ser indicada para concorrer a mais uma estatueta pelo seu desempenho no drama “YOU’RE NOT YOU”, 2014, dirigido por George C. Wolfe. A história, baseada no livro homônimo escrito por Michelle Wildgen, é muito triste e certamente levará às lágrimas os espectadores mais sensíveis. Kate (Swank) é feliz no casamento com Evan (Josh Duhamel). A chegada inesperada de uma grave doença – esclerose lateral amiotrófica –, porém, abala e complica totalmente a sua vida. Aos poucos, ela vai perdendo os movimentos e passa a ter dificuldade na fala, exigindo uma pessoa para ficar ao seu lado. É quando surge a espevitada Bec (Emmy Rossum), uma universitária chegada numa bebida e acostumada a ir para a cama com o primeiro que lhe dedicar alguma atenção. Mesmo sem ter experiência como enfermeira ou acompanhante, Bec é contratada para cuidar de Kate, mesmo a contragosto do marido, que a vê como uma jovem irresponsável. O relacionamento de Kate e Bec resultará numa amizade muito bonita, o que no desfecho levará a momentos bastante comoventes entre as duas. Não será nenhuma surpresa se Rossum também for indicada ao Oscar (Atriz Coadjuvante). Embora trate de um tema de alto teor de dramaticidade, o filme foi elaborado com muita sensibilidade. É para curtir e se emocionar. 
“UM PLANO BRILHANTE” (“Love Punch”), co-produção França/Inglaterra, 2013, é uma comédia romântica cujo maior mérito é ser mais comédia do que romântica, além de contar com dois ótimos atores que se dão muito bem no gênero: Pierce Brosnan e Emma Thompson. A história também é boa. Brosnan é o empresário inglês Richard, dono de um escritório de investimentos em Londres cujas ações são adquiridas por Vincent (Laurent Lafitte), um poderoso investidor francês. Seu escritório é fechado e Richard perde todo o dinheiro que havia economizado a vida inteira para quando se aposentar. E, o pior de tudo, ficou sem condições de pagar as indenização de seus funcionários. Ele não sabe o que fazer. Sua agora ex-esposa Kate (Emma) sugere uma solução radical: roubar um valioso diamante presenteado por Vincent à sua noiva Manon (Louise Bourgoin). Richard e Kate envolvem os vizinhos Jerry (Timothy Spall) e Penelope (Celia Imrie) na execução do plano mirabolante, a ser colocado em prática em território francês. É claro que os quatro amigos vão se meter em grandes confusões e situações hilariantes. No fim - clichê dos clichês -, o amor prevalecerá. O filme, escrito e dirigido por Joel Hopkins, é bastante divertido e garante 95 minutos de ótimo entretenimento.                                                        
 

 
FILHOS DA NORUEGA” (“Sonner av Norge”), 2011, direção de Jens Lien, é uma comédia dramática bastante original, surpreendente e criativa. A história, ambientada em 1978, é centrada na família do arquiteto Magnus (Sven Nordin), um homem liberal ao extremo, excêntrico, sem religião e adepto radical da filosofia hippie. Para se ter uma ideia, na ceia de Natal para a qual convida os amigos ele oferece um cardápio à base de bananas, faz discurso negando a existência de Deus e coloca no toca-discos, como fundo musical natalino, o hino da Internacional Socialista. Lone (Sonja Richter), sua mulher, dá todo apoio. O conceito de liberdade adotado por Magnus chega ao ponto de convidar os dois filhos, um deles adolescente e o outro menor, para assistir a uma transa do casal. Tudo caminha nesse tom anárquico até que Lone sofre um acidente fatal. A partir daí, devastado com a tragédia, Magnus estreitará sua relação com o filho mais velho, Nikolai (Asmund Hoeg), a quem buscará apoio psicológico. Mas Magnus não deixará de lado o anarquismo. Nikolai está naquela fase adolescente de contestar tudo e a todos. Quando resolve ser um punk, com direito a alfinetes de fralda fincados na orelha e na bochecha, olhos e cabelos pintados, roupas de couro e a banda “Sex Pistols” no aparelho de som aos altos brados, Nikolai pensa que vai chocar e surpreender o pai. Pelo contrário, Magnus dá todo o apoio. E pior: defende o filho depois dos mais variados aprontos. Num deles, depois de Nikolai atirar uma garrafa de cerveja na cabeça do diretor da escola. Ao contrário do que acontece normalmente nas famílias, é o filho quem vai segurar as loucuras do pai, e não o contrário. Um filme muito interessante que merece ser conferido.  

sábado, 22 de novembro de 2014

O drama “HISTÓRIA DE GUERRA” (“War Story”), 2013, dirigido por Mark Jackson, termina como começou: extremamente chato. Pior: depressivo e melancólico. A fotógrafa norte-americana Lee (Catherine Keener) está passando uns dias na Sicília (Itália), antes de voltar para Nova Iorque, recuperando-se de um trauma violento: ela estava a serviço na Líbia quando viu seu companheiro e amigo Mark ser assassinado com um tiro na cabeça. Lee perambula pra cá e pra lá, totalmente catatônica. Em meio à sua depressão, ela conhece Hafsia (Hafsia Herzi), uma imigrante tunisiana que lembra uma jovem que ela fotografou ao lado do irmão morto na Líbia. As duas ficam amigas e passam a se ajudar. É um filme de poucos diálogos, a maioria dos quais sem nexo e fora do contexto da história – se é que há alguma história nesse filme. Anunciado com destaque nos materiais de divulgação, o ator Ben Kingsley faz apenas uma rápida aparição como Albert, antigo amante e mentor de Lee. A trilha sonora, então, é de doer. Na verdade, é apenas um som intermitente que mais parece um teste de audição ou de labirintite. Nem a boa atriz Catherine Keener se salva, fora o fato de estar cada vez mais parecida com a falecida cantora argentina Mercedes Sosa. Enfim, um filme daqueles pra passar bem longe.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Escrito e dirigido por Jon Favreau, que também atua como o protagonista principal, CHEF A DOMICÍLIO” (“Chef”), 2013, é entretenimento da melhor qualidade, uma comédia divertida, leve e alto astral. Favreau é o chef Carl Casper, responsável pelo cardápio e pela cozinha de um dos restaurantes mais badalados de Los Angeles. Mas foi só entrar em atrito com o conceituado crítico culinário Ramsey Michel (Oliver Platt), em cena filmada e divulgada na internet, que sua promissora carreira parece ter chegado ao fim. Ele simplesmente é demitido pelo dono do restaurante, o empresário Riva (Dustin Hoffman). Casper aproveita as férias forçadas para viajar com o filho Percy (Emjay Anthony), um garoto esperto de 10 anos de idade, e com a ex-mulher Inez (Sofia Vergara) para Miami. É na cidade mais latina dos EUA que Casper tem uma ideia luminosa, ou seja, montar um trailer itinerante de comida cubana. Para isso, ele contará com ajuda de Martin (John Leguizamo), seu fiel sub-chef no restaurante de Los Angeles. Juntos, eles vão viajar por várias cidades e fazer do trailer “Cubanos” um grande sucesso. Tudo funciona muito bem nesse filme, a história em si, o elenco, a trilha sonora, mas seu grande trunfo é destacar a gastronomia como tema principal, com muitas cenas mostrando a feitura dos mais variados pratos, descrição das receitas etc., o que resultou num banquete visual dos mais deliciosos, no qual se inclui, é claro, as “cerejas do bolo” Sofia Vergara e Scarlett Johansson. Imperdível!

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O drama romântico “UMA NOVA CHANCE PARA AMAR” (“The Face of Love”), 2013, EUA, escrito e dirigido por Arie Posin, tem todos os ingredientes para agradar as plateias mais sensíveis. Começa o filme e vemos Nikki (Annette Bening) e Garret (Ed Harris) felizes da vida numa praia mexicana comemorando os 30 anos de casamento. Pelos momentos mostrados em flashback, eles se amavam muito e tinham uma relação bastante estável. Só que um trágico acidente tira a vida de Garret. O filme dá um pulo de cinco anos e lá está a viúva Nikki trabalhando com muito empenho e sucesso na atividade de designer de interiores. Quando está em casa, porém, vive com tristeza as lembranças do marido que tanto amava. De vez em quando ela recebe a visita do vizinho Roger (Robin Williams, num de seus últimos papeis), um amigo de muitos anos. A vida de Nikki dá uma reviravolta quando ela conhece Tom, um professor de artes que é um sósia perfeito do falecido. Eles começam um relacionamento e se apaixonam. Nikki, temendo uma reação negativa de Tom, mantém o segredo sobre a semelhança dele com Garrett. Até quando ela conseguirá esconder a verdade? E se Tom descobrir, será que continuará com ela? Você terá as respostas depois de assistir ao filme. A presença de Annette Bening e Ed Harris é mais um trunfo desse belo drama que merece ser visto por quem curte cinema de qualidade.  

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O drama turco “ERA UMA VEZ NA ANATÓLIA” (“Bir Zamanlar Anadolu’da”), 2011, leva a assinatura do premiado diretor Nuri Bilge Ceylan. Quem viu alguns de seus filmes, como “Climas”, de 2006, ou “3 Macacos”, de 2008, já sabe que ele tem uma maneira diferente de filmar e de contar uma história, o que encanta os críticos. Em Cannes, por exemplo, já foi premiado várias vezes. Este último também, recebendo o Prêmio de Júri do tradicional festival de cinema francês. A história começa com três carros saindo da cidade de Kelskin, na região da Anatólia. Neles estão policiais, um promotor, um médico-legista, um soldado do exército e dois coveiros, além de dois prisioneiros acusados de um assassinato. O motivo da caravana é encontrar o local onde a vítima foi enterrada, mas os prisioneiros alegam que estavam bêbados e não se lembram. É noite fechada e esse verdadeiro road movie  entra madrugada adentro, acompanhado de uma série de diálogos dentro e fora dos carros, muita divagação e praticamente nada acontece durante um bom tempo. O filme é arrastado, contemplativo, com muitas cenas longas, muitas delas silenciosas. O desfecho dá uma pista, mas não explica com clareza tudo o que aconteceu. Cabe ao espectador tirar suas próprias deduções. Definitivamente, não é um filme fácil de digerir e entender. Uma coisa é líquida e certa: não dá para ficar indiferente diante da telinha. Assista e comprove.   
Esqueça aquela Shailene Woodley que estreou no cinema como uma adolescente rebelde no filme “Os Descendentes” (2010), onde fez o papel de filha de George Clooney. Esqueça também a jovem romântica de “A Culpa é das Estrelas”, no qual representa uma doente terminal apaixonada. Em “PÁSSARO BRANCO NA NEVASCA” (“White Bird in a Blizzard”), 2014, direção de Gregg Araki, ela vive Katrina, uma jovem sensual, fogosa e doida por sexo. Como o nome da personagem dá a entender, um verdadeiro furacão. E não economiza nas cenas de nudez, sem qualquer constrangimento. O filme, baseado no livro da escritora norte-americana Laura Kasischke, é ambientado nos anos 80. Aos 17 anos (na vida real, Shailene tem 23), Katrina vive o drama do desaparecimento da mãe Eve (a atriz francesa Eva Green). A polícia investiga o caso e a suspeita recai sobre uma possível fuga de Eve com um amante, já que o casamento com o pai de Katrina, Brock Connors (Christopher Meloni), vivia uma crise crônica. O filme é uma mistura de drama com suspense policial, com direito a uma reviravolta surpreendente e chocante no final. Participam ainda do elenco Ângela Bassett, Shiloh Fernandez e Thomas Jane. Trata-se de entretenimento garantido, não só pela história em si, mas também pela presença de duas ótimas atrizes como Shailene e Eva Green.               

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O estranhamento quanto ao drama canadense “MIRACULUM” (ainda sem tradução por aqui, mas significa “milagre” em latim), 2014, já começa nos créditos. Está lá: filme dirigido por Podz. Quem??? Pois é, trata-se do pseudônimo do diretor Daniel Grou (“O Caso Dumont”). Na literatura, é normal um escritor escrever um livro sob pseudônimo, mas num filme? Não lembro de caso semelhante. Vi a foto do cara: tem pinta de excêntrico. Mas vamos ao filme (falado em francês). Trata-se de várias histórias correndo em paralelo: uma enfermeira adepta da seita Testemunhas de Jeová, cujo marido tem leucemia e precisa de uma transfusão de sangue; um homem e uma mulher da terceira idade que são amantes (as cenas de sexo entre os dois são bastante fortes); um homem que transporta drogas no próprio corpo e precisa se acertar com a filha; e, por último, um casal em crise no casamento, ela se entregando ao álcool e ele à jogatina. Todas essas histórias entremeiam um acidente de avião em que haverá apenas um sobrevivente. O filme adota um tom bastante depressivo e praticamente não cria nenhum momento tocante ou sensível. Ou seja, o filme está bem longe de oferecer um entretenimento leve. Também não dá para dizer que é ruim. Apenas interessante. O elenco: Xavier Dolan (também cineasta, talvez o nome mais conhecido), Julien Poulin, Anne Dorval, Marilyn Castonguay, Xavier Dolan e Robin Aubert.